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A indústria de celulose é bastante exigente em termos de ativos reais ou imobilizados, isso porque é uma indústria intensiva em tecnologia e tem na produção seu ponto forte (PIVA, 2006). Isso é confirmado pelos números de Lahóz e Caetano (2003) que dão conta da utilização da capacidade produtiva do setor de celulose em 93%, um dos mais altos da indústria brasileira. Isso demonstra que para crescer são necessários novos investimentos em estrutura produtiva, já que as empresas operam quase que no limite da capacidade máxima. Aliado à forte demanda do mercado externo, que, por exemplo, torna a Aracruz Celulose, empresa brasileira que tem 97% de sua produção voltada para a Europa, Estados Unidos e Ásia (ABRANTES, 2002), a maior exportadora de celulose do tipo branqueada fibra curta de eucalipto do mundo. No Brasil, era a nona maior empresa exportadora, em termos globais em 2003,

segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (TOSCANO, 2004). Tais informações deixam claras as motivações do setor para a alocação de recursos em investimentos de capital, pois mesmo para o mercado interno as demandas de papel e celulose têm sido crescentes.

O mercado brasileiro é um dos mais promissores na produção da celulose, pois o eucalipto, a principal árvore que origina a matéria-prima, leva sete anos para crescer, contra vinte e cinco a trinta e cinco anos nos Estados Unidos e países nórdicos (ABRANTES, 2002). Com isso, o Brasil tem o mais baixo custo de produção de madeira de eucalipto, graças a uma combinação de clima, solo e pesquisas oriundas de mais de trinta anos de estudos (LAHÓZ; CAETANO, 2003).O crescimento das empresas de papel e celulose no Brasil se intensificou com os incentivos fiscais e de crédito concedidos ao setor, desde os anos sessenta (SOARES, 2003). Isso se confirma com o forte apoio do BNDES que sustentou as indústrias e é considerado o grande planejador, indutor e financiador das empresas de papel e celulose no país (JUVENAL; MATTOS, 2002). Segundo Soares (2003, p.36) devido aos incentivos fiscais na década de setenta, “diversas empresas de diversas atividades, plantaram grandes áreas de reflorestamento, que posteriormente foram vendidas para as empresas de celulose, que aumentaram sua capacidade produtiva”.

A história mostra que os anos setenta marcaram um dos grandes ciclos de investimentos no setor de papel e celulose. O plano de substituição de importações, incluiu essa indústria no centro de interesse governamental (PEREZ; RESENDE, 2005), combinando vontade política e de leis como a de incentivos fiscais, a exemplo da 5106/1966. Definições de escalas de produção

àquela época também proporcionaram avanço à indústria (JUVENAL; MATTOS, 2002; PEREZ; RESENDE, 2005).

No final dos anos oitenta ocorreu outro grande marco de investimentos na indústria de papel e celulose, da ordem de 6 bilhões de dólares, que cooperou para a reversão da balança comercial do setor, saindo do déficit para o superávit (PEREZ; RESENDE, 2005).

Mattos e Valença (1999) complementam que o que fez do Brasil um dos maiores produtores de eucalipto, entre os anos setenta e início da década de noventa, foram vantagens edafoclimáticas e extensas áreas para o plantio de árvores, o que tornou o país o sétimo maior produtor mundial no ano de 1998, produzindo quase 9% do total de celulose mundial. O país ainda se mantém nessa posição no ranking mundial atualmente (BRACELPA, 2006c), conforme Quadro 01:

Quadro 01: Maiores produtores mundiais de celulose e papel.

1 EUA 83401 1 EUA 53585 2 China 49500 2 Canadá 26406 3 Japão 30889 3 China 14180 4 Canadá 20461 4 Finlândia 12619 5 Alemanha 20392 5 Suécia 12106 6 Finlândia 14036 6 Japão 10720 7 Suécia 11589 7 Brasil 10352 8 Coréia 10511 9 França 10249 10 Itália 9665 11 Brasil 8597

Maiores produtores mundiais de celulose e papel (em 1000 t) Produção - 2005 (preliminar)

Papel Celulose

O quadro reflete o quanto a produção nacional está distante de países como Canadá e Estados Unidos, mas o crescimento tem sido constante e expressivo (BRACELPA, 2006c). Vale ressaltar que a posição do Brasil em sétimo colocado na produção mundial se refere ao somatório da produção de celulose de todo tipo. No entanto, quando se trata da celulose fibra curta de eucalipto, para a qual o Brasil tem forte vocação produtiva e as condições climáticas e de solo, dentre outras vantagens destacadas anteriormente, o país é o maior produtor, conforme Figura 02.

