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direito público ou privado. Percebe-se que, paulatinamente, por meio de uma cultura pautada na organização comprometida com a ética, com a transparência e com a governança corporativa, a Lei n. 12.846 vem transformando em obrigação legal ou negocial o programa de integridade (compliance). Isso leva a crer que empresas de todos os tamanhos talvez precisem adotar, em médio prazo, ao menos alguns elementos de um programa de integridade fazendo com que o compliance seja um dos pilares da governança.

É de se observar que o compliance teve sua origem em instituições financeiras com o objetivo de dar maior segurança e estabilidade ao sistema financeiro, estendendo-se para além das instituições bancárias, buscando sempre a aderência entre a ética individual e coletiva (SANTOS et al., 2012).

Portanto, compliance tem como um dos princípios fundamentais o investimento nas pessoas, nos processos e na sua conscientização, buscando a internalização da fundamentalidade em ter ética e idoneidade nas atitudes (ABBI, 2009).

Ser Compliance é conhecer as normas da organização, seguir os procedimentos recomendados, agir em conformidade e sentir quanto é fundamental a ética e a idoneidade em todas as nossas atitudes, enquanto Estar em Compliance é estar em conformidade com leis e regulamentos internos e externos. Ser e estar em Compliance é, acima de tudo, uma obrigação individual de cada colaborador dentro da instituição (ABBI, 2009).

Contudo, essa definição feita pela ABBI, com a ética entranhada no compliance, não surgiu do nada; em 2004 o Federal Sentencing Guidelines for Organizations sofreu alteração de suas diretrizes existentes para tornar mais rigorosos os critérios para um efetivo programa de compliance, especialmente para exigir a necessidade de que diretores e executivos desempenhem um papel ativo na gestão do programa, além da importância de promover uma cultura organizacional que esteja em conformidade com a lei e que demonstre uma cultura ética.

No entanto, é preciso fazer uma ponderação de que não é somente instituindo um código de ética que se vislumbrará o agir em conformidade com as leis, regulamentos, protocolos, padrões e especificações estabelecidos. Há a necessidade de instituir instrumentos para apoiar o código de ética, inseridos em um programa consistente, de modo a permitir a internalização dos valores para a formação da cultura ética (WEBER, 1993 apud CHERMAN; TOMEI, 2005).

Wellner (2005) e Stucke (2013) defendem, com base em pesquisas empíricas, que o mais eficiente modelo de gestão de combate à corrupção tem que ter como premissa o desenvolvimento de uma cultura organizacional que se baseia em valores éticos. A CVM (2017) explicita que uma das soluções adotadas para mitigar este problema é a implantação de um sistema de governança corporativa, que vise assegurar os direitos e deveres dos gestores, buscando o equilíbrio destes com os direitos e deveres dos acionistas.

O conjunto de práticas que tem por finalidade otimizar o desempenho de uma companhia ao proteger todas as partes interessadas, tais como investidores, empregados e credores, facilitando o acesso ao capital. A análise das práticas de governança corporativa aplicada ao mercado de capitais envolve, principalmente transparência, equidade de tratamento dos acionistas e prestação de contas (CVM, 2017).

O compliance é um desses pilares da governança corporativa que surgiu para regular as atividades das instituições e, posteriormente, das empresas, evitando os possíveis desvios que possam ser cometidos. Assim tem-se que a governança está composto de pilares, sendo cada qual com uma atribuição:

 Transparência (Disclosure) – Apresentação de informações relevantes;

 Conformidade (Compliance) – Cumprimento de normas;

 Equidade (Fairness) – Tratamento justo para com os acionistas e todos os stakeholders; e

 Prestação de contas (Accountability) – Prestação de contas respeitando a legislação, visando à sustentabilidade da empresa.

O compliance é um dos pilares que trata do combate a corrupção. Mas o programa vai além disso, atua também na redução dos riscos do negócio. Essa melhoria é possível pois o compliance prevê a efetivação dos controles internos e outros benefícios. Dessa forma para que a empresa esteja em compliance ela deve estar cumprindo com todos as normas internas e externa de responsabilidade da empresa.

