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3 POLÍTICAS PÚBLICAS, UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E MANEJO

3.4 Manejo Florestal Comunitário em Unidades de Conservação da Amazônia

3.4.2 Caracterização dos planos de manejo florestal comunitário das UCs

3.4.2.2 O componente “Renda” do Programa Bolsa Floresta (PBF) na RDS Rio

Os nove planos de manejo florestal comunitário da RDS Rio Negro estão entre as 775 iniciativas classificadas como “Plano de Manejo Florestal Sustentável de Pequena Escala” (PMFS-PE), conforme ilustram os Mapas 7 e 8 abaixo. No estado do Amazonas o Manejo 92

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Florestal Comunitário foi denominado como Manejo Florestal de Pequena Escala pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente do Estado do Amazonas (CEMAAM) (AMARAL; AMARAL NETO, 2010) mediante Resolução N° 007 de 21 de julho de 2011 do. Todos os planos se encontram licenciados junto ao órgão responsável (IPAAM), o qual impõe um tramite burocrático, ilustrado no (Apêndice A), Passo a passo do PMFS-PE, resultando na Licença de Operação (LO) (exemplo vide Anexo F: LO Comunidade Marajá) válida por dois anos, autorizando a execução da exploração e posterior comercialização.

As atividades relacionadas ao licenciamento ambiental dos PMFS-PE da RDS tiveram inicio em fevereiro de 2009, pouco depois da criação da Unidade em dezembro de 2008, a partir de reuniões comunitárias e inventário florestal nas áreas propostas pelos comunitários, que possuem no total de 500 ha por cada plano, a qual será utilizada num ciclo de 20 anos (25 ha/ano). Além de autorizados pelo IPAAM, também estão contemplados com o licenciamento relacionado ao direito de uso da terra, conforme evidencia o (Anexo K), Autorização de Uso da comunidade Marajá, expedido pelo Instituto de Terras do Amazonas (ITEAM) (STOLTENBERG, 2013).

Para que todo este processo fosse possível e concluído em tempo mínimo, as comunidades da RDS contaram com o apoio do componente “Renda” do Programa Bolsa Floresta (PBF). O programa, de tempo indeterminado, foi instituído em 2007 a partir da Lei Estadual n. 3.135 (Amazonas, 2007) e foi implementado pela Fundação Amazonas Sustentável (FAS), criada concomitantemente a legitimação do PBF. A FAS tem a estrutura legal de uma “organização não governamental, sem fins lucrativos, de utilidade pública estadual e federal.”. Embora a FAS esteja incumbida pela implementação de um programa estadual, apenas uma pequena parcela (20% a 35%) de seus recursos provém do Governo do Estado do Amazonas, a maior parte das fontes dos recursos são oriundas de parcerias público-privadas, representadas atualmente pelo Banco Bradesco, Coca-Cola Brasil, Fundo Amazônia, Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) e Samsung. Também conta com outras parcerias para projetos específicos, como por exemplo, o projeto de energia solar, o qual teve doação e instalação de placas solares em algumas comunidades pela parceira com Schneider Eletric (FUNDAÇÃO AMAZONAS SUSTENTÁVEL, 2014).

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Mapa 7– Iniciativas de MFC madeireiro identificadas no estado do Amazonas, em 2009/2010.

Fonte: Pinto; Amaral eAmaral Neto (2010, p. 55).

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Mapa 8- Planos de Manejo Florestal Sustentável de Pequena Escala (PMFS-PE) na RDS Rio Negro

Fonte: Stoltenberg (2013, p. 33).

Diferentemente dos programas de transferência de renda, essencialmente assistencialistas, o PBF busca esforços para capacitação e assim autopromoção do individuo através de seus quatro componentes: Renda (BFR), Associação (BFA), Social (BFS) e Familiar (BFF); descritos no Quadro18 a seguir e o fluxo de implementação completa do Programa encontra-se no Anexo G. Importante destacar que a adesão37 ao Programa requer, além da moradia há mais de dois anos em alguma comunidade da UC, o cumprimento de algumas formalidades, tais como: “a participação em oficinas, capacitação em mudanças climáticas e serviços ambientais e permanência ou ingresso dos filhos na escola.” (FUNDAÇÃO AMAZONAS SUSTENTÁVEL, 2014, p. 13).

