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Parte II – ESTUDO EMPÍRICO

Capítulo 6 – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

6.3. Competências Sociais

Na escala dos comportamentos sociais os adolescentes deste estudo revelaram resultados entre 12.5 e 13.5 (numa escala de 0 a 20) na Assertividade, Cooperação e Autocontrolo. Apenas a Empatia revelou um resultado acima dos 15. Estes resultados vão ao encontro de outros estudos (Cia, Pamplin & Del Prette, 2006; Del Prette & Del

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Prette, 2005; Pacheco, Teixeira & Gomes, 1999), na medida que também encontraram resultados semelhantes aos do nosso estudo, destacando mais dificuldades ao nível do relacionamento interpessoal, o que no presente estudo é avaliado pela dimensão Cooperação (Pacheco, Teixeira & Gomes, 1999).

Na assertividade e autocontrolo os adolescentes tiveram resultados mais baixos, o que está na mesma linha dos resultados encontrados por Vicentin (2009), onde os adolescentes apresentaram mais respostas passivas e agressivas do que assertivas ao nível do comportamento, evidenciando respostas mais impulsivas.

Na adolescência o grupo torna-se parte central da vida do jovem, e é com os pares que os adolescentes desenvolvem e ensaiam papéis sociais (Matos & Gaspar, 2008). Nessa aprendizagem, torna-se mais fácil para o jovem identificar-se com o outro e sentir-se empático, o que não acontece com algumas das competências sociais como a Assertividade, Cooperação e Autocontrolo, pois requerem condutas específicas que envolvem treino.

Foi interessante observar-se que em termos de comportamentos sociais rapazes e raparigas apresentam valores semelhantes para as três dimensões: Assertividade, Cooperação e Autocontrolo. No entanto, relativamente à Empatia, as raparigas apresentam valores significativamente superiores (tabela 18). Os traços biológicos referentes aos géneros são mediados pela educação, sendo considerado diferenças biológicas e socioculturalmente determinada, ambos os géneros tendem a assumir comportamentos sociais diferenciados, de acordo com os estereótipos sexuais vigentes impostos pela sociedade (Palácios & Hildalgo, 1993). Tal parece não se refletir nas competências sociais, com exceção da empatia, que pode apresentar níveis mais elevados nas raparigas, visto que a convivência e interação social com base na comunicação está mais presente ao nível da educação deste género (Zarkrish, Wright & Underwood, 2005).

Os pais e a sociedade desde o nascimento da criança, assumem determinados comportamentos consoante o género da mesma, o que se reflete ao nível do diálogo, brincadeiras planeadas, brinquedos oferecidos ou aspeto visual. Por outro lado, os próprios pais são de sexos diferentes, e tendem a assumir uma atitude diferenciada entre si, o que implica a expressão de modelos diferentes de acordo com o género (Leaper, 2000). Neste sentido, seria de assumir que rapazes e raparigas cresceriam diferentes em distintas dimensões do comportamento humano e que ao nível do desempenho social estas seriam diferenciadas de forma acentuada. Caspi e Roberts (2001) afirmam que

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esses comportamentos sociais estereotipados (brincadeiras, formas de conversar e de se relacionar) são mais acentuados na infância, e que ao longo da adolescência se tendem a esbater, não só devido à tolerância social, mas também ao aumento de igualdade entre os sexos nos adultos que vigora atualmente, e que ainda não está refletido no relacionamento adulto – criança (Fredricks & Eccles, 2002; Marsh, 1988). Assim, os estudos com adolescentes apresentam menos diferenças significativas nas diversas dimensões sociais exploradas, com exceção para o Autocontrolo e Empatia, que são, regra geral, superiores nas raparigas (Leaper, 2000).

Psicólogos, educadores e vários profissionais da área da educação têm dado prioridade à promoção do desenvolvimento social dos alunos no seu processo de aprendizagem. As pesquisas no campo das competências sociais têm apoiado a visão de que os deficits nessa área, em geral, podem constituir um fator associado de baixo rendimento académico nos alunos (Gresham, 1992; Ogilvy, 1994; Swanson & Malone, 1992). Alunos com deficits ao nível das habilidades sociais apresentam maior dificuldade de aprendizagem, mais rejeição, isolamento pelos colegas, alvo de críticas, manifestam uma maior tendência para comportamentos socialmente inaceitáveis, são menos capazes de ultrapassar situações negativas, menos adaptáveis a novas situações sociais e apresentam pouca tolerância a frustrações e fracassos; por outro lado também parecem receber menos demonstração de afeto e apoio dos pais (Lavoie, 1994). Desta forma, Nunes (1990) considera que o fracasso académico é um grande gerador de sentimentos de desproteção, logo, os alunos com fracasso escolar exteriorizam mais afeto negativo e desistência da tarefa e se percecionam como incapazes de mudar uma situação negativa.

Ao considerarmos que os processos de ensino-aprendizagem ocorrem no âmbito social, sob as interações sociais, com seus pares e educadores, considera-se que a qualidade das relações interpessoais estabelecidas podem afetar positivamente ou negativamente o rendimento académico (Del Prette & Del Prette, 2003, 2005; Zins, Walberg & Weissberg, 2004). A literatura internacional aponta para essa mesma hipótese (Caprara, Barbaranelli, Pastorelli, Bandura & Zimbardo, 2000; Diperna, 2006; Eisenhower, Baker & Blacher, 2007; Mc Clelland, Acock & Morrison, 2006). No entanto, a correlação positiva baixa que se verificou entre dificuldade de aprendizagem e deficits de habilidades sociais encontradas em alguns estudos indica que nem todos os alunos com história de fracasso académico apresentam um repertório interpessoal comprometido (Gresham, 1992; Ogilvy, 1994; Swanson & Malone, 1992).

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Assim, no presente estudo, ao contrário do apresentado ao nível do autoconceito ou da perceção da relação com a família, os comportamentos sociais não apresentam um padrão de correlações significativas com o rendimento académico. Apenas o autocontrolo apresenta uma correlação constante com as classificações das diferentes disciplinas que requerem estudo (Português, Matemática, Língua Estrangeira e Ciências da Natureza), sendo que pontualmente existem correlações positivas significativas baixas entre os comportamentos sociais e as classificações obtidas, como é o caso da Assertividade e a Educação Física; da Empatia e o Português ou as Ciências da Natureza; e da Cooperação com o Português, a Língua Estrangeira e as Ciências da Natureza.

O autocontrolo revela-se uma característica particularmente importante no sucesso académico, visto que é esta competência que permite ao jovem canalizar a sua atenção, controlar os seus impulsos e comportar-se de acordo com as normas. Deste modo, é normal que os alunos com mais autocontrolo consigam tirar mais proveito das aulas e obter, consequentemente melhores classificações.

6.4. Relação entre Autoconceito, Relação Familiar e Competências