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5 SITUANDO O PROGRAMA ATES NO RIO GRANDE DO NORTE

5.1 ANÁLISE DOS ASSENTAMENTOS E APREENSÕES DOS AGENTES

5.1.4 Comparando os assentamentos pesquisados

As respostas dadas pelos entrevistados foram semelhantes nos três assentamentos.

Quanto ao perfil dos assentados, em todos os assentamentos a maioria é do sexo masculino, tendo a presença feminina sido maior no Assentamento Monte Alegre I, seguido do Cabelo de Negro, sendo menor no Moacir Lucena.

A implementação do Programa ATES foi considerada boa para a maioria dos pesquisados em todos os assentamentos, entretanto, uma parcela considerável o considerou ruim nos assentamentos Monte Alegre I e no Cabelo de Negro.

A relação da prática/estratégia dos agentes extensionistas foi unanimanente correspondente com o manual operacional do Programa ATES no Assentamento Moacir Lucena, tendo a maioria respondido que sim no Monte Alegre I e quase metade que não, no Cabelo de Negro.

A percepção de diferentes estratégias de implementação pelos agentes das instituições governamentais, instituições privadas e ONGs, foi quase unânime para os assentados do Moacir Lucena, sendo um pouco menor no Monte Alegre I e mais ainda no Cabelo de Negro.

Os assentados avaliaram o Programa ATES em sua maioria como bom. Entretanto, no Assentamento Monte Alegre I o número de respondentes que avaliaram o programa como ruim foi maior que os que o avaliaram como ótimo, tendo ocorrido o contrário no Cabelo de Negro. Nenhum respondente avaliou o programa como ruim no Assentamento Moacir Lucena.

Para todos os assentados do Moacir Lucena houve mudanças no assentamento com a implementação do Programa ATES, o que ocorreu também para a maioria dos assentados do Monte Alegre I e Cabelo de Negro.

Diante dessas respostas dos assentados e dos agentes extensionistas, pode- se certamente discutir, debater e entender o porquê desses obstáculos no momento da implementação.

Lotta e Pavez (2010) informam que, de uma forma mais abrangente, a implementação comparece na teoria das políticas públicas como uma esfera meramente administrativa e deixa, portanto, de considerar importantes consequências. O aspecto “meramente administrativo” aparece tanto nas

afirmativas dos agentes extensionistas como dos beneficiários do programa, de qualquer modo é algo inerente ao momento da implementação.

Exemplificando o distanciamento das políticas públicas desde a sua formulação até a implementação, autores citados (2010) rememoram as interferências internas e externas que porventura ocorrem nesse momento da implementação. “Os analistas de políticas públicas comumente se deparam com grandes diferenças quando comparam o modo como as políticas públicas são colocadas em prática e implementadas [...]”, reiteram.

Neste caso, é possível que o hiato existente entre a formulação e a implementação pareça comum, no entanto, incoerente, díspares e dissonantes dos anseios e desejos dos assentados.

A partir dessas constatações, reforça-se a ideia de se investigar cada vez mais sobre os diversos momentos das políticas públicas, enfraquecendo a lógica linear tão presente na literatura e suas possíveis consequências sejam tanto do ponto de vista normativo, teórico e prático. Todavia, isso requer de todos os pesquisadores, elaboradores, implementadores e outros sujeitos envolvidos, tempo, desprendimento para discutir cuidadosamente cada momento. Aqui reside um grande desafio: como implementar as políticas, programas e projetos, considerando efetivamente seus objetivos, propostas inovadoras, seguindo rigorosamente os objetivos?

Particularmente, ao se avaliar o Programa ATES numa perspectiva processual, foram identificados alguns problemas aparentemente semelhantes em todos os assentamentos estudados, destacando-se, dentre eles: o atraso no repasse de recursos e consequentemente o pagamento salarial dos extensionistas, e o não cumprimento do cronograma elaborado inicialmente quando vai se realizar qualquer avaliação. Dessa forma, insiste-se em reafirmar a disparidade ainda predominante entre objetivos, metas, indicadores e a eficácia ou não das políticas durante a implementação.

De um modo geral, observando a realidade dos três assentamentos rurais estudados, pode-se chegar a algumas conclusões, mesmo sendo parciais, por se entender que o cotidiano está num processo constante de redefinições, mudanças. Assim, dentre as constatações averiguadas com a pesquisa, destacam-se algumas que aparecem como fundamentais para compreender a implementação de uma política e um complexo de aspectos que as envolvem:

 Toda e qualquer política tem no seu marco teórico ideologias, concepções, interesses, razões implícitas e explicitas, tendo, portando, algumas discrepâncias entre o teórico e a implementação. Isso necessariamente quer dizer que a teoria difere da prática, no entanto a realidade onde a política é implementada, por sua vez, é mais complexa que a teoria a qual subsidiou teoricamente.

 Na implementação há sempre jogo de interesses, tanto por parte dos beneficiários quanto formuladores, implementadores e avaliadores, isso quer dizer que, necessariamente, a política, como foi formulada, coaduna com os interesses do público-alvo do programa/política/projeto.

 Comumente os objetivos de uma política (neste caso, do Programa ATES) são inovadores, ambiciosos e às vezes “revolucionários”, pois se propõe a mudar o modo de produção ou o capitalismo para uma nova sociabilidade, quando se sabe que não é uma política/programa que poderá fazer esse tipo de mudança.

 As políticas, programas e projetos, sejam para os assentamentos rurais ou não, são permeados de excelentes intenções, no entanto, entre intenção, objetivos e resultados a partir da implementação, haverão possivelmente fatores limitantes, sejam internos ou externos.

 No momento da implementação, as regras, rotinas e processos sociais são convertidos em intenções resultantes das ações dos sujeitos envolvidos. Ainda na implementação, puderam ser visualizados erros anteriores à tomada de decisões, objetivando detectar problemas mal formulados, otimismo exagerado, objetivos sem possibilidades reais de efetividade e exageros por parte daqueles que planejam, elaboram e programam, em se tratando da elaboração das políticas, programas e projetos.