Antônio Francisco de Almeida Neto (1), José Adolfo Menezes Garcia Silva (2), Marcelo Tavella Navega (3).
Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”- Faculdade de Filosofi a e Ciências, campus de Marília – De- partamento de Educação Especial
Resumo
Introdução: os avanços feitos na área da saúde possibilitaram que a expectativa de vida dos brasileiros aumentasse.
Sendo assim, mais pessoas fi cam idosas, passando por diversos processos comuns ao envelhecimento, como a dimi- nuição do equilíbrio. Resultante disso aumenta o risco de quedas, que são eventos que afetam negativamente a quali- dade de vida. O fato de mais pessoas tornarem-se idosas fez com que aumentasse a taxa de institucionalização. Ob-
jetivos: comparar o desempenho do equilíbrio e qualidade de vida entre idosos institucionalizados e não-institucio-
nalizados; correlacionar Escala de Equilíbrio de Berg (EEB) com o teste Timed Up and Go (TUG) e com o questionário
“The Medical Outcome Study 36 – Item Short-Form Health Survey” (SF-36). Métodos: Foram avaliados 20 sujeitos
idosos, dez institucionalizados e dez não-institucionalizados. Para avaliar o equilíbrio foram utilizadas a EEB e o TUG, a qualidade de vida foi avaliada com o SF-36. Foi adotado nível de signifi cância de 5% (p<0,05). O programa GraphPad
Prism 5# foi utilizado para as análises. Para identifi car o comportamento da distribuição dos dados, aplicou-se o teste
de Shapiro-Wilk. Na comparação entre os grupos, os dados com distribuição normal foram analisados pelo teste t de
Student não pareado. Os dados com distribuição não normal foram analisados com o teste não-paramétrico de Mann-
Whitney. As correlações foram analisadas pelos testes Pearson (dados normais) e Spearman (não-normais). Resulta-
dos: A média de idade para cada grupo foi 72,8±8,36 anos (GI) e 67,4±3,53 anos (GNI). O GNI teve melhor desem-
penho que o GI tanto na EEB (p=0,0017), quanto no TUG (p=0,0002). Não houve diferença signifi cativa em relação à qualidade de vida. Foi encontrada correlação entre EEB e TUG (r= -0,8907, p<0,05 para o GI e r= -0,7180, p<0,05 para o GNI) e entre EEB e o domínio Capacidade Funcional do SF-36 (r=0,7657, p<0,05 para o GNI). Conclusão: os idosos não-institucionalizados apresentaram melhor equilíbrio. Foi encontrado boa correlação entre os testes de equi- líbrio TUG e EEB. Na amostra estudada, ser institucionalizado não infl uenciou a qualidade de vida.
Palavras-chave: Idosos, equilíbrio postural, qualidade de vida, envelhecimento, instituição de longa permanência
para idosos.
Artigo recebido em 25 de junho de 2010 e aceito em 8 de setembro de 2010.
1 Fisioterapeuta formado pela Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” - Unesp- Departamento de Educação Especial, campus de Marília, Marília-SP, Brasil.
2 Fisioterapeuta formado pela Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” - Unesp- Departamento de Educação Especial, campus de Marília, Marília-SP, Brasil. Mestrando do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Humano e Tecnologias, Unesp, Instituto de Biociências, Rio Claro-SP, Brasil.
3 Professor Assistente Doutor da Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – Unesp - Departamento de Educação Espe- cial, campus de Marília, Marília-SP, Brasil. Docente do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Humano e Tecnologias, Unesp, Instituto de Biociências, Rio Claro-SP, Brasil.
Endereço para correspondência:
Marcelo Tavella Navega, Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”-Unesp - Av. Hygino Muzzi Filho, 737 Caixa postal 181 CEP 17525- 900 Marília, SP, Brasil. Telefone: 14-3402-1331, FAX: 14-3402-1302 e-mail: navegamt@marilia.unesp.br
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Equilíbrio e qualidade de vida entre idosos.
Abstract
Introduction: the improvements on the health area increased the brazilians life expectative. Because of it, more peo-
ple becomes elder, passing through various common processes of aging, as the balance decrease. Resulting form this the risk of fall increase, and this has a negative impact on the quality of life. As more people become elder the institu- tionalization tax increase. Objectives: compare the balance and quality of life between institutionalized and non-insti- tutionalized elders; correlate the Berg Balance Scale (BBS) with the Timed Up and Go test (TUG) and with the ques- tionnaire “The Medical Outcome Study 36 – Item Short-Form Health Survey” (SF-36). Methods: were evaluated 20 el- ders, ten institutionalized (GI) and ten non-institutionalized (GNI). To the balance assessment were used the BBS and the TUG, the quality of life was evaluated using the SF-36. The signifi cance level was set to 5% (p<0,05). The Graph-
Pad Prism 5# was used to analyze the data. To identify the distribution of the data was applied the Shapiro-Wilk test.
