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5. INFLUÊNCIA DO USO DAS REDES SOCIAIS

5.5. Comparando os efeitos totais dos modelos

A fim de sistematizar as análises desenvolvidas até aqui, por meio dos modelos de trajetória, realizou-se um quadro comparativo para permitir uma comparação mais

193 sucinta dos efeitos dos modelos. Pretende-se verificar se há validação ou não da hipótese derivada: uso das redes sociais, o tipo de escola e a escolaridade dos pais influenciam mais do que a renda na formação da cultura política dos estudantes jovens. A variável tipos de escola foi verificada na seção anterior e demonstram associações importantes na medida em que os jovens estudavam nas escolas federais e híbridas

5.5.1. Renda

Quadro 14 – Efeitos diretos da Renda

Distrito Federal Entorno do DF Todos

Atitudes Políticas .151 .221 .208

Participação Política -.040**** .073 .000****

Capital Social .046**** .015**** .044****

Conhecimento política .328 .335 .356

Valores democráticos -.026 .071 .031****

Fonte: Elaboração própria.

Os efeitos diretos da renda dos jovens sobre seus valores aqui entendidos como atitudes políticas, apresenta diferenças quando considerado o local de estudo, se Distrito Federal ou Entorno. Os jovens do Entorno são influenciados de forma mais intensa em todas as variáveis culturais analisadas. Embora haja uma proximidade do tamanho da força dessas associações em todas as variáveis culturais, os efeitos vistos sobre a participação política e sobre os valores democráticos são os que mais chamam a atenção, seja pela baixa associação encontrada em ambos os casos, seja sobre a associação contrária vista nos jovens do Distrito Federal. O valor negativo indica que a associação é inversa, ou seja, quanto mais democrático for o jovem menos chance ele tem de estar entro os jovens com maior renda. Já com relação a participação política não é possível realizar tais afirmações, uma vez que a associação entre os jovens do Distrito Federal não possui significância estatística.

Embora a associação problemática entre os valores democráticos e a renda sejam pequenas, leva-se em conta o contexto brasileiro de ambivalência democrática (MOISÉS, 2008), em que a existência de melhores condições materiais pode não significar associação de sentimentos de permanência pelo regime democrático. Ressalta-se que essa associação também pode indicar outras questões, relacionadas a sociedade brasileira. O ano de aplicação dos dados dessa, no final de 2017, antecipava as eleições presidenciais, pelo qual foi eleito um plano de governo contrário ao experimentado nos últimos 16 anos

194 no Brasil. Durante a campanha foram constantes os ataques pelos cidadãos brasileiros e alguns candidatos ao processo democrático. Assim, esses sentimentos antidemocráticos menos presentes entre os jovens com melhores condições de renda podem significar no reflexo de valores que lhes foram transmitidos pelas gerações anteriores. Sendo passível de futuras avaliações sobre a formação de uma classe alta que considere a democracia um fator problemático para a manutenção de seus privilégios sociais.

Inglehart (2009) a esse respeito avalia que no processo de substituição dos valores materiais para os valores pós-materiais há um constante questionamento dos cidadãos para com as elites. Pelas quais essas ao serem pressionadas pelo descontentamento da sociedade com seu comportamento, passam a minimizar as questões referentes a corrupção e manutenção de seus próprios privilégios. Assim, considera-se que a renda possui efeitos importantes sobre a cultura política dos jovens, principalmente se estes se encontram em meio a um contexto de vulnerabilidade social ou de instabilidade econômica.

5.5.2. Escolaridade

Quadro 15 – Efeitos diretos da Escolaridade

Distrito Federal Entorno do DF Todos

Atitudes Políticas .156 .180 .209

Participação Política -.031 .053 .003****

Capital Social .065**** .030**** .069

Conhecimento política .279 .205 .289

Valores democráticos -.015 .099 .063

Fonte: Elaboração própria.

Assim, considerando a escolaridade dos pais dos jovens em ambas as regiões, verifica-se novamente que os jovens do Entorno se destacam com relação a força das associações relacionadas a sua cultura política. Entre os jovens do Entorno, há uma vinculação mais forte relacionada as atitudes políticas, já entre os jovens do Distrito Federal se dá com o conhecimento político e capital social, embora não haja significância. Portanto, ao jovem do Entorno quanto mais acesso a um contexto mais escolarizado, provavelmente terá mais percepção sobre a relevância da política sobre seu contexto social. Enquanto que isso ocorre em menor medida sobre os jovens do Distrito Federal, cuja maior escolaridade indica apenas uma maior chance de haver acesso a conhecimentos sobre a política, e de certa forma, menor intenção de estar próximo dela,

195 embora isso não signifique associação entre o conhecimento políticos e as atitudes desses jovens.

