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Resultados e discussão: análise qualitativa 1 Considerações iniciais

3 DO ASSÉDIO MORAL 3.1 Entendendo o assédio moral

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 1 Perfil da empresa

4.3 Resultados e discussão: análise qualitativa 1 Considerações iniciais

Os processos em que há pedidos de indenização exclusivamente em face de assédio moral correspondem a 14 processos, ou seja, 11,38% da amostra,

É importante tecer algumas considerações sobre a sistemática do processo judicial trabalhista, simplificando-o ao máximo.

A análise documental se debruça sobre processos judiciais em que há acusações de ocorrência de assédio moral. Essas acusações partem de um documento básico: a petição

inicial. É o primeiro documento, pois é nela que o suposto assediado expõe a sua versão dos fatos. Em regra, o trabalhador busca a orientação de um advogado, o qual é contratado para que de distribua um processo perante a Justiça (todos os processos da tabela acima foram distribuídos por advogados).

A rigor, o profissional deveria expor todos os fatos68, da forma como ocorreram ou, ao menos, foram relatados pelo trabalhador. Uma vez apresentados os fatos ao Juiz esse determina a realização de uma audiência, bem como que a empresa seja citada para apresentar sua versão dos fatos e a sua defesa.

Em audiência, caso não seja realizado acordo entre as partes – por meio do qual não se adentra no mérito do ocorrido – procede-se, caso haja, ao depoimento eventual das partes (a critério do Juiz se ouve o autor da ação e o representante da empresa) e as testemunhas, sendo primeiro ouvidas as testemunhas do trabalhador e, em seguida, as testemunhas da empresa.

Quem realiza perguntas é o Juiz, que inicialmente faz as suas e, em seguida, segue a audiência com as perguntas dos advogados (para cuja resposta se requer a autorização do Juiz, que pode desautorizar a parte contrária e/ou suas testemunhas a responderem a(s) perguntas(s) em questão).

Vê-se, de logo, que os dados existentes nos processos judiciais são permeados de subjetividade. A análise não terá acesso aos fatos propriamente ditos, mas às alegações acerca de fatos supostamente ocorridos. Ademais, a forma como os fatos são expostos podem estar contaminados pela percepção do advogado.

Da mesma forma com relação aos fatos postos em depoimento. Veja-se que o ambiente de uma audiência é, normalmente, um ambiente de litígio, em que as testemunhas pode se apresentar tensas e, com isso, ser prejudicada a real apreensão dos fatos ocorridos (sem considerar a possibilidade de mentir mesmo compromissado a dizer a verdade, sob as penas da Lei).

Mais; a testemunha responde para o Juiz e esse, então, dita para o seu assistente o texto que constará na ata, sendo certo que pode haver sutis, ou não tão sutis, alterações de linguagem ou mesmo de palavras.

Não obstante todas essas questões, entendemos que ainda se mostra válida a pesquisa com base em análise documental, considerando-se que relatos são, em essência, subjetivos.

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Frisa-se que a Lei não exige uma exposição pormenorizada de todos os fatos, com rica fundamentação jurídica, não obstante seja processualmente recomendável. O que a lei exige é uma breve exposição dos fatos e o pedido (COSTA FILHO, 2016, p. 162.). Contudo, diante da crescente complexidade das questões jurídicas, bem como das diversidade na formação pessoal, de toda ordem, dos Juízes e das Juízas do Trabalho, com impacto direto na forma de ver o mundo e interpretar o direito, os fatos e as provas, os advogados tem ido além da breve exposição dos fatos (por vezes apresentando textos com fundamentação de crescente complexidade).

No que diz respeito ao material resultante da coleta, pretendeu-se analisar, entre os inúmeros documentos existentes em um processo, os seguintes:

 Petição inicial e aditamento à petição inicial  Contestação

 Documentos de natureza médica ou previdenciária  Atas de audiência de instrução

 Sentenças

A análise documental demonstrará o que foi possível obter na análise desses processos, procedendo-se também à discussão sobre os resultados dessa análise documental. Nas hipóteses em que não foi possível analisar a totalidade desses documentos, em face de que ainda não haviam sido produzidos (a exemplo, coleta realizada quando ainda não havia sido realizada audiência de instrução), realizou-se a análise dos documentos existentes com as necessárias resalvas quanto às dificuldades encontradas na análise.

Convém recordar que se pretendeu suprimir informações que pudessem levar à identificação dos envolvidos nos processos. Em vista disso, além de evitar transcrever frases inteiras contidas nos documentos analisados, foram suprimidos os números dos processos.

Quando do tratamento dos dados, chegando-se à lista de processos que compõem a Amostra, essa teve os números dos processos suprimidos quando reproduzida no apêndice a, os quais foram substituídos por numeração crescente iniciada em 01.

Em seguida foram estabelecidas as categorias analíticas que nortearam a análise de conteúdo, explicitadas a seguir. Os resultados obtidos a partir da análise de conteúdo são apresentados no apêndice b. Para cada processo são apresentadas as informações relevantes contidas na petição inicial, na defesa, em documentos juntados pelas partes, em atas contendo depoimentos de testemunhas ou relatos de informantes e em eventual sentença. A exposição dos resultados inicia em uma nova página para cada um dos 14 processos analisados.

A discussão dos resultados decorrentes da análise de conteúdo, por sua vez, é realizada no corpo da dissertação, fazendo-se referencia, no início de cada discussão, sobre o processo a que se refere. Assim o leitor poderá fazer as consultas que entender necessárias aos dados dos processos analisados.

Pretendeu-se, com isso, tornar a leitura da discussão dos resultados mais agradável.

4.3.2 Das categorias analíticas

O estabelecimento das categorias analíticas é fruto da reflexão acerca de fontes diversas de informação.

De início se poderia optar apenas pela utilização de elementos a partir de uma doutrina já consolidada, essa referenciada anteriormente, com ênfase na produção de Marie-France

Hirigoyen.

Contudo, crê-se que isso não é suficiente. Por se tratar de processos judiciais, e considerando que o assédio moral é um fenômeno que tem sido objeto de reiteradas decisões no âmbito da Justiça do Trabalho, a jurisprudência é uma rica fonte de informações com vistas ao estabelecimento das categorias analíticas.

Entendeu-se que os dados apresentados por Peduzzi (2007), relativamente a ações e categorias, bem como o teor do Projeto de Lei 13.185/2015, permitia o estabelecimento de categorias analíticas a partir da expressão intimidação sistemática – bem como que as categorias analíticas vão ao encontro da doutrina no tocante a comportamentos relacionados ao assedio moral.

Por outro lado, é importante ressaltar que as categorias a seguir não esgotam a matéria e muito menos se pretende sugerir que possam ser limites, estanques, rígidos, para a discussão da temática do assédio moral, o que será abordado nas considerações finais.

Assim, a Tabela 3 abaixo apresenta uma coluna com categorias analíticas, às quais correspondem um conjunto determinado de comportamentos que podem permear as relações entre os indivíduos no trabalho.

Ressalta-se, em tempo, que a categoria 05 não consta na Lei 13.185/2015, tendo sido criada a partir da reflexão sobre o teor dessa Lei e também os dados apresentados

Tabela 3 – Categorias analíticas e comportamentos relacionados

CATEGORIAS ANALÍTICAS DE