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Comparação ecológica entre recifes de arenito no nordeste brasileiro, enfocando seu estado de

conservação

RESUMO

Nas últimas décadas os recifes de corais vêm sofrendo severos declínios em várias regiões do planeta. A degradação recifal pode provocar grandes mudanças na estrutura e dinâmica das comunidades recifais. Diante disso, têm se aumentado o número de programas de monitoramento por todo o mundo, e no Brasil esse interesse também tem crescido. Os recifes brasileiros apresentam características peculiares que os distinguem dos recifes coralíneos, contudo o conhecimento acerca das formações recifais brasileiras ainda é escasso em várias regiões do país. O presente trabalho tem como objetivo caracterizar os recifes subtidais de Pirangi quanto aos seus componentes, comparando quanto ao uso e estado ecológico atual, visando assim subsidiar propostas futuras de manejo e então, conservação das áreas recifais na região. Foram estudados sete recifes submersos da região de Pirangi, RN, com profundidade variando de 15 à 28 m. Neles foi coletada informações acerca da cobertura do substrato, complexidade de habitat, megafauna de invertebrados bentônicos, comunidades coralíneas, ictiofauna recifal. A respeito do uso dos recifes foram realizados entrevistas direcionadas aos atores atuantes na região, como a pesca e o mergulho. Foi elaborado um índice (ESAS) para a classificação dos recifes quanto ao estado de conservação. Os recifes foram caracterizados por grande domínio de esponjas e não diferiram quanto os estado de saúde das colônias de corais. Eles diferiram quanto à rugosidade do substrato, complexidade de habitat, cobertura bentônica do substrato, na composição e.biomassa de peixes e no estado de conservação. Os valores de ESAS correlacionaram positivamente com a riqueza de peixe e a biomassa de predadores dos recifes. O recife de melhor estado de conservação (maior ESAS) apresentou os maiores valores de biomassa de peixes e variedade de grupos da megafauna. Os corais petros apresentaram menor influencia na determinação do estão de conservação dos recifes que as esponjas. A ictiofauna não sofreu influencia local dos níveis de presença antropica dos recifes (pesca e mergulho), demostrando que os processos bottow-up da estrutura recifais são mais fortemente relacionados com a estrutração da comunidade local de cada formação recifal. Entretanto, como medida de conservação da região propõe-se a elaboração de uma área de proteção marinha que engloba todas as formações recifais, de maneira a assegurar o atual estado das populações de peixes a partir de uma regulamentação do uso a área, visto que a proteção dos recifes em escala local não refletiu em uma resposta favorável a biomassa geral e a diversidade de peixes.

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INTRODUÇÃO

O substrato recifal de diversos recifes de corais do mundo está sendo cada vez mais dominados por algas (Done 1992, Hughes 1994). Muitos estudos vêm discutindo os possíveis mecanismos responsáveis por essa transição nos ecossistemas recifais (Bellwood et al. 2004). A maioria deles aponta que tais mudanças são em sua maioria decorrentes de distúrbios globais, como por exemplo, mudanças climáticas (Hughes et al. 2003) e atividades locais de origem antrópica, como a sobrepesca e a eutrofização (Jackson et al. 2001, McCulloch et al. 2003), resultando em indicadores, como branqueamento e doenças de corais. A sobreexplotação pesqueira sobre organismos-chave do ecossistema também pode ocasionar um efeito top-down na cadeia trófica do recife e provocar mudanças na composição das comunidades bentônicas recifais (Dulvy et al. 2004, McClanaham et al. 2012). Tais organismos exercem papéis cruciais na dinâmica das comunidades recifais, como é o caso dos herbívoros, que têm demonstrado serem importantes reguladores das relações entre algas e corais (Bellwood et al. 2004, Burkholder et al. 2013). Isso porque a herbívora é reconhecidamente um fator chave na estruturação da comunidade fital dos recifes de corais (Cheal et al. 2010), pois controlam o as populações de algas e favorecem os corais no processo competitivo por espaço no substrato recifal (Venera-Ponton et al. 2011). Assim, a abundância de algas é vista como uma potencial ameaça para a qualidade ecológica de um ambiente recifal coralíneo (Sandim et al. 2008), geralmente associadas a ecossistemas de baixa diversidade funcional e pouca qualidade dos serviços ecológicos (Bellwood et al. 2004, Martins et al. 2012).

