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Compõem o Valor Econômico Total (VET) o Valor de uso direto, Valores de uso indireto, Valores de uso opcional e Valores de não-uso “Valor de uso direto: O valor derivado da extração direta de recursos do

CAPÍTULO IV: PROPOSTAS PARA A EFETIVAÇÃO DO USO DA ÁGUA NO LUGAR

CONSIDERAÇÕES FINAIS

11 Compõem o Valor Econômico Total (VET) o Valor de uso direto, Valores de uso indireto, Valores de uso opcional e Valores de não-uso “Valor de uso direto: O valor derivado da extração direta de recursos do

ecossistema (madeira) ou interação direta com o ecossistema (uso recreativo). Valores de uso indireto: Os valores que sustentam a atividade econômica. Por exemplo, a função de proteção de bacias hidrográficas de uma floresta melhora a qualidade da água, o que, por sua vez, afeta um floricultor rio abaixo. [...]. Valores de uso opcional: Preservar um ecossistema ou a biodiversidade para que, então, seus valores de uso direto e indireto possam ser ‘consumidos’ no futuro. Semelhante valor pode ser atribuído à conservação de espécies em suas variantes silvestres comercialmente cultivadas, uma vez que esta diversidade genética pode ser valiosa no futuro. Valores de não-uso: Estes valores diferem fundamentalmente dos demais tipos de valor na medida em que não têm qualquer ligação com atividade econômica, direta ou indiretamente. Os valores de não- uso também são denominados ‘valores de existência’ e se referem à conservação como fim em si mesmo. Por exemplo, podemos atribuir valor aos ursos polares apenas porque são criaturas vivas com as quais dividimos a Terra e sentimos ter um dever moral de preservar os habitats que os sustentam” (TEEB, 2011, p. 42).

viveram no lugar, na terra que herdaram, portanto, “há sempre a relação de maior respeito com a terra e seus recursos, inclusive a água”, bem como “sabem que só irão continuar vivendo no lugar se existir água, os mesmos buscam proteger suas fontes, às vezes até independentemente de uma legislação ambiental em vigor” .

Para atingirmos o objetivo central dessa pesquisa, foi necessário conhecer a realidade dos produtores rurais e fornecedores de leite que vivem em propriedades situadas na área de estudo. A pesquisa está proposta em quatro capítulos, os quais estão estruturados de acordo com os objetivos específicos, que são apresentados a seguir:

• Reconhecer os usos dos recursos naturais na bacia hidrográfica do Córrego Quilombo; • Identificar as tensões e contradições nas determinações do Estado para os usos da água

no lugar;

• Analisar as práticas (re)produtivas e suas implicações nos usos da água na área de estudo;

• Apontar medidas para que haja a efetivação da gestão da água no lugar, conforme determinado pela lei.

Desse modo, a tese é um estudo do uso da água considerando o território. Nele analisamos as estratégias que cada sujeito realiza, (re)formula e/ou (re)organiza, necessariamente no lugar vivido, indicando como elas funcionam como referência no uso da água. Analisamos como que, no enfrentamento de suas demandas, acionam práticas campesinas antigas e novas, indicando uma campesinidade que se metamorfoseou em outras situações da vida. Neste processo são desenvolvidas mutualidades e reciprocidades socioculturais. A ética e a moral religiosa junto à Comunidade também possibilita contextualizações no atendimento da legislação ambiental .

Cada objetivo fundamenta a elaboração dos capítulos que compõem esta tese de doutorado. Diante dos objetivos apresentados tem-se a problemática da pesquisa, onde alguns questionamentos foram surgindo: Quais os usos que se fazem dos recursos naturais na bacia hidrográfica do Córrego Quilombo? Como os modos de vida dos produtores rurais da comunidade Sobradinho vão se adaptando às contradições e tensões do modo de produção da 12 13

12 Conforme orientação recebida. Março, 2017.

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agroindústria leiteira? Como os produtores rurais se organizam para atender as legislações ambientais em relação aos usos da água? O que ainda falta para a efetivação da gestão da água no lugar?

No primeiro capítulo foi apresentado como se encontra estruturada a gestão da água no Brasil, destacando as bacias hidrográficas no (re)ordenamento territorial, identificando as redes produtivas e relações que estão presentes entre os produtores rurais e fornecedores de leite.

Assim, no Capítulo 1 são destacados, sobretudo, os aspectos físicos e socioculturais, sendo esses últimos aprofundados no Capítulo 3. Tais aspectos influenciam as formas de organização como fornecedores de leite para os mercados local e regional, dos quais serão tratados nos Capítulos 2 e 3, bem como para planejamento que será exposto no Capítulo 4 desse trabalho. Esse capítulo é dedicado a estabelecer uma reflexão a respeito dos conceitos que envolvem uma das principais categorias geográficas utilizadas nesta pesquisa, o território.

O uso da categoria território justifica-se pelas territorialidades dos produtores rurais que foram constituídas ao longo de seu desenvolvimento histórico cultural, como as relações sociais e os vínculos que vão sendo construídos no local. Podemos considerar os vários usos do território e seus significados.