37 A adesão é formalizada pela assinatura de um termo de compromisso, com o qual o responsável pela família se compromete a não desmatar áreas de floresta primária, fazer uso de práticas de prevenção a queimadas e, participar nas atividades e reuniões da associação de sua UC (VIANA, 2011).

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Quadro 18 – Composição dos componentes do Programa Bolsa Floresta (BFS) Componente do

BF Objetivo central Metodologia de cálculo

Família (BFF) Recompensar financeiramente a mulher da família que em contrapartida assume o compromisso, através da assinatura do Termo de Compromisso, de não desmatar, entre outras restrições.

R$ 50 por família mensalmente

Associação (BFA) Investirno fortalecimentoda organização política e o controle social do Programa.

10% do valor anual do BFF

Renda (BFR) Incentivar a inserção dos produtores familiares em uma cadeia produtiva de recurso florestal sustentável, buscando contribuir para melhorar processos produtivos já existentes.

R$ 350 por família anualmente

Social (BFS) Investirem infraestrutura e procurar melhorar a educação, a saúde, o saneamento, a comunicação e o transporte.

R$ 4.000 por comunidade anualmente

Fonte: Elaboração a partir de Cardenes e Scherer (2010); Agustsson; Garibjan; Rojas (2010).

Os investimentos do BFR estão, em sua maioria, voltados para os aspectos produtivos, como aumentar a eficiência, escala e qualidade do produto final e canal de comercialização. Conforme Relatório de Atividades 2012 da Fundação Amazonas Sustentável (2013, p. 40): “Trata-se de investir na ampliação da capacidade da economia florestal sustentável potencializando e ampliando as atividades já existentes”, sendo elegíveis apenas as atividades que não exerçam impacto ambiental negativo, isto é, atividades legalizadas e que valorizem a floresta em pé. Além do benefício ambiental, as atividades contempladas pelo componente “Renda” visam à geração de renda e o enfrentamento das desigualdades sociais (FUNDAÇÃO AMAZONAS SUSTENTÁVEL, 2013).

O que, como e onde será investido pelo componente “Renda” do PBF é decido pela comunidade através de reuniões, porém tais decisões devem passar pelo crivo técnico da FAS. Antes de aplicar os recursos a FAS realiza uma pesquisa na comunidade a fim de verificar qual a sua vocação econômica, vislumbrando a melhoria de cadeias produtivas e as demandas para capacitações específicas. Na RDS Rio Negro, desde o início do PBF já foram alocados em ações do componente “Renda” aproximadamente R$ 635 mil, conforme Quadro 19, em cadeias produtivas, tais como: turismo38, artesanato, avicultura, e manejo madeireiro. (FUNDAÇÃO AMAZONAS SUSTENTÁVEL, 2013).

38Construção de duas pousadas e restaurantes.

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Quadro 19– Montante de recursos investidos pelo componente “Renda” do PBF na RDS Rio Negro.

Ano 2010 2011 2012 2013

Inves timento R$ 42.760 R$ 192.298 R$ 138.839 R$ 260.982

Fonte: FAS (2011 a 2014).

Este último, objeto de análise da presente pesquisa, a FAS colaborou desde a elaboração do plano de manejo, acompanhamento de aprovação junto ao IPAAM, nas atividades pré- exploratórias (inventário, por exemplo), comercialização, até no momento de emissão da nota fiscal (exemplo de uma delas vide Anexo J) Adicionalmente, este projeto conta com a parceria do Instituto Camargo Correa, o qual viabilizou até o momento a compra de uma balsa e a realização de quatro oficinas para o atendimento das seguintes necessidades: “planejamento, formação de preços e técnicas para negociação da madeira, elaboração de plano de aplicação de capital de giro, conhecimento da legislação e técnicas para boas práticas de extração de madeira.” (FUNDAÇÃO AMAZONAS SUSTENTÁVEL, 2013a). Apesar de muito positiva todas as ações realizadas pela FAS e parceiros, a pesquisa de Stoltenberg (2013, p. 51) manifesta a seguinte preocupação: “As comunidades dependem de apoio externo de instituições tanto técnica quanto econômica para realizar o manejo, sem uma estratégia clara para reduzir essa dependência ao longo do tempo.”.

