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COMO OS SINDICATOS PODEM PREVENIR O ASSÉDIO MORAL

CAPÍTULO V – MEDIDAS DE PREVENÇÃO DO ASSÉDIO MORAL NO

5.1 COMO OS SINDICATOS PODEM PREVENIR O ASSÉDIO MORAL

Vale ressaltarmos que é papel dos sindicatos ingressarem com ação ou utilizarem outros meios para tutelar o direito dos trabalhadores, por isso passamos a tratar das possíveis ações que os sindicatos podem ingressar para conseguir êxito, apesar dos entraves legais, do poder normativo da Justiça do Trabalho, o sindicato deve perseguir os seus fins e defender os reais e atuais interesses dos trabalhadores.

Analisando a cultura sindical no Brasil, consideramos relevante o seguinte questionamento: Quais as ações que os sindicatos poderiam promover para evitar ou reduzir os acidentes ou doenças do trabalho no meio ambiente laboral? Deveria também o sindicato buscar apoio de outras entidades, principalmente dos empresários e do Estado, no caso do Ministério Público do Trabalho ou da Delegacia Regional do Trabalho, apesar do sindicato possuir legitimidade para defender os trabalhadores?

No nosso entendimento, esses questionamentos devem ser analisados à luz da conjuntura atual, levando em conta que no cenário mundial, o poder dos trabalhadores, seja através dos sindicatos ou de outras entidades vem enfraquecendo, e o que percebemos é que a solução para os conflitos estão sendo resolvidos pela via jurisdicional.

Podemos citar como exemplo prático a questão do assédio moral geralmente é solucionada pela via judicial, devido o poder normativo da Justiça do Trabalho e não pela negociação coletiva, ficando o sindicato sempre na retaguarda das defesas dos interesses dos trabalhadores. Por isso, questiono novamente. Afinal qual o verdadeiro fim do sindicato?

Nesse aspectoJosé Cláudio Monteiro Brito Filho (2002)419 assevera que nos conflitos entre o capital e o trabalho, é comum as partes submeterem-se à solução imposta pelo Poder Judiciário. Isso vai desde a falta de confiança em outros meios de solução de conflitos, até uma cultura, enraizada principalmente entre o empresariado, de que uma contenda em juízo é menos onerosa, mais vantajosa. Essas vantagens são as mais variadas: a possibilidade de um acordo que diminua o valor devido ao trabalhador que aceita a “conciliação” mesmo sendo desfavorável aos seus interesses; a possibilidade do trabalhador não conseguir provar todas as lesões sofridas. Além do mais, quando o empresário lesa em massa seus empregados, há a

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possibilidade de que nem todas as lesões perpetradas contra os trabalhadores venham a ser objeto de apreciação judicial. Nesse ponto é válido questionar se a solução jurisdicional constitui meio eficaz para estancar as condutas lesivas da prática do assédio moral.

Segundo o Prof. Dr. Hermes Afonso Tupinambá Neto (1993), em seu estudo comparativo sobre a solução jurisdicional, leciona que: “Pelo que observamos nos países estudados, inclusive no caso do Brasil, não nos pareceu que a solução jurisdicional, nem mesmo outros tipos de arbitragem obrigatória tenham sido úteis para acelerar a familiarização das classes com o conflito estruturado. 420

O Professor acima citado, ensina que devemos admitir que a questão seja bastante complexa para permitir uma resposta conclusiva de plano e de forma absoluta, destacando os seguintes pontos: a) a composição direta ou autocomposição sempre foi resultado de manifesta e inequívoca procura e preferência das partes interessadas na repartição do produto, isto é, as próprias partes é que buscaram esse tipo de composição; b) a autocomposição sempre foi conseguida por sindicatos e organizados fortes; c) inexiste que a comprovação a capacidade de organização, de reivindicação e de pressão dos sindicatos tenha sido formada ou firmada exclusivamente nas arbitragens obrigatórias, como nas soluções jurisdicionais, mas sim nas greves e rodadas de negociação ou, quando muito, na articulação desses meios com dissídio coletivo. 421

Leciona ainda que o exercício do poder normativo dificulta a prática da negociação e a utilização de instrumento de pressão como a greve e, conseqüentemente, impede o desenvolvimento sindical.

