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2.2 Certificações ambientais e Iluminação

2.2.4 Comparativo entre os sistemas de rotulagem

O Quadro 1 apresenta as principais características dos sistemas de rotulagem PBE Edifica, LEED e AQUA. Com o objetivo de subsidiar uma abordagem crítica do uso dos três sistemas de rotulagem no Brasil, partiu-se da análise geral de suas características, evolução, potencialidades e inconsistências dessa aplicação para o contexto local.

Quadro 1 - Quadro comparativo dos sistemas de rotulagem

PBE Edifica LEED AQUA

Origem Subprograma do Procel (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica) do Governo Federal Brasileiro Sistema Americano de certificação aplicado pelo USGBC e orientado no Brasil pelo GBCBrasil

Baseado na certificação francesa Démarche HQE, implementado no Brasil pela Fundação Vanzolini

Objetivo

Promover a eficiência energética nas edificações brasileiras, contribuindo para conservação de energia elétrica

Minimizar o impacto gerado ao meio ambiente em consequência dos processos relacionados ao edifício (projeto, construção e operação)

Processo de gestão que visa obter a qualidade ambiental do empreendimento nas fases de Programa, Concepção, Realização e Operação. Categorias avaliadas Envoltória, iluminação artificial, condicionamento de ar e bonificações (uso eficiente de água, emprego de fontes alternativas de energia, dentre outros). Aplica-se em duas etapas: fase de projeto e edifício construído após o alvará de conclusão da obra

Espaço sustentável, Eficiência no uso da água, Energia e atmosfera, Materiais e recursos, Qualidade ambiental interna, Inovação e processos, Créditos Regionais. O empreendimento recebe o selo após a conclusão da obra

14 subgrupos divididos em quatro bases de ação: Eco-construção, Gestão, Conforto e Saúde. Em cada uma das etapas, o empreendimento passa por auditorias e recebe uma certificação daquela fase

Níveis de

classificação

Os níveis de eficiência variam de A, mais eficiente, até E, menos eficiente

Certified (Certificado Básico), Silver (Prata), Gold (Ouro) e Platinum (Platina)

Certificado (Existem três níveis de desempenho, Bom, Superior e Excelente)

Método

O projeto do edifício pode ser avaliado segundo equações do método prescritivo ou pelo método

da simulação

termoenergética computacional

Baseado em um checklist com pré-requisitos e créditos a serem pontuados de acordo com as exigências das 7 categorias. A classificação final é obtida pela soma dos pontos atingidos nas categorias. Para certificação é preciso obter no mínimo 40 pontos em um total de 110, aumentando o exigido de acordo com cada nível

A avaliação dá-se de maneira evolutiva ao longo da estrutura em árvore composta de Categorias, Subcategorias e Preocupações. Para obtenção da certificação deve ser alcançado "excelente" em pelo menos 3 categorias, "superior" em 4 e "bom" em 7, do total de 14 categorias

Os três sistemas de rotulagem foram criados por diferentes órgãos, para diferentes fins, em diferentes contextos e possuem diferentes métodos. O foco do PBE Edifica é a redução do consumo de energia elétrica, enquanto os outros dois sistemas são mais abrangentes, envolvendo outros critérios de sustentabilidade. No entanto, a aplicabilidade das certificações internacionais no contexto brasileiro é bastante discutida por diversos autores, tema a ser abordado nesse tópico.

Segundo Silva (2003), para o desenvolvimento de diretrizes para a criação de uma certificação direcionada ao contexto brasileiro deveriam existir princípios sólidos, como os propostos a seguir:

• Para ser tecnicamente consistente, um método de avaliação deve ser adaptado a dados nacionais relevantes;

• Para ser viável, um método de avaliação deve ser adaptado ao mercado, às práticas de construção e às tradições locais;

• Para ser absorvido e difundir-se rapidamente, um método de avaliação deve ser desenvolvido em parceria com as principais partes interessadas: investidores, empreendedores/construtores e projetistas;

• Para ser apropriado ao contexto nacional, os itens avaliados no método devem ser ponderados para refletir prioridades e interesses nacionais.

Apesar dos pontos fracos das certificações importadas de outros países, elas trazem um impacto positivo e a aplicação desses sistemas pode ser considerada benéfica, mesmo que esses benefícios não sejam ainda suficientemente abrangentes para atender às demandas locais. Bueno et al (2010) reportam que a ineficiência da aplicação de metodologias internacionais no contexto brasileiro não deriva de alguma falha inerente a tais certificações, e sim do fato de tais sistemas terem sido criados para um contexto específico, no qual são muito frequentemente aplicados com sucesso.

Tanto o LEED quanto o AQUA, quando da utilização de normas estrangeiras como referências em alguns créditos e preocupações, possibilitam mascarar inconsistências, sendo muito exigentes ou pouco exigentes em questões pouco importantes ou muito importantes, respectivamente (HERNANDES ET AL, 2007). Porém existe um esforço no processo de tropicalização e adaptação à normativa e parâmetros nacionais. Segundo o GBCBrasil (2012), a adaptação referente à iluminação artificial será a inclusão da norma NBR 5413 (1992) que indica níveis mínimos e máximos de iluminância e, com isso, se iguala às preocupações da

subcategoria do AQUA, iluminação artificial confortável, que também considera esta norma. Hilgenberg (2010) cita que para a criação do AQUA, cerca de um terço dos requisitos sofreu alguma alteração. No que diz respeito à iluminação, as principais adaptações se deram nas iluminâncias de interiores onde o nível mínimo exigido para escritórios é de 500 lux, maior que os 300 lux exigidos na versão francesa HQE e na escolha de produtos de construção, onde se passou a exigir Selo PROCEL para lâmpadas fluorescentes compactas e circulares.

