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COMPOSIÇÃO ENTRE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS E CRÉDITOS

Como já sanado no caminho deste trabalho, os artigos 790-B e 791-A da CLT, autorizam a dedução dos honorários sucumbenciais dos créditos do trabalhador, ainda que advindos de outro processo. Como o artigo 85, §14, do CPC, dispõe que o crédito trabalhista é de natureza alimentar, a compensação em caso de sucumbência, fica vedada na Justiça do Trabalho, se tornando possível apenas em casos em que as partes forem ao mesmo tempo credoras e devedoras.

Art.85. §14 – os honorários constituem direito do advogado e tem natureza alimentar, com os mesmos privilégios dos créditos oriundos da legislação do trabalho, sendo vedada a compensação em caso de sucumbência parcial.

O autor Raphael Miziara63, entende que mesmo havendo crédito oriundos de outro processo, sua suspensão deveria ser condicionada, uma vez que o direito de acesso à justiça gratuita, estaria sendo violado:

Fato é que vencido o beneficiário da justiça gratuita, mesmo que tenha obtido em juízo, ainda que em outro processo, créditos capazes de suportar a despesa, as obrigações decorrentes de sua sucumbência ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade, sob pena de violação do direito constitucional de acesso ao Poder Judiciário.

O autor, ainda, aduz que se o sucumbente contiver verbas de outros créditos afastará deste a presunção de pobreza do sucumbente. Entretanto, mediante a natureza alimentar dos referidos créditos, tem-se que fica impossibilitado o afastamento da situação descrita acima.

Nitidamente, as turmas do Tribunal Superior do Trabalho, divergem na maneira com que aplicam princípios aos casos julgados. Através de uma profunda análise da jurisprudência, fica evidente que o tema ainda não está pacificado pelo Poder Judiciário.

O Ministro Brandão, na 7ª Turma do TST, aduz que os créditos capazes de suportar a despesa, não se tratam apenas de conceitos meramente aritméticos, mas sim de uma questão mais ampla, como um contexto socioeconômico. Cabe, assim, exemplificar o que se entende por conceito aritmético, também conhecido como

63 MIZIARA, 2017, p. 1215.

ciência dos números. Por exemplo se o Reclamante ganhou R$ 5.000,00 (cinco mil reais), de crédito trabalhista e foi condenado a pagar R$3.000,00 (três mil reais) de honorários para a Reclamada, esse crédito de R$5.000,00 (cinco mil reais) aritmeticamente é capaz de suportar a despesa, porém com muitas críticas e defesas esse conceito se tornou socioeconômico, assim tem que então ser um crédito capaz de alterar a condição socioeconômica do Reclamante. No entanto, a execução de honorários sucumbenciais contra o beneficiário da justiça gratuita, será possível caso o credor demonstre a existência de créditos, cujo montante promova indiscutível e substancial alteração socioeconômica do demandado, assim expõe em sua decisão:

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELA RÉ. LEI N°13.467/2017. BENEFÍCIO DA JUSTIÇA GRATUITA.

EFEITOS DECORRENTES DA CONCESSÃO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS. TRANSCEDÊNCIA JURÍDICA RECONHECIDA.

Cinge-se a controvérsia a definir os efeitos da concessão dos benefícios da Justiça Gratuita, em ação ajuizada após a vigência da Lei n° 13.467/2017, para fins de condenação da autora ao pagamento dos honorários de sucumbência. O artigo 98, caput e §1°, do CPC inclui os honorários advocatícios sucumbenciais entre as despesas abarcadas pelo beneficiário da gratuidade da justiça. Ainda que o §2° do mencionado preceito disponha que a concessão da gratuidade não afasta a responsabilidade do beneficiário pelos honorários advocatícios decorrentes de sua sucumbência, o §3°

determina que tal obrigação fique sob condição suspensiva, pelo prazo de 5 anos, e somente poderá ser exigida se o credor demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos justificadora da concessão da gratuidade de justiça, extinguindo-se, após o decurso do prazo mencionado.

Essa regra foi incorporada na sua quase totalidade à CLT por meio da introdução do artigo 791-A, especificamente no seu §4°, muito embora o prazo da condição suspensiva seja fixado em dois anos e contenha esdruxula previsão de possibilidade de cobrança, se o devedor obtiver créditos em outro processo aptos a suportar as despesas. Diz-se esdruxula pelo conteúdo genérico da autorização e por não especificar a natureza do credito obtido, que, em regra, no processo do trabalho, resulta do descumprimento de obrigações comezinhas do contrato de trabalho, primordialmente de natureza alimentar, circunstância que o torna impenhorável, na forma prevista no artigo 833, IV, do CPC, com ressalva contida no seu §2° suportará as despesas decorrentes dos honorários advocatícios caso o credor demostre a existência de créditos cujo montante promova indiscutível e substancial alteração de sua condição socioeconômica e para tanto não se pode considerar de modo genérico o percebimento de quaisquer créditos em outros processos, pois, neste caso, em última análise se autoriza a constrição de verba de natureza alimentar. Precedentes. Decisão regional que merece ser mantida. Agravo de instrumento conhecido e não provido.

