• Nenhum resultado encontrado

Comportamentos – gerais e intermediários – propostos como objetivos de ensino para a formação do psicólogo organizacional e do trabalho

PSICÓLOGO ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO

31. Estabelecer as implicações da definição do conceito de qualidade de vida para o estudo da disciplina +

3.7 Comportamentos – gerais e intermediários – propostos como objetivos de ensino para a formação do psicólogo organizacional e do trabalho

Um curso de graduação, que visa formar um profissional preparado para intervir sob processos e fenômenos psicológicos, requer professores capazes de definir os comportamentos profissionais – gerais e específicos de cada campo de atuação profissional – a serem desenvolvidos durante o curso, de acordo com as necessidades sociais do contexto em que atuarão. Botomé (1977) sugere que, para ensinar, é necessário descrever objetivos que especifiquem o que o aluno deverá ser capaz de fazer a partir do ensino, e não o que o professor pretende fazer. Identificar o que precisará ser aprendido por estudantes de psicologia para serem capazes de atuar em organizações de trabalho, depois de formados, para intervirem sobre problemas referentes a processos e fenômenos psicológicos, é aquilo que deve constituir o núcleo dos objetivos de ensino para a formação desse profissional.

Todavia, descrever um objetivo explicitando aquilo que o aluno deverá ser capaz de realizar no seu ambiente profissional não é uma tarefa simples. Para formular um objetivo de ensino, é preciso especificar a relação entre aquilo que o aluno precisa fazer nas diferentes situações com que se deparará como um profissional de Psicologia. É preciso também, segundo Botomé (1977), que o aluno, após o processo de ensino, seja capaz de produzir um resultado importante ou significativo no meio em que atuará, diminuindo ou atenuando os problemas sociais. Estes parecem ser critérios que, de alguma forma, estão presentes no conceito de objetivo de ensino e que fornecem possibilidades de orientar o trabalho de ensino desenvolvido por professores em qualquer nível que atuam em educação.

O trabalho de delimitar aquilo que precisa ser aprendido pelo aluno, como decorrência do processo de ensino, pode ser explicitado em diversas formas e vários graus de detalhamento. Dependendo da complexidade daquilo que precisa ser ensinado e dependendo também do repertório dos aprendizes, esse trabalho exigirá mais detalhamento. Uma forma de estabelecer diferença entre esses diversos graus de detalhamento é organizar os comportamentos em graus de abrangência, sendo que os mais amplos podem ser considerados objetivos ou aprendizagens gerais, e aqueles constituem esses comportamentos podem ser considerados intermediários.

A Tabela 3.12 apresenta a distribuição da ocorrência de “objetivos intermediários” propostos como objetivos de ensino de disciplinas específicas que compõem a formação do

psicólogo organizacional, nas universidades A, B e C. No total, foram identificadas 16 expressões apresentadas como objetivos de ensino propostos para a formação do psicólogo organizacional, nas universidades “A”, “B” e “C”. Na universidade “A”, foram identificados 11 comportamentos; na universidade “B”, 1; e na universidade “C”, 4.

A Tabela 3.12 mostra a distribuição da ocorrência de objetivos que expressam comportamentos intermediários, indicados como objetivos de disciplinas específicas da formação do psicólogo organizacional e do trabalho, tendo como principal característica etapas de processos de trabalho definidoras do exercício profissional de psicólogos. Essas expressões apresentam verbos e complementos específicos. Nessa tabela, é possível observar que o verbo identificar aparece 16 vezes. Esse tipo de verbo utilizado nos objetivos propostos na forma de “objetivos intermediários” define tipos de interações que os futuros profissionais de psicologia da área organizacional e do trabalho devem estabelecer no seu ambiente profissional, como resultado do processo de formação em cursos de Psicologia.

O objetivo 1, “identificar processos de desenvolvimento nas organizações fundamentalmente no que se refere à administração e mudanças”, apresenta o verbo “identificar” caracterizando o tipo de interação que o aluno deverá estabelecer no seu ambiente profissional. O verbo utilizado pelo professor nessa expressão indica uma etapa de um processo de trabalho. Assim, é suficiente para o futuro profissional somente “identificar” processos de desenvolvimento? Qual a relevância de o aluno somente aprender a identificar processos de desenvolvimento? Nesse caso, a falta de relação com outros comportamentos, de vários outros graus de abrangência, representa muito pouco como atuação profissional de nível superior. A falta de um referencial que indique essa expressão dentro de um sistema de aprendizagem deixa a expressão “pobre” como comportamento profissional. Algo semelhante também acontece com as expressões 2 e 3, que apresentam o verbo “identificar” diante de duas situações semelhantes: “fatores que interferem no processo de saúde geral dos trabalhadores” e “ fatores que interferem no processo de saúde psíquica dos trabalhadores”.

