• Nenhum resultado encontrado

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.2 Efeitos Biológicos do CLA

2.2.5 Composição Óssea

O osso é formado por uma matriz óssea dura e densa composta predominantemente por colágeno (90 %) e outras proteínas (10 %) como a osteocalcina, osteonectina, fosfoproteínas, sialoproteínas, fatores de crescimento e proteínas séricas (ANDREW; ROSENBERG, 1995). Os demais componentes são células ósseas, que por

45

sua vez dividem-se em: osteogênicas, encarregadas de dar origem a outros tipos de células; osteoblastos, células responsáveis por sintetizar o componente orgânico da matriz óssea e sua posterior mineralização; osteoclastos, células multinucleares responsáveis por reabsorver as superfícies ósseas e osteócitos, células maduras responsáveis pela manutenção de matriz óssea (AUBIN; LIU, 1996).

O RANK (receptor activator of nuclear factor kappa β), membro de uma família de receptores do fator de necrose tumoral (TNF), se une ao RANKL (receptor activator of

nuclear factor kappa β ligand), uma citocina presente na membrana das células

osteoblasticas e do estroma medular. Esta união estimula a proliferação e a atividade dos osteoclastos, inibindo, por sua vez, a apoptose (DOWNEY; SIEGEL, 2006). Por outro lado, os osteoblastos produzem um receptor solúvel, chamado osteoprotegerina (OPG), capaz de unir-se ao RANKL, impedindo a união RANK-RANKL, e assim sendo apto a inibir a atividade osteoclastica (RAISZ, 2005). O sistema OPG/RANK/RANKL é um dos mais importantes na biologia óssea. Essas proteínas regulam as atividades celulares na remodelação do tecido ósseo e dessa maneira, intervêm na diferenciação e ativação das células ósseas.

Estudos demonstraram que a administração via parenteral de OPG em roedores, produziu aumento da massa óssea e, dessa maneira preveniu a perda induzida pela ovarectomia. Esta mesma ação também é mediada pela leptina. Ratos que não produzem leptina (animais ob/ob e dB/dB, deficientes por mutação gênica e por mutação de receptor de leptina, respectivamente), evidenciaram aumento da massa óssea. No entanto, a massa óssea deveria estar diminuída, uma vez que a influência gonadal que estes animais apresentam, deveria gerar aumento do número de osteoclastos e, por

46

conseguinte, da reabsorção óssea, ao mesmo tempo que o excesso de cortisol inibiria a formação dos osteoblastos. Entretanto, ao contrário do esperado, estes animais apresentam ossos com mais trabéculas ósseas e mais resistentes às fraturas. A leptina parece atuar como um regulador específico da diferenciação das células ósseas. Neste sentido, alguns estudos demonstraram que este hormônio possui efeito osteogênico em células do estroma medular, favorecendo a função dos osteoblastos (THOMAS et al., 1999).

Algumas evidências têm apontado que o ácido linoléico conjugado seria capaz de modular a mineralização óssea. Inúmeros estudos indicaram que o CLA altera a concentração de leptina, o que justificaria, de imediato, mudanças no metabolismo ósseo (CORINO et al., 2002; THOMAS; BURGUERA, 2002). O CLA também atua sobre o PPAR

γ, β e ∆ (MAURIN; CHAVASSIEUX; MEUNIER, 2005), aumentando a atividade da fosfatase alcalina (CUSACK; JEWELL; CASHMAN, 2005), em conjunto com os ácidos graxos poliinsaturados ω-3, reduzindo a perda óssea em ratas ovarectomizadas (SCHLEMMER et al., 1999; SAKAGUCHI; MORITA; MUROTA, 1994) e aumentando a formação óssea em ratas em crescimento (WATKINS; SEIFERT, 2000; LI; WATKINS, 1998). Estes resultados podem ser explicados pela regulação da gênese dos osteoclastos pela influência sobre o Cbfa1 (core binding factor a1) (DUCY, 2000). Este fator de transcrição específico é necessário para a formação da matriz extracelular que posteriormente irá se mineralizar. Nestas duas situações citadas acima, as prostaglandinas, particularmente a PGE2, produzidas no tecido ósseo pela ação da COX-2, estimulam a RANKL e inibem a osteoprotegerina (PILBEAM; HARRISON; RAISZ, 2002).