Segundo Raffestin (2011), os usos e apropriações do conhecimento e do domínio envolvem o território, conferindo legitimidade. Neste sentido, os produtores rurais da área pesquisada exercem domínio sobre os seus saberes e fazeres na produção de leite. Mas para que esse poder seja legitimado, ele precisa desempenhar o seu trabalho de acordo com as exigências do mercado ou seja, dos laticínios, os quais cumprem com as legislações estaduais.

Para Braga, Lages e Morelli (2004):

A territorialidade reflete, então, o vivido territorial em toda sua abrangência e em suas múltiplas dimensões-cultural, política, econômica e social.” Os homens ‘vivem’, ao mesmo tempo, o processo territorial e o produto territorial por intermédio de um sistema de relações existenciais e/ou produtivistas”, entendendo-se que “todas são relações de poder, visto que há interação entre os atores que procuram modificar tanto as relações com a natureza como as relações sociais. (BRAGA; LAGES; MORELLI; 2004, p.29).

Há que considerar a situação dos produtores rurais em questão, os quais estão vivendo o processo territorial e o produto territorial através das relações sociais, culturais e econômicas estabelecidas no local. Eles estão na condição de fornecedores de leite, “obrigados ao cumprimento das exigências do mercado, continuam sendo sujeitos sociais e culturais que mantêm seus modos de vida baseados parcialmente nos moldes tradicionais, porém, atentos às novas imposições, sobretudo da legislação e do mercado”14.

Entendendo que povo, território e poder compõem a teia do Estado, trataremos desse emaranhado complexo e contraditório no Capítulo 2. Analisamos quais são os motivos que sustentam a formação de um Estado e quais são as principais ferramentas de poder que o mesmo utiliza para se manter. Destacamos a essência do Estado moderno que sustenta e atende as exigências do modo de produção capitalista.

Nessa perspectiva é analisado como o Estado, totalitarista e autoritário, utiliza-se de políticas públicas e legislação para fazer a gestão da água, dada a sua importância biológica, sociocultural e econômica. Assim, é necessário entender como o Estado se articula para a implementação da gestão dos recursos hídricos nos territórios, seja em âmbito nacional ou local. Neste sentido, a categoria lugar é fundamental para nos ajudar a compreender como se dá a atuação do Estado, sobretudo na gestão da água na bacia hidrográfica do Córrego Quilombo, visto que é no lugar que percebemos se a legislação e as políticas públicas se concretizam conforme são planejadas.

Para Carlos (2007):

O lugar poderia ser definido a partir da densidade técnica (que tipo de técnica está presente na configuração atual do território), a densidade informacional (que chega ao lugar tecnicamente estabelecido) a ideia de densidade comunicacional (as pessoas interagindo) e, também em função da densidade normativa (o papel das normas em cada lugar como definitório). A esta definição seria preciso acrescentar a dimensão do tempo em cada lugar que poderia ser visto através do evento no presente e no passado. (CARLOS, 2007, p.17)

No campo foi possível presenciar os três tipos de densidades definidos por Carlos (2007). Com relação à densidade técnica, destaca-se duas formas diferentes de produção: a artesanal ou manual e a tecnificada, representada pela ordenha mecânica. Quanto à densidade

comunicacional, percebe-se que os próprios produtores rurais interagem entre si através da troca de experiências na produção leiteira, e além disso, a comunicação que também ocorre com os laticínios são estabelecidas por relações econômicas entre as partes. Por fim, a densidade normativa está presente no lugar através das normatizações sanitárias que são exigidas pelo mercado de produção, juntamente com o Estado, bem como as legislações ambientais que auxiliam na preservação e/ou conservação dos cursos de água e das APP.

Segundo Kinn (2010, p.56), “as relações de grupos sociais com a natureza à sua volta e as interferências daqueles nesta determinam o lugar, uma fração do espaço em relação às demais”.

Para Silva (2012, p. 73) “um lugar concreto, e espaço de relações sociais, culturais e econômicas. É ele que captura nosso olhar geográfico, científico e investigativo, poético e afetivo. Nossa atenção no momento tem sido um ‘lugar’ em especial: o lugar rural!”

Entretanto, a localização é diferente do lugar, pois o lugar inclui o vivido, o enraizamento, o denso, o que é forte, o que é articulado pelos sujeitos dali, só acontece ali, daí a riqueza, o particularismo.

Com relação à atuação do Estado, destacam-se as políticas públicas que envolvem a efetiva ocupação e produção agropecuária que se deu no Cerrado brasileiro. A partir dessa explanação é possível entender como o Estado se faz presente na bacia hidrográfica do Córrego Quilombo, seja por meio das políticas públicas, leis, assistência técnica, escolas, considerando ou não as especificidades locais.

