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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. Morfologia aparente das larvas de peixes

A descrição do aparecimento e desenvolvimento de características corporais externas é parte do estudo da morfologia aparente de larvas, que é importante para compreender o surgimento de estruturas, com as respectivas ordens cronológicas, que permitem ao animal uma maior autonomia de movimentação, alimentação e percepção do meio, e, conseqüentemente, proporcionam uma maior sobrevivência no meio em que se encontram.

A maioria dos morfologistas funcionais acredita que cada aspecto da morfologia de um organismo e a sua função têm sido moldados pela seleção natural, como uma solução, ou seja, uma adaptação para um problema apontado pelo ambiente. Na maioria dos estudos, a meta da análise morfológica funcional é revelar uma adaptação particular (Liem, 1980).

O grau de desenvolvimento morfológico no início do período larval pode ser muito diferente em várias espécies de peixes. Ao mesmo tempo, os estados

morfológicos semelhantes em peixes de diferentes grupos ecológicos, podem ser determinados e usados para comparações inter e intra-específicas (Pavlov, 1999).

Segundo Godinho et al. (2003), as características morfológicas úteis para o

estudo das larvas de peixes são: pigmentação corporal, órgão adesivo cutâneo (estrutura não observada na espécie em estudo), duração do saco vitelino, diferenciação da boca e pigmentação da retina, esboços de bexiga gasosa e das nadadeiras peitorais, flexão da notocorda.

Pigmentação da larva

A distribuição da pigmentação no corpo da larva permite maior sobrevivência, uma vez que está relacionada com a camuflagem, pois nesta fase os peixes são muito suscetíveis a predação (Costa et al., 2003). Ainda, a descrição pormenorizada de cromatóforos de larvas de peixes é importante, pois eles correspondem ao caráter taxonômico utilizado na identificação de espécies (Meijide e Guerrero, 2000; Godinho et al., 2003).

Bone et al. (1995) relataram que a maioria das larvas de Teleostei apresenta- se completamente despigmentada e o seu sangue circulante é desprovido de hemoglobina, o que dá um aspecto transparente às larvas recém-eclodidas, característica importante para o animal nesta fase, que é a mais vulnerável a predadores.

Conforme descrito por Maciel (1997), os pigmentos corporais das larvas de trairão (Hoplias cf. lacerdae) referem-se à melanina, e os cromatóforos, conseqüentemente, a melanóforos, de forma dendrítica, sendo que o seu número não é constante para a espécie e aumenta com a idade. Os cromatóforos dendríticos também foram verificados em larvas de piau-jeju (Leporinus taeniatus) por Padilha et al. (2003), de dourado (Salminus brasiliensis), piau-verdadeiro (Leporinus obtusidens), curimatá-pioa (Prochilodus costatus) e curimatá-pacu (Prochilodus argenteus), espécies nativas da Bacia do rio São Francisco, por Godinho et al. (2003), tal como descrito em outras espécies de peixes neotropicais (Araújo-Lima et al., 1993;

Nascimento e Araújo-Lima, 1993), exceto no surubim (Pseudoplatystoma corruscans), que possui cromatóforos puntiformes (Godinho et al., 2003).

Saco vitelino

O período de absorção do saco vitelino é vital para a larva, pois nesse período, o aparelho digestório larval ainda se encontra em diferenciação (Godinho et al., 2003). Esse período varia dentre as larvas de peixes neotropicais de 2,5 dias, em bagre (Rhamdia quelen) (Ihering e Azevedo, 1936), a 8,8 dias, em traíra (Hoplias malabaricus) (Matkovic e Pisanó, 1989). Godinho et al. (2003) relataram que, nas larvas de dourado (Salminus brasiliensis), o saco vitelino permaneceu até o terceiro dia e, nas larvas de piau-verdadeiro (Leporinus obtusidens), até o quinto dia, enquanto nas larvas de curimatá-pioa (Prochilodus costatus), curimatá-pacu (Prochilodus argenteus) e surubim (Pseudoplatystoma corruscans), a absorção quase total do vitelo foi registrada no quarto dia.

Diferenciação da boca e pigmentação da retina

A primeira alimentação está relacionada com a diferenciação da boca e a pigmentação da retina (Santos e Godinho, 1996a;1996 b; 2002).

A abertura da boca viabiliza que as necessidades tróficas sejam providas por suprimentos exógenos, além dos endógenos, e também permite inferir a respeito do tamanho do alimento que a larva é capaz de ingerir (Bone et al., 1995).

Godinho et al. (2003) e Santos (1992) sugeriram que, nas larvas de espécies ictiófagas, a abertura da boca acontece mais cedo do que em outras espécies com outros hábitos alimentares, assim como o início da pigmentação da retina que acontece em tempos diferentes entre as espécies. Estes autores relataram ainda, que, no primeiro dia após eclosão, apenas as larvas de surubim (Pseudoplatystoma corruscans) exibiram início de pigmentação na retina, mas que, no segundo dia após eclosão, este evento foi observado nas larvas de piau-verdadeiro (Leporinus obtusidens), curimatá-pioa (Prochilodus costatus) e curimatá-pacu (Prochilodus argenteus).

Aragão (1981) registrou a pigmentação da retina nas larvas recém eclodidas de aruanã (Osteoglossum bicirrhossum), enquanto Matkovic e Pisanó (1989), Araújo- Lima (1991) e Economou et al. (1991) mencionaram que a pigmentação dessa estrutura acontece após a eclosão nas larvas de traíra (Hoplias malabaricus), branquinha comum (Potamorhina latior) e club (Leuciscus cephalus), respectivamente.

Bexiga gasosa e nadadeiras peitorais

Conforme Godinho et al. (2003), o desenvolvimento da bexiga gasosa e das

nadadeiras peitorais são eventos marcantes na organogênese das larvas de peixes, pois elas facilitam o equilíbrio e o direcionamento na coluna d’agua.

O surgimento das nadadeiras peitorais e da bexiga gasosa, assim como a

redução do saco vitelino, representa um melhor domínio sobre o equilíbrio corporal e direcionamento na coluna d’água, de modo que as larvas passam a se deslocar também horizontalmente (Santos, 1992). Santos e Godinho (1994) relataram em surubim (Pseudoplatystoma coruscans), que, aparentemente, os barbilhões maxilares e mentonianos, assim como a bexiga gasosa, auxiliam no equilíbrio corporal.

Os esboços de bexiga gasosa foram visíveis no segundo dia após eclosão em dourado (Salminus maxillosus) (Morais Filho e Schubart, 1955), curimatá-pioa (Prochilodus costatus) e curimatá-pacu (Prochilodus argenteus) (Godinho et al., 2003).

Matkovic e Pisanó (1989) relatam que as larvas de peixes ao eclodir já apresentam esboços de nadadeiras peitorais, o que não foi verificado nas larvas de tambaqui (Colossoma macropomum), em que essas estruturas surgiram no terceiro dia após eclosão (Silva et al., 1981 e Godinho et al., 2003) e nas espécies do Rio São Francisco estudadas por Godinho et al. (2003), que as exibiram algum tempo após a eclosão.

Flexão da notocorda

A flexão da notocorda da larva e o surgimento dos raios mesenquimais determinam o início do processo de diferenciação da nadadeira caudal, o que proporciona e favorece maior eficiência da natação e da captura de presas, tanto em

qualidade quanto em quantidade, além de representar maior agilidade na fuga dos predadores (Blaxter, 1986).

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