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2.2 O RISCO NAS DECISÕES DE INVESTIMENTO DE CAPITAL

2.2.2 Compreensão do risco

É comum encontrar entres os agentes investidores os que vêm o risco como um elemento apenas pernicioso, entendendo-o como sinônimo de perda efetiva. Essa percepção se deve por desconhecimento etimológico do termo ou pelo perfil do investidor frente às chances de perda. Para Bandeira-de-Mello e Cunha (2004), risco reflete a dificuldade de precisar os resultados de uma 4Existem outros conceitos de risco-país que o relaciona, por exemplo, com o spread exigido ou pago pelos títulos do governo no exterior ou ainda a classificação (rating) feita pelas agências de risco para medir o somatório do grau de volatilidade de determinadas variáveis do país em comparação com o de outros. Esses conceitos não são discutidos nesse trabalho por não ser diretamente relevante ao estudo.

operação, podendo ser positivos ou negativos. Essa mesma percepção é encontrada nas idéias de autores como Gitman (2001), Ross, Westfield e Jaffe (2002) e Assaf Neto (2003).

Kimura (2002) destaca que no contexto do risco existem teorias como a de Modigliani e Miller (1958), que determinam que as informações de mercado são simétricas e acessíveis da mesma forma a todos os players tirando o foco da gestão de risco. Boa parte dos capítulos que tratam da escolha de investimentos na literatura de finanças atualmente parte da premissa de que os agentes estão imersos no mesmo ambiente decisório. Isso pode induzir os agentes a transacionarem de modo excessivo, sem ganhos efetivos, por confiarem em informações equivocadas ou irrelevantes (ODEAN, 1999 apud FERREIRA; YU, 2002).

Ponderando que o risco está associado à chance de ocorrência de um evento, sucesso em um empreendimento, por exemplo, uma vez que existe a chance do investimento frustrar, a probabilidade de sucesso deixa de ser um “evento certo” (SECURATO, 1993, p.21).

O processo decisório, conforme destacado por Securato (1993) deve seguir etapas avaliativas que permitirão compreender os elementos que podem influir em seu comportamento e conseqüentemente em seu resultado. Um objetivo bem claro e quantificado, determinação das alternativas para consecução do objetivo e construção dos cenários. Dentro do contexto da construção de cenários, considerada por Securato (1993) como um processo contínuo de melhoria e adaptação, fixa um horizonte de tempo, identifica e define “variáveis

de influência” e elenca parâmetros qualitativos e quantitativos coerentes com essas variáveis influentes.

Com base nessas variáveis influentes existe uma relação entre risco e retorno, determinada por Groppelli e Nikbakht (2001, p.69), que destaca que “quanto maior a volatilidade dos retornos de um investimento, maior será o seu risco”. Essa volatilidade está afinada com o comportamento do valor de um investimento ao longo de uma escala de tempo. Ou seja, quanto mais um ativo sofreu flutuações em torno de uma linha de retorno padrão esperado ou previsto, maior sua volatilidade e conseqüentemente maior o seu risco. Essa concepção de risco, relacionado com o retorno, alude que se um ativo tem valores de retornos muito voláteis, maiores são as chances de frustração de ganhos.

Em princípio, os investidores ou administradores financeiros têm aversão ao risco e mesmo que tenham perfis de investimentos diferentes, normalmente concordam em exigir retornos maiores quanto maior for o risco que estiverem se submetendo (GITMAN, 2001). A natureza do investidor o leva a evitar o risco, segundo Gitman (2001), mas uma vez sob a ação do mesmo, irá reclamar melhores retornos, como uma espécie de compensação pela decisão arriscada que tomaram.

Provavelmente essa sensação de aversão ao risco se deva ao fato de os investidores mais conservadores vislumbrarem mais as possíveis perdas do que os potenciais ganhos. Bandeira-de-Mello e Cunha (2004) corroboram com

essa idéia, ao determinar que o risco do negócio é mais associado ao prejuízo do que a futuros ganhos potenciais.