Bueno et al (2010) ainda ressaltam que o AQUA, em muitos parâmetros, demonstra dificuldade de medir a qualidade e a quantidade de benefícios ao meio e para o empreendimento, por concentrar seus benefícios em aspectos de difícil mensuração. Devido à variedade de soluções técnicas que podem responder às exigências explicitadas no referencial de modo a não impedir o surgimento de soluções inovadoras, o empreendedor pode lançar mão do princípio da equivalência. Através dele, ele propõe, usando justificativas claramente expostas, o emprego de um método alternativo de avaliação, baseado em critérios e indicadores diferentes dos fixados pelo referencial, não apresentando, muitas vezes, diretrizes tão claras, diretas e pragmáticas quanto o LEED. No entanto, o AQUA foi criado a partir da abordagem HQE, procedimento metodológico baseado na definição e hierarquização de objetivos para os quais o projeto e a obra são orientados. Não se trata de fornecer soluções técnicas pré-definidas, porque estas variam em função das necessidades específicas do empreendimento (HETZEL, 2003, apud ZAMBRANO, 2008). O Procedimento HQE não corresponde a um método, mas a um referencial que orienta para prioridades ambientais no projeto. O processo tende a ser uma abordagem técnica de reflexões ambientais a ser acrescida na concepção arquitetônica, como uma camada suplementar de preocupações para o projeto, além das tradicionais questões da concepção (FERNANDEZ, 2007, apud ZAMBRANO, 2008). Ainda segundo Zambrano (2008), no caso do HQE, como possível ponto negativo, observa-se a falta de clareza no processo que leva a definição dos alvos prioritários. Por estes motivos o empreendedor que faz uma certificação LEED consegue geralmente certificar pelo sistema AQUA, o contrário não sendo necessariamente recíproco. Paralelamente quem alcança um bom nível de classificação na Etiqueta PBE Edifica, facilita a pontuação do empreendimento nos critérios de energia dos sistemas LEED e AQUA. Um dos motivos para tal afirmação é que o sistema de iluminação da Etiqueta PBE Edifica utiliza como base para a

criação da sua metodologia de cálculo a mesma normativa sugerida pelo LEED, a ASHRAE/IESNA Standard 90.1-2007.

Existem questionamentos sobre a garantia dos sistemas de rotulagem na obtenção de uma construção realmente sustentável e seu elevado padrão de desempenho. Nenhum sistema de rotulagem pode garantir 100% de sustentabilidade. Toda atividade vai ter impacto de alguma ordem, mas as medidas propostas por essas certificações para projetos e obras visam minimizar esse impacto. O que se nota no Brasil é certa ansiedade pela busca de certificação, não precedida por uma preparação do mercado que tanto pode funcionar, caso ele consiga realizar estas tarefas simultaneamente à implementação das certificações, ou constituir o risco de diminuir o papel transformador das certificações, devido a esta queima das etapas de base a sua adequada implementação (PARDINI, 2009).

Apesar de questionada a consistência de cada método de avaliação, é inegável que eles são tidos como grandes divulgadores e catalisadores de princípios sustentáveis e boas práticas. No entanto, a decisão de qual sistema de rotulagem se adapta melhor ao empreendimento deve ser avaliada desde o início do processo, de maneira a garantir a redução dos impactos e a maximização de benefícios sociais e econômicos.

Por fim, Hernandes et al (2007), apontam alguns pontos fracos e alguns pontos fortes do sistema de rotulagem LEED, que apresentam características comuns ao PBE Edifica e AQUA. Os pontos fracos em comum estão relacionados abaixo:

• Os sistemas podem encobrir a quantidade real de impacto ambiental de grandes empreendimentos por permitir que empreendimentos de tamanhos completamente diferentes obtenham a mesma classificação e possam, em tese, ser comparados diretamente;

• Pelo fato de permitir a certificação de projetos com conceitos convencionais e apenas algumas preocupações ambientais, não é possível afirmar que o sistema garante boa arquitetura;

• Apesar dos sistemas apresentarem como uma vantagem estratégica a comparação direta entre projetos, proporcionada pela classificação obtida com o sistema, isso pode mascarar inconsistências relacionadas ao perfil de certificação de cada empreendimento.

• Valorização do projeto, já que para diminuir custos é necessário considerar as exigências do sistema desde as etapas mais anteriores do processo;

• Influência do mercado de fornecedores, já que eles acabam se adaptando às exigências do sistema;

• Efeito publicitário de divulgação de aspectos do alto desempenho ambiental. Espera-se um prosseguimento nos esforços para uma melhor adaptação dos requisitos no país ou até mesmo a ampliação do sistema nacional para abranger e disseminar o uso de um sistema de avaliação de sustentabilidade que atenda às demandas locais. É preciso unir esforços no sentido de caminhar para um sistema que não apenas certifique e rotule, mas que realmente avalie o desempenho ambiental das edificações.

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