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FINANCIAMENTO DO TERRORISMO

6. IMPACTO E CONSEQUÊNCIAS EM TERMOS PROCESSUAIS

6.3. Competência Cautelar

O órgão de polícia tem competência cautelar própria, podendo exercer os atos cautelares necessários e urgentes “para assegurar os meios de prova”, sem prejuízo do dever de comunicação “no mais curto prazo”. Trata‐se portanto, de uma competência cautelar preordenada para fins de processo, que pode ser exercida

mesmo antes de instaurado o inquérito229. Esta atividade não tem natureza

processual dependendo de uma convalidação que a incorpore no processo. Essa convalidação compete ao Ministério Público (resultante da sua competência de direção) e ao juiz de instrução, nos casos em que estejam em causa a tutela de direitos

fundamentais230.231

Como acima referimos, a intensidade do poder de direção do MP é limitada pelo n.º 5 do art. 2.º da LOIC, que salvaguarda, de forma expressa, a organização hierárquica a autonomia técnica e tática dos OPC. De acordo com o nº 6 do mesmo artigo “a autonomia técnica assenta na utilização de um conjunto de conhecimentos e métodos de agir adequados e a autonomia tática consiste na escolha do tempo, lugar e modo adequados à prática dos atos correspondentes ao exercício das atribuições legais dos órgãos de polícia criminal”. Nesse seguimento deve‐se entender a autonomia técnica na distinção entre: uma atividade indagatória compreensível pela fluidez e

       polícias dispõem atualmente, considerando inconstitucionais os artigos 243.º, n.º 3, 245.º, e 248.º, n.º 1, por violarem os artigos 26.º, n.º 1, 32.º, n.º 1 e 5, e 219.º, n.º 1, da CRP.  229 Não se confunde com a competência cautelar de natureza preventiva prevista no art. 30.º da LSI. 230 cfr. artigos 249.º, 251.º, n.º 1, al.ª a) e n.º 2, 252.º, n.º3, 253.º, n.º2, e 174.º, n.º 4, al.ª a), e n.º 5 do CPP. 231 Sendo que, no caso dos atos pertencerem à reserva de competência exclusiva do juiz de instrução e

do Ministério Público, está vedada a prática de atos cautelares (artigos 268.º, 269.º, 270.º, n.º 2, e 290.º, n.º 2), cabendo os demais atos cautelares na clausula geral do n.º 1 do art.º 249.º. cfr. ALBUQUERQUE, Paulo Pinto de, op. cit., p. 674 e 675.

pela plasticidade deixada pela lei e/ou despacho do MP para fins da investigação; e

dependência organizatória interna e hierárquica232.

A PJ encontra a sua referência constitucional em sede do art.272.º, enquanto polícia subordinada à administração e com espetro funcional centrado na segurança,

ordem pública e prevenção de perigos de acordo com a lei233.

Nos termos do processo penal, a Polícia Judiciária, é órgão de Polícia Criminal. O conceito de órgãos de polícia criminal e as medidas cautelares e de polícia constituem

uma consequente interpenetração pelo sistema entre prevenção e repressão234.

A aquisição da notícia do crime na atividade da Polícia Judiciária merece uma análise particular dadas as suas competências extraprocessuais, com base nas

categorias criminais e criminológicas referenciadas na LOPJ235.

Na sequência da aquisição da notícia do crime, não existe enquadramento legal para “pré‐inquéritos”, tendo em conta que esta determina o dever de comunicação ao Ministério Público. Por sua vez, o Ministério Público abre obrigatoriamente um inquérito, implicando esta obrigação o controlo sobre todas as eventuais atividades levadas a cabo pelo Ministério Público, baseadas em quaisquer suspeitas de crimes.236 Os atos relacionados com a aquisição da notícia de crime, em sentido material, só terão relevância processual, se estiverem diretamente relacionados com a mesma de uma forma imediata e não extemporânea237. Os atos cautelares decorrem de uma substituição precária do Ministério Público dentro dos pressupostos legais, e terão sempre de estar ligados a dois requisitos cumulativos: 1) integrarem‐se na competência de coadjuvação com o Ministério Público ligada às finalidades do inquérito; 2) serem realizados de acordo com os pressupostos da necessidade e da urgência. A sua verificação deverá ser precedida de comunicação imediata à autoridade judiciária (artigos 245.º, 248.º, 253.º e 259.º do        232 MESQUITA, Paulo Dá, op. cit. p. 398 segundo este autor, neste caso não há enquadramento legal para que sejam dadas orientações internas (na estrutura hierárquica da polícia) dirigidas ao investigador que visem o inquérito.

