• Nenhum resultado encontrado

“Só complementando o que o [citou nome do colega] falou, da questão de medo, eu acho que esse medo do ser humano das máquinas se voltarem contra ele é por que o ser humano é o criador

Estudo de caso: Temáticas sóciocientificas trabalhadas através da análise conceitual seguindo os referenciais teóricos e epistemológicos da argumentação - transcrições

Aluna 2: “Só complementando o que o [citou nome do colega] falou, da questão de medo, eu acho que esse medo do ser humano das máquinas se voltarem contra ele é por que o ser humano é o criador

Aluna 1: “Uma visão sociológica da coisa, que muita gente tem medo que a tecnologia tome conta do mundo. E que domine o mundo.... (o vídeo sobre IA postado no Google Classroom). Eu concordo com o ponto de vista do senhor que gravou o vídeo, eu não acho que as máquinas vão dominar o mundo porque na realidade uma máquina, como diz no vídeo, é formada por algoritmos, né, é o próprio homem que coloca as informações, então eu acho que algum dia, se as máquinas acabarem criando alguma consciência, vai ser porque o homem incentivou isso, entendeu, eu não acho que a autonomia delas vá ser criada por elas mesmas, eu acho que o homem vai influenciar nisso. Enfim essa é basicamente a minha opinião.”

Aluna 2: “Eu achei interessante o vídeo, achei interessante aquela máquina que nem os próprios programadores entenderam, essa informação meio que me assustou, entre aspas (“”), mas não de uma maneira necessariamente ruim, e assim como a [citou nome da colega], eu não acho que, pelo menos em um futuro próximo, fazer as máquinas terem uma consciência, porém o que me “preocupa” é que a máquina vai seguir o que ela foi programada para fazer, e o que me preocupa é quem vai estar por trás dela, aí é que tá o perigo, não pela máquina em si, mas pela pessoa que ta programando ela.”

Aluno 1: “Eu ia falar que máquina é só um script de programação do conhecimento prévio do ser humano, então a máquina não tem uma autonomia para ter uma ação diferente da programada, minha opinião é mais ou menos parecida com as gurias que falaram, meu medo é mais essa questão do ser humano achar que as coisas possam sair do controle, pois não faz sentido uma máquina fazer algo que ela não foi programada, não faz sentido comparar o cérebro humano com um pensamento de filme, é basicamente essa a minha ideia.”

Aluna 1: “Eu acho que um dos principais medos do ser humano é, na realidade, ser substituído, as pessoas têm medo que a mão de obra delas não seja mais usada e que máquinas comecem a substituí-las, e acho que isso vem de muitas gerações. Na realidade, se tu for ver, as tecnologias criadas nos últimos anos, as pessoas sempre têm medo de que elas parem de trabalhar, e principalmente ali na Revolução Industrial, que as pessoas acharam que iriam ter de parar de trabalhar, que aí iria ter máquinas que iriam substituir a mão de obra delas, mas na realidade vão ter de ter pessoas para fazer a manutenção dessas máquinas, então eu acredito que a mão de obra humana nunca vá ser completamente substituída, e que se em algum momento isso for acontecer, isso vá acabar prejudicando a nossa volta, a nossa população é muito grande e tem de ter trabalho pra todo mundo, acho que essa é a questão principal.” (grifo nosso)

Aluna 2: “Só complementando o que o [citou nome do colega] falou, da questão de medo, eu acho que esse medo do ser humano das máquinas se voltarem contra ele é por que o ser humano é o criador delas, das máquinas, e o ser humano personifica a sua instabilidade nas máquinas, o ser humano é

27

muito instável, a gente tem medo de que elas, com a evolução, possam ser tão instáveis quanto nós, de alguma forma, e daí fazer todo esse levante, de dominar o mundo etc.”

Aluno 2: “Eu vou discordar um pouco dos colegas, dessa teoria de que não existirão empregos, mas será que o que existiu na humanidade até agora vai se repetir com a IA? E não só isso, nunca antes na história da humanidade houve tanta evolução e tanta tecnologia quanto num período tão curto de tempo. É difícil para as pessoas comuns se adaptarem, é difícil até para quem é do meio da programação, muitas mudanças acontecem tão rápido..., como uma pessoa comum que nem tá ligada no que acontece no mundo, ela nem sabe esse tipo de coisa, como é que ela vai se adaptar num mundo com computação quântica, num nível de informação absurdo, numa sociedade tão diferente do que era há um tempo atrás? Talvez seja muita arrogância achar que vão se criar novos empregos daqui por diante para compensar os que vão acabar com as IAs.”

Aluno 2 (continuando): ... “é muito difícil definir e dizer o que é consciência... tem um vídeo que fala de uma IA poder criar uma IA melhor que ela, a superando, sobre isso, saiu uma notícia da Microsoft, dizendo que ela teria criado essa IA que teria superado a IA dela, e seria numa velocidade mais rápida, e que seria tão evoluída e conectada com a IA original, que a superaria, que seria uma espécie/forma de Deus. Quanto a isso também eu vi uma notícia de que na Índia, antes da Covid ainda, que essa perda de emprego, e tal, como seria a questão do emprego com essa IA tão especial e superior, seria quase como que um Deus “criando” o seu filho.”

Aluna 1 (retomando): “Eu acho que a própria constituição do nosso país nos limita, a gente sempre vai ter alguém nos limitando o tempo todo, isso entra mais no lance dos contratualistas, que eu não quero entrar, mas acaba que a gente sempre acaba entrando/invadindo o espaço do outro, e até o governo, como a gente vê em certas ditaduras como na China e em outros países, eles acabam invadindo a nossa privacidade de certa forma, mas em relação a informações do Google etc., a gente aceita os termos de uso e permite que a nossa privacidade seja violada, mas se a gente não permitir, vai acabar tendo de se afastar desse tipo de tecnologia, mas essa liberdade tem mais a ver com a condição desse ser humano que escolhe ter esse tipo de privacidade ou não.” (grifo nosso).

Aluno 2: retomando... “Até tendo a concordar com a [citou nome da colega] nesse ponto, do controle da tecnologia, nós já perdemos esse controle e nem vai conseguir recuperar, nos EUA ainda dá para ter o controle, pois é uma “democracia”, mas no caso da China não, nós não sabemos o que vem lá de dentro, que quer dominar o mundo e ser uma potência tecnológica, é um país que tem o domínio das informações, é um país que está muito na frente, já vai passar os EUA, como ir contra um país deste em um futuro próximo? Muito complicado isso.”

28

Análise e construção, identificação de estruturas argumentativas e de argumentação através das falas e discussões das Aulas 1 e 2

Através das falas e das transcrições dos estudantes nestas aulas antecedentes, podemos utilizar este material e outros elementos a fim de identificar estruturas argumentativas nas opiniões e proposições dos alunos, bem como, se é possível, interpretar estas passagens no sentido de defender uma perspectiva de que houve a presença de elementos argumentativos oriundos destas falas.

Como recurso didático para estas aulas, conforme referido anteriormente, foram disponibilizados alguns vídeos para os alunos assistirem e comentarem depois, dentro da metodologia proposta e utilizada em sala de aula. Por exemplo, um argumento que se pode identificar é o da questão da máquina (no caso, a máquina operando de acordo com uma IA) ser dependente da construção e operacionalização de algoritmos para poder desempenhar as suas funções: é o ser humano que programa a máquina e constrói os algoritmos, se as máquinas futuramente, na sociedade, criarem alguma espécie de autonomia de realizarem as coisas “sozinhas”, digamos assim, isso não será por causa da própria máquina, e sim de quem a programou, o ser humano. A máquina não teria autonomia para ter uma determinada “autonomia” diferente da programada, essa seria uma das consequências deste raciocínio e isto foi, inclusive, dito por um dos estudantes.

Também na questão e discussão sobre a nova Revolução Tecnológica, em comparação com a Revolução Industrial, os estudantes defenderam posições de que as máquinas não deverão substituir os humanos nos empregos, e utilizaram as seguintes razões, ou argumentos para tanto, a saber, de que a manutenção das máquinas não serão outras máquinas que realizarão, pois isto requer a presença do ser humano (mesmo que haja uma IA que faça tal “manutenção”, essa IA foi programada pelo ser humano e teria alguma dependência dele, em algum nível), e um ponto levantado por um dos estudantes, que foi bastante interessante, foi a questão do alto nível de complexidade que as funções em uma sociedade com altas tecnologias de IA iria exigir, tecnologias estas que são desconhecidas pela maior parte das pessoas e inclusive por parte dos próprios especialistas, que tem uma grande quantidade de dados e de informações para lidarem (o que é conhecido na literatura da ciência de dados como o problema do Big Data).

Então, em termos de argumento/argumentação, podemos colocar essa questão levantada pelos estudantes em uma forma de pergunta, por exemplo, que exigirá uma resposta à mesma: “As máquinas, a IA irão “dominar” o mundo/sociedade, a ponto de restringirem nossas capacidades de autonomia, liberdade etc., e também em relação às relações de trabalho, tornando certas funções/empregos obsoletos ou inexistentes, e também em relação aos termos de uso dos serviços de IA?” (este último ponto/tópico também foi levantado e aventado pelos estudantes, e pode/deve ser agregado aqui, pois está diretamente relacionado às questões pertinentes colocadas e elencadas pela classe).

29

Como resposta a esta grande e complexa questão, construída aqui em forma de pergunta, ou questionamento, cujo objetivo é o de dar uma forma a uma estrutura argumentativa presente nas falas dos estudantes, se pode responder negativamente, de acordo com as razões e os argumentos apresentados por eles, e oferecer as seguintes razões pertinentes e relevantes para tanto: “Não, as máquinas e a IA não terão este poder de dominação, pois quem faz a sua programação e manutenção são os humanos, que não terão a sua perda de autonomia e liberdade nesse sentido, pois as máquinas e as IAs são dependentes do ser humano. Em relação aos termos de uso dos serviços de uso das empresas e companhias de IA, também é o humano que escolhe não utilizar ou não, seu acesso ficará restrito se assim não o escolher, utilizando e tendo acesso a menos tecnologias e produtos, mas no final a escolha será sempre sua.” (Mesmo com a guerra tecnológica travada entre EUA x China e que pauta/pautará as relações tecnológicas e comerciais de nossas vidas privadas, também, restringindo nossas “liberdades”, mas ainda assim seremos nós, ao fim e ao cabo, que faremos as escolhas).

De forma breve e resumida, basicamente estes seriam os argumentos contidos nas falas dos alunos nestas aulas. É importante salientar que a forma como estamos expondo estas estruturas argumentativas aqui não precisam ser necessariamente estas, buscamos oferecer uma alternativa de análise e construção aqui, que sirva como baliza e referência para o professor-pesquisador na elaboração da suas aulas, mas se trata apenas de um modelo de como fazer, não uma “receita de bolo”, outras diversas formas podem e mesmo devem ser utilizadas, o objetivo aqui é ser ilustrativo e didático no propósito desta atividade.

30 Transcrições das falas dos alunos nas Aulas 3 e 4

Aluna 2: “Eu gostei muito dos vídeos, da parte que ele fala da engenharia genética, mas o foco seria a fake news, eu acho muito interessante que se possa usar a IA para a detecção de fake news porque atualmente é o que mais acaba rolando, pois as pessoas não checam as notícias que recebem, vão passando adiante sem checar, então se a gente tivesse um meio de detectar essas fake news para evitar que essa desinformação fique rolando por aí, isso seria bem interessante.” (grifo nosso) Aluna 1: “Então, eu concordo bastante com a ... [citou nome da colega], mas eu trago outro aspecto, o do uso das IAs no controle às fake news, eu acho um pouquinho complicado, porque as máquinas não têm tipo um feeling, uma sensibilidade que nós temos, pois uma máquina não vai ter essa capacidade para detectar essas fake news, se nós já temos isso, imagina as máquinas, que foram programadas por nós, elas também vão ter essa dificuldade.” (grifo nosso)

Aluna 1 sobre essa questão (O que é/seria uma Fake News): “Eu entendo como uma informação