Novamente, considerando a participação política e os valores democráticos, verifica-se o mesmo retrato das associações com relação a renda. No distrito Federal os efeitos dessas variáveis culturais são negativos, embora também sejam pequenos, e podem vir a implicar que jovens com maior contexto educativo em casa também signifique uma chance maior de possuir menor participação política e menos valores democráticos. Ressalva-se que são precisas novas pesquisas (longitudinais) para investigar se tal força dessas associações pode vir a se inverter ou aumentar entre as próximas gerações.

5.5.3. Redes sociais

Quadro 16 – Efeitos diretos do Envolvimento político nas Redes Sociais Distrito Federal Entorno do DF Todos

Atitudes Políticas .634 .597 .619

Participação Política .290 .401 .341

Capital Social .112 .141 .131

Conhecimento política .429 .447 .444

Valores democráticos .146 .199 .177

Fonte: Elaboração própria.

Agora considerados os efeitos sobre o envolvimento dos jovens em questões políticas pelas redes sociais, verificou-se que as associações mais fortes são com as atitudes políticas. Esse não é um dado surpreendente, porque embora não sejam usadas questões correlacionadas para a confecção de ambos os índices, esperava-se que essas associações fossem altas. Já que os jovens que possuem mais interesse sobre a política, provavelmente poderiam vir a utilizar as ferramentas dessas redes no uso de suas redes sociais.

Entretanto, com relação a participação política é possível identificar uma forte diferença na associação com o envolvimento político nas redes sociais. Os jovens do Entorno, que costumam utilizar mais as redes sociais, são mais propensos a estarem entre os que possuíram ou possuem atividades relacionadas à política. O que ocorre de forma mais intensa do que entre os jovens do Distrito Federal.

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Quadro 17 – Efeitos diretos da Conversa sobre assuntos

políticos visto nas Redes Sociais

Distrito Federal Entorno do DF Todos

Atitudes Políticas .634 .597 .424

Participação Política .290 .401 .274

Capital Social .112 .141 .148

Conhecimento político .429 .447 .336

Valores democráticos .146 .199 .151

Fonte: Elaboração própria.

Com relação aos efeitos totais sobre a conversa dos jovens sobre questões políticas vistas nas redes sociais, é possível identificar que tais efeitos se destacam junto as atitudes políticas e o conhecimento político. E são bem mais fracos sobre valores democráticos e capital social. Assim, os jovens que tendem a conversar mais sobre tais questões, existe grande chance de serem os mesmo que possuem atitudes políticas relacionadas e, também conhecimentos políticos.

5.5.4. Efeitos Totais

Quadro 18 – Efeitos totais dos modelos comparados

Distrito Federal Entorno do DF Total

Atitudes Políticas 74,2 80,3 92,0

Participação Política 32,6 46,0 77.3

Capital Social 20,2 19,4 19,3

Conhecimento política 75,5 80 79,1

Valores democráticos 12,9 38 43,1

Fonte: Elaboração própria.

A comparação entre os efeitos totais destaca que o Entorno do Distrito Federal pode ser mais bem explicado em todos os quesitos da cultura política avaliados dentro dos modelos. Ou seja, é possível identificar que, considerando o envolvimento político dos jovens dessa região nas redes sociais e as conversas realizadas por eles está mais atrelado a questões de renda e de escolaridade dos pais do que entre os jovens do Distrito Federal. Assim, a existência de melhores ou piores condições de valores materiais importa mais para os jovens que estão em contextos com condições socioeconômicas piores. Ou ainda melhor, quanto mais o jovem estiver em contextos com condições socioeconômicas desfavoráveis, mais importante será o quanto sua condição se iguala ou se distingue desse contexto.

197 Agora, o inverso também é relevante, o jovem imerso em um contexto socioeconômico mais equitativo, menos suas condições individuais de renda ou de escolaridade dos pais importam sobre a formação de sua cultura política. Assim, reitera- se a primeira hipótese derivada dessa tese, de que uso das redes sociais com relação à política depende do contexto socioeconômico pelo qual os jovens estão inseridos.

