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Comparação com uma amostra de empresas semelhantes

No documento GARANTIA MÚTUA EM PORTUGAL (páginas 34-43)

Os resultados anteriores, baseados na comparação entre a situação das empresas que utilizaram a Garantia Mútua antes e depois de o fazerem, apontam para as seguintes conclusões:

 A utilização da Garantia Mútua está associada, de forma estatisticamente significativa, a um aumento dos recursos financeiros ao dispor das empresas apoiadas, com um crescimento quer dos capitais alheios quer dos capitais próprios;

 Este acréscimo dos meios financeiros tem sido canalizado sobretudo para o reforço do activo circulante das empresas;

 O volume de negócios das empresas apoiadas apresenta um ligeiro crescimento mas este efeito não é estatisticamente significativo; em contrapartida, a sua rentabilidade apresenta uma ligeira queda, que também não atinge níveis convencionais de significância estatística;

 A conjugação dos dois efeitos anteriores resulta numa redução da taxa de rentabilidade do volume de negócios.

O procedimento utilizado não permite, no entanto, afirmar que estes efeitos decorram inequivocamente da utilização da Garantia Mútua, uma vez que não é efectuado qualquer controlo para o que o aconteceria às empresas analisadas se não a tivessem utilizado. Em particular, deve ser tido em conta que, devido ao crescimento exponencial que a Garantia Mútua tem conseguido, a amostra é dominada por operações realizadas nos períodos mais recentes, especialmente no ano de 2008. Não é, portanto, possível ter a certeza que aqueles efeitos não se devam à evolução da conjuntura económica naquele ano em vez de ao recurso à Garantia Mútua.

O propósito da presente secção é testar a robustez daqueles resultados. Se tal fosse possível, gostaríamos de comparar a evolução efectiva das empresas apoiadas pela Garantia Mútua com a evolução que teriam tido caso a ela não tivessem recorrido. Mas, evidentemente, não é possível saber de forma segura o que teria acontecido nesse caso. Alternativamente, o que fazemos é comparar a performance das empresas que recorreram à Garantia Mútua com a de empresas semelhantes que não o fizeram. Como explicámos na secção relativa à metodologia,

“emparelhámos” cada empresa que recorreu à Garantia Mútua com uma empresa, ou conjunto de empresas, com características semelhantes mas que não recorreram à Garantia Mútua.

Calculámos a diferença entre os indicadores económico-financeiros de cada empresa apoiada e das empresas semelhantes no ano anterior a essa operação financeira, no ano em que se realizou e no ano seguinte e procedemos à análise estatística da evolução dessas diferenças: sendo as empresas, à partida, semelhantes e sendo a única diferença sistemática entre as duas amostras a

Garantia Mútua em Portugal

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obtenção de Garantia Mútua, as alterações observadas nessas diferenças devem-se, com elevado grau de probabilidade, à obtenção da garantia.3

Estrutura de capitais

Como se pode verificar na Ilustração 2.10, no ano anterior ao recurso à Garantia Mútua, as empresas que a ela recorreram tinham um nível absoluto de endividamento bancário e de dívida inferior ao das empresas semelhantes com que estão a ser comparadas. Os elementos disponíveis sugerem que essa diferença se atenuou ligeiramente no ano da garantia e, no caso do endividamento total, também no ano seguinte.

Ilustração 2.10 - Evolução da diferença de endividamento entre as empresas que recorreram à Garantia Mútua e a amostra de empresas “semelhantes”

Fonte: SPGM (empresas apoiadas pelas SGM e ano das operações), SABI (dados contabilísticos).

Nota: n-1, n e n+1 são, respectivamente, o ano anterior, o ano do recurso à Garantia Mútua e o ano posterior; os valores apresentados são os da mediana da diferença entre o valor da variável em cada empresa apoiada pelas SGM e a empresa, ou empresas, semelhantes.

Uma interpretação possível para estes resultados é que o acesso à Garantia Mútua tenha permitido a estas empresas diminuir uma eventual desvantagem no acesso ao crédito, quer bancário, quer de fornecedores, face a empresas comparáveis.

