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O voluntariado Social na Organização

1. VOLUNTÁRIO SOCIAL E MEDIADOR

1.3. O voluntariado Social na Organização

As organizações são sistemas variados, ricos e procuram vertentes diversas da realidade. Ou, visto sob o ponto de vista social, procuram a diversidade existente na sociedade.

Numa comunidade a diversidade é imensa. Note-se que o individuo tem uma personalidade única e diferente da personalidade do seu vizinho, e a realidade de uma rua é diferente da realidade da rua ao lado. Assim, é uma organização. As organizações são diferentes e a sua realidade difere de organização para organização. Cada uma propõe os seus objetivos e encontram formas de os alcançar para atingir as suas metas.

Para Pina e Cunha, a definição de organização é algo complexo, pois as teorias sobre as organizações pendem para uma abordagem simplista. Neste sentido, este autor procurou colocar o conceito de organização, sob uma perspetiva pluralista, uma vez que as várias organizações apresentam realidades complexas e multifacetadas.

As organizações têm em si um conjunto de variáveis, como capacidades, pessoas, tecnologias, interesses, pensamentos, ações, objetivos (Pina e Cunha, 1995: 3). Todas estas características integram os sistemas complexos das organizações.

Perante isto, e, seguindo o pensamento de Pina e Cunha, far-se-á, um breve resumo, sobre as características essenciais das várias teorias de organização presentes na seguinte tabela.

.Tipo de organização Definição Características Organização Racional Pretende implementar um

planeamento formal para

alcançar níveis mais elevados de eficiência. Todos os atores da organização se centram nos

objetivos traçados pela

organização, pelo que se dá

primazia ao coletivo, em

detrimento do individual.

Unicidade de objetivos –

Interessam apenas os objetivos estabelecidos pela organização, que não são colocados em causa;

Primado da estrutura – A

organização deve ser estruturada para não surgirem problemas, evitando situações incertas;

Formalização – <diminuindo a ação

individual, para prevenir o

inesperado, tudo é formal. Organização

Orgânica

Tem presente as características do envolvente. As organizações

nascem, crescem e

envelhecem. Procura ser um sistema aberto e atua perante os estímulos ambientais. Tem uma visão semelhante ao dos seres vivos, por isso, é uma perspetiva mais biológica e naturalista.

Carater sistémico – Funciona na base de subsistemas através de uma relação em rede;

Importância da envolvente –

Valorização do contexto em que está inserida, pois todas as organizações dependem de outras para a aquisição de recursos. Natureza transformacional – As

organizações têm realidades

dinâmicas, pelo que estão em constante mudança.

Organização Politica

São grupos que procuram

atender a diversos interesses, numa área comum, pelo que funciona na base da negociação

Diversidade de interesses – A variedade de interesses leva a que os objetivos traçados estejam de acordo com os interesses de quem pertence à organização;

Inevitabilidade da negociação e do conflito - Pela presença da diversidade, é necessário atuar na base da negociação, pelo que está presente, também o conflito.

Posse do poder – Há uma luta constante pelo poder, pelo que este pode deixar de ser um meio para se transformar num fim em si mesmo.

Organização Cognitiva

Esta teoria mostra que a organização tem presente a

forma como cada sujeito

perceciona o objeto, pelo que

funciona na base do

pensamento.

Corpos de pensamento – São

colocadas questões sobre a

realidade em que está inserida a organização;

Pensados – São construídos

modelos e teorias, com base na realidade, adaptando a realidade da organização ao contexto em que está inserida;

Pensadores pensantes - Os

indivíduos da organização têm um papel ativo na forma como pensam

a organização, envolvendo a

participação de todos os atores envolvidos na organização.

Organização Humana

Esta organização dá

importância aos objetivos

individuais de cada um, tendo em conta que as metas da organização não são colocadas em causa.

Importância dos objetivos

individuais

As conceções da natureza humana - Procura atender ao que cada individuo deseja e pretende, quer para si mesmo quer para a organização;

Pigmalião na empresa – Procura atender a todos os aspetos dos indivíduos para benefício da organização;

Objetivos individuais e

organizacionais são compatíveis – Os objetivos individuais são

desenvolvimento de uma cultura organizacional.

Tabela 5 - Teorias sobre o conceito de organização com base no autor Pina e Cunha (1995) Estas teorias apresentam definições que se podem completar, umas com as outras, dado que cada uma apresenta uma versão da realidade em que estão inseridas. Tal como afirma Pina e Cunha todas as teorias são corretas, mas ao mesmo tempo nenhuma, dado que apenas atende a uma perspetiva. “Dir-se-ia, deste modo, que isoladamente, as diversas abordagens não passam de versões simplificadas de uma realidade complexa; não obstante, cada uma delas desoculta uma parte dessa mesma realidade” (Pina e Cunha, 1995: 9).