Já com relação a última hipótese, de que o uso das redes sociais e a escolaridade dos pais influenciam mais do que a renda na formação da cultura política, verifica-se que esta não se comprova de forma completa. Com relação ao uso das redes sociais verificou- se que os efeitos relacionados a cultura política possuem uma associação forte e significativa em todos os modelos. Entretanto, destaca-se uma força dessa associação mais relevante em contextos socioeconômicos menos favorecidos. Ou seja, os jovens em condições menos favorecidas materialmente tendem a usar de forma mais intensa as redes sociais como forma de envolver-se na política, já os jovens em melhores condições as utilizam de forma menos efetiva. Durante a coleta dos questionários alguns jovens indicaram que utilizavam a internet para se informar mais sobre política e o faziam também para gerar esclarecimento para suas famílias, que segundo eles, não entendiam de política.

Assim, em contextos socioeconômicos menos favorecidos as redes sociais têm se constituído em espaços de acesso a informações e deliberações políticas. Entretanto, verificou-se que ainda sobre as redes sociais o tipo da escola pode influenciar, ainda mais se tal escola for capaz de associar um padrão de qualidade de ensino junto a boas condições materiais de seus alunos. Pela qual o jovem possui conhecimentos políticos anteriores (transmitidos pela família ou escola) suficientes para poder organizar suas concepções políticas e utilizar as redes de forma a reproduzir uma cultura política participativa. Nesse caso não foi interesse dessa tese presumir que as redes sociais podem estar substituindo as agências de socialização política tradicionais. Foi sim de avaliar se, onde há ausência dessas agências na formação do jovem (principalmente em contextos em que este não tem condições materiais para superar os seus entraves sociais e econômicos), as redes sociais têm se constituído como canais de envolvimento político.

Como já observado anteriormente, na região do Distrito Federal, houve uma correlação muito alta do envolvimento dos jovens com as redes sociais e as atitudes políticas. Enquanto considerando-se a participação política, conhecimento político e os valores democráticos os maiores efeitos se deram entre os jovens do Entorno. Nesse

198 quesito verifica-se que no contexto socioeconômico mais favorecido os jovens possuem anteriormente ao seu envolvimento com as redes sociais, indicações de interesse sobre a política. Já entre os jovens em condições menos favoráveis isso só ocorre entre os que já buscam familiarizar-se com os conteúdos políticos ali encontrados, nesse quesito, estes acabam também formulando com mais intensidade meios de participação política, conhecimento a respeito da política, e valorização de construção de um governo mais democrático.

Ainda com relação ao teste da terceira hipótese, verificou-se que a escolaridade dos pais dos jovens, entretanto, só exerce influência quando for relacionado as atitudes e conhecimento político. Com relação a valores democráticos e a participação política, o fato de os pais possuírem maior ou menor anos de estudo não é determinante. O mesmo ocorre com relação a força da renda familiar dos jovens, em que não há associação desses com o nível de participação política do jovem ou os seus valores democráticos. Mas possui relevância sobre as atitudes políticas e uma relação mais forte ainda sobre o conhecimento político.

Com relação aos efeitos totais, considerando todos os jovens, há um destaque para as atitudes políticas e a participação política, cujos modelos explicam 92% e 77,3%. Tal associação deveras alta é devido a associação mais fortes entre as variáveis. Indicando que os jovens, possuem com alto grau de robustez entre as atitudes políticas associadas a renda, escolaridade dos pais e uso das redes sociais. Assim, destaca-se que quanto mais os jovens possuírem boas condições materiais, maiores serão as chances de esses possuírem também atitudes políticas. Nesse caso confirma-se as avaliações verificadas por Dalton (2015), pelo qual os jovens são a parcela da população mais escolarizada e com maior preocupação sobre a presença de questões políticas nas sociedades, utilizando tais redes para avaliar e envolver-se, mesmo que de forma virtual, em tais questões.

A forte associação também verificada junto a participação política, condiz com o experimentado em grande parte do mundo, em que jovens indignados têm saído as ruas, ocupando espaços de forma desordenada que indica em novas formas de manifestar-se politicamente (CASTELLS, 2013). Nesse sentido as redes sociais têm influenciado diretamente os formatos de culturas políticas, em maior grau em sociedades pós-materiais e em menor grau em sociedades ainda em nível de busca por tais questões materiais. Assim, a presença das redes sociais no processo de socialização política do jovem pode indicar na ampliação de subculturas políticas, como é o caso das duas regiões analisadas

199 que possuem diferenças socioeconômicas importantes ao processo de consolidação democrática.

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