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Competências a desenvolver para uma melhor reinserção social

No documento FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS (páginas 55-58)

Capítulo III. Competências sociais e pessoais: relação ao nível das actividades

3.3. Competências a desenvolver para uma melhor reinserção social

Antes de serem referenciadas as competências desenvolvidas pelas actividades prisionais, definiremos, sumariamente, todas as competências a serem analisadas, à

posteriori, no estudo empírico.

3.3.1. Cooperação

No que concerne à cooperação, apesar da existência de uma pluralidade de significados atribuídos à mesma, poderá ser definida pela actividade na qual sujeitos ou entidades agem, em comum, com vista à realização de uma finalidade comum. Encontra-se relacionada com o modo como os indivíduos conjugam as suas forças e saberes para atingirem um determinado objectivo, evidenciando-se um envolvimento cognitivo, afectivo e comportamental do próprio grupo de sujeitos envolvido. Poderemos definir especificamente a cooperação como a “ (…) capacidade de operacionalizar conhecimentos, atitudes e habilidades no sentido de agir em conjunto, com vista à realização de um fim comum, maximizando as potencialidades de cada indivíduo de forma durável e equilibrada (…)” (Jardim & Pereira, 2006, p. 136). Ao absorvemos esta definição apercebemo-nos, desde logo, do evidente sentido de equipa, de grupo que surge num primeiro plano.

Contudo, os indivíduos têm de se reconhecer como interdependentes a um nível cognitivo, mantendo esta interdependência para a colaboração que o próprio grupo espera de todos os elementos. Em segundo plano subentender-se-á o sentimento de pertença, sentimento esse, que faz parte integrante de um grupo. A percepção de que pertencemos a um grupo poderá ser indicada através dos seguintes indicadores: definição de quem faz ou não parte do grupo; partilha do sistema simbólico que possibilite uma comunicação eficaz dentro do grupo; segurança emotiva (que permite a criação de laços significativos entre os diversos elementos do grupo em questão); investimento pessoal dos diversos sujeitos direccionados para o grupo (sendo este contributo a nível de bens materiais ou imateriais). Em terceiro plano ressalta a influência que se relaciona com a possibilidade de cada elemento do grupo dar o seu contributo, que caso o grupo defina como oportuno para a melhoria do seu desempenho, será posto em prática (Jardim, 2003).

3.3.2. Auto-realização

A auto-realização torna-se, neste contexto, um construto de difícil avaliação, uma vez que a perda de liberdade se torna, desde logo, uma grande barreira. Contudo, este construto é importante para o sucesso pessoal, social e profissional dos sujeitos. A auto-realização consiste na “capacidade de operacionalizar a tendência humana para expandir, desenvolver e realizar, de modo autónomo, as potencialidades pessoais, sociais e profissionais (Jardim & Pereira, 2006, p. 91). O sujeito traça o seu caminho para atingir a sua realização quando satisfaz as suas necessidades, quando encontra um sentido para as acções que tem, vivenciando um sentimento de bem-estar. Zacarés e Serra (1998) reafirmam e salientam três concepções fundamentais da auto-realização ao nível da psicologia humanista: auto-realização como motivação e necessidade defendida por Maslow; auto-realização como consumação do curso da vida (Bühler & Frank, citado em Zacarés e Serra, 1998) e auto-realização como processo para se tornar pessoa total defendido por Rogers (Jardim & Pereira, 2006). O trabalho de auto-realização focaliza-se no interior da pessoa (mais no ser do que no ter), sendo que neste processo contínuo não deveremos atribuir a responsabilidade a algo exterior ao próprio sujeito, para que, o que se manifeste, seja um espelhar da sua própria experiência (Laporte & Sévigny, 2006).

3.3.3. Auto-estima

A auto-estima torna-se uma competência cada vez mais importante, uma vez que tem um papel relevante no funcionamento saudável do sujeito, pois uma boa auto- estima se encontra directamente relacionado com um estado de bem-estar psicológico, de integração social e com um menor índice de desadaptação. Um investimento positivo relativamente a esta competência poderá contribuir para o sucesso a um nível pessoal, social e profissional (Jardim & Pereira, 2006; Assis & Avanci, 2004; Musitu & Cava, 2000). De um ponto de vista psicológico, a auto-estima centra-se na avaliação afectiva do próprio sujeito, estando associada a estes três processos fundamentais. O primeiro remete para a descrição do self, o segundo implica vivenciar, por último, a valência dos sentimentos experienciados no procedimento de descrição de si (Mruk, 1999, citado em Jardim, 2007). Assim sendo, a auto-estima não é um juízo sobre o self, mas uma apreciação relativa um aspecto particular da vida (Bandura, 1997). A distinção dos sujeitos verifica-se através do encontro com o seu diferente valor pessoal através do

trabalho, vida familiar, vida social e actividades de tempos livres (Jardim, 2007). Assim, poderemos definir auto-estima como “Capacidade de conseguir fazer uma avaliação valorativa e afectiva positiva de si mesmo, em termos de acontecimentos passados, capacidades actuais e perspectivas de futuro” (Jardim & Pereira, 2006, p. 76).

