• Nenhum resultado encontrado

Competências do Voluntário Social e Mediador

1. VOLUNTÁRIO SOCIAL E MEDIADOR

1.2. A MEDIAÇÃO VOLUNTÁRIA

1.2.2. Competências do Voluntário Social e Mediador

O voluntário para melhor desenvolver a sua ação, necessita de adquirir algumas competências, que passam pela aprendizagem da sensibilidade, respeito, aceitação do outro, tal como a realidade mostra.

Não se pode reduzir a ação do voluntário a uma simples ação de caridade ou de beneficência que desvirtua o verdadeiro sentido do voluntariado.

De seguida descrevem-se algumas competências que estão inerentes ao voluntariado. Estas competências devem ter como finalidade o destinatário, dado que será ele a beneficiar da ação. Por fim, falar-se-á de alguns riscos a evitar no voluntariado.

Competências Descrição

Liberdade Ter uma certa liberdade na ação, sem qualquer tipo de pressão,

torna a atividade muito mais positiva para o beneficiário. Protagonismo do

excluído

O programa deve ser feito de acordo com o destinatário e não da forma como o voluntário gostaria que fosse.

Gratuitidade Esta não é apenas material, mas também, emocional / afetiva. O facto de o voluntário esperar algo em troca, já implica ausência de gratuitidade.

Compromisso O voluntário é responsável no que se comprometeu a realizar. Utiliza todos os recursos que estão à sua disposição para que a sua ação seja exequível e para que tenha continuidade no tempo.

Respeito O voluntário tem respeito por si mesmo, pelos outros voluntários

e, acima de tudo, pelo destinatário da ação.

Humildade Não se deixa afetar por um possível mediatismo social da sua ação e reconhecer os seus limites.

Participação social O voluntário constrói uma sociedade mais justa e que inclua todos os seus cidadãos

Envolvimento pessoal

Envolve-se na ação que desenvolve para que as metas propostas sejam alcançadas.

Tempo Respeitar o tempo que se comprometeu a dedicar-se à

aspetos da sua vida. A ausência na atividade pode comprometer a ação.

Resultados É necessário que esteja consciente que na ação os resultados poderão surgir, apenas, a longo prazo e dificilmente a curto

prazo. Ter isto presente evita futuras deceções e

desmotivações.

Tabela 3 - Competências Baseadas em Farjado (2004) e Bouzas (2001)

Esta tabela mostra que o voluntário social necessita de adquirir e desenvolver estas competências. O voluntário social vai atuar nos mais diversos contextos sociais, com diferentes públicos. Cada um desses contextos tem especificidades únicas pelo que necessitam de ter respostas próprias. Não basta ao voluntário social ter boa vontade. É preciso que saiba gerir, atuar, identificar, apoiar, acompanhar… Para isto necessita de adquirir as competências referidas por Farjado (2004) e Bouzas (2001). Estas competências podem ajudar a identificar o voluntariado social enquanto grupo, mediador na comunidade, sem se confundir com profissionais sociais.

Caso o voluntário social não desenvolva estas competências, corre o risco de transformar o voluntariado em ação de benevolência. E, como mencionado anteriormente, o voluntariado é muito mais do que isso. Procura estabelecer laços, procura uma maior aproximação da população-alvo à sua comunidade. Daí o voluntário ser um mediador na comunidade. Mais do que uma simples função, a mediação orienta o trabalho do voluntário. Este, procura chamar a atenção da comunidade para os problemas de exclusão que nela existem. Mas, como não atua sozinho, procura respostas nas organizações já existentes.

Se não o fizer, o voluntário desenvolve alguns riscos ou ações que desvirtuam o real sentido do voluntariado, apresentados na tabela seguinte:

Riscos Descrição

Relações de

amizade

Não pode confundir a atividade voluntária com laços de amizade. O voluntário mantém o mesmo nível de igualdade, não diminuindo o outro devido à sua carência / problema.

Situações Imprevistas

Situações que surgem inesperadas e com as quais o voluntario não sabe como atuar perante elas.

Apatia Com o tempo acaba por entrar numa situação de rotina. Idealização do

Destinatário

Idealiza-se a imagem do destinatário, o que pode provocar deceção e desilusão.

Juízos de valor e preconceitos

Emitir juízos morais sobre os destinatários coloca em causa toda a ação, criando um sentimento de mal-estar e constrangedor. Beneficência Não fazem ações assentes nas “sobras”, numa perspetiva de

diferença social e cultural. Estas ações realizam-se apenas para “descargo da consciência”

Esmola Ação voluntária não é um simples ato isolado e único.

Assistencialismo Ações que perpetuam a ajuda indefinidamente, criando pessoas submissas e dependentes.

Dependência Fazer com que o destinatário esteja indefinidamente dependente de ações dos voluntários, técnicos e organizações.

Amadorismo Significa que a ação é esporádica e quando o voluntário quer, não existe continuidade no tempo.

Para-quedismo A ação é realizada num contexto que desconhece, nada sabe sobre a realidade que é vivida, e sem uma habilitação prévia para lidar com as situações.

Generalismo O voluntário serve para todo o tipo de ações e realidades., sem uma especificação da área de ação.

