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5.2 Consciência de formação profissional docente

5.2.2 Como o professor percebe a formação do aluno

Esse elemento surge em continuidade da análise da categoria consciência profissional docente na dimensão do olhar para a formação do aluno em vistas do projeto formador. Além da preocupação com a representatividade do papel do professor, como citado acima, os docentes desta pesquisa também apresentam sua percepção sobre o produto do processo formador, ou seja, sobre o profissional que querem formar. Esse demarcador será discutido sob dois aspectos. O primeiro relaciona-se à formação do aluno numa abordagem ligada à apropriação do

conhecimento condizente ao projeto formador, e o segundo se refere ao olhar do professor sobre a função que desempenha nessa relação de aprendizagem.

O primeiro elemento dá conta das concepções dos professores de Fisioterapia acerca do projeto formador no que diz respeito à formação de seres humanos, cidadãos autônomos com capacidade crítico-reflexiva, generalistas, com base na construção do conhecimento. As narrativas dos professores evidenciam a relação que estabelecem com a prática pedagógica a partir do seu entendimento sobre o perfil formador:

(...) eu acho que o papel do professor é muito de não formar só profissionais, mas formar seres humanos, eu acho que a gente está formando pessoas autônomas, com opiniões próprias. Capitu - EN

(...) O professor não pode assumir um papel apenas de transmissor daquele conhecimento e, seu papel dentro da sala de aula é fundamental porque ele tem que ser capaz de usar os seus saberes na construção de outros saberes. Sofia - EN

(...) na discussão sobre intensivismo, não é de formação na faculdade e, sim na pós-graduação. A formação deve ser generalista. Helena -RP

(...) para mim ensinar e ajudar as pessoas a construir respostas dela não é trazer um conhecimento imposto, mas sim formar seres autônomos que sejam capazes de buscar suas respostas e para isso a gente está sempre estimulando a reflexão crítica, a autonomia, estimulando a criatividade. Capitu - EN

Essas falas permitem entender que os professores possuem preocupação com o processo de construção da aprendizagem dos seus alunos como sujeitos autônomos, refletindo sobre o seu papel como mediadores desse processo. Isso denota consciência profissional docente, pois as concepções acerca de uma prática não reprodutiva pode ser elemento indispensável no perfil formador que buscam para seu projeto. Segundo Isaia e Bolzan (2004), as concepções de docência que os professores elaboram e a maneira como concebem a formação e a docência condicionam a sua prática pedagógica, ou seja, a maneira como esses professores pensam, de certa maneira, traduz a sua atuação docente e remete à sua condição de sujeitos formadores.

A interpretação dos achados de pesquisa também permite evidenciar a questão do papel que o professor assume frente à construção do conhecimento, como já discutido no demarcador anterior. No entanto, essa análise está mais direcionada a sua consciência como mediador do processo e não como detentor do

conhecimento, mostrando que este pode ser adaptado e transformado conforme as necessidades do momento.

(...) eu nunca chego com o conhecimento imposto, nunca chego com uma resposta pronta, a gente sempre tenta construir junto, quando eu não sei digo que não sei. Capitu - EN

(...) eu vejo assim, que eu seria uma pessoa aqui e mostraria o caminho para eles acharem a solução dos problemas, ou se usar o termo técnico seria a pessoa facilitadora da aprendizagem. Rita - EN

(...) a gente vive com os alunos mais avançados (...) e somos os mediadores de todos estes pensamentos e temos o compromisso de no final, mediando isso, tirarmos uma proposta que seja de construção futura. Aurélia - EN

(...) Tu está repassando para ele algum conhecimento, mas tu não pode só reproduzir, tu tem que construir. Virgínia - EN

(...) acho que temos que mostrar todas as formas de fazer determinada coisa e não só uma. Isaura - RP

As narrativas demonstram a consciência e o desafio do fazer pedagógico diferenciado no papel que desempenham, traduzindo-se em momentos de dificuldades no sentido do fazer docente e na relação com os alunos. Os recortes da reunião pedagógica que seguem mostram a fala das professoras acerca de temáticas que os alunos levantam sobre a formação do curso e a relação que as professoras estabeleceram com eles na defesa do projeto num semestre que é considerado crítico pelos docentes:

(...) eles são meio resistentes e dependentes ao tratamento e a gente vê que o aluno, por comodismo acaba seguindo aquilo que foi feito antes (...) e acaba reproduzindo aquilo. Lúcia - RP

(...) e aí a gente tem um papel importante porque nós professores somos responsáveis pela formação. Aurélia – RP

(...) eu acho que ele vai se moldar, mas o que mais me preocupa é que a maioria dos alunos do “x” semestre não entendem o PPP. Rita – RP

(...) eles não tem parceria nenhuma (...). Isaura – RP

(...) eles assimilaram só que tem aquela formação. Virgínia – RP

(...) nós temos que descobrir se existe algo que acontece no “x” semestre que “baratina” os alunos, porque a outra turma também foi assim. Aurélia – RP

(...) o “x” semestre é o divisor de águas, a partir daí modifica tudo, então é difícil. Rita – RP

(...) é no “x” semestre que eles começam a se dar conta das coisas, então esse é um momento crucial (...) e o trabalho da gente no sentido de clarear tem que estabelecer de forma bem incisiva, (...) tem que bater de frente com eles, para eles acordarem. Aurélia - RP

O semestre do qual os professores falam é considerado crítico, porque é a primeira vez que os alunos deparam-se com a realidade de aplicar os recursos fisioterapêuticos sem abordagem na doença, contrariando as suas expectativas, pois a procura pela Fisioterapia se dá numa perspectiva reabilitadora, como identifica a seguinte fala do professor:

(...) os alunos se adaptam com o passar do tempo. O modelo assistencialista prevalece no início do curso por ser o que vivenciam na prática. A todo momento se rediscute algumas questões e que precisam ser re-lembradas, pois estamos em constante exercício e viemos de um modelo de formação tradicional (...) enfrentamos o desafio de fazer, de seguir as diretrizes do MEC por acreditarmos nessa formação (...),para a visão não orientada para a doença e sim pela saúde. Aurélia - RP

Essas concepções por hora analisadas demonstram a consciência do profissional docente do papel que desempenha e do sujeito que quer formar. Essas concepções permitem concluir que os professores de fisioterapia, mesmo sem terem formação pedagógica, possuem um amplo conhecimento sobre o projeto em que estão imersos o qual lhes permite elaborarem concepções totalmente distanciadas da sua formação profissional tecnicista. Isso demonstra que aprender a ser professor impõe um conhecimento amplo que extrapola o conhecimento específico, envolvendo a dimensão pedagógica além de um amplo entendimento do projeto formador na construção de um perfil profissional que exige coerência, paciência e determinação.