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2.3 O DOCENTE E A EAD

2.3.2 Competências

É necessário entender então o conceito de competência. Esta pode ser interpretada como a capacidade de mobilizar saberes (desenvolvidos ao longo da vida social, escolar e laboral) para agir em situações concretas de trabalho.

De maneira mais generalizada, Zariffian (2001), apresenta diferentes interpretações para competências, mas que evidenciam aspectos comuns, entre elas: “a competência é o tomar iniciativa e o assumir responsabilidades do indivíduo diante de situações profissionais com as quais se depara”.

O autor afirma que o exercício da competência não existe sem uma base de conhecimentos que possa ser mobilizada em uma determinada situação. Porém, o autor ressalta que mobilizar apenas os conhecimentos não garante a competência, uma vez que é preciso que ocorra também um exercício reflexivo a fim de que o sujeito utilize suas aprendizagens em favor das situações. Então não se trata de empregar um conhecimento prévio, mas de saber mobilizá-lo em função da situação.

Ainda segundo Zarifian (2001), a dialética entre conhecimento e competência se estabelece à medida que os conhecimentos se modificam no contato com os problemas e acontecimentos encontrados em situações concretas.

O conceito da competência está estritamente relacionado com o desenvolvimento do indivíduo, e com a formação contínua, ou seja, a oportunidade para melhorar ou adaptar as competências. Para Zarifian (2003), competência é uma inteligência prática das situações, que se apóia em conhecimentos adquiridos e os transforma, à medida que a diversidade das situações aumenta.

Competência é a transformação de conhecimentos, aptidões, habilidades, interesse, vontade, etc. em resultados práticos. Ter conhecimento e experiência e não saber aplicá-los em favor de um objetivo, de uma necessidade, de um compromisso, significa não ser competente (RESENDE, 2003, p. 32).

Aprofundando essa idéia, Ruzzarin, Amaral e Siminovschi (2002) afirmam que a escola francesa desenvolveu uma concepção de competências muito difundida nos meios empresariais e acadêmicos, cuja classificação sustenta-se em três elementos fundamentais:

a) saber (conhecimentos); b) saber fazer (habilidades); e c) saber ser (atitudes).

Pode-se então definir uma pessoa competente como aquela capaz de mobilizar seus conhecimentos (saberes), habilidades (saber-fazer) e atitudes (saber ser) no seu cotidiano.

Roque (2004) também segue essa conceituação, como pode ser observado na figura 5 que segue.

Figura 5: Competência

Fonte: adaptado de Roque (2004)

Para o autor, o saber diz respeito aos conhecimentos, aos saberes em uso, ao saber teórico, formalizado e prático, aqueles que podem ser transmitidos e que são adquiridos tanto na educação formal quanto na informal. Os saberes teóricos, por sua vez, podem ser representados pelo saber técnico, que traduz o que deve ser feito, e o saber metodológico, traduzido em como deve ser feito.

O saber ser, por sua vez, refere-se aos valores do sujeito, suas atitudes, suas características pessoais e culturais, sua capacidade de se comunicar, interagir, adaptar-se a novas situações, entre outras. As capacidades de ordem psicológica também são levantadas por alguns autores (RAMOS apud ROQUE, 2004), como o saber agir e reagir com pertinência; saber combinar os recursos e mobilizá-los num contexto; saber transportar, saber aprender a aprender; saber se engajar.

E, por fim, o saber fazer, que está relacionado à aplicação dos conhecimentos e reflete nas habilidades como o resultado das competências adquiridas.

Dutra (2001) corrobora com estas idéias, mas afirma que o fato das pessoas possuírem um determinado conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes, não garante que a organização se beneficiará diretamente. Segundo o autor, o indivíduo é avaliado e analisado levando em consideração a sua capacidade de entregar-se à empresa, ou seja, as decisões são tomadas em razão do que eles entregam para a organização.

Saberes

Saber ser Saber fazer

são

transmissíveis

refletem

Conhecimento

reflete reflete

Valores Habilidades como

resultado das competências

Deffune e Depresbiteris (2002), na mesma linha, definem competência como um conjunto identificável de conhecimentos (saberes), práticas (saber-fazer) e atitudes (saber-ser) que mobilizados podem levar a um desempenho satisfatório.

