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Compromissos Internacionais com a Educação após Jomtien nos anos 90

5. POLITICA DE EDUCAÇÃO DO BM: O CASO DA GUINÉ-BISSAU

5.5 Compromissos Internacionais com a Educação após Jomtien nos anos 90

Há mais de sessenta anos, as nações do mundo afirmaram na Declaração Universal dos Direitos Humanos que "toda pessoa tem direito à educação". Apesar dos esforços realizados por países do mundo inteiro para assegurar o direito à educação, persistem as seguintes realidades: mais de 100 milhões de crianças, das quais pelo menos 60 milhões são meninas, não têm acesso ao ensino primário; mais de 960 milhões de adultos - dois terços

111 dos quais, mulheres - são analfabetos, o analfabetismo funcional é um problema significativo em todos os países industrializados ou “em desenvolvimento”; - mais de um terço dos adultos do mundo não têm acesso ao conhecimento impresso, às novas habilidades e tecnologias, que poderiam melhorar a qualidade de vida e ajudá-los a perceber e a adaptar-se às mudanças sociais e culturais; mais de 100 milhões de crianças e incontáveis adultos não conseguem concluir o ciclo básico, e outros milhões, apesar de concluí-lo, não conseguem adquirir conhecimentos e habilidades essenciais94.

Ao mesmo tempo, a sociedade internacional enfrenta um quadro sombrio de problemas, entre os quais: o aumento da dívida de muitos países, com ameaça de estagnação e decadência econômicas aqueles ditos “em desenvolvimento”; rápido aumento da população; crescentes diferenças econômicas entre as nações e dentro delas; guerras; ocupações armadas; lutas civis; violência; morte de milhões de crianças; e a degradação generalizada do meio-ambiente. Esses problemas atropelam os esforços dos países endividados em satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem, enquanto a falta de educação básica para significativas parcelas da população impede que a sociedade enfrente esses problemas com vigor e determinação.

Durante a década de 80, esses problemas dificultaram os avanços da educação básica em muitos países menos desenvolvidos. Em outros, o crescimento econômico permitiu financiar a expansão da educação, mas, mesmo assim, milhões de seres humanos continuam na pobreza, privados de escolaridade ou analfabetos. Em alguns países industrializados, cortes nos gastos públicos ao longo dos anos 80 contribuíram para a deterioração da educação. Relembrando que a educação nestas circunstâncias é tida como um direito fundamental de todos, mulheres e homens, de todas as idades, no mundo inteiro.

Entendendo que a educação pode contribuir para conquistar um mundo mais seguro, mais sadio, mais próspero e ambientalmente mais puro, e que, ao mesmo tempo, favoreça os progressos sociais, econômicos e culturais, a tolerância e a cooperação internacional;

112 sabendo que a educação, embora não seja condição suficiente, é de importância fundamental para o progresso pessoal e social; reconhecendo que o conhecimento tradicional e o patrimônio cultural têm utilidade e valor próprios, assim como a capacidade de definir e promover o desenvolvimento; admitindo que, em termos gerais, a educação que hoje é ministrada apresenta graves deficiências, que se faz necessário torná-la mais relevante e melhorar sua qualidade, e que ela deve estar universalmente disponível; reconhecendo que uma educação básica adequada é fundamental para fortalecer os níveis superiores de educação e de ensino, a formação científica e tecnológica e, por conseguinte, para alcançar um desenvolvimento autônomo; e reconhecendo a necessidade de proporcionar às gerações presentes e futuras uma visão abrangente de educação básica e um renovado compromisso a favor dela, para enfrentar a amplitude e a complexidade do desafio do mundo, proclamando assim a declaração ”Mundial sobre Educação para Todos” e satisfação das necessidades básicas de aprendizagem.

Após encontro mundial de educação realizado em Dakar em abril de ano 2000, em setembro de 2003 o Banco Mundial reuniu-se em Dubai, com a presença de 184 países membros. Na abertura deste encontro o seu presidente afirmou que:

Há três anos, os líderes mundiais reuniram-se na Cúpula do Milênio para avaliar o futuro. Estes se comprometeram a reduzir a pobreza pela metade até 2015. concordaram nas Metas de Desenvolvimento do Milênio - para educação, saúde e oportunidade igual para as mulheres (...). são metas notáveis. Muitos líderes a eles se referiam como moralmente certas nossa responsabilidade humana, mas também nosso interesse global (Banco Mundial, 2003, p.6).

Este encontro visava acompanhar e avaliar os compromissos assumidos pelos organismos internacionais para com a educação. Segundo relatório de UNESCO (2002, p.15), dentre vários aspetos analisados consta que quase um terço da população mundial encontra-se em países que de antemão se sabe que os compromissos assumidos pelos organismos internacionais e demais países desenvolvidos não serão efetivamente cumpridos. A África Subsaariana, da qual a Guiné-Bissau faz parte, encontra-se no topo desta análise.

113 Augusto Jone Luis (ibidem, p.98), perfila-se à mesma análise afirmando que, com base nos dados do Relatório de Monitoramento Global de EPT – de 1999, efetivamente existem aproximadamente 115.4 milhões de crianças no mundo fora da escola e destas 56% são meninas. Portanto isso fale dizer de acordo com Augusto Jone Luis que a situação piorou em relação aos dados de 1998 que apresentava 113 milhões de crianças e 94% destas se encontravam nos países em desenvolvimento e um pouco mais de um terço na África Subsariana. A UNESCO em análise do balanço global dos compromissos internacionais assumidos pelas diferentes instituições internacionais, afirma: “ainda está um pouco longe a transformação de compromissos em recursos reais” (UNESCO, 2003, p. 189).

Segundo Shiroma, Moraes e Evangelista, (2002, pp.56-57) depois de Conferência Mundial de educação para todos realizada em Jomtien, na Tailândia, em 1990, financiada pela UNESCO, UNICEF, PNUD e BM, a questão da educação ganhou centralidade. No entanto, isso vale destacar que a educação básica passou a constituir grande prioridade nas políticas educacionais dos governos que se inscreveram no tecido a “Declaração de Jomtien”. O papel da Conferência Mundial de educação para todos é enfatizado quando se afirma dela conforme autoras Shiroma, Moraes e Evangelista:

Participaram governos, agências internacionais, organismos não-governamentais, associações profissionais e personalidades destacadas no plano educacional em todo o mundo. As 155 nações que se inscreveram a declaração aprovada comprometeram-se a assegurar uma educação básica de qualidade a crianças, jovens e adultos (ibidem, 2002, p.57).

As conseqüências negativas destes compromissos refletem na educação em geral e particularmente na educação básica dos países em desenvolvimento, aqui estando em foco o caso especial da Guiné-Bissau. É uma realidade incontestável hoje na Guiné-Bissau que durante o período de matrículas, pais e alunos vivem momentos de angústia e total desespero. As escolas têm tido poucas vagas face às demandas, principalmente nas classes inicias, onde acontecem os novos ingressos. Nestas circunstâncias adversas até quando que se continuará a sonhar com uma educação básica para todos na Guiné-Bissau? O Estado

114 guineense deve avocar a responsabilidade sobre a tarefa árdua de fornecer a educação em geral para a sociedade guineense.

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