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Compras Públicas Sustentáveis

É atribuído ao Poder Público, a promoção de políticas públicas sustentáveis, contemplando três aspectos dimensionais básicos que precisam interagir, formando um tripé, sejam eles: aspectos ambientais, econômicos e sociais, e este tripé é o que sustenta a sustentabilidade (BRASIL, 2016c).

Ao longo de décadas, o governo e a sociedade não deram importância ao impacto causado ao meio ambiente pelos produtos fabricados e consumidos de modo geral, num cenário fortalecido pelo crescimento econômico descontrolado e despreocupado. A percepção de um desastre iminente levou as nações mais desenvolvidas a empregar medidas que propiciem um desenvolvimento econômico sustentável, comprometido com as questões ambientais e com a preservação das gerações futuras (GALLI, 2014; CYPRESTE, 2013).

Os indícios de que os recursos naturais do planeta estão se esgotando, e os riscos que este esgotamento pode causar, ameaçando a fauna, a flora e as gerações presentes e futuras, levaram à realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, conhecida como Conferência de Estocolmo, em 1972, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU) (GALLI, 2014; CYPRESTE, 2013).

Em 1987, com a publicação do Relatório Brundtland: “Nosso Futuro Comum”, resultado de uma investigação sobre as preocupações com os consideráveis e negativos impactos das ações promovidas pelos seres humanos sobre o planeta, conduzida pela Comissão Mundial das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, se tornou oficial, para o mundo, a definição de desenvolvimento sustentável (GALLI, 2014; CYPRESTE, 2013).

A essência do conceito de desenvolvimento sustentável é "Satisfazer as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”, e se transformou na base da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92), realizada no Rio de Janeiro em 1992. Tido como um símbolo internacional, o encontro caracterizou o desenvolvimento sustentável como um desafio dos tempos atuais, sinalizando a primeira investida internacional de produzir ações estratégicas neste sentido (CYPRESTE, 2013).

Assim o desenvolvimento sustentável se transforma num complexo conjunto de elementos fundamentais para a sobrevivência humana, além de promover a inclusão digital, levando os governos a inserir em suas agendas políticas, discussões e reflexões sobre a preocupação com a preservação do meio ambiente para que as gerações futuras tenham qualidade de vida (CYPRESTE, 2013).

No Brasil, esta preocupação se reflete com a criação de um projeto do Ministério do Meio Ambiente, intitulado Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P), desenvolvido como uma solução para nortear a administração pública, na implantação de programas de sustentabilidade em seus processos de produção e consumo. Retratando o interesse da sociedade, esta agenda colabora para a promoção da eficiência e do controle dos gastos dos órgãos públicos, além de minimizar impactos sobre o meio ambiente (BRASIL, 2016d).

A movimentação financeira gerada pelas compras públicas é significativa. O impacto econômico causado alcança entre 10% e 15 % do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado brasileiro (Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas - SEBRAE, 2016). Neste contexto, o Poder Público buscou inserir critérios de contratações sustentáveis nos editais de licitações, tornando as compras públicas, mecanismos estratégicos das políticas públicas. Sincronizar estes mecanismos estratégicos com o incentivo ao desenvolvimento local, o estímulo à microempresa e empresas de pequeno porte, à agricultura familiar, e ainda com a geração de trabalho e renda, pode levar o Poder Público a suscitar um novo modelo de desenvolvimento no qual as licitações públicas refletirão, além dos aspectos econômicos (BRASIL, 2016c).

Em função do alto valor de recursos financeiros envolvidos no seu consumo interno, o Governo se situa numa posição privilegiada de fortalecer economias de escala, minimizar riscos e assegurar margens de lucros, sinalizando assim, aos produtores, perspectivas de um mercado firme e permanente para ofertar seus bens (MOURA, 2013).

Diante desse cenário, as compras públicas vêm paulatinamente se fortalecendo como uma ferramenta para incentivar o desenvolvimento sustentável. O ato público que normatizou as compras públicas sustentáveis, trazendo-as para contínuas discussões, foi a alteração do art. 3° da Lei n° 8.666/1993, a seguir:

A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos. (BRASIL, 1993).

Essa alteração foi um investimento que o governo federal brasileiro promoveu, a fim de estimular seus gestores a aperfeiçoarem a padronização dos editais de licitação, bem como definir regras de participação dos interessados em contratar com a União (NONATO, 2015).

Em janeiro de 2010, a Secretária de Logística e Tecnologia da Informação - SLTI do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) editou a Instrução Normativa n° 01, que normatizou a inserção dos critérios de sustentabilidade nos processos de compras e contratações públicas. Esta legislação entra em vigor em 19 de fevereiro de 2010 e deu força para os debates sobre as licitações sustentáveis e, além de priorizar aquisição de produtos produzidos com técnicas sustentáveis, segundo Nonato (2015) também define os critérios que norteiam os processos de licitações:

(i) Menor impacto sobre recursos naturais como flora, fauna, ar, solo e água; (ii) Preferência para materiais, tecnologias e matérias-primas de origem local;

(iii) Maior eficiência na utilização de recursos naturais como água e energia; (iv) Maior geração de empregos, preferencialmente com mão de obra local; (v) Maior vida útil e menor custo de manutenção do bem e da obra;

(vi) Uso de inovações que reduzam a pressão sobre recursos naturais;

(vii) Origem ambientalmente regular dos recursos naturais utilizados nos bens serviços e obras. (NONATO, 2015, p. 55).

Diante do exposto, para que este novo modelo de desenvolvimento sustentável se estabeleça, é necessário rever valores e promover mudanças culturais nas organizações

públicas, para que as mesmas aperfeiçoem seus recursos tecnológicos, humanos, logísticos e orçamentários, a fim de obter maior qualidade nos processos de compras, uma vez que as licitações sustentáveis ainda precisam ser aperfeiçoadas.

No contexto do apoio ao desenvolvimento sustentável, o Programa Nacional de Alimentação Escolar se constituiu uma importante política pública, e os 30% dos orçamentos dos órgãos públicos que deverão ser gastos com as compras públicas da agricultura familiar, na aquisição da merenda escolar, incentivam o crescimento econômico das comunidades locais, com consequente geração de trabalho e renda.