Expressões que indicam aspectos muito específicos da situação com as quais os futuros profissionais irão lidar precisam de um referencial final (comportamento) para terem sentido. Os objetivos 4, “identificar papel do psicólogo frente aos programas de redução de acidentes de trabalho”; 5, “identificar variáveis que atuam nos ambientes de trabalho”; 6, “identificar principais fontes de stress organizacional”; 7, “identificar componentes do trabalho em relação à dimensão humana”; 8 “identificar características da atitude do trabalhador em relação ao trabalho”; e 9, “identificar constrangimentos no trabalho” da

universidade “A”, bem como a expressão 12, “identificar as políticas de recursos humanos”, proposta como objetivo de ensino da universidade B, apresentados na Tabela 3.12, caracterizam-se pela utilização do verbo “identificar” indicando o tipo interação que aluno deverá ser capaz de realizar numa situação de intervenção profissional. Indicam também etapas de processos de trabalho que esse profissional deverá realizar no ambiente de trabalho, sem fazer referência a para que elas servirão. Na expressão 9, por exemplo, basta o futuro profissional de psicologia identificar constrangimentos no trabalho? Quais as decorrências desse comportamento do psicólogo para o ambiente organizacional? Para que serve a identificação? Qual a sua relevância? Quais as etapas seguintes da identificação? Objetivos muitos específicos, apesar de configurarem unidades de aprendizagem, não orientam o resultado que precisa ser atingido por meio do ensino e que caracterize uma intervenção profissional de valor pessoal e social.

Outras expressões, por apresentarem o verbo “identificar” (claro e preciso) em suas composições, parecem também “disfarçar” falsos objetivos. As expressões 10 – “identificar principais pressupostos teóricos da Saúde Ocupacional” – e 11 – “identificar principais pressupostos teóricos de Psicologia do Trabalho” – apresentam esse verbo com complementos que fazem referência a itens de conteúdos, informações e conceitos. Qual a relevância para um profissional saber identificar pressupostos teóricos de Saúde Ocupacional ou de Psicologia do Trabalho durante uma intervenção profissional em organizações? Nesse caso, qual é o papel do conhecimento para a formação de um profissional de nível superior? Essas expressões parecem indicar etapas muito específicas no processo de planejamento de uma intervenção profissional, sem apresentarem uma referência àquilo a que se pretende chegar como resultado mais amplo. Por outro lado, por mais que façam referencia a ações dos alunos, essas expressões parecem transformar conteúdos, informações, teorias, conceitos em comportamentos para que tenham aparência de objetivos de ensino. Essa suposição precisa ser mais bem avaliada por meio de outros procedimentos de investigação científica. Algo semelhante também pode ser verificado nas expressões 13 e 14, que apresentam o verbo identificar acompanhado dos complementos “subsídios teóricos sobre seleção psicológica” e “subsídios metodológicos sobre seleção psicológica”, propostos como objetivo de ensino na universidade “C”. Além dos problemas já indicados em relação às expressões 10 e 11, estas parecem fazer uma cisão entre teoria e prática. Essa dicotomia, representada pelas expressões “teóricos” e “metodológicos”, reforçam a idéia de que teoria e prática são elementos distintos e separados no processo de ensino e durante a atuação profissional, desconsiderando que a

função do conhecimento já produzido em Psicologia é aumentar a visibilidade, e por conseqüência, a segurança para intervir sobre processos e fenômenos psicológicos em organizações.

Tabela 3.12

Distribuição da ocorrência de “comportamentos intermediários” propostos como objetivos de ensino de disciplinas específicas que compõem a formação do psicólogo organizacional, em três

instituições de ensino superior no Estado de Santa Catarina

Un i d ad es d e “Co mp o rt a men t o s In t er me d i ári o s” Instituições