O Estado apresenta-se na bacia hidrográfica do Córrego Quilombo através das leis ambientais que os produtores rurais estão submetidos no momento em que se conscientizam da preservação das APP e dos cursos de água que abastecem suas propriedades. Esses produtores rurais têm se tornado “produtores” de água pelo fato de utilizarem este recurso sem desperdício. Além disso, eles armazenam a água para manter a produção de leite. Esta questão será abordada com ênfase no Capítulo 2, trata de como os produtores rurais e fornecedores de leite se organizam para atender as legislações ambientais em relação aos usos da água.

No terceiro capítulo consideramos a comunidade e o Conselho Comunitário de Desenvolvimento Rural do Sobradinho (CCDR Sobradinho) para estabelecer o debate das redes do laticínio como nós da rede social presente na área de estudo, sem desprezar os

desdobramentos do processo de globalização. Para tanto, deve-se sempre resgatar os conceitos apresentados no Capítulo 1 ao tratar de território, da atuação do Estado e suas ferramentas de poder, apresentados no Capítulo 2.

Vale ressaltar que entendemos a rede como um conjunto de estratégias para capturar a logística espacial presente no território, que envolve o fornecimento de ração, de transporte, armazenamento e refrigeração do leite. O laticínio se utiliza para garantir a produção de leite local a partir da rede social estabelecida pelas famílias no lugar.

Esta rede estabelece as relações sociais e econômicas, fortalecendo a implementação das políticas públicas nas propriedades rurais da comunidade de Sobradinho. Na condição de fornecedores de leite, eles possuem relações econômicas com os laticínios, e como “produtores” de água, têm a possibilidade em receber o PSA, caso façam parte do Projeto Produtores de Água da ANA.

Nesse contexto, as redes surgem para atender as exigências do capitalismo, pois são as principais formas de articulação num dado espaço-tempo, bem como para se opor ao domínio dessa lógica. Os produtores rurais poderão se opor a essa lógica capitalista através da inviabilidade da produção leiteira. Outro aspecto que é necessário destacar refere-se à faixa etária dos proprietários rurais, que, por serem idosos, certamente não permanecerão como fornecedores de leite por muito tempo. Sendo assim, seus herdeiros decidirão se permanecem ou não como produtores de leite.

Desse modo, destacamos a rede tecida pelo laticínio, apresentando os principais aspectos em âmbito local, bem como as intervenções do Estado na cadeia produtiva, sobretudo por meio das políticas públicas para promover a produção regional. Analisamos as imposições que são realizadas para se obter qualitativa e quantitativamente o leite no lugar.

No quarto capítulo ressaltamos a importância da água nas mais diversas áreas que compõem a vida no planeta e da sua importância para a produção de leite conforme a legislação ambiental brasileira quanto aos aspectos da preservação e/ou conservação dos recursos hídricos.

O objetivo desse capítulo é compreender como ocorre a transformação ou efetivação dos fornecedores de leite em “produtores” de água na bacia hidrográfica do Córrego Quilombo. Em nossas análises contemplamos o atual quadro de (re)ordenamento territorial

em que estão inseridos os envolvidos, visto que a legislação vigente prevê a bacia hidrográfica como recorte espacial para a realização do planejamento e gestão.

Heidrich (2010, p. 26) escreve que “[...] a riqueza da análise advém justamente da possibilidade de articulação dos fatos e processos em condições que diferem”, dessa forma a pesquisa não vai analisar a problemática apenas por uma categoria, mas contemplando o território e o lugar. Visto que, a articulação dos mesmos possibilita a compreensão da complexidade existente.

Consideramos que a temática da gestão da água é de extremo interesse do Estado, comunidade e pessoas, portanto, envolve relacionamento e poder. Assim, são necessárias pesquisas que contemplem os diversos problemas socioambientais “nos quais a humanidade está envolvida, seja como responsáveis ou vítimas”15, bem como que visualizem a “emergência do novo” (HAESBAERT, 2009).

Portanto, trata-se de uma questão geopolítica envolvendo estratégias em várias escalas de posse e controle da água que se utilizam das leis vigentes. Tendo em vista que são ferramentas utilizadas pelo Estado para mediar os interesses individuais e coletivos de produção, preservação e/ou conservação ambiental e qualidade de vida.

Também apresentamos as principais características socioculturais da comunidade do Sobradinho, com destaque para os fornecedores de leite na bacia hidrográfica do Córrego Quilombo e seus usos da água, bem como seus desdobramentos na produção de leite.

Mostramos que os produtores rurais, mesmo atendendo dentro de seus limites as imposições do agronegócio, bem como da legislação ambiental, tem nessa cadeia produtiva a agroindústria como a figura mais representativa da lógica capitalista, apesar de apresentarem traços de uma campesinidade que não se pode ignorar, percebidos por meio da cotidianidade a partir das práticas, saberes e saberes. Considerar essas características é de extrema relevância para compreender as estratégias que eles criam e recriam para resolver os desencontros16 assinalados e analisados no segundo capítulo.

Ainda no quarto capítulo serão propostas medidas para a efetivação dos fornecedores de leite em “produtores” de água, para que os mesmos continuem existindo no lugar com a

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