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O NEXO TÉCNICO EPIDEMIOLÓGICO E A NECESSIDADE DE EMISSÃO

CAPÍTULO II – ASPECTOS DO ACIDENTE DE TRABALHO

2.6 O NEXO TÉCNICO EPIDEMIOLÓGICO E A NECESSIDADE DE EMISSÃO

Gustavo Felipe B. Garcia (2007)234 refere-se ao nexo técnico epidemiológico, como uma possibilidade de demonstrar e indicar quais as doenças que mais incidem nos trabalhadores, e quais seus ramos de atividades, e considera um avanço o art. 21 da Lei 11.430/2006, tendo em vista dificuldade de demonstração do nexo causal para caracterizar as doenças profissionais e do trabalho. Acrescenta ainda, que freqüentemente o empregador não emite a CAT (comunicação de acidente de trabalho) de acordo com art.22 da Lei 8.213/1991, devido este não conhecer a natureza ocupacional da enfermidade sofrida pelo empregado, gerando a chamada “subnotificação dos agravos à saúde do trabalho”.

Para o referido autor, tal omissão, causa prejuízo ao trabalhador, ao sistema de saúde e à sociedade como um todo, pois, com a referida Lei 11.430/2006, estando presente o nexo técnico epidemiológico (entre o trabalho e o agravo), passa a existir a presunção de que a doença tem natureza ocupacional, e sendo assim, ao se verificar a existência do referido nexo técnico epidemiológico, não mais cabe ao empregado (segurado) provar ou demonstrar que a doença foi produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade, ou que a doença foi adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente.235

Assegura que estando presente o nexo técnico epidemiológico, a presunção é de se tratar de doença do trabalho ou profissional, apesar dessa presunção ser relativa (juris tantum), pois a ausência de natureza ocupacional pode ser demonstrada pela empresa, na forma do § 2º art. 21-A da Lei 8.213/1991, Por isso, diz-se ter ocorrido uma “inversão do ônus da prova” quanto à caracterização da natureza ocupacional do agravo.236

Conforme Gustavo Felipe B. Garcia (2007)237 a análise do nexo técnico epidemiológico, não deve ficar restrita apenas à doença em sentido estrito, mas abranger,

234GARCIA, Gustavo Felipe B., idem, ibidem, p. 84-85 235

GARCIA, Gustavo Felipe B., idem, ibidem, p. 89 236

GARCIA, Gustavo Felipe B., idem, ibidem, p. 89 237

também, o “agravo” descrito no art. 21-A da Lei 8.213/1991, como a seguir: “a lesão, doença, transtorno de saúde, distúrbio, disfunção ou síndrome de evolução aguda, subaguda ou crônica, de natureza clínica ou subclínica, inclusive morte, independentemente do tempo de latência” (art. 337, § 4º do RPS, incluído pelo Decreto 6.042/2007).

Com relação à espécie de nexo causal nas doenças do trabalho o autor observa o art. 1º da Instrução Normativa 16/2007, “a aplicação do nexo técnico epidemiológico previdenciário (NTEP) pelo INSS é uma das espécies do gênero nexo causal”. Uma vez que, “os agravos decorrentes dos agentes etiológicos ou fatores de risco de natureza ocupacional da Lista A do Anexo II do RPS, presentes nas atividades econômicas dos empregadores, cujo segurado tenha sido exposto, ainda que parcial ou indiretamente, serão consideradas doenças profissionais ou do trabalho, independentemente do NTEP, não se aplicando, neste caso, o disposto no § 5º deste artigo e no art. 4º desta Instrução Normativa” (art. 2º, § 2º, da IN INSS 16/2007).238

Assim, passamos a enumerar o art. 4º da Instrução Normativa 16/2007, o qual regula o requerimento da empresa, ao INSS, de não-aplicação do nexo técnico epidemiológico ao caso concreto, mesmo sendo necessário, para se comprovar a doença ocupacional, deve-se ter o agravo, o trabalho e o nexo causal, para que fique caracterizado o nexo causal (gênero) entre a entidade mórbida e o labor, ou seja, para a constatação da natureza ocupacional da doença, há três formas (espécies): 1) ocorrência de nexo técnico epidemiológico entre o ramo de atividade econômica da empresa (expressa pela Classificação Nacional de Atividade Econômica - CNAE) e a entidade mórbida motivadora da incapacidade (relacionada na Classificação Internacional de Doenças), em conformidade com a Lista B do Anexo II do Regulamento da Previdência social; 2) constatação de que o agravo decorre de agente etiológico ou fator de risco de natureza ocupacional da Lista A do Anexo II do RPS, presente nas atividades econômicas do empregador, cujo segurado tenha sido exposto, ainda que parcial ou indiretamente; 3) Verificação da hipótese excepcional, prevista no art. 20, § 2º, da Lei 8.213/1991, mas “resultou das condições especiais em que o trabalho é executado e com ele se relaciona diretamente”, caso em que a Previdência Social deve considerá-la acidente do trabalho.239

238

GARCIA, Gustavo Felipe B., idem, ibidem, p. 93 239

No entendimento de Gustavo Felipe B. Garcia (2007)240 os diversos agentes ou fatores de risco de natureza ocupacional, deveriam ser considerados como nexos geradores de presunção absoluta da natureza ocupacional do agravo, em que o empregador não pudesse se eximir dessa presunção. Assim, deveria ser considerado todos os agravos decorrentes dos agentes etiológicos ou fatores de risco de natureza ocupacional presentes nas atividades econômicas dos empregadores, em que os empregados tenham sido expostos, ainda que parcial ou indiretamente, são necessariamente considerados doenças profissionais ou do trabalho (independentemente do NTEP).