3.3.4. Suporte social

Esta competência centra-se na capacidade de operacionalizar conhecimentos, atitudes e habilidades, fazendo com que o sujeito se apoie e que possa apoiar terceiros, sempre que esses necessitem da sua ajuda para solucionar determinada questão. Segundo Jardim (2007):

“(…) tem o poder de promover o desenvolvimento, a saúde, o bem-estar e o sucesso do indivíduo, de reforçar a sua capacidade de reacção ao stress e de implementar mudanças positivas em situações de crise” (p. 113).

De acordo com Cutrona e Russel (1990, citados em Vaz-Serra, 2002) identificam- se seis tipos de suporte social nas relações humanas: 1) suporte existencial; 2) suporte emocional; suporte perceptivo; 4) suporte informativo; 5) suporte instrumental e 6) suporte social. O conceito de suporte social ou de rede social é caracterizado pelo conjunto de sujeitos ou organismos que proporcionam o apoio necessário, destacando- se, amigos e família, que têm um papel importante na ajuda e apoio do sujeito (Bernardino, 2003).

3.3.5. Assertividade

Etimologicamente a palavra assertividade advém de “assero”, que em latim significa expor de forma positiva o que se pretende difundir. Um sujeito assertivo expressa directamente o que pensa e o que deseja, através de um conjunto de atitudes adequadas a determinada situação, tendo em consideração o local e o momento. Esta competência permite ao indivíduo uma comunicação directa através de um comportamento, visando agir em prol do seu interesse, a defender-se sem ansiedade desmedida, a expressar os seus sentimentos de modo honesto e adequado, valendo os seus direitos sem nunca descurar os dos outros (Jardim & Pereira, 2006). A assertividade torna-se sinónimo de “aptidões sociais”, sendo que estas são um conjunto

de comportamentos manifestados por um sujeito num contexto interpessoal, manifestando os seus sentimentos, atitudes, desejos, opiniões e direitos de forma adequada a determinada situação, respeitando estas mesmas manifestações no outro (Caballo, 1993). Esta competência exige um treino metódico, sendo necessário ter uma percepção dos seguintes aspectos: tipo de comportamento que provoca determinada situação; evitar a mímica e entoação contrária ao que se verbaliza; descrição das próprias reacções contrariamente ao que avaliar as acções de terceiros; exprimir de forma positiva em vez de adoptar uma postura crítica (Jardim & Pereira, 2006).

Desta forma, torna-se imprescindível trabalhar os aspectos mencionados neste contexto, devido a uma sistematização dos mesmos.

3.3.6. Empatia

O conceito de empatia tornou-se vulgarizado na linguagem corrente, contudo, de difícil definição. Na revisão da literatura sobre esta competência Hofman (2000) descreve dois ângulos de análise relativamente a esta. Define a empatia como uma espécie de consciência que um sujeito possui sobre os estados anímicos do outro, ou seja, centra-se nas percepções, sentimentos, pensamentos e intenções. Neste primeiro ponto é observada como a “habilidade de compreender reacções emocionais de uma pessoa de acordo com o contexto, transpondo a imaginação e assumindo o papel do outro como referência descritiva” (Jardim, 2007, p.104). O segundo ângulo assume-se como uma resposta afectiva aos sentimentos transmitidos pelo interlocutor. A empatia envolve três dimensões fundamentais: cognitiva, afectiva e comportamental. A primeira, cognitiva, relaciona-se com a capacidade de compreender, com rigor, os sentimentos e perspectivas do outro. A dimensão afectiva evidencia-se pelos sentimentos de compaixão, preocupação e simpatia e a dimensão comportamental relaciona-se com a capacidade de transmitir um sentido explícito do sentimento e da óptica do outro, sentindo-se, este, profundamente compreendido (Hofman, 2000).

3.4. Desenvolvimento de competências sociais e pessoais através do ingresso

No documento FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS (páginas 55-58)