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4 A DIFUSÃO DAS TIC NA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO

4.1 Computadores

Os computadores continuam sendo a principal referência quando se pensa em TIC. Não obstante as drásticas transformações pelas quais passaram esses equipamentos nas últimas três décadas – sobretudo em se tratando do processo de miniaturização – e a emergência das redes de comunicação, eles ainda constituem-se na forma mais palpável do fenômeno das TIC. De fato, deve-se esperar que a taxa de penetração de computadores na atividade produtiva seja mais significativa vis-à-vis as de outras TIC, até porque muitas dessas dependem do uso daqueles equipamentos.

Segundo dados da PAEP, em 1996 56% das firmas da Indústria de Transformação paulista utilizavam computador(es). Embora seja mais importante a evolução desse indicador ao longo da segunda metade da década de 1990, vale ressaltar a elevada parcela de empresas que sequer empregavam esses equipamentos em sua rotina administrativa (na contabilidade, por exemplo), revelando elevada falta de capacidade para incorporação conseqüente dessa tecnologia.

Cinco anos mais tarde, em 2001, já é possível identificar uma realidade significativamente diferente. O percentual de empresas que não utilizavam computador caiu de 44% para aproximadamente 27,5 %. Não restam dúvidas que a evolução desse indicador ao longo desses anos é bastante significativa, mesmo que esperada. No entanto, ainda incomoda o fato de que mais de um quarto das firmas da Indústria de Transformação paulista iniciam o século atual sem o auxílio desses equipamentos para controlar a produção, finanças, estoques, recursos humanos, etc., isto é, sem um ambiente minimamente informatizado. Esse resultado é ainda desfavorecido por comparações internacionais. No caso da economia canadense, por exemplo, segundo Statistics Canada17

, em 2000, 89% das firmas

da indústria de transformação utilizavam computadores.

O enriquecimento dessa análise passa pela dimensão setorial. De fato, existem setores em que a informatização e a incorporação de progresso técnico são características principais, enquanto em outros o processo de produção é fortemente caracterizado por sistemas semi- artesanais, nos quais a utilização de TIC, quando existe, é provável estar de certa forma limitada ao piso administrativo das empresas. Logo, cabe identificar, a princípio, no conjunto de empresas de cada setor de atividade, de acordo com a divisão CNAE a 2 dígitos (CNAE-2)18, quantos computadores, em média, as firmas utilizavam. Para que se controle pelo tamanho da empresa, torna-se adequado verificar também o número de computadores em relação ao pessoal ocupado da empresa. Isso pode fornecer indícios do grau de digitalização da atuação da força de trabalho, o que implicaria, por sua vez, em desdobramentos sobre a produtividade. A TAB. 4.1 apresenta esses indicadores para o ano de 1996.

17 Existe uma boa base de indicadores de TIC disponíveis para indústria canadense, o que favorece essa

comparação. Ver < http://www.statcan.gc.ca>.

18 A Classificação Nacional de Atividades Econômicas utilizadas aqui é a referente ao ano de 1995 – CNAE

TABELA 4.1 – Média de computadores* por empresa e por pessoal ocupado da Indústria de Transformação paulista em 1996, segundo setores de atividade

Setores de Atividade Média de computadores por empresa Média de computadores por pessoal ocupado Indústria de Transformação 10 0,13

30 - Máquinas p/ Escritório e Equipamentos de Informática 27 0,50

22 - Edição, Impressão e Reprodução de Gravações 12 0,26

32 - Eletrônico, Aparelhos e Equipamentos de Comunicação 33 0,21

33 - Equip. Médicos, Precisão, Ópticos, Automação, Relógios 10 0,21

24 - Produtos Químicos 19 0,19

29 - Máquinas e Equipamentos 12 0,15

31 - Máquinas, Aparelhos e Materiais Elétricos 13 0,14

35 - Outros Equipamentos de Transporte 17 0,13

23 - Coque, Petróleo, Combustíveis Nucleares e Álcool 19 0,12

28 - Produtos de Metal 5 0,12

17 - Produtos Têxteis 9 0,11

18 - Artigos do Vestuário e Acessórios 3 0,11

21 - Fab. de Celulose, Papel e Produtos de Papel 12 0,11

26 - Produtos de Mineriais Não-Metálicos 7 0,11

34 - Veículos Automotivos, Reboques e Carrocerias 24 0,11

Outras indústrias** 4 0,11

15 - Produtos Alimentícios e Bebidas 15 0,10

25 - Artigos de Borracha e Plástico 6 0,10

27 - Metalurgia Básica 9 0,10

19 - Preparação de Couros e Fab. de Artefatos de Couro 4 0,01

Fonte: Fundação Seade - Pesquisa de Atividade Paulista de 2001.