233 MESQUITA, Paulo Dá ‐ Processo Penal, Prova e Sistema Judiciário. Coimbra: Coimbra editora, 1ª

edição, Setembro, 2010. p. 382. 234 Já que os organismos com funções de Polícia são entidades privilegiadas para recolha da notícia do crime. Neste sentido, e mais desenvolvidamente MESQUITA, Paulo Dá ‐ Processo Penal, Prova… op. cit., p. 382. 235 Idem, ibidem. p. 383. 236 Idem, ibidem. 237 Idem, ibidem. p. 384

CPP). Fora do quadro da urgência e perigo na demora, depende da mediação do MP através de um despacho de delegação de competências.

Os atos pré‐processuais (atos cautelares), praticados por iniciativa própria dos órgãos de polícia criminal, não são originariamente atos processuais, dependendo sempre da sua validação e integração no processo pelas autoridades judiciárias, pelo que devem ser sempre objeto de controlo por parte destes (art.253.º e 259.º do CPP), “dado o imperativo constitucional que consagra o monopólio judiciário da primeira palavra na perseguição penal e na proibição de um procedimento administrativo

prévio ao processo penal”238.

Decorrente do poder de controlo239, a competência do Ministério Público

abrange a atividade da Polícia Judiciária com relevância processual penal, mesmo

aquela que não tenha sido oportunamente comunicada240.

Decorrente do poder de orientação da atividade processual dos órgãos de

polícia criminal, está a garantia judiciária241, mas também um imperativo de eficácia,

“que implica unidade do poder jurídico e da responsabilidade relativamente ao

inquérito, enquanto fase de investigação pré‐acusatória”242.

A delegação de competências na polícia para proceder a quaisquer diligências e investigações relativas ao inquérito são limitadas, por nesse conceito se enquadrarem

competências indelegáveis243. Apesar disso, é reconhecida que, em casos de

investigações complexas (como é o caso do crime organizado), exigirão um empenho especial da capacidade técnico funcional das polícias, o que determina que, nesses casos a delegação de competência, devam visar a globalidade da investigação (n.º4 do art.270.º do CPP), excetuando‐se as medidas do n.º 2 do mesmo artigo, que exigem uma maior responsabilização do titular da ação penal. Nesse caso, a polícia atuará no âmbito do despacho que lhe dará o encargo para atuar dentro da sua autonomia técnica e tática. Contudo, a investigação terá de ser sempre dirigida à obtenção de indícios suficientes de factos que terão necessariamente de ser comunicados à

       238 Nesse sentido MESQUITA. cfr. idem, ibidem. 239 Dá Mesquita, explica de forma pormenorizada o alcance desse controlo o qual poderá traduzir‐se num controlo desconcentrado, ou concentrado cfr. Idem, ibidem. 240 Idem, ibidem. 241 Sobre este conceito vid. MESQUITA, Paulo Dá ‐ Processo Penal, Prova… op. cit., p. 23‐51 e 154‐163 onde constam referências bibliográficas alusivas a este tema. 242 Idem, ibidem. p. 391. 243 Idem, ibidem, p. 391 e 392.

autoridade judiciária para avaliação e correspondente enquadramento jurídico‐ penal244.

Em consequência, todos os atos praticados por órgão de polícia criminal que não se enquadrem nestes precisos termos são ilegais, tornando‐se inadmissível a sua validação pelo Ministério Público, por dois motivos: por colidir com o imperativo constitucional de garantia judiciária; e por culminar numa nulidade insanável da al. b) do art.119.º do CPP.

6.4. Prevenção, Repressão, Estado de Direito e o Perigo das