No Portal de Compliance, estão descritos alguns passos a serem seguidos para a implantação de um programa eficaz de compliance:

Realizar uma avaliação de risco; Comprometimento com a cultura de Compliance; Patrocínio e recursos para Compliance; Código de conduta ética, políticas e procedimentos; Atividades de Due Dilligence (saber com quem sua empresa está fazendo negócios); Controle internos e monitoramento contínuo; Comunicação e programas de treinamentos contínuos; Canal de denúncias, mecanismos disciplinares e de investigação.23

23 Disponível em:<http://www.portaldecompliance.com.br/sobre/ >. Acesso em: 30 jan. 2019.

Assi (2013) cita algumas técnicas indispensáveis para o exercício da função de compliance:

- Emitir normas e regulamentos internos.

- Fazer pesquisa diária de legislação aplicável às atividades da empresa, no que se refere à atividade de Compliance.

- Realizar teste de Compliance em operações, procedimentos e cadastros.

- Elaborar manual de gerenciamento de crise com a formação de um time de gerenciamento de crise.

- Elaborar teste de certificação de Compliance aplicável anualmente.

- Estimular competição, ética, superação de diferenças e trabalho em equipe.

- Monitorar e implementar mecanismos de controles internos vinculados à área de Compliance.

- Controlar e revisar as pendências cadastrais e a documentação referente às seções: “Conheça seu cliente”, em inglês, “Know Your Customer (KYC)”;

“Conheça seu fornecedor”, em inglês, “Know Your Supplier (KYS)”; e

“Conheça seu Funcionário”, em inglês “Know Your Employee (KYE)”.

- Criar controles operacionais e sistêmicos e testes para prevenção e detecção à lavagem de dinheiro, principalmente para instituições financeiras.

- Propor e apoiar a elaboração de treinamentos diversos dentro de sua área de atuação e de acordo com as necessidades da empresa e do staff.

- Desenvolver e implementar mecanismos de apoio (relatórios) aos executivos da organização para subsidiar decisões no comitê de Compliance (ASSI, 2013).

Giovanini (2014) cita que o objetivo do compliance é o de preservar a boa imagem e reputação de uma organização.

Compliance, estrutura que abraça o objetivo de proteger a empresa e os seus funcionários, conduzindo a organização a executar suas atividades de acordo com um código de conduta, com ações firmadas em valores morais, éticos, transparentes e em consonância com toda a legislação aplicável. Para dar cumprimento a esses objetivos, criam-se as atividades de prevenção, de estabelecimento de regras e códigos internos, controle e monitoramento (GIOVANINI, 2014, p. 20).

Kuhlen (2013) ao abordar o compliance, defende que por ser um dos pilares da governança, o compliance não significa tão somente o cumprimento de normas jurídicas, o termo tem relevância em razão de determinada manifestação histórica do compliance, em especial, aquele ligado à atividade empresarial. O autor aborda ainda que nesse âmbito, “são adotadas medidas com as quais as empresas pretendem assegurar que as regras vigentes para elas e para seus funcionários sejam cumpridas, que as infrações se descubram e, eventualmente, que sejam punidas.” Ou seja, no setor empresarial mais do que uma estratégia privada de eficiência, o compliance é

um elemento que aumenta a transparência perante o mercado e a confiança dos investidores, facilitando o acesso a capital de terceiros.

O compliance tem mostrado resultados satisfatórios na área empresarial, pois tem atuado em dois campos distintos um, resultado satisfatório que o Compliance tem alcançado está associado ao regulamento interno implantando as boas práticas de gestão e a aplicação das legislações na atuação da empresa pertinente a área que está atuando, evitando assim risco, e práticas ilícitas. Obtendo com isso o bom relacionamento com clientes e fornecedores.

Buscando responder ao problema de pesquisa deste trabalho, questiona-se como aplicar o compliance à administração pública, na busca de combater a corrupção. Esse aspecto será tratado no próximo capítulo.

CAPÍTULO 4

COMPLIANCE E A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA