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4. CARACTERÍSTICAS DO SETOR TÊXTIL

4.1 A INDÚSTRIA TÊXTIL NO BRASIL: UM BREVE LEVANTAMENTO DO SETOR

4.1.1 Competitividade do setor têxtil

Segundo Lins (2000) tanto o setor têxtil quanto do vestuário integram o mesmo complexo industrial. Um conceito do complexo industrial para Possas apud Lins (2000), significa o agrupamento de atividades econômicas em blocos por critérios econômicos que estejam mais relacionadas entre si do que com as demais, ainda para Haguenauer apud Lins (2000) seria um conjunto de indústrias que se articulam, a partir de relações de compra e venda de mercadorias, reincorporadas e transformadas no processo de produção. “Os vários

complexos industriais “dialogam” entre si”(LINS, 2000, p. 57).

No caso do setor têxtil e do vestuário existem várias interações entre atividades específicas com outras dos complexos agropecuário, químico e metal-mecânico.

As atividades de beneficiamento de fibras naturais, fiação e tecelagem integram os setores de base do complexo têxtil-vestuário; a produção de artigos de vestuário e itens para uso doméstico e industrial corresponde às indústrias finais da cadeia produtiva. Portanto, referir à produção têxtil vestuarista implica aludir a uma extensa gama de atividades que se entrelaçam e conforme assinalado, interagem com diversos outros setores, inseridos em outros setores, inseridos em outros complexos industriais (LINS, 2000, p. 58).

O processo produtivo têxtil, de acordo com Lins (2000) é caracterizado por possuir uma seqüência de operações descontínuas onde cada fase depende das operações precedentes. O elemento dinamizador do setor têxtil é o mercado, e o seu maior canal de escoamento é o setor de vestuário. “O caráter descontínuo do processo de fabricação favorece a

especialização flexível das empresas, porém verifica-se uma grande variedade de formas de organização produtiva” (LINS, 2000, p. 58).

Nesta atividade existem desde produções diversificadas até concentração em artigos de maior qualidade e preço, produção de pequenos lotes e especialização produtiva no interior das empresas verticalizadas. Esta indústria é constituída de grande heterogeneidade, principalmente a indústria do vestuário que abriga plantas de vários tamanhos, desde pequenos até grandes estabelecimentos. “As indústrias têxtil, e vestuaristas incorporam

tecnologia originária de outras atividade, relacionadas à produção quer de matérias-primas, quer de máquinas e equipamentos” (LINS, 2000, p. 58).

Quanto ao desenvolvimento tecnológico da produção têxtil recente ocorreu no que se refere às fibras sintéticas. Na verdade o setor têxtil é um setor tomador de inovações produzidas em outros setores, principalmente no setor químico, de novos materiais e de bens de capital.

Outro aspecto importante da absorção de inovação no setor têxtil e vestuarista é verificado, principalmente ao fato de que a fase da costura, no setor do vestuário, é intensiva em mão-de-obra e tende a fazer com que o baixo custo com esta seja o mais importante determinante das estratégias com relação à localização industrial e a subcontratação e terceirização.

O uso da microeletrônica tem-se revelado essencial para aumentar a competitividade nas indústrias em foco, pois permite a integração dos sistemas de monitoramento e regulagem das máquinas, o controle do processo produtivo por microprocessador e uma maior eficiência na coleta, na armazenagem e no registro das informações sobre o processo de produção, assim como no controle dos fluxos de materiais e nos ajustes das máquinas (LINS, 2000, p. 60).

Mas também o uso da automação e robôs, possibilitam melhoria nas operações de transporte, em outras áreas intensivas em mão-de-obra e na redução do volume de estoque de produtos semi-elaborados e na produção das máquinas. “A produção de lotes menores e

diferenciados de produtos é favorecida, e isso representa avanços consideráveis em matéria de flexibilidade produtiva” (LINS, 2000, p. 60).

A utilização do robô industrial serviria como um meio para movimentar e manipular no espaço peças, materiais, ferramentas, e que depois de aprender determinado ciclo de produção podendo ser repetido sempre que for necessário. Do ponto de vista das empresas, as vantagens da adoção tecnologias de automação flexível advém da preocupação com o produto ou ainda pela introdução de novos produtos, redução dos prazos de entrega, melhoria da qualidade e o atendimento pós-vendas aos clientes e a agilidade nas respostas às flutuações do mercado.

Nas etapas de criação, design e corte a informática alcança grande utilização pelo CAD/CAM (design assistido por computador/ manufatura assistida por computador). A utilização deste tipo de tecnologia proporciona menores desperdícios de tecidos, bem como especificações técnicas dos modelos e peças e da definição de como estes são fabricados, o tamanho e velocidade. Estas inovações contribuem para o aumento da flexibilidade produtiva em tais atividades.

Para Oliveira (1998) as tecnologias de informação, na produção calçadista e têxtil são aplicadas na área de produção e projetos, administração da produção, controle de estoques, vendas, etc., e ainda o uso de tecnologias digitais estão difundidas principalmente nas áreas de projetos ou design. O sistema CAD/CAM permite a redução dos tempos de produção, pois possibilita que a comunicação entre as fases do processo se faça em tempo real.

