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Competências centrais na criação de um negócio

Capítulo II: Empreendedorismo e desenvolvimento organizacional numa ótica de

2.1 Competências centrais na criação de um negócio

A explanação preliminar com enfoque no papel do indivíduo na formação do perfil do empreendedor e da

sua relação no desempenho organizacional possibilita agora a análise multidimensional da interação do

indivíduo na criação do seu próprio negócio.

Shane & Venkataraman (2000, p. 218) anuem que a perceção do posicionamento do indivíduo na

edificação da sua empresa pode constituir a chave para a compreensão “por que, quando e como os

diferentes modos de ação são usados para explorar as oportunidades empresariais”.

A aceção de Gartner (citado por Shook et al., 2003, p. 380) considera que “a criação de uma organização

não é instantânea, mas é evolutiva. É um processo de conceção e de execução”.

Em confluência, Schmidt & Bohnenberger (2009) assumem que o planeamento do próprio negócio pode

ser considerado determinante para o sucesso do empreendimento.

Shook et al. (2003) sugestionam um modelo organizacional (ilustrado na figura seguinte) que contempla

as diferentes fases da criação de um negócio por parte de um empreendedor. Os autores destacam os

principais agentes condicionantes, desde as intenções empreendedoras, o seu desenvolvimento e

concretização, a procura de oportunidades por descobrir, a tomada de decisão da exploração ou não

dessas oportunidades, aliadas à consideração por parte do empreendedor da idiossincrasia volátil dos

mercados, ao longo de todo o processo:

Figura 7 – Modelo organizacional das diferentes fases da criação de um negócio

Fonte: Shook et al. (2003, p. 381).

O Parlamento Europeu e Conselho (2006, p. 17) destaca o espírito de iniciativa e o espírito empresarial

como “a capacidade de os indivíduos passarem das ideias aos atos (...). Compreendem a criatividade, a

inovação e a assunção de riscos, bem como a capacidade de planear e gerir projetos para alcançar

objetivos (…) Nos conhecimentos necessários incluem-se capacidade de reconhecer as oportunidades

Indivíduo Empreendedor

PSICOLÓGICO

Personalidade

Crenças

Valores

Atitudes

Necessidades

Traços

CARATERÍSTICAS

Demográficas (e.g. género, idade)

Educação

Experiências passadas

Competências

COGNIÇÕES

Conteúdo – estruturas de conhecimento

Processo – preconceitos e heurísticas

Intenção Empreendedora

Procura e Descoberta de Oportunidade

Decisão de explorar pela criação de novas

empresas

Oportunidade

Exploração de Atividades

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existentes para o lançamento de atividades pessoais, profissionais e/ou empresariais, incluindo questões

de âmbito mais global que determinam o contexto em que as pessoas vivem e trabalham, como sejam

uma compreensão alargada do funcionamento da economia e as oportunidades e os desafios que se

deparam a um empregador ou a uma organização. Os indivíduos devem também estar conscientes da

posição ética das empresas e de como estas podem constituir uma força positiva, por exemplo através do

comércio justo ou através da gestão social de empresas”.

Em anuência, Thomas Begley (1995) atesta que os empreendedores assumem uma postura orientada para

o crescimento e Manfred Kets de Vries (citado por Vecchio, 2003, p. 314) sustenta que a necessidade de

controlo, o sentimento de desconfiança, o desejo de aplausos e a propensão para a ação aparentam-se

implícitos à intenção empreendedora. Numa abordagem sócio comportamental, as competências de

autoeficácia, reconhecimento de oportunidades, perseverança, capital humano e social são requisitos

determinantes para o sucesso dos empreendedores na criação do próprio negócio (Markman & Baron,

citados por Schmidt & Bohnenberger, 2009).

No parecer de Vecchio (2003), o domínio do empreendedor das técnicas de persuasão social, poder e

política, apreensão e desenvolvimento de modelos estabelecidos de liderança, aliados ao feedback das

suas competências sociais e à formação ativa dos colaboradores, traduzem-se na potencialidade de

sucesso da criação de um negócio; numa perspetiva dissemelhante, o autor alerta a possível tendência

para o excesso de confiança que pode culminar num resultado desastroso para os objetivos da

organização, colocando em risco a sua viabilidade futura.

