• Nenhum resultado encontrado

3. VIAS PRINCIPAIS DE FINANCIAMENTO DO TERRORISMO

3.2. Formas de Ocultação de Fundos

3.2.1. O Branqueamento de Capitais

Como se de magia se tratasse, a ocultação, a camuflagem e a disseminação de valores traduzem‐se na adoção de procedimentos pelos branqueadores, que recebem dinheiro sujo e, através de recursos e técnicas sofisticadas, dão‐lhe uma aparência limpa, ocultando assim a origem ilícita e a propriedade dos capitais que constituem o produto de uma determinada atividade criminosa, mediante transformação em bens ou produtos aparentemente legais, através do sistema financeiro.

Esse processo comportará em regra três fases: (i) colocação (placement); (ii)

camuflagem (layering); (iii) e a integração (integration)111.

Na primeira fase (colocação), o dinheiro é colocado no sistema financeiro

através de bancos112, casas de câmbio, intermediários financeiros, casinos, entre

      

111 MENDES, Paulo de Sousa ‐ O branqueamento de capitais…, op. cit., p.343.

112 Neste ponto, cumpre fazer uma nota sobre os paraísos fiscais e as empresas offshore. Apesar de

poderem configurar meios de ocultação e disseminação dos proventos ilícitos e lícitos para financiamento do terrorismo, não o são de pela sua simples existência. O offshore bancário corporiza estratégias em regra legítimas, visando a maximização de rendimentos de aplicações financeiras, com vantagens tributárias, em tudo idênticas às operações bancárias normais, distintas apenas por se inserir no segmento específico bancário, denominado “private banking”, onde são primados a confiança, a confidencialidade e a segurança. Diferentemente, a colocação nesses locais de dinheiro obtido ilicitamente, com recurso a técnicas de branqueamento, para distanciar a ligação do dinheiro à sua origem, aliada à barreira da confidencialidade ou anonimato, ausência de controlo e de fiscalização constituem fatores de risco para a sua utilização para o branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo. As empresas offshore e os paraísos fiscais são atividades legais e por isso legitimadas na sua existência. São tidas, acima de tudo, como estrategicamente importantes para as economias dos respetivos países. Por este motivo para que deixasse de existir anonimato, sigilo bancário, vigilância,

outros. Para conferir um distanciamento da sua origem, são usadas técnicas, tais como o racionamento dos valores que transitam pelo sistema financeiro e a utilização dos estabelecimentos comerciais que usualmente trabalham com o dinheiro em

espécie.

No que diz respeito à segunda fase, a camuflagem, é uma fase complexa e sofisticada, o que torna avessa a sua deteção, através de sucessivas operações de transferência, seja entre instituições financeiras, entre contas, entre pessoas, entre

países, ou outros. Tal é consumado através de movimentos eletrónicos113, entre

contas anónimas, preferencialmente em países amparados pelo sigilo bancário, ou

realizando depósitos em contas fantasma.114

Por fim, temos a integração, em que o dinheiro já suficientemente movimentado no ciclo de lavagem, e considerado limpo, é incorporado formalmente no sistema económico e passa a ser utilizado para inúmeros fins, nomeadamente compra de

bens, valores mobiliários, ou investimento em atividades económicas.115

O branqueamento existe desde os anos 20 e 30 do século passado, no entanto, a sua luta só terá tido início na década de 70, mais concretamente nos EUA, numa luta contra os biliões de dólares gerados pelo tráfico de droga. Até então tais proventos não eram apreendidos, sendo apenas taxados em sede de impostos. Apesar de não reprimir ainda o branqueamento, em 1978, o governo americano aprova legislação no

sentido de serem apreendidos os proventos do tráfico de droga.116

Alguns anos mais tarde, já depois da entrada em vigor de disposições sobre o branqueamento nos EUA, o tipo de branqueamento revelar‐se‐ia na Europa, cabendo à Inglaterra e à Suíça, criar as primeiras normas penais especificamente dirigidas a

este fenómeno117.

De acordo com a convenção de Viena (1988) e a convenção de Palermo (2000), constitui branqueamento de capitais: “A conversão ou transferência de bens, quando o autor tem conhecimento de que esses bens são provenientes de qualquer infração ou infrações ou da participação nessa ou nessas infrações, com o objetivo de ocultar ou

       controlo e fiscalização de contas, seria necessário, vontade política e económica consensual e reciproca entre países numa escala global, o que não se afigura como previsível. 113 cfr. Recomendação especial VII do GAFI. 114 BIANCO, Alexandre Solon, op. cit., p.54. 115 MENDES, Paulo de Sousa ‐ O branqueamento de capitais…, op. cit. p.343. 116 SARMENTO, Carlos, op. cit., p.72. 117 MENDES, Paulo de Sousa, O branqueamento de capitais…, op. cit., p.345.

dissimular a origem ilícita desses bens ou de ajudar qualquer pessoa envolvida na prática dessa ou dessas infrações a furtar‐se às consequências jurídicas dos seus atos; a ocultação ou a disseminação da verdadeira natureza, origem, local, disposição, movimentação, propriedade de bens ou direitos a ele relativos, bem como a aquisição, a detenção ou a utilização de bens, com o conhecimento que provêm de uma infração ou infrações ou da participação nessa ou nessas infrações.”

O GAFI definiu o tipo de branqueamento como o processo de transformação ou a transferência de bens, tendo por proveniência um conjunto de atividades delituosas, com vista à dissimulação ou ocultação dessa mesma origem, ou para prestar colaboração a qualquer pessoa envolvida no cometimento daqueles fins com o fim de

fugir às consequências legais dos seus atos.118

Ao encontro desta definição foi o legislador nacional, o qual, impulsionado pelas diretrizes internacionais e europeias, implementou um conjunto de ferramentas de combate ao branqueamento. Atualmente o n.º 1 do art.º 368.º‐A do CP revela que são vantagens provenientes da prática, sob qualquer forma de comparticipação dos factos ilícitos típicos catalogados nessa norma, sendo punido com pena de prisão, de acordo com o nº 2 do mesmo artigo, “quem converter, transferir, auxiliar ou facilitar alguma operação de conversão ou transferência de vantagens, obtidas por si ou por terceiro, direta ou indiretamente com o fim de dissimular a sua origem ilícita, ou de evitar que o autor ou participante dessas infrações seja criminalmente perseguido ou submetido a uma reação criminal”. O n.º 3 tipifica a conduta de ocultação ou dissimulação da natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou titularidade das vantagens, ou os direitos a ela relativos.

3.2.2. O Enquadramento Legal das Infrações do Branqueamento