A madeira extraída dos PMFS-PE da RDS é comercializada por espécie e em prancha, conforme ilustra a Fotografia 4 abaixo, através do contato direto entre a comunidade detentora do plano com o comprador e também por meio da Rodada de Negócios, evento realizado pela FAS com o apoio da Agência de Desenvolvimento Sustentável (ADS) e o Serviço de Apoio as Micros e Pequenas Empresas (SEBRAE – AM), que além de promover a comercialização da exploração dos planos, é um momento importante para colocar em pauta os principais gargalos para o desenvolvimento da atividade na região. (FUNDAÇÃO AMAZONAS SUSTENTÁVEL, 2011a).

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Fotografia 4– Madeira em pranchas da exploração de um PMFS-PE da RDS Rio Negro

Fonte: Acervo de Priscilla Adriano da Silva, Eng. Florestal do IDAM, referente a exploração de 2011.

Os entraves nos planos de manejo da RDS dizem respeito, basicamente, ao cumprimento de regras burocráticas, tal como, ter que emitir Nota Fiscal e pagamento de Imposto Sobre Circulação de Mercadoria e Serviço (ICMS), e o baixo preço da madeira (STOLTENBERG, 2013). Em relação a este último, a eng. Florestal responsável pelos planos, Srta. Priscilla Adriano da Silva comenta: “O preço foi muito abaixo do que eles esperavam, porque o estado fez propaganda que pagariam R$ 1.000 por m3 e não conseguiram isso, porque os compradores da região não estão acostumados a pagar muito. Ainda há o mercado paralelo que paga R$ 300 no m3. Penso que o próximo passo seria fazer uma movelaria.” (informação verbal).

De fato, há, conforme pesquisa de Viana et al. (2013) contemplou todas as comunidades da RDS, diferentemente desta pesquisa que apenas focou em famílias que participam do plano de manejo florestal comunitário da sua respectiva comunidade. (2013), reflexo direto na renda depois da introdução do PBF, encontram um declínio na renda entre os anos de 2008 a 2010, os pesquisadores acreditam que o motivo seja pela prática de atividades ilícitas antes da criação da UC, tais como a extração ilegal de madeira e/ou a pesca predatória. No entanto, vale lembrar que a primeira comercialização de madeira foi realizada em 2011 e as famílias das cinco comunidades que exploraram madeira tiveram certo lucro com a atividade, conforme Anexo I – 98

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Demonstrativo de Resultado da Exploração RDS Rio Negro, os resultados variam de comunidade para comunidade, embora o lucro seja dividido igualitariamente pelo número de famílias participantes, sendo 10% dele reservado a título de capital de giro para a próxima exploração. Mesmo assim, tanto a engenheira florestal quanto a pesquisa de Stoltenberg (2013) concluem que o manejo florestal comunitário é uma boa experiência e afirmam que os comunitários participantes são unânimes em querer continuar com a atividade.

A pesquisa de Viana et al. (2013), foi realizada em 2010 e avaliou os primeiros impactos do Programa Bolsa Floresta (PBF) na renda e nas condições de vida das famílias da RDS Rio Negro. O primeiro item foi comentado no parágrafo anterior e em relação aos investimentos sociais realizados pela FAS, o que mais se destacou até o momento do levantamento foi a “ambulancha”. Contudo, quando questionados se a vida da comunidade melhorou após a chegada do PBF, 73,6% responderam que sim.

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4 RESULTADOS

O presente capítulo tem como objetivo descrever e analisar os resultados da pesquisa, para tanto se dividiu em duas seções: (i) apresentação dos resultados, organizada em quatro partes, a saber: impacto objetivo (dimensão econômica); impacto substantivo (dimensão social); impacto subjetivo (dimensão econômica, social e ambiental) e; percepção quanto as regras da UC e resultados do plano de manejo florestal; e (ii) análise de duas trajetórias, evidenciando as semelhanças e diferenças entre cada localidade e respectivos impactos de cada plano de manejo florestal estudado.

Importante destacar, que na primeira parte do capítulo, para cada dimensão descrita se apontam os resultados da Resex em um subtópico e posteriormente o da RDS em outro. Também se ressalta que alguns dados coletados através do questionário não foram utilizados para compor este capítulo, conforme destaca Weiss (1972) a estratégia de colher mais dados do que os necessários é uma medida conservadora muito comum entre os pesquisadores.

4.1 Impacto objetivo

Este tópico tem como objetivo apresentar as alterações na renda (familiar e per capita), assim como, na sua composição, segregando os itens provenientes da renda de trabalho e das transferências de renda para análise da respectiva participação na renda total. Também são mensuradas a quantidade de famílias em situação de pobreza e extrema pobreza. Ainda se analisa quanto ao impacto na renda advinda exclusivamente do manejo florestal comunitário. Os dados foram obtidos através da aplicação do questionário e depois de tabulados foram submetidos à análise estatística descritiva e a prova não paramétrica (Teste de Wilcoxon).

