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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.4. Comportamento das larvas de piracanjuba

4.4.1. Comportamento natatório

Após a eclosão, as larvas, com 3,62 ± 0,17 mm de CP, permaneceram a maior parte do tempo, dispersas, em decúbito lateral e em repouso no fundo da cuba.

Após alguns minutos, realizavam movimentos verticais ascendentes, sem atingir a superfície da água e desciam passivamente até o fundo com a cabeça voltada para baixo, em movimentos retilíneos.

Estas observações estão de acordo com as de Santos (1992), Santos e Godinho (1994, 1996, 2002), Costa (2003) e Godinho et al. (2003) para outras espécies. Entretanto, segundo Woynarovich e Horvath (1989), o comportamento de larvas recém eclodidas pode diferir entre as espécies, pois algumas nadam verticalmente em direção á superfície da água e depois descem ao fundo, enquanto outras se movem ocasional ou continuamente. Sato et al. (1988), por sua vez, não observaram movimentos verticais em larvas recém eclodidas de cascudo-preto (Rhinelepis aspera).

Godinho et al. (2003) relataram que, as larvas de dourado (Salminus brasiliensis), piau-verdadeiro (Leporinus obtusidens), curimatá-pioa (Prochilodus costatus) e curimatá-pacu (Prochilodus argenteus), imediatamente após a eclosão, permaneceram a maior parte do tempo de observação em decúbito lateral. Eles relataram que, possivelmente, esse comportamento se deva ao peso do saco vitelino e à ausência de nadadeiras e da bexiga gasosa. Comportamento similar foi relatado por Baras (1999), nas larvas de dourada (Brycon moorei), que se localizavam na porção inferior do tanque e aproveitavam o fluxo de água para obter maior impulsão.

Segundo Pinder e Gozlan (2004), as larvas recém eclodidas de sunbleak (Leucaspius delineatus) exibiram variados graus da capacidade de natação. As larvas que eclodiram mais cedo só puderam executar picos súbitos de atividade e pareciam poder nadar apenas até alguns centímetros do fundo, antes de afundar novamente. Porém, as que eclodiram posteriormente puderam executar natação mais contínua e logo nadaram até a superfície.

As larvas de piracanjuba (Brycon orbignyanus), em estudo, apresentaram desenvolvimento relativamente rápido quando comparado com o de outras espécies descritas na literatura. Às duas horas após eclosão, a freqüência dos seus movimentos verticais ascendentes aumentouativamente atingindo a superfície, o que

se tornou constante a partir desse momento. Elas estavam dispersas por toda a cuba e apresentaram movimentos horizontais ondulados e circulares para a esquerda até 14 horas após eclosão; depois desse período, os movimentos se tornaram mais ativos, retilíneos e rápidos.

Blaxter (1986) relatou que, logo após a eclosão das larvas de Teleostei, o sistema simples de segmentação (miômero) torna-se mais complexo e o músculo vermelho concentra-se na posição mediana do flanco. O desenvolvimento das nadadeiras dorsal e caudal pode estar relacionado ao regime hidrodinâmico no qual a larva se move. A atividade espontânea, bem como, a atividade por causa da alimentação, a migração vertical e o alcance do fundo intensificam-se com a idade da larva.

Saccol-Pereira et al. (2003) afirmaram que as larvas de piracanjuba (Brycon orbignyanus) apresentaram uma localização preferencial na lâmina d’água, no interior do tanque, e que o formato do tanque pode influenciar nessa preferência na localização, proporcionando maior ou menor contato entre as larvas.

Às 26 horas após eclosão, as larvas de piracanjuba (Brycon orbignyanus), em estudo, passaram a nadar no sentido horizontal retilíneo e foi observado (Figura 5B), pela primeira vez, o comportamento agressivo entre as larvas. Elas apresentaram um comportamento tipo “mordiscar”, como definido por Sakakura e Tsukamoto (2002), em que um peixe atacava e mordia vorazmente a cauda e o corpo de outro peixe. Porém, o canibalismo e a predação, comportamentos comuns nesta fase de desenvolvimento, definidos como quando um peixe atacava e ingeria outro da mesma espécie ou não, respectivamente, foram verificados nas larvas às 28 horas após eclosão. Para tanto, o saco vitelino estava mais reduzido, a boca aberta ocupava a posição terminal, os dentes orais estavam formados e as nadadeiras em desenvolvimento, como mencionado anteriormente.