Tal panorama está associado à afirmação de que a maioria dos recifes tropicais rasos é formada principalmente a partir do carbonato de cálcio secretado pelas espécies de corais (Birkeland 1997). Assim, uma maior presença dos corais bioconstrutores promoveria não só o aumento de produtividade proporcionada pelas zooxantelas associadas aos corais, mas também ao aumento na complexidade estrutural do recife, proporcionando a co-existência de espécies através do particionamento de nicho e fornecimento de refúgios contra predadores e estressores ambientais, fatores estes que podem influenciar profundamente na biodiversidade associada e consequente, na riqueza funcional do ecossistema (Coker et al. 2012, Leal et al. 2013). Uma vez que a cobertura de corais está associada diretamente a complexidade arquitetônica do recife, e tal complexidade confere importantes serviços ambientais aos humanos, o declínio da cobertura de corais representaria um declínio na complexidade estrutural dos recifes desdobrando-se em consequências ecológicas e sócio-econômicas substanciais (Conservation International 2008, Alvarez-Filip et al. 2009)

Assim, nas últimas décadas vêm aumentando o número de programas de monitoramento em áreas recifais em diversas regiões do planeta (Gomes et al. 1994,Wilkinson et al. 2003, Jokiel et al. 2004)

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para se averiguar o atual estado ecológico em que se encontram. Uma vez constatado o estado de “saúde” recifal, os gestores dispõem de algumas ferramentas para o manejo das áreas. Entre elas destacam-se Áreas de Proteção Marinhas (APM) as quais têm sido benéficas na restauração de populações de peixes e invertebrados sobrepescados, por meio de normas que limitam a pesca e outras atividades extrativistas (Jones et al. 2001, Selig & Bruno 2010). As APMs podem beneficiar indiretamente os corais ao restaurar a cadeia trófica do recife, conferindo uma maior estabilidade ao ecossistema a distúrbios e diretamente, ao prevenir praticas de pescas destrutivas, dano por ancoragem e poluição (Selig & Bruno 2010).

A preocupação mundial voltada a estes ambientes reflete-se no Brasil com o crescente interesse acerca do desenvolvimento de ações e programas direcionados à conservação dos ecossistemas recifais (Prates & Ferreira 2006, Carvalho & Kikuchi 2013, Macedo et al. 2013). Em 2010, o país se tornou signatário da Convenção sobre Diversidade Biológica propondo até 2020, 10% da sua área marinha seja contemplada com a criação de APMs (MMA 2010). Isso representa um grande desafio nacional considerando que somente 1,6% da Zona Econômica Exclusiva do Brasil encontram-se incluída em AMPs (MMA 2010).

A área recifal brasileira se estende em formações descontinuas por cerca 3000 km ao longo da plataforma continental, do nordeste até o sudeste baiano (Leão & Dominguez 2000). Tendo em vista a grande faixa costeira do Brasil e as diferentes realidades regionais com características físicas, químicas e biológicas distintas, o conhecimento acerca das formações recifais brasileiras ainda é escasso em várias regiões do país (Moura 2000, Castro & Pires 2001). Muitos fatores têm contribuído para a degradação dos ambientes recifais no Brazil, como excesso de sedimento proveniente do continente em virtude do elevado grau de desmatamento costeiro, adensamento populacional em zonas costeiras e turismo descontrolado (Moura 2000). Assim o reconhecimento de áreas prioritárias para a conservação tem se tornado uma prioridade para políticas públicas e o monitoramento dos ambientes recifais primordial para avaliações consistentes a cerca da qualidade dos ecossistemas recifais (Moura 2000). Contudo os sistemas recifais brasileiros apresentam características únicas que os diferenciam dos recifes coralíneos típicos de regiões do Caribe e do Indo-Pacífico (Maida & Ferreira 1997; Leão & Dominguez 2000, Grimaldi et al., em preparação). Parte desses recifes é composta por uma estrutura de base geológica (sedimentar) sobre a qual se encontra grande abundância de algas e esponjas, e baixa riqueza e abundância de corais, com predomínio para formas massivas (Branner 1904; Laborel 1969; Moura 2003; Grimaldi et al., em preparação).

É possível que outros grupos de organismos possam estar exercendo o papel funcional de estruturador e produtor, nos recifes brasileiros (Grimaldi et al., em preparação). Desta forma, o presente

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trabalho tem como objetivo caracterizar os recifes subtidais de Pirangi quanto aos seus componentes (estruturais, biológicos e uso antrópico), comparando quanto ao uso e estado ecológico atual, visando assim subsidiar propostas futuras de manejo e então, conservação das áreas recifais na região. Espera-se que a classificação gerada com base nos descritores seja retratada na biodiversidade de bentos e peixes associados, de forma que os recifes classificados com melhor estado ecológico, apresentem uma maior diversidade e biomassa de peixes, em especial piscívoros e carnívoros, além de uma maior riqueza de grupos bentônicos. Em função da baixa porcentagem de cobertura coralínea nos recifes em questão (Grimaldi et al., em preparação), espera-se que outros descritores relacionados a estrutura dos recifes tenham maior peso no aumento da qualidade ecológica do recife, uma vez que estes teriam uma função ecológica de promover o aumento e variabilidade de habitat, função análoga à dos corais em recifes coralíneos.

MATERIAL E MÉTODOS

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