O impacto da Garantia Mútua no capital próprio é mais ambíguo (Ilustração 2.11): a diferença negativa face a empresas comparáveis agrava-se no ano da obtenção da garantia mas diminui no ano seguinte, deixando a diferença entre os dois grupos de empresas praticamente inalterada face à situação inicial. Na amostra alargada de apenas 2 anos, a diferença entre os dois grupos de empresas é constante. Estes resultados sugerem que o acesso à Garantia Mútua não terá tido impacto relevante no capital próprio das empresas apoiadas, ao contrário do que a análise da evolução desta variável, na secção anterior, dava a entender.

3 Este procedimento é conhecido na literatura como differences-in-differences.

dívida total

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Relatório Final

Ilustração 2.11 - Evolução da diferença de capital próprio entre as empresas que recorreram à Garantia Mútua e a amostra de empresas “semelhantes”

Fonte: SPGM (empresas apoiadas pelas SGM e ano das operações), SABI (dados contabilísticos).

Nota: n-1, n e n+1 são, respectivamente, o ano anterior, o ano do recurso à Garantia Mútua e o ano posterior; os valores apresentados são os da mediana da diferença entre o valor da variável em cada empresa apoiada pelas SGM e a empresa, ou empresas, semelhantes.

Ilustração 2.12 - Evolução da diferença no rácio dívida bancária / capital próprio entre as empresas que recorreram à Garantia Mútua e a amostra de empresas “semelhantes”

Fonte: SPGM (empresas apoiadas pelas SGM e ano das operações), SABI (dados contabilísticos).

Nota: n-1, n e n+1 são, respectivamente, o ano anterior, o ano do recurso à Garantia Mútua e o ano posterior; os valores apresentados são os da mediana da diferença entre o valor da variável em cada empresa apoiada pelas SGM e a empresa, ou empresas, semelhantes.

A análise do rácio entre dívida bancária e capital próprio corrobora os resultados anteriores:

como se pode ver na Ilustração 2.12, no ano anterior à obtenção da Garantia Mútua, este rácio -60

-55 -50 -45 -40 -35 -30 -25 -20

n-1 n n+1

amostra 3 anos

amostra 2 anos

-4,0%

-3,0%

-2,0%

-1,0%

0,0%

1,0%

2,0%

n-1 n n+1

Garantia Mútua em Portugal

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capitais dos seus utilizadores, permitindo-lhes aumentar o peso do endividamento bancário no seu financiamento.

Custo do financiamento

Em consonância com a conclusão anterior, a evidência disponível mostra que as empresas apoiadas pela garantia, antes de a ela recorrerem, pagavam um montante de juros inferior ao da amostra de empresas semelhantes mas que essa diferença se estreitou consideravelmente no ano seguinte à obtenção de Garantia Mútua (Ilustração 2.13). Essa tendência é até mais rápida quando consideramos a amostra alargada de apenas dois anos.

Ilustração 2.13 - Evolução da diferença nos juros pagos entre as empresas que recorreram à Garantia Mútua e a amostra de empresas “semelhantes”

Fonte: SPGM (empresas apoiadas pelas SGM e ano das operações), SABI (dados contabilísticos).

Nota: n-1, n e n+1 são, respectivamente, o ano anterior, o ano do recurso à Garantia Mútua e o ano posterior; os valores apresentados são os da mediana da diferença entre o valor da variável em cada empresa apoiada pelas SGM e a empresa, ou empresas, semelhantes.

Ao contrário do que se poderia esperar, a Ilustração 2.14 mostra que, antes do recurso à garantia bancária, a mediana da taxa de custo do endividamento bancário era menor nas empresas que depois recorreram à Garantia Mútua do que as empresas da amostra de controlo.