Notas: (*) Compreende todos os tipos de computadores (de grande e médio portes, PCs), exclusive terminais sem CPU - "terminais burros"; (**) Agrega as seguintes divisões CNAE de 2 dígitos: 16 - Fabricação de Produtos do Fumo; 20 - Fabricação de Produtos de Madeira; e 36 - Fabricação de Móveis e Indústrias Diversas.

As médias apresentadas na tabela acima permitem detectar de forma até imediata uma tipologia setorial em termos de utilização de computadores, na qual emergem, de um lado, um grupo mais intensivo em TIC e, por outro, setores mais tradicionais, caracterizados tanto por um pequeno número de computadores, quanto pelo emprego de mão-de-obra relativamente maior, resultando em médias muito baixas. Dentro desse último grupo, mais enfaticamente, destaca-se o setor de “Preparação de couro e fabricação de artefatos de couro” no qual, dada a forte intensidade relativa em mão-de-obra, é provável que o uso de computadores seja reduzido ao piso administrativo das firmas.

Entre os setores tecnologicamente mais complexos, destaca-se o de “Fabricação de máquinas para escritório e equipamentos de informática” com a maior razão computador/pessoal ocupado, 0,50. Isso quer dizer que, em média, a cada dois trabalhadores da empresa, um exerce suas atividades com o auxílio de um desses

equipamentos. Essa taxa é bastante significativa, sobretudo quando a comparamos com as dos demais setores da Indústria de Transformação paulista, haja vista que a segunda maior relação computador/pessoal ocupado é a do setor de “Edição, impressão e reprodução gráfica”, próxima da metade daquela. Com relação ao número médio de computadores que cada empresa utilizava, o setor de “Fabricação de material eletrônico e aparelhos e equipamentos de comunicação” apresenta o indicador mais elevado, 33. Além da elevada intensidade tecnológica desse setor, é provável que esse resultado também esteja relacionado à escala das firmas que o compõem.

Esses resultados confirmam uma importante faceta do paradigma técnico-econômico atual, uma vez que refletem uma estrutura com uso intensivo de TIC nos setores mais vigorosos dentro dessa nova realidade. De fato, nesses setores é que é produzida grande parte dos equipamentos que constituem a dimensão material desse novo padrão tecnológico.

A TAB. 4.2 apresenta os mesmos indicadores, agora para o levantamento realizado pela PAEP 2001. Em primeiro plano, o que se pode observar é uma redução (de 10 para 9) da média de computadores por empresa e um aumento (de 0,13 para 0,16) da relação computador/trabalhador na Indústria de Transformação paulista, entre 1996 e 2001, o que, de início, reflete a redução do tamanho das empresas. Contudo, esse resultado pode estar refletindo também uma maior incorporação de equipamentos mais modernos – com maior capacidade de processamento e armazenamento – e uma intensificação da relação TIC/trabalho. Quando se considera o nível inter-setorial pode-se notar um aumento do gap entre os setores relativamente intensivos em uso de computador e os menos intensivos (com base no que foi observado para 1996). Em geral, tanto a média de computadores por empresa, quanto a relação computador/trabalhador daqueles setores se expandiu, ao passo que no caso dos setores menos intensivos elas se reduziram. Como exemplo, vale ressaltar que enquanto em 1996 a diferença entre a maior e a menor média setorial do número de computadores por empresa eram 30 (computadores), em 2001 eram 45. No caso da relação computador/trabalhador, da mesma forma, a diferença saltou de 0,49 para 0,56. Ou seja, há uma intensificação da heterogeneidade setorial em termos de uso de TIC, especificamente aqui, de computadores.

