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Categoria 01: verbal insultar, xingar e apelidar pejorativamente Categoria 02: moral

difamar, caluniar, disseminar rumores, divulgar comentários maldosos para subestimar esforços

Categoria 03: social ignorar, isolar e excluir Categoria 04: Psicológica

perseguir, amedrontar, aterrorizar, intimidar, dominar, manipular, chantagear, infernizar e coagir

Categoria 05: Hierárquica

tratar com rigor excessivo, exigir o cumprimento de tarefas desnecessárias ou exorbitantes, promover a inação compulsória por ausência de atribuição de serviços, cercear ou restringir injustamente o exercício de atividade profissional, impor a realização de atividades que resultem em exposição ao ridículo, exigir o cumprimento de metas “inatingíveis”

4.3.3 Discussão sobre o conteúdo dos processos

Inicia-se esclarecendo que não se fará uma analise de cada processo individualmente, mas em bloco. Isso porque a analise previa do conteúdo, cujos resultados se encontram no apêndice b, apresentaram ações judiciais em que os fatos e fundamentos da petição inicial e da defesa, no que diz respeito ao assédio moral, são bastante próximos, quando não idênticos. Trata-se da analise dos processos 6, 19, 47, 55, 67, 72, 77, 96, 99, 103, 106, 118 e 121.

Uma das possíveis razões e o fato de, embora a percepção das supostas vítimas seja única, e do mesmo modo a forma como interage com o mundo, com as pessoas, não raro os trabalhadores costumam procurar advogados recomendados por colegas de trabalho (quando não o advogado ligado ao sindicato obreiro). Ademais, as situações concretas vividas por trabalhadores de uma mesma empresa, em uma mesma função, e com procedimentos padronizados como costuma ser um banco, tendem a ser parecidas. Logo, essas podem ser algumas das razoes pelas quais as petições iniciais são parecidas no tocante aos fatos e fundamentos.

Ademais, o direito processual do trabalho tem como um de seus princípios o da busca da verdade real. Aliando-se esses princípios com o dispositivo anteriormente mencionado, na CLT, que determina que a petição inicial deve conter um breve resumo dos fatos, também não é raro que um advogado que reiteradamente represente os trabalhadores de uma determinada categoria, movendo vários processos inclusive contra uma mesma empresa de grande parte – como inclusive ocorre com os bancos.

De fato, a experiência decorrente da pratica profissional como advogado ensina que ainda impera na pratica profissional o costume de apresentar fatos por vezes de forma não especifica, apresentando os principais aspectos e fundamentos, aguardando-se o momento da audiência de instrução para, por meio da colheita de provas, especialmente a testemunhal, permitir ao(à) Juiz((à) a apreensão da verdade real, para alem das alegações das partes na inicial e na defesa.

Indo além, também se deve observar que o fato de não se ter logrado a produção de prova testemunhal nos processos ora referidos, ou que nos processos em que houve depoimento de testemunhas não há informação a respeito do assedio, não e prova de sua inexistência. A não apresentação dessas informações pode ter razoes diversas: a testemunha pode não se recordar, ou inclusive não ter presenciado de fato as agressões, o que não as retira do plano dos fatos; pode haver a dificuldade de o trabalhador lograr o comparecimento espontâneo de testemunhas para depor, bem como o receio de que essa testemunha seja ouvida em face de intimação ou condução coercitiva e venha a prejudicar o trabalhador por meio de seu depoimento; pode ocorrer do advogado do autor, ao conversar com a testemunha,

entender não ser conveniente fazer perguntas sobre o assedio, tendo em conta a estratégia jurídica global emprestada à causa. Pode, também, ser o caso da inexistência de assedio no caso especifico.

Nesses processos também houve celebração de acordo. Nesses casos o processo é, uma vez quitado o acordo pela empresa que celebra o acordo, arquivado, em face de sua conclusão. E preciso ressaltar que, assim como nos processos que ainda não chegaram a seu final, a celebração no acordo não significa que o assedio não ocorreu. Pode significar, contudo, que de um lado o trabalhador prefere não correr o risco do julgamento pelo(a) Juiz(a), ou mesmo que já se encontra desgastado a tal ponto, inclusive com necessidades financeiras, que o acordo põem fim a um problema, pode permitir que siga em frente com sua vida e ainda sane questões pontuais ou utilize o valor do acordo para buscar novas perspectivas em sua vida pessoal e/ou profissional. O acordo, contudo, não significa que os danos foram sanados, mas apenas que as partes resolveram por fim a conflito judicial por meio de um pagamento pela empresa re. No caso, o trabalhador abre mao de uma parte do que talvez recebesse e a empresa paga uma parte do montante que talvez viesse a ter de desembolsar no futuro.

No que diz respeito às categorias analíticas, o que se pode deduzir é que as alegações das partes nesses processos revela que o banco pode ser um ambiente em que se faz presente, com frequência, a intimidação sistemática dos tipos psicológica e hierárquica, sendo menos frequentes as demais formas de intimidação.

Já no que diz respeito ao processo 23, salta aos olhos o quão crível se apresentam as suas alegações. Apresentou como razões para os problemas médicos o assédio enquadrado nas categorias analíticas de intimidação psicológica e hierárquica. Veja-se que não se trata de alegações sem fundamento. A influencia do local do trabalho, decisiva para o surgimento do problema e seu agravamento ao longo do tempo, é atestada por exame medico de perito indicado pelo(a) Juiz.

Apesar de ser aceitável que se alegue que nem todas as pessoas adoecem sob pressão, e que isso esta fortemente atrelado à individualidade e à subjetividade do indivíduo, o fato é que essa não pode ser uma fundamentação razoável em uma sociedade baseada nos princípios e fundamentos constitucionais como os da CR/88, que se pretende fraterna e fundada na dignidade da pessoa humana e no valor social do trabalho.

Em verdade a ordem das coisas deveria ser a inversa: exatamente porque existe uma subjetividade, e exatamente porque o trabalhador não e uma maquina, mas um ser dotado de dignidade, pleno em direitos (e obrigações) e merecedor de todo o cuidado no ambiente de trabalho, com vistas a manutenção de sua saúde física e psíquica ao longo do contrato de

trabalho, é dever da empresa cuidar para que o seu ambiente de trabalho não seja como uma selva, ou seja, onde so os mais fortes sobrevivem, mas, ao contrario, um local onde pessoas com subjetividades diversas, aceitando a diferença do próximo, tenham espaço para trabalhar e exercitar de forma plena a sua dignidade.

Em complementação, os documentos contidos no processo 23 reforçam a analise de que o alegado de que, no caso dos outros processos analisados, o que pode ocorrer é não ser possível a produção de prova testemunhal ou documental, especialmente de natureza medica, e em consequência não se ter o reconhecimento judicial da ocorrência do assedio. Contudo, há de se ressaltar: o pronunciamento judicial de improcedência da ação é sempre no sentido de que o trabalhador não logrou provar de forma satisfatória as suas alegações relativas ao assedio moral. Isso não significa, contudo, que o problema nunca existiu ou deixou de existir.

Os resultados obtidos na análise documental, e na dissertação como um todo, permitem concluir, ainda, pela real possibilidade de utilização da Lei que instituiu o “Programa Federal de Combate à Intimidação Sistemática como uma valiosa fonte jurídica, de utilização subsidiaria na Justiça do Trabalho”, no que pertine à busca pela efetiva concretização dos direitos sociais e por um trabalho que não exponha o trabalhador a riscos para a sua saúde..