A primazia brasileira na produção desse tipo de celulose lhe dá algumas vantagens que merecem destaque. Uma delas é o fato de esse tipo de celulose originar de plantações de eucalipto, que o Brasil consegue produzir muito em pouco tempo (PEREZ; RESENDE, 2005). Outra importante referência se deve aos investimentos feitos em pesquisa e desenvolvimento de árvores mais resistentes e com maior capacidade de produção (ALMEIDA; SILVA, 1998) e investimentos em tecnologia de colheita, corte e armazenamento (BRAMUCCI, 2001). Além disso, fusões e incorporações ou investimentos em capacidade produtiva como sugeriam Juvenal e Mattos (2002) vêm sendo feitos. Esses pontos tendem não só a manter o Brasil na dianteira desse segmento, como até mesmo elevar sua capacidade ainda mais.

Figura 02: Maiores produtores mundiais de celulose fibra curta branqueada. (BRACELPA, 2006c).

A produção nacional de celulose se volta fortemente para o mercado externo, pois, apesar de ser um dos maiores produtores mundiais, o Brasil tem os mais baixos consumos per capta, como bem destacam Carrere e Lohmann (2005), ao afirmarem que ironicamente a expansão da produção de celulose ocorre em um país que tem um consumo de papel bem abaixo da média mundial. Em 2001, enquanto nos Estados Unidos o consumo individual ultrapassa os duzentos quilos, no Brasil esse valor ficava pouco acima dos

quarenta quilos (FAE BUSINESS, 2001). Carrere e Lohmann (2005)

apresentam mais recentemente números ainda mais disparatados20, alegando a exclusão da população de baixa renda do processo de consumo do

20 Trecho original do texto: Irónicamente, la enorme expansión del sector de la celulosa ha

tenido lugar en un país en el que el consumo de papel per capita se encuentra muy por debajo del promedio mundial. Así, mientras el consumo per capita de papel en los Estados Unidos es de 332 kgs/habitante, en Suiza de 216, em Costa Rica de 55 y en Argentina de 45, en Brasil oscila en torno a los 28 kgs por habitante (PPI 7.1995). La mayoría del pueblo brasileño no se ha beneficiado entonces con un consumo más elevado de papel, ni tampoco ha recibido beneficios sustanciales en materia de empleos generados por la industria. (CARRERE; LOHMANN, 2005, p.134).

excedente de papel. Isso reforça o destino da produção de celulose para o mercado externo, que se encontra em constante expansão de demanda.

O crescimento de consumo mundial vem demandando do país aumento de

produção, já que atualmente conta com as vantagens comparativas,

provenientes da qualidade de solo e clima, e com uma tecnologia de exploração (ALMEIDA; SILVA, 1998; PEREZ; RESENDE, 2005). Esse crescimento tem dentre outras causas, o processo tecnológico que gerou aumento do uso de “produtos de informática, copiadores, impressão, etc.” (ALMEIDA; SILVA, 1998, p.02). Acredita-se que esse crescimento seja mais expressivo em países como os da Ásia, América Latina e África, onde estão os menores consumos per capta e o maior crescimento das nações em desenvolvimento, à exemplo da Índia e China.

As necessidades de investimento nas indústrias são crescentes, pois além do possível estrangulamento da oferta, “investimentos para atender essa carência podem representar boa lucratividade” (ALMEIDA; SILVA, 1998, p.02). Investimentos de longo prazo, que relacionam normalmente elevação da capacidade produtiva, estão no vértice do debate. Considerando as discussões ambientais, grandes empresas já realizam investimentos ambientalmente responsáveis, como o projeto da Votorantim Celulose e Papel (VCP) previsto para os próximos anos, que prevê parceria perene com pequenos produtores do sul do país e que visa à produção de celulose, sem degradar o ambiente natural e social dos agricultores locais (HERZOG, 2006b).