Intromissão O voluntario invade o terreno do profissional.

Militância Imposição de crenças e ideologias, sem respeitar as crenças do outro.

Diletantismo A ação é realizada sem qualquer compromisso sério, apenas por curiosidade e para conhecer.

Tabela 4 - Riscos do Voluntariado, baseada em Farjado (2004) e Bouzas (2001) A ação voluntária deve ser agradável, sem exigir sacrifício. Implica assertividade na atuação e o trabalho em equipa. Este último é fundamental, pois a realização do voluntariado exige a utilização de todos os recursos disponíveis, quer através dos outros voluntários, quer através da organização ou mesmo de outros serviços ao dispor na comunidade em que se insere.

Saber comunicar é algo fundamental para uma boa ação. Uma boa comunicação ajuda a que o beneficiário ganhe confiança, conheça e desenvolva as suas potencialidades. Desta maneira, o projeto concretiza os

objetivos estabelecidos. O cuidado com a linguagem verbal e não-verbal é primordial, dado que os gestos, olhares, posturas, o tipo de linguagem utilizada demonstram o real interesse pela história do outro. Criando esta relação empática, o beneficiário sente-se apoiado e valorizado pela pessoa que é. Tudo isto deve ser realizado através da escuta ativa, com o reforço positivo, realçando as qualidades e potencialidades do outro (Farjado, 2004).

Estas são competências fundamentais para o bom desenvolvimento do voluntariado para ser realizado com coerência. Caso contrário, corre-se o risco de entrar na esfera do paternalismo em que se torna os destinatários dependentes, submissos e acentua-se a carência ou carências que apresentam.

A ação do voluntário deve apoiar o beneficiário no sentido de dar-lhe as ferramentas necessárias, para que faça a sua própria inclusão na comunidade de pertença.

“O voluntário tenta ajudar os mais oprimidos, despertando a dignidade que há neles, a necessidade de que se tornem sujeitos ativos da sua própria existência, que lutem contra a sua própria discriminação e que encontrem o lugar que lhes compete na sociedade” (Bouzas, 2001: p. 14).

Sendo que, para isso, precisa de evitar os riscos, apresentados na tabela 4. E como pode o voluntário, desenvolver as competências necessárias? Através da formação, descrita no ponto anterior.

O voluntário tem o direito e o dever de procurar e de receber formação inicial e contínua para adquirir estas competências e saber como agir. Esta formação consta no artigo 6º da Lei nº 71/98, de 3 de setembro. Formação que nem sempre o voluntário recebe.

Para além da formação, está definido que o programa, desenvolvido e acordado entre voluntário e organização, deve respeitar o perfil do voluntário para um melhor desenvolvimento da sua ação. Para isso, devem ser definidos os critérios para a participação nas atividades e definição das funções e duração. Para um bom desempenho deve ser efetuada uma avalização ou uma reflexão regular da ação realizada pelo voluntário. No que diz respeito aos direitos e deveres do voluntário, estes estão expressos na mesma Lei, nos seus artigos 7º e 8º, respetivamente. (Anexo II)

A legislação vem reconhecer e promover o apoio e atuação do voluntário, o que torna a ação voluntária mais justa, coerente e tem sempre presente o destinatário. Esta legislação procura enquadrar as necessidades sentidas tanto pelos voluntários como pelas organizações. Para que o voluntariado seja sempre um complemento das atividades profissionais e obedeça a um sentido ético para as populações envolvidas no programa do voluntariado. Cria-se, assim, uma reflexão sobre toda a atividade desenvolvida, as potencialidades e a melhor forma de atuação por parte de todos os envolvidos. Perante isto, o Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado em Portugal, desenvolveu um Guia do Voluntariado, criado a partir da legislação existente e com base nos Princípios da Declaração Universal dos Voluntários. (Anexos III e V)

A Declaração Universal dos Voluntários baseia-se na Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948. Esta Declaração surge na medida em que o voluntariado “…é instrumento de desenvolvimento social, cultural, económico e do ambiente, num mundo em constante transformação” e mudança. Nesta Declaração estão presentes alguns dos princípios éticos que o voluntário deve ter durante a sua ação. Esses princípios podem ser cumpridos, com o desenvolvimento e aquisição das competências referidas na tabela 3.

Assim, pode-se dizer que o voluntariado social é um grupo que atua na comunidade e para a comunidade. E na sua ação mediadora, necessita de desenvolver competências técnicas, específicas da sua atividade, para que o seu lugar nas organizações, não seja apenas mais um e, muito menos, um substituto de profissionais. E volta-se aos objetivos desta investigação. Reconhecer, portanto, o voluntário como pertencente a uma rede de apoio da comunidade, que está presente nas diferentes organizações. O voluntário torna-se um ator social na comunidade, que constrói um perfil e identidade próprios, com competências bem delimitadas e presentes nos vários documentos oficiais que regulam o voluntariado e referidos anteriormente.

Assim, para a sua intervenção, numa realidade específica e concreta, o voluntário desenvolve as suas competências. Para que a mediação que realize,

através das organizações visem o reforço e / ou a criação de laços entre o individuo marginalizado e a comunidade.

Documentos relacionados