O processo de produção têxtil, utilizam tecnologia de produção com um forte conteúdo de trabalho e ainda apresentam elementos artesanais na sua manufatura. Mas existe um grande empecilho para a sua adoção, que está no,

(...) preço e o volume de produção necessários para justificar economicamente a aquisição, além do problema de desconsideração do valor das futuras oportunidades de investimentos e dos benefícios do aprendizado tecnológico que proporcionaria. (...) Praticamente para todas as operações de montagem já existem máquinas com controle numérico ou pelo menos com controladores lógicos programáveis, o que proporciona uma menor atuação da mão-de-obra sobre o processo e uma maior precisão e qualidade na montagem. (FENSTERSEIFER & COSTA, 1995, p.36-38)

A busca da competitividade pela redução de custos, melhoria da qualidade e agilidade em atender um mercado cambiante não é alcançada pela utilização de tecnologias com base

na microeletrônica; são as novas técnicas de gestão que poderão ser um importante instrumento para a competitividade.

Uma prática comum entre as empresas do setor têxtil é a subcontratação, principalmente no Brasil. As atividades subcontratadas são realizadas, no caso brasileiro, nos domicílios dos moradores da região onde está localizada a indústria. O material utilizado por estes subcontratados é fornecido pela empresa que contrata estes serviços. Os equipamentos, máquinas de costura e ferramentas de trabalho, pertencem ao trabalhador ou a facção, os quais são adquiridos com seus recursos. A responsabilidade da entrega do trabalho é do trabalhador domiciliar. Não existe acordo formal entre as partes, estes trabalhadores recebem uma planilha, onde consta a quantidade de peças a serem fornecidas, por numeração e modelo. A remuneração deste trabalho é feita por peça produzida.

Por esse motivo e pelo fato dos vários estágios tecnológicos existentes entre as empresas, a atividade é muito heterogênea. As barreiras à entrada e saída desta atividade são baixas, por possuírem variados segmentos de mercado e diferentes níveis tecnológicos, e ainda, pelo fato dos equipamentos, em termos artesanais e mecânicos, serem de custo reduzido, não se referindo aqui a equipamentos automatizados. Um fator muito importante para a competitividade das empresas é a mão-de-obra, pois o setor é ainda muito artesanal e pela pouca difusão de tecnologia automatizada. Assim o custo da mão-de-obra é muito importante, para segmentos de mercado onde a produção é ainda realizada de forma mecânica ou artesanal.

Uma outra característica do setor que influencia o padrão competitivo das empresas são as variações ocorridas na moda, que requerem das empresas a capacidade de diferenciação e flexibilização da produção. Então as empresas que estão em desvantagem com relação ao custo de mão-de-obra, passam a dedicar-se às estratégias de atender de forma mais rápida e diferenciada seus consumidores. Para conseguirem alcançar tal estratégias, elas valem-se das novas tecnologias que permitem maior flexibilização da produção e maior produtividade.

O quadro abaixo demonstrará alguns fatores que são determinantes para a competitividade da indústria têxtil, em especial no Brasil.

Quadro II: Fatores Determinantes da Competitividade da Indústria Têxtil

Fatores Internos Fatores Estruturais (setor) Fatores Sistêmicos

• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Estrutura de capital fragmentada • Empresas modernas Tecnologia de ponta restrita Produtividade baixa Custos altos Necessidades de reorientação gerencial • Produção pouco flexível • Mercado

Apenas as maiores empresas exportam Pemes não tem acesso à informação sobre o mercado

Produtos diferenciados

Falta de orientação ao mercado Falta de análise da concorrência Boa qualidade dos produtos Configuração da Indústria Produção pulverizada

Só as grandes são relativamente competitivas

Empresas homogêneas

Equipamentos de fiação com mais de 10 anos

Defasagem tecnológica das empresas de menor porte e até de algumas com maior porte

Processo mundial de reestruturação do setor orientado por programas

nacionais/regionais

Redução da produção e do pessoal ocupado, com aumento da produtividade Grandes avanços tecnológicos

Concorrência

Ameaça das novas unidades produtivas do nordeste

Ameaça dos produtores asiáticos

Ausência de fomento à tecnologia

Falta capacitação gerencial

Pemes tem pouco acesso à automação (CAD) Financiamentos de bancos de desenvolvimento sem atender necessidades do setor Baixa remuneração de pesquisadores (instituições públicas) Deficiente estrutura de P&D Estrutura viária deficiente Falta de técnicos de 2º grau

Fonte: ECIB.IAD/EL apud Cunha, 1996, p.120. PEMES – Pequenas e Médias Empresas

Tais fatores determinantes da competitividade do setor têxtil podem ser verificados através das dificuldades encontradas pelas empresas ao enfrentarem o mercado competitivo mais globalizado, que com a abertura comercial brasileira força às empresas adaptarem-se ao mercado internacional para não perderem parte da sua fatia de mercado. Os fatores internos acima verificados são aqueles que estabelecem a estrutura das empresas internamente, já os fatores estruturais, em termos setoriais, estabelecem as características das empresas em termos de mercado, configuração da atividade têxtil e algumas formas de concorrência e até as ameaças à concorrência nacional. Já os fatores sistêmicos estão mais voltado às instituições de

apoio às empresas deste setor, ao acesso destas às novas tecnologias, bem como as deficiências as empresas que compõem esta indústria. Alguns fatores da economia brasileira e mundial proporcionam alguns aspectos para competitividade das firmas em especial no Brasil que com a abertura da economia viu crescer o números de mortes e falências pelo aumento da competitividade internacional9.

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