4.1.1 Resex

Ao se comparar o período anterior à introdução do ProManejo e o posterior, observa-se que a média da renda mensal familiar pouco mais que triplicou, passando de R$ 392 para R$ 100

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1.28239, conforme ilustra o Gráfico 5 abaixo. A variação da aposentadoria e do salário foi devida, em maior parte, ao aumento nominal do salário mínimo, que representava R$ 415 em 2008 e R$ 678 em 2013 (63% de aumento no período).

Gráfico5 – Média da renda mensal por item na Resex antes e depois do ProManejo

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados coletados na pesquisa.

Ainda mais significativa, é a evolução da média da renda familiar per capita, a qual quadriplicou entre os períodos analisados, passando de R$ 86 para R$ 308 por indivíduo, superando a renda domiciliar per capita média de R$ 194 do município de Porto de Moz – PA em 2010 (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, 2013). Além disso, antes seis (33%) famílias apresentavam renda individual de até R$ 70 por mês, o que as classificava como em situação de extrema pobreza, enquanto atualmente não há famílias nesta situação. Porém ainda existem famílias consideradas pobres (renda per capita de até R$ 140 por mês), as quais podem ser consideradas como pontos fora da curva (outliers), pois são apenas três (17%), enquanto antes do ProManejo figuravam nove (50%) nesta situação.

Em relação à renda proveniente das atividades produtivas, a agricultura teve uma evolução de 118%, basicamente devido à alta do preço da farinha de mandioca no período. Embora apenas três famílias (Tabela 1) declararam explorar madeira40antes do

39 Com a finalidade de não distorcer a média, foi excluída a renda da família “1” representada pela Sra. Maria Margarida Ribeiro, atualmente vereadora do município de Porto de Moz.

40 Possivelmente algumas famílias tiveram medo ou vergonha de evidenciar que exploravam madeira antes do plano de manejo, ou seja, atividade de forma não regulamentada.

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ProManejo,observa-se que os ganhos médios mensais com esta atividade (manejo41) para as referidas famílias pouco mais que triplicou (268%).

41 Para facilitar optou-se por também chamar de manejo a atividade anterior ao ProManejo, ou seja, a exploração não regulamentada.

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Tabela 1– Renda mensal familiar por item na Resex antes e depois do ProManejo