Especificamente, 57% das empresas que recorreram à Garantia Mútua suportavam uma taxa de custo média do endividamento bancário inferior à da empresa ou empresas com que foram emparelhadas. E, também contrariando as expectativas, o recurso à Garantia Mútua foi acompanhado de uma redução da diferença entre os dois grupos de empresas.

amostra 3 anos

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Relatório Final

Deve, no entanto, notar-se que a amostra para a qual dispomos de informação suficiente para calcular esta taxa de custo é de menor dimensão do que a da maioria das restantes variáveis, pelo que este resultado deve ser encarado com alguma cautela. Ainda assim, quando consideramos a taxa de custo da totalidade do financiamento externo, para a qual dispomos de uma amostra de dimensão semelhante à das restantes variáveis, encontrámos um resultado semelhante embora de menor valor absoluto. Da mesma forma, a análise da taxa de custo do endividamento bancário na amostra alargada, de apenas dois anos, mostra tendências muito parecidas.

Este resultado, a confirmar-se, é susceptível de várias interpretações. Uma possibilidade seria que as empresas que recorreram à Garantia Mútua enfrentassem anteriormente restrições no acesso ao crédito, fossem restrições absolutas ou restrições resultantes de lhes ser solicitada uma taxa de custo muito superior à que estavam a pagar por créditos anteriores. A Garantia Mútua poderá ter permitido reduzir essas dificuldades, permitindo-lhes o acesso a crédito a taxas que, apesar de superiores às que pagavam anteriormente, fossem semelhantes às pagas pelas empresas da amostra de controlo. Outra possibilidade, com implicações muito diversas, é a de as instituições financeiras terem canalizado para a Garantia Mútua empresas com boas condições de risco, tendo estas operações sido efectuadas a taxas superiores às anteriores, em resultado das condições de mercado ou das condições contratadas.

Ilustração 2.14 - Evolução da diferença na taxa de custo do endividamento bancário entre as empresas que recorreram à Garantia Mútua e a amostra de empresas “semelhantes”

Fonte: SPGM (empresas apoiadas pelas SGM e ano das operações), SABI (dados contabilísticos).

Nota: n-1, n e n+1 são, respectivamente, o ano anterior, o ano do recurso à Garantia Mútua e o ano posterior; os valores apresentados são os da mediana da diferença entre o valor da variável em cada empresa apoiada pelas SGM e a empresa, ou empresas, semelhantes.

Investimento, imobilizado e activo

As empresas que recorreram à Garantia Mútua tinham, como se pode verificar na Ilustração 2.15, valores de imobilizado e, sobretudo, activo total substancialmente inferiores aos das empresas da

-3,0%

-2,5%

-2,0%

-1,5%

-1,0%

-0,5%

0,0%

n-1 n n+1

Garantia Mútua em Portugal

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amostra de controlo. Com o recurso à Garantia Mútua, verificou-se uma considerável redução na diferença do activo total e uma ligeira atenuação da diferença no imobilizado.

Ilustração 2.15 - Evolução da diferença no activo e imobilizado entre as empresas que recorreram à Garantia Mútua e a amostra de empresas “semelhantes”

Fonte: SPGM (empresas apoiadas pelas SGM e ano das operações), SABI (dados contabilísticos).

Nota: n-1, n e n+1 são, respectivamente, o ano anterior, o ano do recurso à Garantia Mútua e o ano posterior; os valores apresentados são os da mediana da diferença entre o valor da variável em cada empresa apoiada pelas SGM e a empresa, ou empresas, semelhantes.

activo imobilizado

-200 -180 -160 -140 -120 -100 -80 -60 -40 -20 0

n-1 n n+1

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Relatório Final

Ilustração 2.16 - Evolução da diferença no investimento entre as empresas que recorreram à Garantia Mútua e a amostra de empresas “semelhantes”

Fonte: SPGM (empresas apoiadas pelas SGM e ano das operações), SABI (dados contabilísticos).

Nota: n-1, n e n+1 são, respectivamente, o ano anterior, o ano do recurso à Garantia Mútua e o ano posterior; os valores apresentados são os da mediana da diferença entre o valor da variável em cada empresa apoiada pelas SGM e a empresa, ou empresas, semelhantes.

Esta evolução é consistente com os resultados apresentados na secção anterior, que apontavam para que o acesso à Garantia Mútua tivesse viabilizado primordialmente o crescimento do activo circulante das empresas apoiadas. No entanto, apesar do impacto no imobilizado aparentar ser ligeiro, os elementos disponíveis apontam também para uma redução na diferença entre os níveis de investimento das empresas apoiadas pelas SGM e das empresas da amostra de controlo, como se observa na Ilustração 2.16. Isto sugere que as empresas que recorreram à Garantia Mútua teriam investido menos caso não o tivessem feito.