Fleury (2002) define competência como um saber agir responsável e reconhecido que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que agregue valor econômico à organização e valor social ao indivíduo. Para a autora, as competências sempre são contextualizadas. A figura 6, a seguir, ilustra essa relação na visão da autora:

Figura 6: Competências como fonte de valor para o indivíduo e para a organização.

Fonte: Fleury (2002, p. 55)

Para ampliar a compreensão deste conceito, Fleury e Fleury (2004) explicam estes saberes como demonstra o quadro 10 a seguir.

Saber agir • Saber o que e por que faz.

• Saber julgar, escolher, decidir.

Saber mobilizar • Saber mobilizar recursos de pessoas, financeiros, materiais, criando sinergia entre eles.

Saber comunicar • Compreender, processar, transmitir informações e

conhecimentos, assegurando o entendimento da mensagem pelos outros.

Saber aprender • Trabalhar o conhecimento e a experiência.

• Rever modelos mentais.

• Saber desenvolver-se e propiciar o desenvolvimento dos outros.

Saber comprometer-se • Saber engajar-se e comprometer-se com os objetivos da organização.

Saber assumir responsabilidades • Ser responsável, assumindo os riscos e as conseqüências de suas ações, e ser, por isso reconhecido.

Ter visão estratégica • Conhecer e entender o negócio da organização, seu

ambiente, identificando oportunidades, alternativas.

Quadro 10: Competências do profissional

Fonte: adaptado de Fleury e Fleury (2004, p. 31) saber agir

saber mobilizar saber transferir saber aprender saber se engajar ter visão estratégica assumir responsabilidades Agregar valor Indivíduo Conhecimentos Habilidades Atitudes Social Organização Econômico

Nota-se da análise da figura e do quadro anteriores que o conceito proposto reúne o conceito proveniente da escola francesa, de que a competência é o conjunto de saber, saber fazer e saber ser, com o conceito de mobilização destes saberes em direção à prática. Por esses motivos é o conceito norteador deste trabalho.

Para Rabaglio (2004), a competência é formada pelo CHA: conhecimento, habilidade e atitude. O conhecimento é o saber, o que se sabe mas não necessariamente se coloca em prática, a habilidade é o saber fazer, o que se pratica, se tem experiência e domínio sobre, e a atitude é o querer fazer, as características pessoais que levam a praticar ou não o que se conhece e se sabe, combinando assim as concepções de competência, indo ao encontro do conceito exposto por Fleury.

Assim, Leme (2005) segue a mesma conceituação de Rabaglio (2004) mas classifica, definindo competência como a soma de competências técnicas e competências comportamentais. O autor agrupa, portanto, conhecimento e habilidade (o saber e o saber fazer) como competência técnica, que agregado à competência comportamental (o querer fazer) vai transformar-se em competência, por meio do julgamento de valor do indivíduo. Borges (2004) tem uma definição similar quando entende competência como o conjunto de competências técnicas, que são os conhecimentos necessários para o exercício de determinada função e de competências pessoais, que é o que diferencia o profissional (principalmente o professor) pois demonstra o que este profissional sabe sobre pessoas e perceba como mexe com elas.

Ainda na mesma linha, Gramigna (2002) trabalha com o conceito de “árvore das competências”, onde a raiz corresponde às atitudes, ou seja, o conjunto de valores, crenças e princípios, formados ao longo da vida, e determinam as atitudes. O tronco corresponde ao conhecimento, que trata-se do conjunto de informações que a pessoa armazena e lança mão quando precisa. E, finalmente, a copa, com seus frutos, flores e folhas, corresponde às habilidades, que significa agir com talento, capacidade e técnica, obtendo resultados positivos.

Ser competente não significa necessariamente habilitar-se para competir, mas habilitar-se para participar, colaborar, construir, conviver. Competência não se reproduz, não se imita, não se copia. Quando desejamos equalização de oportunidades, formação do sujeito histórico, redistribuição do poder pelo acesso ao conhecimento, estamos nos colocando desafios que jamais poderão ser manejados pelas vias de imitação (DEFFUNE; DEPRESBITERIS, 2002, p. 29).

Em relação ao desenvolvimento das competências, faz-se necessário ter em mente que este é um conceito mais elástico e deverá ser formado ao longo da vida das pessoas, quer seja em cursos formais como em atividades informais, na escola e no próprio mundo do trabalho.