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compreendendo a temática da velhice

No documento Luiz de Oliveira Dias (páginas 32-35)

Ganhando cada vez mais destaque na sociedade, seja pelos meios de comunicação em massa ou no tumultuado dia-a-dia, os “clubes da terceira idade”, “centros/grupos de convivên-cia”, comunidades de bairro e outros tipos de associações que lidam diariamente com pessoas idosas crescem em ritmo acelerado na contem-poraneidade. Pode-se dizer que isso é um reflexo do crescimento da população idosa brasileira que dobra seu número a cada 20 anos. Cerca de 14 milhões de brasileiros atualmente têm mais de 60 anos de idade. O que corresponde a quase

10% da população brasileira1. De acordo com os dados do IBGE (2004), em 1980 pra cada 100 crianças havia 16 idosos(as). Em 2000 para as mesmas 100 crianças já havia 30 idosos(as), qua-se o dobro em um período de apenas 20 anos.

É importante salientar que a velhice e o processo de envelhecimento são realidades heterogêneas. Podem variar de acordo com as culturas e subculturas, conforme os tempos his-tóricos, entre as classes sociais, com as histórias de vida pessoais, com as condições educacio-nais, os estilos de vida, os gêneros, as profissões, as etnias etc., entre os muitos elementos que fazem parte e permeiam o universo histórico e sociocultural de indivíduos e de grupos. Pa-tologias que ocorreram durante o processo de envelhecimento e desenvolvimento, além de fatores genéticos e relacionados ao ambiente ecológico, influenciarão também o modo de se envelhecer (DEBERT, 1999).

Entretanto, o que se percebe é que o envelhecimento não é valorizado em sua es-sência e está cada vez mais associado à doença, tornando-se muito temido e marginalizado, chegando a ser combatido em busca de uma certa “cura”. Doenças associadas à velhice prevalecem pela menor capacidade orgânica de combatê-las. Apesar de nossas perdas funcio-nais serem normais, e ocorrerem pelos milhões de mudanças que acontecem ao longo da vida, aparentes ou não, elas realmente acarretam uma maior vulnerabilidade. Deve-se levar em conta, por exemplo, o alto nível de cuidados com a saúde das crianças. Estas não são doen-tes em si mesmas, mas apenas apresentam um delicado e frágil organismo naquela etapa da

vida. O que faz mal é a doença, e não a idade.

Há um declínio na plasticidade, na capacidade de ajustar-se fisicamente, crescer, aprender e inovar. Decresce também a resiliência, ou seja, a capacidade de se recuperar após a exposição a traumas ou pressões provenientes do ambiente ecológico, do ambiente social, da dinâmica do seu organismo biológico e da sua personalidade (STAUDINGER; MARSISkE; BALTES, 1993, apud CACHIONI; NERI, 1999).

Mais do que a própria doença em si – com seus sintomas desagradáveis, com os cuidados e medicamentos que exige em qualquer fase da vida –, é a maneira como ela é encarada pelo indivíduo que determina a possibilidade ou não de continuar com o seu cotidiano, seus planos e projetos e participar de novas ações.

Velhice bem-sucedida não é a manutenção ou conservação do desempenho de pessoas mais jovens. Envelhecer bem vai depender do equilí-brio entre as limitações e as potencialidades do indivíduo, o que lhe permitirá, com diferentes graus de eficácia, lidar com as perdas de capaci-dades ocorridas durante o envelhecimento. Se tais perdas limitam a aprendizagem de novas habilidades, de coisas novas, em contraparti-da, a experiência de vida facilita a solução de problemas da vida prática, traz a capacidade de aconselhamento e a troca de experiências.

A vida é uma constante possibilidade de adaptações e auto-regulações nas esferas biológicas, psicológicas e sociais. E ter saúde é preservar a qualidade de vida, encarando as dificuldades físicas, emocionais e existenciais, cuidando delas e superando-as, como salienta Barreto (2001).