In the comparison between groups, the normal distributed data were analyzed with the Unpaired Student t test. The non-normal distributed data were analyzed with the Mann-Whitney non-parametric test. The correlations were ana- lyzed with the Pearson (normal data) and Spearman’s (non-normal data) tests. Results: the age average for each group was 72,8±8,36 years (GI) e 67,4±3,53 years (GNI). The GNI had a better performance than the GI in the BBS (*p=0,0017) as in the TUG (*p<0,0002). There wasn’t difference between the quality of life. There was correlation be- tween EEB and TUG (-0,8907 for the GI and -0,7180 for the GNI) and between EEB and the functional capacity domain from the SF-36 (0,7657). Conclusion: the non-institutionalized elders presented best balance. It was found good cor- relation between TUG and BBS. In the studied sample, to be institutionalized didn’t infl uenced the quality of life.
Keywords: Aged, Postural balance, Quality of life, Aging, Homes for the Aged.
mente incapacitante para o idoso tanto física como emocionalmente, afetando negativamente sua quali-
dade de vida (4,5).
Existem meios de avaliar ra- pidamente o equilíbrio, como por exemplo, a Escala de Equilíbrio de Berg (EEB), composta por 14 itens que exigem que a pessoa realize ati- vidades comuns da vida diária, com pontuação de zero a quatro em cada item e total de zero a 56 pontos e que foi traduzida e validada para o
Brasil por Miyamoto et al.(5).
Outro instrumento usado é o teste Timed Up and Go (TUG), que é um teste de equilíbrio e mobilida- de sensível que envolve movimen- tos funcionais, e pode ser usado como medida sensível para discri- minar pessoas com risco de queda
e pessoas sem esse risco (6). Nesse
teste avalia-se o equilíbrio sentado, transferência de sentado para em pé, estabilidade na deambulação e
mudança da direção da marcha (7).
Para avaliação da qualidade de vida foi utilizado o The Medical Ou-
tcome Study 36 – Item Short-Form Health Surve, que foi traduzido e
validado para o português por Cico-
nelli et al. (8) e é um instrumento de
fácil aplicação e compreensão, com-
posto por oito domínios: Capacida- de Funcional (CF), Aspectos Físicos (AF), Dor, Estado Geral de Saúde (EGS), Vitalidade (Vit), Aspectos Sociais (AS), Aspectos Emocionais (AE) e Saúde Mental (SM). O esco- re total vai de zero a 100, sendo que zero indica a pior condição na quali-
dade de vida, e 100 a melhor (9).
Os objetivos do estudo são: comparar o equilíbrio e qualidade de vida entre idosos institucionalizados e não-institucionalizados; verifi car a correlação da EEB com o TUG e da EEB com os domínios SF-36.
MÉTODOS
O estudo foi aprovado pelo Co- mitê de Ética em Pesquisa Envolven- do Seres Humanos da Faculdade de Medicina de Marília (CEP/FAMEMA) mediante o protocolo nº 220/09.
Foram avaliados 20 idosos (considerando-se idosas pessoas com idade igual ou superior a 60 anos). Esses foram divididos em dois grupos: Grupo de Idosos Ins- titucionalizados (GI, n=10) e Grupo de Idosos Não-Institucionalizados (GNI, n=10). Os idosos do GI re- sidiam no Lar São Vicente de Paulo da cidade de Marília/SP. O GNI foi composto por idosos que recebe-
INTRODUÇÃO
Uma das grandes conquistas da humanidade foi o aumento da ex- pectativa de vida, com concomitan- te melhora dos parâmetros de saúde da população, ainda que esta faça- nha não seja distribuída de manei- ra igual em países e situações sócio- econômicas diferentes pelo mundo
(1). Em 1991, segundo o IBGE (2) a
expectativa de vida ao nascer era de 67 anos, em 2007 essa expectativa aumentou para 72,57 anos, um au- mento de 5,57 anos nesse período.
O envelhecimento é tido como um processo onde ocorre diminui- ção da capacidade de adaptação ao meio ambiente e aumenta a pro-
pensão a doenças (3). Ocorre declí-
nio na fl exibilidade, força e massa musculares, velocidade das rea- ções de proteção, massa óssea, equilíbrio e propriocepção e tam- bém ocorrem alterações posturais
e sensitivas (3,4). Com esse proces-
so diminui a capacidade funcional e aumenta a presença de morbi- dades e doenças crônicas que são motivos que levam a família a ins-
titucionalizar o idoso(22,23).