Groppelli e Nikbakht (2001, p.69) destacam ainda que o risco se relaciona com o prazo. “O dinheiro vale mais para o investidor hoje do que no futuro”, sentenciam. Essa percepção encontra eco em Gitman (2001, p.164), quando esse destaca que “[...] uma unidade monetária hoje em dia vale mais do uma unidade monetária que será recebida no futuro”. O fundamento do dinheiro ao longo do tempo determina que o investimento que sublima o risco e atende aos requisitos de retorno também cobrem o custo do dinheiro no tempo em que permaneceu investido, compensando a falta de liquidez pelo período investido.

O valor do dinheiro no tempo é um dos pontos cruciais no contexto das decisões de investimento, tipicamente as de longa duração. Considerando o que destacam Bruni e Famá (2003), quando dizem que a decisão de investimento envolve o sacrifício hoje com o objetivo de obtenção de resultados no futuro, o impacto em torno do comparativo dessas unidades monetárias sacrificadas agora e as que poderão ser obtidas no futuro se torna significativo.

A compreensão do risco efetivo está relacionada à percepção que o investidor tem do mercado em que atua e de sua própria racionalidade na identificação das variáveis relevantes. Para Ferreira e Yu (2002), as pessoas costumam associar risco não como a distribuição de probabilidades, acreditando que resultados ruins são eventos certos. Esse equívoco pode fazer com que pessoas que obtenham uma seqüência de resultados negativos, se tornem excessivamente avessos às decisões e outras que acumulem uma série

de bons resultados se tornem exageradamente otimistas, causando a cegueira destacada por Simons (1999) e o excesso de confiança citado por Ferreira e Yu (2002). Para Simons (1999), que chegou a desenvolver uma “calculadora de exposição ao risco”, o número de transações realizadas por uma empresa, o nível de concorrência da mesma, a cultura empresarial e o uso das informações definirão o grau de risco do negócio. Isso mostra que não existe correlação entre os riscos de dois negócios distintos, necessariamente. Daí depreende-se a idéia da formação de conjuntos de investimentos.

Efetivamente, a identificação de que os impactos das variáveis de mercado atingem os investimentos de modo diversificado teve seu marco fundamental com Markowitz (1952), que relacionou os fundamentos estatísticos aos resultados financeiros, permitindo perceber a idéia da diversificação e formação de carteiras de investimentos, diluindo os efeitos do risco da concentração de ativos. Posteriormente, a teoria do Capital Assets Pricing Model (CAPM) definida por William Sharpe (1964), que determina existir uma relação entre risco e retorno, matematicamente fundamentada, e que os investidores devem ser compensados pela maior exposição ao risco. Essas teorias são destacadas por Menezes (2002), que condensa seu pensamento sobre a estratégia para o sucesso empresarial no bom uso da informação e na especialização dos métodos de trabalho, com foco no mercado atual e futuro.

A compreensão mais coerente e técnica do risco o relacionam com os fluxos de caixa projetados de um investimento, com realizações de ponderações de retorno com base em distribuição probabilística que relaciona as variáveis identificadas como relevantes e impactantes do projeto (ASSAF NETO, 2003).

Métodos como a análise de sensibilidade e avaliação de cenários costumam ser utilizados para avaliar os projetos em condições de risco.

Os modelos estatísticos que consideram o risco levam em conta um conjunto de variáveis eleitas como as mais relevantes para o estudo e os resultados do projeto. Outras variáveis que não puderam ser identificadas, por impossibilidade técnica, cognitiva ou pela simples inexistência no momento das projeções relacionadas ao projeto em questão pertencem ao que se compreende como incerteza.

Assim, apesar da comum relação sinônima que se faz de risco e incerteza. O primeiro está relacionado com variáveis conhecidas e passiveis de ponderação por métodos de análise de risco. A incerteza, por sua vez, não é possível modelar matematicamente, pois traz elementos imponderáveis ou desconhecidos, exigindo ações adaptativas por parte dos agentes envolvidos, a fim de mitigar os efeitos perniciosos que poderiam acometer os resultados de um investimento. No contexto tratado no presente estudo, o risco é o foco das discussões teóricas e das discussões empíricas.