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Comparações entre os casos estudados e a Liga de Associações

4 EM BUSCA DO ASSOCIATIVISMO DE BAIRRO E SUA

4.2 Caracterização dos Casos

4.2.4 Comparações entre os casos estudados e a Liga de Associações

Observa-se que os casos estudados apresentam distinções as quais são importantes para efeito de comparação e também de compreensão da forma como atuam as associações de bairro formais no município em questão.

Primeiramente, as comunidades representadas pelas duas associações estudadas guardam notáveis diferenças; a primeira representa bairros com características periféricas e é um bairro afastado do centro comercial da cidade, o que segundo os entrevistados dificulta a relação com o poder público. É um bairro relativamente recente e pequeno, possuindo em torno de 400 moradias. O bairro surgiu de um loteamento de um empresário do ramo imobiliário, que posteriormente se tornou prefeito local, justamente no período em que os associados citam ter havido maior contato e retorno do executivo.

A associação representa outro bairro limítrofe, de características semelhantes, o qual é citado apenas ao se tratar das cobranças feitas na prefeitura para o recapeamento das ruas. Essa representação de outro bairro não está presente no Estatuto da Associação, no qual, segundo os entrevistados, é cogitada a realização de alterações para adequação à situação atual da associação bem como as legislações mais recentes.

A associação 02 representa uma comunidade maior, somando os 4 bairros representados, há em torno de 12.000 habitantes, em número significativo para um município que , segundo estimativas do IBGE (2014), possuía em torno de 99.000 habitantes em 2014. No caso 02, verifica-se uma maior integração nos bairros e ações distintas são conduzidas nos 4 bairros representados. Destaca-se, também, a existência de diferenças entre os 4 bairros. Alguns possuem características periféricas e possuem problemas específicos em relação à mineração em área urbana.

Ambas as associações são formadas por pequenos grupos, cujos integrantes participam de diversas coletividades. A forma como agem os sujeitos, por meio de ofícios direcionados ao poder público, também, é semelhante. Essa discussão é aprofundada nos tópicos seguintes, nas categorias de análise do estudo.

Outro ponto comum é que ambas as associações participaram de um projeto, iniciado em 2013, para a criação de uma Liga de Associações no município. Os entrevistados relatam que o projeto era coordenado por um integrante da associação do bairro Cruzeiro do Sul, a qual, segundo os dados obtidos, não se encontra mais atuante e visava reunir as associações para obter maior representação política e contribuir para a formalização das associações envolvidas no projeto:

[...] eu fui convocada por um rapaz da associação do Cruzeiro do Sul, era ele que estava na frente, era ele que vinha fazer os convites, tentando mobilizar, então era muita gente, a associação que [..] que tava irregular com documento sem, ou que não estava funcionando, começou a aparecer todo mundo, aí parecia que a ideia era essa: a gente estar junto em algumas coisas que são comuns às associações, pra uma fortalecer a outra né (E1D).

O projeto seria justamente aglutinar essas associações, logicamente respeitando a individualidade de cada uma né, mas seria para poder fomentar, primeiro, a legalização de cada uma delas, porque pra você representar oficialmente uma comunidade você tem que estar legalmente constituído né, então a parte documental essa liga daria todo o respaldo, e também na parte de representação perante o poder público, seria mais forte ainda né, porque ela representa o todo (Coordenador Geral da Associação 02).

É apresentado pelos entrevistados que as primeiras reuniões desse projeto reuniram um número considerável de pessoas ligadas ao associativismo de bairro, em torno de 40 pessoas de diversos bairros e que, nas primeiras reuniões, havia presença de gestores públicos municipais:

No início, nas primeiras reuniões, tinha participação dos representantes do poder executivo, tinha o vice-prefeito anterior, antes de ser cassado, na verdade eu não sei se teve algum tipo de conversa com eles antes de convocar todas as instituições ou se foi, ou se foi uma coisa sem, espontânea desse grupo que chamou, eu sei que no início eles participaram de umas três reuniões, mas depois eles não apareceram mais né; porque umas das coisas que foram faladas é que era importante as associações montarem isso sem interferência de poder público e tudo, eu mesma fui uma que defendi muito isso nas reuniões e tudo, mas aí tava indo muito bem, eu na verdade não sei que que acontecido, eu fiquei com algumas suspeitas: uma foi que ficou muito autônomo e se, e eu tava desconfiada que iniciou meio que com o executivo chamando, e aí essa autonomia eles deram meio que uma abandonada, porque no início aquele tanto de gente, tinha refrigerante, tinha coisa e eu fiquei “Será de onde que tá vindo isso?” (E1D).

Apesar da grande mobilização inicial, percebeu-se um esvaziamento ao longo do tempo. Os entrevistados relacionam tal esvaziamento a dois fatores: primeiro, o afastamento do coordenador do projeto da associação do bairro Cruzeiro do sul, bem como a morte de um dos membros dessa associação que mais o auxiliava. Segundo, a apoio político que não se manteve ao longo do tempo, principalmente, por causa da cassação do prefeito municipal, que desestimulou a conclusão do projeto:

Nós tentamos no ano passado fazer uma liga das associações sabe, o projeto tava até indo bem pra caramba, já tava, já tinha feito, E1D que desenvolveu o estatuto da liga, que

abrangia todas as associações né, que a gente entendia que, entendia não, entende que uma associação só chegar no poder público e mais complicado e com a força da liga seria mais simples, mas só que não conseguiu levar pra frente, depois a gente descobriu porque ela não foi pra frente, porque havia muito interesse, mas por causa de um partido político né, e quando esse partido político perdeu poder aqui na cidade ele desestimulou a formação dessa liga (E1B).

Então foi muito bom o processo, no, durante o processo todo ele foi reduzindo o número de associações participando, mas ficou um grupo grande de associações ou de pessoas que estava no processo de organizar associações participando, então a gente fazia encontros, se não me engano, mensais, Primeiro discutimos o que a gente pretendia, depois começamos a elaborar o estatuto né, a gente tirou uma comissão que pegou as ideias né e pegou um modelo e elaborou, eu fazia parte dessa comissão, a comissão não funcionou muito não porque nem todo mundo participou da comissão, mas um grupinho pequeno mas... aí nós apresentamos, depois a gente ia pra reunião apresentar pro grupo todo sabe. Só que aí depois [...] não foi muito pra frente né, quem era liderança, que chamava, que é esse menino, o representante da associação do bairro Cruzeiro do Sul, ele deu uma parada, me parece que a mãe dele teve

problema de saúde (E1D).

Percebe-se, portanto, que a iniciativa da liga de associações não logrou êxito em reunir as associações para maior representação e apoio técnico, em razão não só de circunstâncias pessoais, mas também da influência do poder público no processo, que a partir de sua retirada nas reuniões, levou a um esvaziamento do projeto.

Observa-se, também, que, por meio da Associação 01, conseguiram -se maiores informações sobre esse processo, inclusive, por meio dos depoimentos do entrevistado E1D, que participou ativamente da comissão de elaboração do Estatuto da Liga das Associações. A seguir são discutidas as categorias de análise do estudo.