Com essas alterações os ido- sos tornam-se mais propensos a quedas, que são um evento alta-
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Antônio Francisco de Almeida Neto, José Adolfo Menezes Garcia Silva, Marcelo Tavella Navega.
ram atendimento de Fisioterapia da Universidade Estadual Paulista – UNESP – Campus de Marília. Foram observados os seguintes critérios de inclusão e exclusão:
Critérios de inclusão:
- Ter 60 anos ou mais;
- Residir pelo menos seis meses em uma instituição de longa permanência (para o grupo institu- cionalizado).
- Assinar o termo de consenti- mento livre e esclarecido.
Critérios de exclusão: - Presença de doenças neu- romusculares, ortopédicas, senso- riais e cognitivas que impossibili- tassem a aplicação dos testes ou infl uenciem no desempenho;
- Pedir para ser retirado do estudo.
A avaliação da qualidade de vida com o SF-36 foi feita por meio de entrevista com os participantes.
A avaliação com a EEB foi feita de acordo com as instruções de
Miyamoto et al.(5).
O TUG foi realizado pedindo para o participante levantar da ca- deira, andar três metros, retornar a cadeira e sentar, sendo o tempo necessário para a realização da ta- refa cronometrado. Foram feitas três mediadas e a média foi utiliza- da para os cálculos.
Para a análise estatística foi utilizado o software GraphPad Prism
5®. Para verifi car o comportamen-
to da distribuição dos dados foi re- alizado o teste de normalidade de Shapiro-Wilk e de acordo com seu resultado foi escolhido o teste com- parativo adequado para a análise. Para comparações entre os grupos foi utilizado o teste t de Student não pareado (dados normais) e o teste de Mann-Whitney (não-normais). Para analisar a correlação entre dados normais foi utilizado o Teste de Correlação de Pearson. Quan- do a distribuição foi não-normal foi utilizado o Índice de Correlação de Spearman. O nível de signifi cância adotado foi de 5% (p<0,05).
RESULTADOS
A Tabela 1 mostra as compa- rações feitas entre o GI e o GNI, as variáveis estão representadas em Média±Desvio Padrão, valor de p, e o teste comparativo utilizado.
As fi guras 1 e 2 apresentam a
comparação dos resultados da EEB e o TUG entre os grupos.
A fi gura 3 mostra os resulta- dos dos grupos no SF-36.
A tabela 2 mostra as correla- ções signifi cativas entre os instru- mentos e seus respectivos grupos.
Tabela 1 - Comparação das variáveis entre GI e GNI.
Variáveis GI Média±DP
GNI
Média±DP Valor de p Teste Idade 72,8±8,36 67,4±3,53 0,0171* Teste t Não Pareado EEB 39±11,01 52,1±2,42 0,0017** Teste t Não Pareado TUG 18,56±6,52 8,1±3,00 0,0002*** Teste t Não Pareado CF 63 ± 23,59 71 ± 22,82 0,2999 Teste de Mann-Whitney AF 52,5 ± 38,09 60 ± 35,74 0,6682 Teste de Mann-Whitney DOR 67,75 ± 27,40 62,7 ± 25,00 0,7601 Teste de Mann-Whitney EGS 58,8 ± 17,64 65,6 ± 25,02 0,4953 Teste de Mann-Whitney Vit 62 ± 19,74 63,5 ± 17,95 0,9086 Teste de Mann-Whitney AS 65 ± 21,88 82,5 ± 22,97 0,0767 Teste de Mann-Whitney AE 53,33 ± 39,12 53,33 ± 47,66 0,9064 Teste de Mann-Whitney SM 62 ± 20,59 74 ± 25,45 0,2253 Teste de Mann-Whitney
EEB: Escala de Equilíbrio de Berg; TUG: Timed Up And Go; MEEM: Mini-Exame do Estado Mental; CF: Capacidade Funcional; AF: Aspectos Físicos; EGS: Estado Geral de Saúde; Vit: Vitalidade; AS: Aspectos Sociais; AE: Aspectos Emocionais; SM: Saúde Mental. *p<0,05; **p<0,01; ***p<0,001. Obs: o teste de Mann-Whitney foi utilizado para todas as Dimensões do SF-36 mesmo quando passaram no teste de normalidade por serem questionários subjetivos.
Figura 3 - Comparação entre o GI e GNI nos domínios do SF-36.