A nt e s F a m í lia 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 A gricultura 100 180 50 300 200 - 50 200 100 250 - - 200 - - 200 - 120 M anejo 100 - 175 - - - - - - - - - - - - 65 - - Outras atividades - - - - - - - - - - - - - - Salário 415 - - - - - - - - - 415 - - - - - S ub- to t a l 6 15 18 0 2 2 5 3 0 0 2 0 0 - 5 0 2 0 0 10 0 2 5 0 4 15 - 2 0 0 - - 2 6 5 - 12 0 % renda trabalho 100% 38% 65% 55% 100% 0% 100% 33% 100% 38% 100% 0% 22% 0% 0% 100% 0% 18% A po sentado ria - - - - - 415 - 415 - - - - 415 415 - - - 415 B o lsa Familia - 300 120 250 - - - - - 400 - 152 310 - - - 192 132 Outras Transferencias - - - - - - - - - - - - - - S ub- to t a l - 3 0 0 12 0 2 5 0 - 4 15 - 4 15 - 4 0 0 - 15 2 7 2 5 4 15 - - 19 2 5 4 7 % transf renda 0% 63% 35% 45% 0% 100% 0% 67% 0% 62% 0% 100% 78% 100% 0% 0% 100% 82% T o t a l 6 15 4 8 0 3 4 5 5 5 0 2 0 0 4 15 5 0 6 15 10 0 6 5 0 4 15 15 2 9 2 5 4 15 - 2 6 5 19 2 6 6 7 D e po is F a m í lia 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 A gricultura - 400 335 500 480 150 200 200 520 480 - 150 600 - 225 200 - 520 M anejo 375 375 375 375 500 - 105 250 375 375 250 480 375 250 42 500 375 85 Outras atividades - 50 - - - - - - - - - - - - - - Salário 4.050 678 - - 678 - - - - 678 1.356 - - - - - S ub- to t a l 4 .4 2 5 1.5 0 3 7 10 8 7 5 1.6 5 8 15 0 3 0 5 4 5 0 8 9 5 1.5 3 3 1.6 0 6 6 3 0 9 7 5 2 5 0 2 6 7 7 0 0 3 7 5 6 0 5 % renda trabalho 10 0 % 7 9 % 4 6 % 7 1% 7 8 % 13 % 10 0 % 3 3 % 9 0 % 6 2 % 10 0 % 7 1% 4 7 % 2 7 % 6 7 % 10 0 % 6 6 % 4 0 % A po sentado ria - - - - - 678 - 678 - - - - 678 678 - - - 678 B o lsa Familia - 300 272 250 132 272 - 140 - 400 - 152 310 - 130 - 192 132 Outras Transferencias - 100 552 100 326 100 - 100 100 552 - 100 100 - - - - 100 S ub- to t a l - 4 0 0 8 2 4 3 5 0 4 5 8 1.0 5 0 - 9 18 10 0 9 5 2 - 2 5 2 1.0 8 8 6 7 8 13 0 - 19 2 9 10 % transf renda 0 % 2 1% 5 4 % 2 9 % 2 2 % 8 8 % 0 % 6 7 % 10 % 3 8 % 0 % 2 9 % 5 3 % 7 3 % 3 3 % 0 % 3 4 % 6 0 % T o t a l 4 .4 2 5 1.9 0 3 1.5 3 4 1.2 2 5 2 .116 1.2 0 0 3 0 5 1.3 6 8 9 9 5 2 .4 8 5 1.6 0 6 8 8 2 2 .0 6 3 9 2 8 3 9 7 7 0 0 5 6 7 1.5 15 R e nda de t ra ba lho T ra ns f e rê nc ia s de re nda R e nda de t ra ba lho T ra ns f e rê nc ia s de re nda

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados coletados na pesquisa.

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A partir da Tabela 1, composta pela renda familiar por item de cada domicílio entrevistado, é possível visualizar um aumento da representatividade da renda advinda do trabalho que antes tinha uma participação média de 51%42 do total e agora constitui 66% de todos os proventos. Não só a remuneração do trabalho passou a ser mais significativa no orçamento das famílias, como também houve incremento na quantidade de itens que compõem este total, antes a maioria das famílias (56%) concentrava seu esforço trabalhando em apenas uma atividade, a agricultura; ao passo que agora, a maior parte (67%) labora em duas atividades, a saber: a agricultura e o manejo.

Consequentemente, é possível inferir que diminuiu um pouco a dependência das transferências de renda, pois mesmo tendo aumentado em quantidade e valor absoluto em relação ao período anterior, a participação em 2008 correspondia em média a 49% do total da renda familiar e em 2013 caiu para 34%. Destaca-se também no período ex-ante a ocorrência de situação de vulnerabilidade por quatro famílias, grifadas em rosa na Tabela 1, em que sua renda dependia significativamente (mais de 60%) do Programa Bolsa Família, circunstância reduzida pela metade no período ex-post mesmo com a adição de outras transferências de renda, a saber: Bolsa Verde43 e Seguro Defeso44.

Em relação ao impacto na renda decorrente da atividade de manejo, como não foi utilizado o desenho experimental para a pesquisa, não se pode confirmar que a melhoria na renda resulta diretamente do projeto e que sem ele a elevação na renda não teria ocorrido. No entanto, é possível estimar alguns resultados com base em simulações calculadas a partir dos dados coletados. Fato é que a renda advinda do manejo representa em média respectivamente 28% e 43%, do total dos proventos e do total da renda de trabalho das famílias pesquisadas. Atualmente ao excluir esta entrada, o impacto seria um declínio de 15% na renda de trabalho sobre o total,

42 Para o cálculo excluiu-se a família de número 15, pois no período ex-ante ainda não havia se constituído.

43Transferência de renda do governo federal, regulamentada pela Lei 12.512/2011, cujo objetivo é atender

famílias em situação de extrema pobreza das UC, que desenvolvam atividades de praticas tradicionais do uso dos recursos naturais. O valor é de R$ 1.200 ao ano, em parcelas trimestrais de R$ 300, por dois anos, renováveis por mais dois.