Neste sentido, este autor define que a organização deve ser vista como uma amálgama, numa perspetiva pluralista. Já que, como se disse no inicio, a organização está inserida numa realidade, que exige atenção em todos os seus aspetos.

A visão pluralista das organizações implica a inclusividade, dado que a organização é um sistema complexo, não sendo, por isso reduzida a uma das suas realidades. Ao mesmo tempo, desenvolve uma teoria que não dificulta o conhecimento da teoria organizacional.

Esta teoria procura enquadrar-se na complexidade das organizações, não se reduzindo a uma simples realidade. Tem em conta que a organização tem em si muita coisa, podendo ser considerada uma amálgama, já que engloba muitas interpretações. Da incerteza que surge desta complexidade, aparece uma teoria mais rica e que se adapta a todas as situações da organização.

“A meta-metáfora da organização como amálgama procura alertar para os perigos da sobre simplificação e para a busca de soluções rígidas para o funcionamento de organizações que perseguem cada vez mais, a flexibilidade” (Pina e Cunha, 1995: 10).

E, observando a realidade, numa abordagem social e comunitária, como interessa para esta investigação, depreende-se que a organização deve ter presente o público a quem se dirige. E, neste sentido precisa de ter presente um pouco a visão de cada uma das definições apresentadas anteriormente.

Assim, compreende-se que o voluntário social está inserido, normalmente, numa organização de âmbito social, que procura corresponder às necessidades e fragilidades da comunidade.

Tendo presente o conceito pluralista das organizações o voluntário social, só consegue atuar numa organização que seja flexível na sua complexidade, caso contrário o voluntário, não consegue ser mediador e fazer chegar os destinatários às organizações. Esta pluralidade de atuação permite ao voluntário atuar de uma forma mais informal e mais livre. Permite ser ele próprio, sem a existência de muitos formalismos. Mas, ao mesmo tempo, impõem-se regras e normas de atuação para que a intervenção não se torne irrealista e sem sentido de orientação.

Como referido anteriormente, os organismos comunitários, cada vez mais procuram ser informais na sua atuação, pelo que, muitas vezes recorrem ao voluntário social. Num mundo individualizado, os destinatários necessitam de um atendimento, quase personalizado. Pelo que, o voluntário social atende às necessidades da comunidade, numa organização, em primeiro lugar, para ter mais credibilidade e ser mais aceite. E, em segundo lugar, atuar de uma forma mais informal e criar uma ligação mais forte da pessoa à sua comunidade, estabelecendo uma rede de apoio que lhe colmate as suas necessidades.

Tendo presente que, é através da organização que o voluntário social atua, necessita pois, do apoio da organização para desenvolver as competências que estão inerentes à sua atividade. Em parte, só através desta organização, é que o voluntário, muitas vezes percebe a forma como deve atuar junto dos destinatários. Assim como, para ter conhecimento dos seus direitos e deveres, enquanto voluntário que procura ser profissional na sua atuação.

Como se viu anteriormente, sem estes conhecimentos, que adquire, muitas vezes, pela via da formação, o voluntário, necessita que uma organização seja racional, na sua atuação para estabelecer objetivos e metas comuns a todos. Que seja orgânica, dado que, ninguém atua sozinho na comunidade, e todos os recursos têm de ser utilizados. Que tenha uma

perspetiva pensante, na medida em que reflete sobre a realidade em que está inserida, sem esquecer as pessoas que dela necessitam. E claro, tem de ter uma abordagem humana, dado que cada um tem os seus próprios objetivos e que estes não podem ser esquecidos, mas que, na sua maioria, se enquadram nos objetivos da organização.

Aliás, os voluntários quando procuram uma organização, à partida, já conhecem minimamente a organização e sabem, pelo menos que a organização se dirige ou pode dirigir aos destinatários para quem pretende realizar a sua ação.

É o que acontece no Instituto Missionário da Consolata que aceita e reconhece a diversidade da realidade e procura estar aberta aos constantes desafios que a comunidade apresenta. Esta é uma organização direcionada para o Voluntariado Missionário, em que prepara os seus membros para uma realidade complexa e com carências extremas. Sendo necessário ter esta vertente pluralista para adequar a intervenção às diferentes realidades em que atua.

Ao mesmo tempo, e perante as muitas necessidades sentidas na comunidade em que estão inseridos, os voluntários sociais perceberam a importância de realizar intervenção junto da mesma. Assim, iniciaram a intervenção comunitária sem saírem do país. E esta situação só foi possível, pela abertura do Instituto aos desafios apresentados, tendo os voluntários sociais a possibilidade de gerirem, eles próprios, os diferentes projetos que realizam. E, apesar, desta abertura, os voluntários sociais procuram cumprir as regras e normas que a organização, neste caso o Instituto Missionário, impõe.

2.

O VOLUNTÁRIO SOCIAL NA COMUNIDADE

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