Outra observação feita pelo ilustre autor, diz respeito à inexistência de nexo técnico epidemiológico, que não elide o nexo causal entre o trabalho e o agravo, cabendo à perícia médica a caracterização técnica do acidente do trabalho fundamentadamente, sendo obrigatório o registro e a análise do relatório do médico assistente, além dos exames complementares que eventualmente o acompanham (art. 2º, § 4º); a perícia médica poderá se necessária, solicitar as demonstrações ambientais da empresa, efetuar pesquisa ou realizar vistoria do local de trabalho ou solicitar Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), diretamente ao empregador (art. 2º, § 5º).241

Nesse ponto, nós levantaríamos um questionamento, existe algo relacionado à questão do assédio moral nessa pesquisa? Poderíamos vislumbrar o assédio moral como um fator de risco da atividade econômica do empregador, com a exposição do empregado a este, que poderia ser caracterizado como nexo causal ocupacional?

Gustavo Felipe B. Garcia (2007)242 conclui que ficando reconhecida a incapacidade para o trabalho (pela perícia médica do INSS, ou mesmo judicialmente) e estabelecido o nexo entre o trabalho e o agravo, são devidas as prestações acidentárias a que o beneficiário tenha direito.

Concordamos nesse aspecto com o entendimento de Maria Ester de Freitas (2008)243 sendo o assédio moral uma violência de ocorrência repetitiva e freqüente, causa danos que podem acontecer várias vezes por mês, por semana ou diariamente, o que faz com que o dano geralmente seja grande e leve a uma desestruturação psíquica considerável, nesse sentido, acredita que o nexo de causalidade do assédio moral entre o comportamento do empregador e

240

GARCIA, Gustavo Felipe B., idem, ibidem, p. 95 241

GARCIA, Gustavo Felipe B., idem, ibidem, p. 97 242

GARCIA, Gustavo Felipe B., idem, ibidem, p. 97

243FREITAS, Maria Ester de; HELOANI, Roberto; BARRETO, Margarida. Assédio moral no trabalho. São Paulo: Cengage Learning, 2008, p.78

o dano sofrido pelo empregado, possa ser enquadrado como acidente de trabalho, conforme a Resolução n. 1.488/1998, do Conselho federal de Medicina, preceitua em seu Art. 2º:

Art. 2º - Para o estabelecimento do nexo causal entre os transtornos de saúde e as atividades do trabalhador, além do exame clínico (físico e mental) e os exames complementares, quando necessários, deve o médico considerar:

I – a história clínica e ocupacional, decisiva em qualquer diagnóstico e/ou investigação de nexo causal;

II – o estudo do local de trabalho; III – o estudo da organização do trabalho; IV – os dados epidemiológicos;

V – a literatura atualizada;

VI – a ocorrência de quadro clínico ou subclínico em trabalhador exposto a condições agressivas;

VII – a identificação de riscos físicos, químicos, biológicos, mecânicos, estressantes e outros;

IX – os conhecimentos e as práticas de outras disciplinas e de seus profissionais, sejam ou não da área da saúde.

Com o fito de elucidar nosso entendimento sobre o enquadramento de assédio moral como acidente por equiparação, destacamos a proposição de José Cairo Junior (2004),244 para o qual, a doença do trabalho não guarda relação direta com uma atividade ou profissão específica. Ela surge ou aflora quando o trabalhador presta seus serviços em condições especiais e desfavoráveis à sua saúde. Cita Wladimir Novaes Martinez “a sutileza na diferenciação entre doença profissional e doença do trabalho, pontificando que a primeira se encontra intimamente ligada à profissão do obreiro, acompanhando-o, inclusive, até em outras empresas, enquanto a segunda: “deriva das condições do exercício, do ambiente do trabalho, dos instrumentos adotados, sendo própria, sobretudo, das empresas que exploram a mesma atividade econômica e não necessariamente conceituadas como fazendo parte do obreiro245”

O referido autor ressalta a importância da distinção dessas duas espécies de doenças ocupacionais, no que diz respeito ao ônus da prova da causalidade. Se tratar-se de doença profissional, o nexo etiológico com o trabalho é presumido. Porém, na hipótese de doença do trabalho, cabe ao trabalhador demonstrar que adquiriu ou desenvolveu a doença por conta dos serviços que prestava. Entretanto, não podemos confundir a presunção do nexo etiológico com a presunção de culpa, pois, em se tratando de direito infortunístico, aplica-se a teoria da responsabilidade civil objetiva que dispensa a culpa para sua caracterização.246

244CAIRO JUNIOR, José. O acidente do trabalho e a responsabilidade civil do empregador. 2 ed. São Paulo: LTr, 2004.p.44.

245 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Comentários à Lei Básica da Previdência Social. São Paulo: LTr, 1992, v. 2, p. 99.

246

Em nosso entendimento, poderíamos deslocar e aplicar o mesmo raciocínio do nexo causal do acidente de trabalho, acima exposto, à questão das conseqüências do assédio moral, principalmente, no tocante ao nexo causal e à inversão do ônus da prova com já foi mencionado.