44 Transferência de renda do governo federal através do Ministério de Trabalho e Emprego para os pescadores artesanais, regulamentada sob a Lei 10.779/2003. O valor varia conforme o período do defeso (proibição da pesca durante época de reprodução de algumas espécies de peixe), que varia de região para região, mas em média compreende um período de quatro a seis meses de um ano, em que se recebe um salário mínimo por mês, todas as parcelas são recebidas integralmente no primeiro mês do defeso.

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passando de 66% para 51%. De forma que o grupo das transferências de renda voltaria a ter igual expressão frente ao total da renda do período ex-ante (49%), versus 36% com a atual renda do manejo.

Portanto, a introdução do plano de MFC contribuiu para a melhora da renda familiar, assim como, a alta do preço da farinha de mandioca que viabilizou um incremento médio de R$ 192 por mês para cada família produtora. Além disso, conforme se evidencia na (Tabela 1), houve aumento no número de pessoas com contrato de trabalho formal e, a renda com salários sofreu elevação devido a dois motivos: promoção de cargo por qualificação e reajuste do salário mínimo.

Adicionalmente, como alternativa as limitações impostas por uma estratégia de pesquisa do tipo quase experimento realizou-se a prova não paramétrica para amostras pareadas (Teste de Wilcoxon) e com distribuição não normal,com a finalidade de se testara seguinte hipótese: as amostras referentes à renda do momento ex-ante e do momento ex-post são iguais. Através da ferramenta estatística SPSS®, verifica-se o valor do Sig., se for menor que 0,05 rejeita-se a hipótese, inferindo que as amostras são diferentes (FÁVERO et al., 2009).

Figura 2 – Resultado tela SPSS® para Teste Wilcoxon na renda familiar ex-ante e ex-post da Resex

Test Statistics(b)

Pará R$_depois - R$_antes

Z -3,621(a)

Asymp. Sig. (2-tailed) ,000 a) Based on negative ranks. b) Wilcoxon Signed Ranks Test

Fonte: SPSS®

O resultado pressupõe duas amostras diferentes, de forma que se rejeita a hipótese e ao mesmo tempo, confere mais respaldo a ideia de que houve mudança na renda com a introdução do ProManejo na Resex, pois a partir desta prova estatística fica patente que a realidade do contexto pesquisado em relação a renda era uma na primeira amostra (período ex-ante) e mostrou-se outra na segunda amostra (período ex-post), ou seja, situações distintas.

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4.1.2 RDS

Ao se comparar o período anterior à introdução do PBF45 e o posterior, observa-se que a média da renda mensal familiar na RDS aumento significativamente (70%), passando de R$ 815 para R$ 1.383, conforme ilustra o Gráfico 6 abaixo. A variação da aposentadoria e do salário foi devida, em maior parte, ao aumento nominal do salário mínimo, que representava R$ 415 em 2008 e R$ 678 em 2013 (63% de aumento no período).

Gráfico 6 – Média da renda mensal por item na RDS antes e depois do PBF

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados coletados na pesquisa.

Na mesma proporção, constata-se o aumento da média da renda familiar per capita entre os períodos analisados, passando de R$ 246 para R$ 416 por domicílio, superando a renda domiciliar per capita média de R$ 246 e R$ 349, respectivamente dos municípios de Novo Airão e Iranduba em 2010 (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, 2013). Além disso, depois da introdução do PBF caiu pela metade o número de famílias classificadas como pobres (renda per capita de até R$ 140), de oito (47%) para quatro (24%) famílias. Entre as famílias entrevistadas nenhuma se encontra na condição de extrema pobreza (renda per capita de até R$ 70).

Em relação a renda proveniente das atividades produtivas, a agricultura teve uma pequena evolução de 12%, basicamente devido à alta do preço da farinha de mandioca no Estado do Amazonas.Quanto ao rendimento advindo da atividade de manejo46, embora tenha introduzido seis famílias (35%), em valores apresentou crescimento pouco expressivo (3%) na renda média com esta atividade, o que sustenta a reclamação dos beneficiários quanto ao baixo preço da

45 Neste momento, a análise é da composição da renda total, por isso falasse em PBF e não apenas no componente

Renda do programa.

46Para facilitar optou-se por chamar de também de manejo a atividade anterior ao PBF, ou seja, a

exploração não regulamentada.

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madeira manejada, frente ao valor pago na madeira não regulamentada no mercado paralelo, assunto que será detalhado na penúltima seção deste capítulo.

As outras atividades, como a pesca e o espeto, não apresentam mudanças com relação ao