47

A PGE2 modula os efeitos da vitamina D3 (COLLINS; CHAMBERS, 1992), das citocinas TNF-α (TASHJIAN et al., 1987) e interleucina-3 (IL-3) (COLLINS; CHAMBERS, 1992) e dos fatores de crescimento TGF-β (TASHJIAN et al., 1985), PDGF (fator de crescimento derivado das plaquetas) (TASHJIAN et al., 1982) e bFGF (fator de crescimento dos fibroblastos) (HURLEY et al., 1998), facilitando a reabsorção óssea. A PGE2 atua de duas formas distintas sobre os osteoclastos. Quando age de maneira direta, os osteoclastos são inibidos. No entanto, os precursores dos osteoclastos regulam a diminuição de seus próprios receptores, EP2 e EP4, durante sua diferenciação, e dessa maneira, não sofrem influência dos efeitos inibitórios da PGE2 sobre a reabsorção óssea. A interleucina-6 (IL-6) é capaz de aumentar a produção de PGE2 a partir da COX-2 e induzir a supressão da sínese de OPG pelos osteoblastos. No entanto, existe uma ação cruzada entre PGE2 e IL-6 favorecendo a diferenciação dos osteoclastos via sistema OPG/RANK/RANKL em células ósseas (LIU et al., 2005). Neste sentido, sabe-se que é possível regular a atividade e a expressão da COX-2 e a PGE2, mediante intervenções dietéticas, por meio de um balanço adequado de ácidos graxos poliinsaturados ω-6 e ω-3, capazes por si só, de diminuir a expressão da COX-2 (ARNAL et al., 2001).

A incorporação dos ácidos graxos poliinsaturados ω-3 nas articulações produz redução da expressão e atividade das enzimas que degradam os proteoglicanos, a expressão de citocinas pró-inflamatórias e a expressão da COX-2 (CURTIS et al., 2000), sugerindo que o perfil lipídico dietético tem impacto sobre a formação de cartilagem. O CLA diminui a concentração de ácidos graxos monoinsaturados e poliinsaturados ω-6 e aumenta a de ω-3 e saturados. Dessa forma, os efeitos de determinadas ações metabólicas ocorrem a partir dos ácidos graxos poliinsaturados ω-3 (WATKINS; LI; SEIFERT, 2001).

48

Estudos demonstram que o CLA diminui a reabsorção óssea em ratos ovarectomizadas (KELLY; CASHMAN, 2004) e quando consumido de maneira conjunta com ácidos graxos poliinsaturados ω-3 melhora a absorção de cálcio (MURPHY et al., 2006; KELLY et al., 2003). Um estudo realizado com 136 mulheres pós-menopausa com idade média de 68,6 anos, observou que a ingestão de CLA associada a suplementação de cálcio, aumentou a massa óssea das mesmas, avaliada por meio de raio-X e DEXA. Vale destacar que o principal isômero de CLA relacionado a este estudo foi o cis-9,

trans-11, e não o trans-10, cis-12. (BROWNBILL; PETROSIAN; ILICH, 2005). Resultados

semelhantes foram encontrados quando verificou-se o efeito do consumo de CLA em indivíduos praticantes de atividade física (BANU et al., 2006). Outros estudos relataram que o CLA melhorou a absorção de cálcio in vivo e na linhagem celular adenocarcinoma CaCo2 de cólon humano, sugerindo que o CLA possa aumentar o efeito do cálcio na massa óssea (PARK; PARIZA; PARK, 2008; MURPHY et al., 2006; JEWELL; CUSACK; CASHMAN, 2005; JEWELL; CASHMAN, 2003; KELLY et al., 2003, ROCHE et al., 2001). Contudo, outros estudos não observaram diferença após a suplementação com CLA em marcadores para a saúde óssea e densidade mineral óssea (DOYLE et al., 2005; GAULLIER et al., 2004; KREIDER et al., 2002). Sendo assim, mais estudos de longa duração da interação entre cálcio e os isômeros do CLA tornam-se necessários para elucidar o efeito do CLA sobre a saúde óssea.

49

50