Com todos esses entraves o professor Hermes Tupinambá rejeita a hipótese defendida por alguns estudiosos de que o poder normativo pode ser útil em período inicial de industrialização, em áreas limitadas e com o tempo certo para acelerar a familiarização das classes com o conflito estruturado, esclarecendo que a negociação coletiva é a solução mais moderna, não só porque somente o Brasil ainda adota a solução jurisdicional, enquanto quase todos os países adotam a negociação coletiva, como, também porque a quase unanimidade das lideranças sindicais brasileiras prefere a autocomposição e, ainda, porque esta é inequívoca orientação da OIT, consoante expressas determinações da Recomendação n. 92, de 1951, da

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TUPINAMBÁ NETO, Hermes Afonso, idem, ibidem, p.133 421TUPINAMBÁ NETO, Hermes Afonso, idem, ibidem, p.133

Convenção n. 154, de 1981, e de reiteradas manifestações do Comitê de Liberdade Sindical.422

O referido autor defende que a negociação coletiva afirmando ser esta mais justa porque é a única solução que, coloca os atores do conflito coletivo em igualdade de condições para discutir e negociar e permite que a classe trabalhadora obtenha mais benefícios, tanto em quantidade quanto em qualidade nas relações laborais. Nesse sentido, seria uma bandeira de luta sindical, incluir na negociação coletiva, medidas preventivas de combate ao assédio moral nas empresas, antes de procurar a via judicial423.

Afirma ainda ser a autocomposição mais democrática, exatamente porque possibilita a solução do conflito coletivo pelos seus próprios atores e, inegavelmente, principais interessados. Enquanto, diferentemente, a solução jurisdicional, ficando ao arbítrio de terceiro, no caso o Estado, não pode ter o mesmo grau democrático424.

Exemplifica o caso dos países estudados destacando-se o Reino Unido e os Estados Unidos, onde as classes interessadas na composição do conflito afirmam peremptoriamente que, por uma questão de projeção e implicação da garantia da iniciativa privada na economia e da autonomia privada como um todo, não abrem mão da negociação coletiva e não aceitam a interferência do Estado na solução desse problema, nem mesmo o excesso de regulamentação legislativa.425

Alfredo J.Ruprecht (1995)426 ensina, os fins do sindicalismo são múltiplos, alguns de natureza específica e outros de natureza geral. No entanto, destaca que as associações profissionais são co-participes sociais, nas relações de trabalho, afirmando que o sindicato tem como fim principal realizar os supremos objetivos da comunidade, não tanto como parte integrante do organismo estatal nem como mero instrumento de sua política social e econômica, mas como parte da sociedade que integra e para evitar seu estancamento e melhorar a condição social de seus membros e chegar a um estado de harmonia e de entendimento que traga bem-estar não só para seus membros, mas também para toda coletividade.

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TUPINAMBÁ NETO, Hermes Afonso, idem, ibidem, p.134 423TUPINAMBÁ NETO, Hermes Afonso, idem, ibidem. 424

TUPINAMBÁ NETO, Hermes Afonso, idem, ibidem. 425

TUPINAMBÁ NETO, Hermes Afonso, idem, ibidem. 426

O autor supracitado compreende que o fim último do sindicato é a dignificação da pessoa do trabalhador, dando-lhe as mesmas possibilidades que aos demais integrantes do conglomerado social de desfrutar de uma vida digna.

Para De La Cueva citado por Alfredo J. Ruprecht (1995)427, a defesa dos interesses coletivos dos trabalhadores é a missão primeira e fundamental do sindicato, em segundo lugar, velar pela observância coletivas, do Direito Individual do Trabalho criado pelas convenções e pela lei, e por fim, participar na integração e o funcionamento dos diversos organismos públicos encarregados da aplicação das leis do trabalho e da seguridade social. Esta última função é comum, segundo o citado autor, às associações profissionais patronais e operárias.