GI: Grupo de Idosos Institucionalizados; GNI: Grupo de Idosos Não-Institucionalizados; CF: Capacidade Funcional; AF: Aspectos Físicos; EGS: Estado Geral de Saúde: Vit: Vitalidade; AS: Aspectos Sociais; AE: Aspectos Emocionais; SM: Saúde Mental.
Figura 1 - Comparação entre o resultado do GI x GNI - EEB.
*p<0,01. GI: Grupo Institucionalizado GNI: Grupo Não-Institucionalizado. EEB: Escala de Equilíbrio de Berg.
Figura 2 - Comparação entre o resultado do GI x GNI no TUG.
*P<0,01. GI: Grupo Institucionalizado GNI: Grupo Não-Institucionalizado. TUG: Timed
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Equilíbrio e qualidade de vida entre idosos.
tudos que apontam que idosos ins- titucionalizados apresentam maior fragilidade e fatores agravantes a saúde que tendem a piorar a quali-
dade de vida(27,28), que a diminuição
de atividade física em idosos insti- tucionalizados faz com que piore a
qualidade de vida(29) e que a dimi-
nuição da capacidade funcional em idosos institucionalizados difi culta a realização de atividades de vida diária, o que afeta negativamen-
te a qualidade de vida(30,31,32). Isto
pode ser explicado pela difi culda- de de alguns idosos em entender o questionário aplicado.
Conclui-se que os idosos não- institucionalizados apresentaram melhor equilíbrio. Foi encontrada boa correlação entre os testes de equilíbrio TUG e EEB. Na amostra estudada, ser institucionalizado não infl uenciou a qualidade de vida.
O estudo apresentou algu- mas limitações: diferença de idade entre os grupos, número reduzi- do da amostra e difi culdades por parte dos idosos em compreender o SF-36. Por isso sugere-se que novos estudos sejam feitos com população maior e mais homogê- nea. Observou-se também a neces- sidade de pesquisas que avaliem o nível de compreensão que idosos possuem de ferramentas utiliza- das para quantifi car, por exemplo, a percepção da qualidade de vida.
Tabela 2 - Correlações signifi cativas entre as variáveis e seu respectivo grupo.
Variável Grupo p r
EEB x TUG GI <0,001* -0,8907
EEB x TUG GNI <0,05* -0,7180
EEB x CF GNI <0,05** 0,7657
EEB: Escala de Equilíbrio de Berg; TUG: Timed Up and GO; CF: Domínio Capacidade Funcional do SF-36. *Índice de Correlação de Pearson; **Índice de Correlação de Spearman.
DISCUSSÃO
O resultado na EEB e no TUG do GI indica que este grupo tem um equilíbrio defi citário, o que não ocorre no GNI uma vez que seu desempenho foi melhor. A nota de corte utilizada para a interpretação
da EEB foi 45 pontos(10). Para o TUG
a pontuação considerada foi de 10 segundos, sendo que na literatura foram encontrados valores de 10 a
14 segundos(11, 12).
Foi observada correlação ne- gativa entre EEB e TUG em ambos os grupos, indicando que quan- to melhor o desempenho na EEB, menor é o tempo gasto na reali- zação do TUG, e para o GNI ainda houve correlação entre o domínio CF do SF-36 e a EEB, reforçando o fato de que quanto menor a ve- locidade de marcha pior é o equi-
líbrioe quanto melhor o equilíbrio
melhor é a capacidade funcional. Estes resultados estão de acor- do com outros estudos da literatu ra(10,12,13,14,15,16,17,18,19). O fato do GI
apresentar pior desempenho nas
tarefas funcionais pode ser expli- cado devido à maior inatividade e fragilidade desses idosos e tam- bém por estarem em um ambiente
mais protegido(7,19,20,20). A presen-
ça de doenças crônicas é apontada como fator que diminui a capacida-
de funcional(21) e é um dos motivos
pelos quais a família opta por ins- titucionalizar o idoso, bem como o alto nível de dependência e a pre-
sença de morbidades(22,23).
A diferença de idade é outro fator que pode ter infl uenciado no resultado, porém era esperada essa diferença já que com o avan- çar da idade os idosos tornam-se
mais dependentes(29). Os idosos
não-institucionalizados são mais
ativos(29). É comum hoje em dia
grupos de atividade física para ido- sos em centros de saúde, propor- cionando a manutenção ou mesmo a melhora da capacidade funcional
desses idosos.(13,24,25,26,29).
Não houve diferenças quanto a qualidade de vida entre os grupos, o que não está de acordo com es-
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