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Em abril de 2012 no congresso Brasileiro da Borracha, em São Paulo, foi apresentado um novo compósito produzido com carga de raspa de couro bovino e matriz polimérica de NR, preparados sob pressão à alta temperatura. Tratando-se de um produto com alta flexibilidade e boas propriedades mecânicas, inclusive resistência à ruptura superior ao couro animal, alta rigidez e baixa flexibilidade, mas, devido ao alto custo do equipamento utilizado ainda não se tornou viável a fabricação do mesmo. Este foi o resultado do uma pesquisa de doutoramento que fornece mais uma alternativa em material ecológico com matriz de látex, visando aplicações industriais voltadas para calçado e bolsas.

3.2 Membranas de látex tecido para fins medicinais

Entre os têxteis aplicáveis a fins médicos e estéticos, encontra-se em destaque o material em formato de curativos tópicos à disposição do paciente para cicatrização, e tratamento de ferimentos na pele, úlceras crônicas, escaras, ou ferimentos em geral. Já vem sendo comercializado com o nome de Biocure®, a primeira membrana natural a partir do látex, por possuir excelente potencial como veículo SLC (sistema de liberação controlada) quando em experiência se introduziram fármacos como o metronidazol de efeito antibiótico onde se notou que a biomembrana liberta em tempo preciso o medicamento, possibilitando a construção de curativos para pele contendo diferentes fármacos.

A biomembrana de látex é um tecido superfino, sem vulcanização química, funciona como uma ponte para a regeneração dos tecidos devido à sua composição química rica em proteína, lipídios, sais minerais, cálcio, magnésio, entre outros, que são gradualmente liberados pela ação das enzimas. Também na sua composição há uma proteína ainda não isolada que promove a neovascularização e, com isso, acelera a reparação do tecido quando em contato com este. “O látex natural foi descoberto por pesquisadores por ser um cicatrizante natural da seringueira; a partir daí, estudos vêm sendo desenvolvidos para comprovar as características indutoras de neovascularização e reparação tecidual que foram atribuídas a esse material” (Zimmermann, 2007:7).

Segundo Herculano (2005:14), o látex foi usado em 1996 por F.Mrué em testes de implantes cirúrgicos em animais com grandes propriedades indutoras na regeneração de tecidos. O látex tem o potencial de induzir a regeneração de tecidos e ossos, e vem sendo usado também em cirurgias ginecológicas e dentárias, devido às excelentes propriedades elásticas, resistência mecânica, bom manuseio e custo. Tem-se verificado com sucesso em animais, o tecido do látex em cirurgias de reconstituição do esôfago cervical de cães, auma fina membrana de látex é implantada, a qual é posteriormente eliminada após a

reconstituição da nova pele, reconstituições ósseas, cirurgias oculares em coelhos, prótese à base de látex natural, enxertos, e em humanos o tratamento de úlceras de perna, úlceras crónicas, cirurgias oculares, entre outras como representado na figura 30.

Figura 30 - Cirurgia ocular de catarata com implante de látex. Fonte: http://www.scielo.br/pdf/abo/v67n1/a05v67n1.pdf

Outra forte característica do material é seu potencial de angiogênese, ou seja, a capacidade de crescimento de vasos sanguíneos, facilitando o processo de recuperação e uma cicatrização mais rápida, com menores riscos de infecções devido à redução do tempo de recuperação. Herculano (2005) ressalta o fato do látex ser absorvido pelo corpo, dispensando uma segunda cirurgia de remoção, riscos de rejeição e infecções.

3.3 Aperfeiçoamento tecnológico dos últimos 20 anos

As pesquisas científicas e tecnológicas estão em desenvolvimento desde o início até o final do processo da fabricação do compósito, com clones genéticamentes modificados, de enxertias resistêntes, métodos de coleta, clima, estudos para reduzir o tempo e elevar a produção. Embora haja poucas pesquisas no campo do compósito vegetal, muito já se tem feito para melhorar a qualidade do material e da vida do seringueiro, como o lançamento da faca de corte automotiva em 2012, e a criação de uma estufa para vulcanizar, substituindo o processo de defumação. A utilização por Cid et. al. (2005) do aparelho reômetro de disco

oscilatório torque24, permitiu melhorar a qualidade do compósito, considerando que, o compósito necessita de um tempo e temperatura exatos, e, quando excede estes, ocorrem problemas de reversão, diminuindo as propriedades mecânicas, porque reduzem as reticulações, resultando em um material pegajoso. Assim, Cid definiu em seu trabalho com compósitos vegetais em estufas uma temperatura ideal de 60°C a 120°C em tempos de 18 a 45 minutos.

A mesma pesquisa feita por Siqueira et. al. (1997:57,58) concluiu que o tamanho da estufa possui uma interferência fundamental na qualidade das reticulações e que estufas elétricas, conseguem manter a temperatura padrão mais facilmente que as estufas a gás ou a lenha, para um determinado valor de circulação de ar, com três metros quadrados, sendo a temperatura ideal de 100°C à 130°C, para um tempo de 30 minutos a temperatura constante. Há dificuldade em encontrar uma fórmula homogénea ao látex aplicado após coleta “in

natura”. Assim, com o acréscimo de espessante na fórmula obteve-se maior brilho, alterações

na textura, e o aumento dos fenóis, que são antioxidantes aumentando a quantidade das reticulações. Embora seja um processo caro e ainda em estudo, alguns pesquisadores defendem o uso da centrifugação para separar o soro, mantendo apenas a concentração de hidrocarboneto de 60%, alegando um produto final com maior uniformidade e menor pegajosidade, enquanto outros alegam que o soro possui propriedades indispensáveis na qualidade dos mesmos (Servolo 2006:29 e Siqueira et. al. 1997:56).

24É um aparelho que mede o padrão entre tempo e a temperatura da vulcanização, através da análise

de uma curva chamada curva reométrica. Avalia-se o momento da cura do material e determina o melhor tempo associado a temperatura necessária.