1 Fonte: Ipea.

Por vezes, conceitos carregados de expectativas adultas ou infantis sobre a ve-lhice contribuem com a idéia de a pessoa idosa ser um adulto decadente e com uma conseqüente negação da velhice por parte de seus representantes. Uma perda cultural da fantasia de si mesmo em seus mais diferentes aspectos – religião, filosofia, ideologia, arte, política – torna-se quase inevitável. Homens e mulheres tentam a todo custo mascarar e, se possível, eliminar traços físicos e emocionais do envelhecimento, reafirmando uma crença neurótica e imatura no mito da eterna juven-tude e na imortalidade humana. Fantasias que procuram resistir à realidade, negando o seu curso natural. Ariès (1990) já dizia que a fuga do envelhecimento e a negação da velhice escondem um receio mais profundo, que é o medo da morte.

Talvez sejam frutos e reflexos da superva-lorização do jovem e de sua juventude em nossa cultura/sociedade ocidental. Valores introduzi-dos na infância e reafirmaintroduzi-dos ao longo da vida, pois, de acordo com Gomes e Faria (2005, p.

38), a juventude constitui um modelo cultural que se projeta sobre as demais fases da vida:

“Daí a importância de não abordar cada faixa etária em si, mas buscar identificar nos inters-tícios, nas zonas de fronteira, as questões que nos revelam o sentido que o curso da vida pode assumir em função das demarcações culturais que definem esse sistema de relações”.

Por essa razão, a velhice constitui uma categoria que precisa ser compreendida com mais profundidade, evitando-se naturalizações.

Um diálogo intergerações poderia colaborar com a (re)construção de idéias, valores e con-ceitos a esse respeito.

No âmbito político, algumas conquistas estão sendo atingidas, mas muitas delas aca-bam se limitando a promover descontos em estabelecimentos comerciais, gratuidade em instituições e eventos culturais, em viagens e empresas de turismo. Além disso, lamentavel-mente esses “benefícios” ainda não se tornaram realidade para a maioria dos idosos brasileiros, seja por estarem enclausurados em casa ou em alguma instituição que não lhes permite terem o devido acesso; ou por qualquer outro motivo que os impeça de participarem do que foi conquistado.

O Estatuto do Idoso, de 2003, é uma iniciativa que demonstra a preocupação de pro-porcionar à população alguns esclarecimentos sobre essa fase da vida, bem como mostrar a relevância de assegurar aos idosos uma velhice com mais dignidade. De acordo com este docu-mento, o(a) idoso(a) goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, as-segurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades para pre-servação de sua saúde física e mental e para seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.

Conforme o Estatuto, é obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público garantir ao(à) idoso(a), com absoluta priori-dade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.

Ações governamentais contribuem, mas não bastam. É preciso entender que, apesar das perdas funcionais orgânicas e mentais, o enve-lhecimento é capaz de gerar um ser humano

idoso sadio, com auto-suficiência para as tarefas diárias, com capacidade adaptada para manter relações intelectuais e sociais com o meio que o rodeia (LEITE, 1996). E essas tarefas diárias, cada vez mais, tornam a se caracterizar como atividades produtivas.

Na atualidade o idoso e a idosa brasilei-ros, em contraste com pessoas estudadas na França nos anos de 1961 a 1970 (DUMAzE-DIER, 1999), tendem a continuar com alguma forma de trabalho após a aposentadoria. Um dos fatores é a própria educação para o tra-balho, que em nossa sociedade é ensinada e (re)passada. Porém, o principal ainda é a baixa condição financeira das famílias. No Brasil, em 25% das famílias, uma pessoa idosa contribui com 54% da renda e 87% dos homens idosos são considerados chefes de família (IBGE, 2004).

Pode-se então observar que uma grande parcela de pessoas idosas, no Brasil, ainda pos-sui determinadas responsabilidades em seus lares, contribuindo economicamente com as famílias. O que pode representar a necessida-de necessida-de manutenção necessida-de algum tipo necessida-de trabalho formal e/ou informal. Aposentadoria e peque-nos serviços também garantem a renda. Uma pesquisa realizada com idosos e idosas de um projeto de extensão universitária, na UFMG, mostrou que 94% dos entrevistados estavam envolvidos com algum tipo de trabalho ou ocu-pação diária. Entretanto 55% afirmaram parti-cipar de algum tipo de vivência lúdica durante a semana, indicando que experiências de lazer podem efetivamente fazer parte do cotidiano dessas pessoas idosas (GOMES; PINTO, 2005).

Como será essa realidade, se considerarmos o contexto das instituições asilares?

a tV como principal possibilidade de lazer para as

No documento Luiz de Oliveira Dias (páginas 32-35)

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