Machinandiarena et al. (2003) relataram que larvas recém eclodidas têm pouca mobilidade e permanecem obliquamente na superfície ou na coluna d’água, com a cabeça para baixo, e ao início da alimentação exógena, a mobilidade aumenta

e elas moviam-se na superfície e no meio da coluna d’água, principalmente para capturar alimento vivo.

Ao começo da vida larval, Diaz et al. (2003) relataram que a capacidade natatória é limitada e que o sea bass (Dicentrarchus labrax) só se alimenta com o plâncton do ambiente ao redor, mas se o ambiente for muito agitado e a presa muito rápida, a alimentação é limitada. Por outro lado, a reotaxia positiva da larva promoveu o encontro com a presa; a larva se comportou como um predador oportunista. Os neuromastos superficiais, capazes de detectar movimentos suaves na água na ausência de ruídos, estão envolvidos na reotaxia e devem contribuir para localização da presa.

A abertura da boca e, consequentemente, a bexiga gasosa inflada, resultam em uma capacidade natatória mais estabilizada, o que sugestiona aumento na capacidade natatória e na eficiência de captura de presas (Pinder e Gozlan, 2004).

Beerli et al. (2004) relataram que, com o passar do tempo e seu desenvolvimento gradual, as larvas de pacu (Piaractus mesopotamicus) aumentaram a freqüência da natação, até que, por volta do sexto dia de vida, elas não mais descansavam no fundo e apresentavam natação contínua. Segundo estes autores, este seria o momento adequado para transferir as larvas para os viveiros escavados.

As larvas de piracanjuba (Brycon orbignyanus), em estudo, com 38 horas após eclosão, apresentaram movimentos mais suaves e lentos, pois ainda estavam com o tubo digestivo repleto (Figuras 5C e D). Às 72 horas após a eclosão, essas larvas, que não mais apresentavam o saco vitelino, movimentavam-se sincronizadamente na coluna de água. Segundo Diaz et al. (2003) e Pinder e Gozlan (2004), com a idade, as larvas melhoram sua capacidade natatória e a capacidade de captura de alimento aumenta.

As larvas de piracanjuba (Brycon orbignyanus), em estudo, começaram a apresentar comportamento gregário ao final do período larval, ás 172 horas após eclosão, e grupos de indivíduos formaram pequenos cardumes. Este comportamento

coincidiu com a organogênese do sistema de linha lateral (como verificado em nível histológico e descrito no capítulo 2).

Segundo Vaz et al. (2000), a piracanjuba (Brycon orbignyanus) exibe comportamento gregário entre os indivíduos, e esse comportamento seria uma forma de se protegerem contra predadores. A mesma observação, no arenque do Atlântico (Clupea harengus) e sea bass (Dicentrarchus labrax), levou Blaxter et al. (1983) e Diaz et al. (2003) a sugerirem que neuromastos de canais estavam envolvidos nesta formação de cardume. Kawamura et al. (1990) mostraram que cortando os nervos da linha lateral dos adultos de red sea bream (Pagrus major) e bluegill (Lepomis macrochirus), a distância média entre peixes vizinhos aumentou no cardume, sem alterar o comportamento gregário.

Todavia, o sistema de linha lateral não é o único envolvido neste processo. O desenvolvimento precoce do olho observado em piracanjuba (Brycon orbignyanus), também foi verificado na perca (Perca fluviatilis) por Ahlbert (1973) e no sea bass (Dicentrarchus labrax) por Mani-Ponset et al. (1993). Diaz et al. (2003) relataram que grupos de sea bass (Dicentrarchus labrax) dispersam-se no escuro, o que evidencia deste modo o papel essencial de visão neste tipo de comportamento.

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