Um novo paradigma inerente ao potencial de sucesso no desenvolvimento de uma atividade empresarial é

perscrutado por Hockerts & Wüstenhagen (2010), o empreendedorismo social

3

. A investigação dos

autores nesta temática permitiu-lhes anuir que o conceito de empreendedorismo social, presença recente

na discussão académica, deve aproximar-se do conceito de empreendedorismo sustentável, em que o

empreendedor assume um papel preponderante na criação sincrónica de valor económico, social e

ambiental.

Uma compreensão mais abrangente das competências comportamentais do empreendedor na criação de

um negócio é perpetrada por Vecchio (2003, p. 320) que compendia o processo e o seu contexto num

modelo composto por três fases centrais – pré-lançamento e lançamento, a monitorização contínua e a

saída – como ilustra a figura seguinte:

3

“Empreendedorismo Social é o processo de procura e implementação de soluções inovadoras e sustentáveis para problemas

importantes e negligenciados da sociedade que se traduz em Inovação Social, sempre que se criam respostas mais efetivas

(relativamente às alternativas em vigor) para o problema em questão.” (Santos, 2013, p. 335).

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Figura 8 – Modelo das fases da criação de um negócio

Fonte: Vecchio (2003, p. 320).

Em cada uma das três fases no modelo, o nível das micro e macro variáveis pode ser identificado como

potencialmente mais importante na contabilização do relativo sucesso ou fracasso (Vecchio, 2003).

A Global Entrepreneurship Monitor – GEM (2007, p. 4-6) definiu um modelo estrutural conceptual que

especifica em que contextos os indutores do empreendedorismo são identificados, medidos e analisados.

Como ilustra a figura, “(…) o contexto social, cultural e político abrange um vasto leque de fatores que

desempenham um papel importante no delinear das condições socioeconómicas de um país, dividindo-se

em dois ramos: condições da estrutura (nacionais e gerais) e condições estruturais do

empreendedorismo”:

Estágios de uma Empresa Start-Up

(Iniciação)

Pré-Lançamento e

Lançamento

Monitorização

Contínua

Ações

Desenvolver Conceito

Avaliar Oportunidades

Avaliar Recursos

Adquirir Recursos

Gerir Recursos

Resultados da

monitorização

Criação de cultura

Encerrar

Sair

Saída

Fatores micro-macro relevantes

Fatores Psicológicos

“Big Five” (abertura, consciência,

extroversão, socialização,

neuroticismo)

Capital Social

Demográficos (representantes)

“Big Five” (abertura, consciência,

extroversão, socialização,

neuroticismo)

Capital Social

Atributos do Seguidor

Resposta Estratégica

Adaptação Pessoa-Sistema

Padrões e Preconceitos

Fadiga

Família

Fatores Económicos

Disponibilidade de Capital

Oportunidades Alternativas

Mecanismos de Apoio

Ameaças Externas

(competidores, exaustão de

mercado, inovações)

Financeiros

Despedimentos

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Figura 9 – Modelo estrutural conceptual dos fatores determinantes do empreendedorismo

Fonte: GEM (2007, p. 4).

As condições da estrutura (nacionais e gerais) traduzem a situação económica nacional na qual as

instituições operam, nomeadamente, as condições que incluem “(…) a abertura do mercado, o papel do

governo, a gestão, a tecnologia, a I&D, as infraestruturas físicas, os mercados financeiros, o mercado de

trabalho e as instituições sociais e legais” (GEM, 2007, p. 4); este organismo explora também “(…) a

ligação entre a atividade económica de uma nação e a interação entre empresas sólidas e empresas novas

e pequenas, permitindo uma compreensão mais clara das razões pelas quais o empreendedorismo é vital

para toda a economia” (GEM, 2007, p. 4).

As condições estruturais do empreendedorismo abrangem diferentes agentes condicionantes aos negócios

emergentes, que compreendem fundamentalmente, o apoio financeiro, as políticas governamentais, os

programas governamentais, a educação e formação, a transferência de resultados de investigação e

desenvolvimento (I & D), as infraestruturas comercial e profissional, a abertura do mercado interno, o

acesso a infraestruturas físicas, as normas sociais e culturais e a proteção de direitos de propriedade

intelectual (GEM, 2007, p. 5).

Os modelos estruturais conceptuais evocados carecem da evidência empírica da prospeção e direção do

crescimento económico da atividade empreendedora, pelo que se arroga a pertinência de investigações

futuras que compreendam não só a aplicabilidade de indicadores do potencial de promoção do

empreendedorismo, mas que possam traduzir de modo efetivo o seu impacto na economia.

2.2 O EMPREENDEDORISMO NA EUROPA E AS SUAS MULTIVERTENTES –

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