(TST – AIRR: 5683220185130023, Relator: Claudio Mascarenhas Brandão, data de julgamento: 07/10/2020, 7ª Turma, Data de Publicação: 23/10/2020)

Em contrapartida, o entendimento da 4ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho, é de que no caso do empregado beneficiário da justiça gratuita, os honorários sucumbenciais devem ser descontados dos créditos trabalhistas os quais

venham a ser obtidos, inclusive dos de natureza alimentícia. Neste raciocínio, ao se deparar com uma decisão que restringia o desconto somente aos créditos de natureza não alimentícia, optou pela reforma da referida.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – BENEFICIÁRIO DA JUSTIÇA GRATUITA – CLT, ART 791-A, §4° - DECISÃO REGIONAL LIMITADORA A CRÉDITOS DE NATUREZA NÃO AIMENTÍCIA – TRANSCÊNCIA sucumbenciais por parte dos advogados, tanto à luz do novo CPC quanto das alterações da Sumula 291 do TST, reduzindo as restrições contidas na Lei 5.584/70, que os limitavam aos casos de assistência judiciaria por parte do sindicato na Justiça do Trabalho. 3. Por outro lado, um dos objetivos da mudança, que implicou queda substancial das demandas trabalhistas, foi coibir as denominadas “aventuras judiciais”, nas quais o trabalhador pleiteava muito mais do que efetivamente teria direito, sem nenhuma responsabilização, em caso de improcedência, pelo ônus da contratação e advogado trazido ao empregador. Nesse sentido, a reforma trabalhista, em face de inovação, tornou o Processo do Trabalho ainda mais responsável. 4.

No caso do beneficiário da Justiça gratuita, o legislador teve a cautela de condicionar o pagamento dos honorários à existência de créditos judiciais a serem percebidos pelo trabalhador, em condição suspensiva até 2 anos do transito em julgado da ação e que foi condenado na verba honorária (CLT, art.791-A, §4º). 5. Na hipótese dos autos, 0 21º Regional entendeu por ampliar essa cautela, ao ponto de praticamente inviabilizar a percepção de honorários advocatícios por parte do empregador vencedor, condicionando-a à existência de créditos de natureza não alimentícia. Como os créditos trabalhistas ostentam essa condição, só se o empregado tivesse créditos a receber de ações não trabalhistas é que poderia o empregador vir a receber pelo que gastou. 6. Portanto, a exegese regional ao §4º do art. 791-A da CLT afronta a sua literalidade e esvazia seu comando, merecendo reforma a decisão, para reconhecer o direito à verba honorarias, mesmo com a condição suspensiva, mas não limitada aos créditos de natureza não alimentícia. Recurso de revista provido.

(TST- RR 7807720175210019, Relator Ives Gandra Martins Filho, data de julgamento: 25/09/2019, 4ª Turma, data de publicação: DEJT 27/09/2019).

Conforme os julgados acima, a natureza alimentar dos créditos trabalhistas, impede a autorização da compensação pela Justiça do Trabalho em casos onde haja sucumbência.

Devido a não abrangência da CLT, deve-se utilizar o Código Civil para resolver a situação. Assim, a dedução e a compensação apenas serão permitidas, em âmbito trabalhista, quando presentes as necessidades do artigo 368 do Código Civil: “se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensaram”.

Ou seja, é necessário que ambas as partes estejam em igualdade, sendo ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra. Importante ressaltar, que o advogado constituído nos autos, por uma das partes, não se torna credor do empregado, demandante, impossibilitando assim, que compense seus honorários de direito, com créditos trabalhistas adquiridos pelo trabalhador, ainda que esses créditos sejam oriundos de outros autos.

Desta maneira, o título executivo judicial conquistado, só deverá ser executado, na medida em que o empregado sucumbente, e, portanto, devedor, não esteja abraçado pelo benefício da justiça gratuita.

O artigo 23 do Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil, Lei n. 8906 de 1994, revela que: “os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou sucumbência, pertencem ao advogado, tendo, este direito autônomo para executar a sentença nesta parte, podendo requerer que o precatório, quando necessário, seja expedido em seu favor”.

Além disso, ainda que caracterizados por sua natureza alimentar, os créditos trabalhistas, não é possível que sejam deduzidos ou compensados. Uma vez que, o artigo 98 do Código de Processo Civil, em seu §3º64, afirma que os honorários de sucumbência somente poderão ser executados, e não compensados, deduzindo ou sequestrados.

§ 3º Vencido o beneficiário, as obrigações decorrentes de sua sucumbência ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser executadas se, nos 5 (cinco) anos subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário.

Tem-se assim, que a justiça na esfera trabalhista, fica impossibilitada de autorizar tanto a compensação como dedução dos honorários sucumbenciais dos créditos trabalhistas adquiridos pelo trabalhador, conforme vinculam os artigos 368 do Código Civil, 98 do Código de Processo Civil e artigo 23 do Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil.

Além disso, claramente, as alterações trazidas pela reforma trabalhista, andam na contramão ao conteúdo vinculado no artigo 833, inciso IV do Código de Processo Civil. Segundo o referido artigo as verbas de natureza alimentar são impenhoráveis:

64 BRASIL, Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015, loc. cit.

Art. 833 – são impenhoráveis:

IV- os vencimentos, subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o §2º.

Pois bem, os créditos do trabalhador, adquiridos através de uma reclamação trabalhista, tem natureza alimentar, uma vez que sucedem de direitos adquiridos pelo empregador, que não foram concebidos dentro do devidos prazo legal, e sendo assim, mediante está oriunda da cobrança de custas, de honorários periciais e especialmente, dos honorários advocatícios de sucumbência.

7 ANÁLISE DO NÚMERO DE DEMANDAS POSTERIORES A REFORMA

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