TABELA 4.2 – Média de computadores* por empresa e por pessoal ocupado da Indústria de Transformação paulista em 2001, segundo setores de atividade

Setores de Atividade Média de computadores por empresa Média de computadores por pessoal ocupado Indústria de Transformação 9 0,16

30 - Máquinas p/ Escritório e Equipamentos de Informática 24 0,57

35 - Outros Equipamentos de Transporte 47 0,39

22 - Edição, Impressão e Reprodução de Gravações 13 0,38

32 - Eletrônico, Aparelhos e Equipamentos de Comunicação 32 0,36

24 - Produtos Químicos 23 0,23

33 - Equip. Médicos, Precisão, Ópticos, Automação, Relógios 13 0,23

29 - Máquinas e Equipamentos 13 0,21

31 - Máquinas, Aparelhos e Materiais Elétricos 17 0,21

27 - Metalurgia Básica 16 0,18

21 - Fab. de Celulose, Papel e Produtos de Papel 15 0,18

28 - Produtos de Metal 5 0,17

34 - Veículos Automotivos, Reboques e Carrocerias 27 0,15

25 - Artigos de Borracha e Plástico 7 0,14

36 - Móveis e Indústrias Diversas 4 0,13

15 - Produtos Alimentícios e Bebidas 10 0,11

26 - Produtos de Mineriais Não-Metálicos 3 0,10

20 - Produtos de Madeira 2 0,10

17 - Produtos Têxteis 7 0,09

18 - Artigos do Vestuário e Acessórios 2 0,09

19 - Preparação de Couros e Fab. de Artefatos de Couro 4 0,08

23 - Coque, Petróleo, Combustíveis Nucleares e Álcool 28 0,04

16 - Produtos do Fumo 22 0,01

Fonte: Fundação Seade - Pesquisa de Atividade Paulista de 2001.

Nota: (*) Compreende todos os tipois de computadores (de grande e médio portes, PCs e terminais sem CPU - terminais "burros").

Comparando-se a evolução dos indicadores para os setores individualmente, há considerações importantes a serem feitas, sobretudo para aqueles cujas médias apresentaram grande variação no período. Por um lado, deve-se destacar o setor de “Fabricação de outros equipamentos de transporte”, para o qual as médias se elevaram relativamente mais de 1996 para 2001, sendo que a razão computadores/trabalhador saltou de 0,13 para 0,39, colocando o setor como o que apresenta o segundo maior valor para esse indicador em 2001.

Tamanha variação tem como principal fonte a expansão do número de computadores, que atingiu 300% no período. Parte significativa desse movimento parece estar associada à modernização da indústria aeronáutica e, mais especificamente, da Embraer, dada a

elevada participação desta empresa naquele setor da indústria paulista19. De fato, a Embraer constituiu-se numa exceção na indústria nacional na segunda metade da década de 1990, frente aos desafios econômicos que geraram sérias dificuldades de reposicionamento dos setores de maior conteúdo tecnológico e resultaram em forte redução do número de empresas e paralisação dos investimentos em pesquisa (Castro, 2001).

Após quase uma década em crise, a partir de 1995/1996 a empresa entrou em um ciclo de forte expansão das atividades e retomada dos investimentos, que perdurou ao menos até o fim da década. Dentre os esforços de recuperação da empresa deve destacar-se a construção de uma rede integrada de alianças estratégicas com fornecedores e usuários de tecnologia de várias partes do mundo, com foco na transferência tecnológica, desenho de modelos, e o financiamento de projetos e comercialização de produtos. (Miranda, 2001). Provavelmente, a intensificação no uso de computadores teve um papel não desprezível nesse processo.

Por outro lado, cabe destacar o setor de “Fabricação de coque, refino de petróleo, produção de combustíveis nucleares e álcool”, no qual houve uma forte elevação do número de computadores por empresa e, ao mesmo tempo, uma queda significativa da razão entre computadores e pessoal ocupado. A observação de dados da PAEP permite verificar que, entre 1996 e 2001, houve uma redução do número de empresas aliada a uma expansão do emprego no setor. O aumento de 37,5% no número de computadores no período, concomitantemente ao menor número de empresas em 2001, que caiu de 94 para 79, explica a maior média de computadores por empresa. De outra forma, o crescimento de aproximadamente 97% no pessoal ocupado do setor no estado de São Paulo entre 1996 e 2001, contribuiu para a forte redução da relação computador/trabalhador.

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