Todavia, o referido autor destaca que tal fim sofre muitos percalços em sua aplicação, mas, de todas as maneiras, é a isso que tende sua filosofia. Infelizmente, essa filosofia deve ser aplicada por homens e estes muitas vezes a desviam na base de seu interesse próprio, desvirtuando, assim, seus reais alcances. Mesmo assim, defende que o sindicato é uma verdadeira garantia social do trabalhador, pois ajuda e protege contra as injustiças patronais e estatais, como exemplo a prática de assédio moral tanto no setor público quanto nas empresas privadas. 428

O autor ensina a respeito dos meios de ação sindical, destacando em linhas gerais, duas orientações bem definidas: que são de caráter sindical ou de caráter político. A atividade sindical tem-se desenvolvido sempre nesses dois parâmetros. O sindicato persegue dois fins: um imediato do tipo realista que se refere diretamente às condições de trabalho e da vida dos trabalhadores, e imediato, de tipo predominantemente ideológico, tende a modificar as estruturas econômicas e jurídicas no âmbito nacional e internacional. Com os fins imediatos se trata de modificar legislação vigente para que favoreça ainda mais a classe trabalhadora. Tem caráter nitidamente econômico. O fim mediato tem um grande conteúdo político e visa fazer que o Estado se alicerce em conceitos diferentes naqueles que o moldam atualmente. 429

Acrescenta ainda que o direito do trabalho é um direito vivo e o sindicato um corpo intermédio, com certas prerrogativas do governo, que se exclui do poder estatal, além do que

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RUPRECHT, Alfredo J., idem, ibidem. 428

RUPRECHT, Alfredo J., idem, ibidem. 429

os meios utilizados compreendem uma gama infinita de possibilidades, desde as jurídicas até as extrajurídicas, econômicas, pacífica, violentas, diretas, etc.430.

O autor leciona ainda a respeito da liberdade sindical definindo que a liberdade sindical coletiva, pode ser dividida em dois grupos: autonomia orgânica e autonomia de ação, sendo que a primeira significa que a associação profissional poderá estruturar-se e se desenvolver sem ingerências estranhas, ressalvado o respeito aos direitos dos demais.

No tocante à autonomia de ação, a que considera que a associação profissional tem diversos e múltiplos fins a realizar e, para poder levá-los a cabo, deve dispor dos meios necessários para tanto e dos poderes correspondentes. Dessa maneira, deve ser ampla a capacidade de operar coletivamente e só restringida quando afeta a liberdade de outro ou uma lei do Estado.431

Para melhor elucidar a questão, De La Cueva citado por Alfredo J.Ruprecht (1995)432 sustenta a opinião de Ojeda Aviles, o qual defende que a autonomia sindical implica no reconhecimento das seguintes liberdades funcionais, neste aspecto destaca algumas dessas liberdades: capacidade especial para negociar e emitir declarações de vontade com eficácia jurídica suficiente para conseguir a qualificação de convenções coletivas, greves lícitas, participação, etc; capacidade processual para intervir como parte em processos coletivos ou individuais, com repercussão sindical.

No tocante a relação do sindicato com o Estado, Ruprecht pondera que a associação profissional deve ser totalmente imune a sua influencia, no entanto, afirma que sua operação deve estar sempre nos limites da legalidade e da legitimidade, não podendo, sobre esse aspecto, fugir ao controle da parte do Estado, não devendo confundir essa autonomia com soberania, pois o único soberano é o Estado433.

Enfatiza que uma das funções primordiais das associações profissionais é a celebração de convenções coletivas, e estas são de suma importância para melhoria das condições de relação do trabalho, embora os salários sejam os mais atraentes, não são os únicos, pois as convenções coletivas contêm uma série de disposições sobre outros aspectos trabalhistas: jornadas de trabalho, repouso, condições de trabalho, licenças, demissões, bem como o

430RUPRECHT, Alfredo J., idem, ibidem. 431

RUPRECHT, Alfredo J., idem, ibidem, p. 80. 432

RUPRECHT, Alfredo J., idem, ibidem. 433

aspecto psicológico dos trabalhadores e empregadores sofre também a influência das convenções coletivas434.

Ressalta que a organização sindical reclama a formulação de um ordenamento jurídico em consonância com os problemas que apresentam a sociedade atual, o Direito do Trabalho, por sua vez, segue de perto as normas consensuais obtidas pelo sindicato que foi se impondo e chegou a se estabelecer, como co-legislador. Apesar de todos os desvios, como instituição nova que é, pode e realizará obras de valor e será o fator da paz e da tranqüilidade que busca o Direito Trabalhista435.