Volume de negócios e rentabilidade

Também em termos de volume de negócios, o acesso à Garantia Mútua parece ter permitido às empresas apoiadas aproximarem-se das empresas da amostra de controlo. Quando consideramos a amostra de cerca de 1.500 empresas, este efeito apenas se verifica no ano seguinte à operação, como se vê na Ilustração 2.17. Com a amostra de cerca de 12.000 empresas que se fica pelo ano da operação, este efeito é mais rápido. Estes resultados parecem indicar que a queda do volume de negócios no ano posterior à obtenção da garantia que reportámos na secção anterior se terá devido essencialmente à conjuntura económica, sendo o impacto daquela operação, em si mesma, positivo.

O mesmo acontece em termos de resultados (Ilustração 2.18) com as empresas que recorrem à Garantia Mútua a aproximarem-se da amostra de controlo, particularmente no ano seguinte à operação.

-10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0

n-1 n n+1

Garantia Mútua em Portugal

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Ilustração 2.17 - Evolução da diferença no volume de negócios entre as empresas que recorreram à Garantia Mútua e a amostra de empresas “semelhantes”

Fonte: SPGM (empresas apoiadas pelas SGM e ano das operações), SABI (dados contabilísticos).

Nota: n-1, n e n+1 são, respectivamente, o ano anterior, o ano do recurso à Garantia Mútua e o ano posterior; os valores apresentados são os da mediana da diferença entre o valor da variável em cada empresa apoiada pelas SGM e a empresa, ou empresas, semelhantes.

Ilustração 2.18 - Evolução da diferença nos resultados entre as empresas que recorreram à Garantia Mútua e a amostra de empresas “semelhantes”

Fonte: SPGM (empresas apoiadas pelas SGM e ano das operações), SABI (dados contabilísticos).

Nota: n-1, n e n+1 são, respectivamente, o ano anterior, o ano do recurso à Garantia Mútua e o ano posterior; os valores apresentados são os da mediana da diferença entre o valor da variável em cada empresa apoiada pelas SGM e a empresa, ou empresas, semelhantes.

amostra 3 anos amostra 2 anos

-140 -130 -120 -110 -100 -90 -80

n-1 n n+1

resultado operacional resultado líquido

-10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0

n-1 n n+1

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Relatório Final

Ilustração 2.19 - Evolução da diferença na rentabilidade do volume de negócios entre as empresas que recorreram à Garantia Mútua e a amostra de empresas “semelhantes”

Fonte: SPGM (empresas apoiadas pelas SGM e ano das operações), SABI (dados contabilísticos).

Nota: n-1, n e n+1 são, respectivamente, o ano anterior, o ano do recurso à Garantia Mútua e o ano posterior; os valores apresentados são os da mediana da diferença entre o valor da variável em cada empresa apoiada pelas SGM e a empresa, ou empresas, semelhantes.

Embora as diferenças sejam pouco expressivas, verifica-se igualmente, na Ilustração 2.19, que o recurso à Garantia Mútua permitiu às empresas apoiadas passar de uma rentabilidade do volume de negócios inferior à da amostra de controlo para uma rentabilidade superior.

Em síntese, a comparação entre as empresas que recorreram à Garantia Mútua e empresas semelhantes que não o fizeram aponta para que o recurso a este instrumento financeiro tenha tido os seguintes efeitos nas empresas apoiadas:

 Alteração da estrutura de capitais, com reforço dos capitais alheios;

 Manutenção de uma vantagem em termos de custo do endividamento face às empresas de controlo, embora por margem menor do que anteriormente;

 Reforço do activo e evolução do investimento mais favorável do que nas empresas de controlo;

 Evolução do volume de negócios e da rentabilidade mais favorável do que nas empresas de controlo.

-1,0%

-0,5%

0,0%

0,5%

1,0%

n-1 n n+1

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