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2. E NQUADRAMENTO T EÓRICO

2.1. Clima de segurança no bloco operatório

2.1.3. Comunicação e colaboração entre profissionais de saúde

A comunicação em saúde tem um papel determinante na qualidade e na segurança dos cuidados prestados, está na base da interação entre profissionais e destes com os doentes.

Na era da informação, a comunicação em saúde assume particular relevância no processo de mitigação de perturbações nas transições ou handovers, responsáveis por erros no tratamento e potenciais danos para os doentes.

Entende-se por comunicação clínica a “…comunicação presente num ato clínico, ou seja, a comunicação que os profissionais estabelecem para avaliarem uma situação, realizarem uma intervenção, documentarem os cuidados prestados, planearem os próximos contactos e partilharem experiências clínicas entre os diferentes elementos da equipa de saúde” (Sequeira, 2016, p.6).

Nos fatores de equipa devemos dar importante enfâse à comunicação, esta é a principal responsável por cerca de dois terços dos EA graves como faz notar a Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations e corroborado por Fragata (2011).

Para Santos, Grilo, Andrade, Guimarães e Gomes (2010):

a segurança do doente constitui um dos grandes desafios dos cuidados de saúde do séc. XXI. O reconhecimento da ocorrência de erros ou acidentes adversos com consequências gravosas para os doentes e para as instituições de saúde, levou, recentemente, a organização mundial de Saúde (OMS) a nomear comissões centradas na identificação de situações de risco e na elaboração de soluções que possam servir de recurso para a prevenção dessas situações. (p.47)

Chegou à conclusão que “o resultado dos trabalhos destas comissões tornou evidente a importância da comunicação como determinante da qualidade e da segurança na prestação de

cuidados” (Santos et al., 2010, p.47). Estes autores defendem que “a comunicação entre membros da equipa é fundamental para fomentar a partilha de um mesmo modelo mental” (Santos et al., 2010, p.53). Por sua vez, “a má comunicação provoca um mau fluxo de informação e impede o funcionamento da equipa, que assim se torna perigosa, pela ação desconcertada dos seus membros” (Fragata, 2011, p.34).

Fragata (2011) salienta que as situações onde, no dia a dia, mais frequentemente ocorrem falhas de comunicação, são:

• Comunicação interpares no seio da equipa: chamadas de atenção de segurança, anúncios de alarmes;

• Treino profissional em equipa: treino orientado para tarefas específicas, envolvendo toda a equipa interessada, nomeadamente para tarefas pouco usuais e exercidas sob stresse;

Briefings e debriefings nos BO: comunicação estruturada antes e depois de cada cirurgia, para planeamento e antecipação e também para análise e aperfeiçoamento; • Transições ou handovers: comunicação estruturada nas transições de cuidados –

mudanças de turno transferências de doentes, etc.

Importa reforçar que “a comunicação inadequada é a principal causa de erros clínicos e a comunicação entre as profissões no bloco operatório são essenciais para a segurança do doente” (Pinheiro, 2013, p.50).

“A não consistência na transmissão de dados acontece também no handover verbal e presencial. Nestas situações foi identificada disparidade entre o conteúdo verbal e a linguagem não verbal, assim como distrações que põem em risco a fiabilidade da informação a ser transmitida” (Santos et al., 2010, p.53).

A qualidade em saúde e a segurança dos doentes é substanciada pela boa interação e comunicação entre profissionais.

… não é possível falar-se sobre qualidade em saúde sem se referir a qualidade da interação e da comunicação entre os profissionais que são responsáveis pelo cuidado, e por isso pela segurança, do doente. A este respeito consideramos, por um lado, a comunicação no momento específico de handover (i.e. passagem de turno) e, por outro lado, a comunicação mais alargada intra e inter equipas de saúde. (Santos et al., 2010, p.52)

A comunicação é fundamental nas profissões relacionadas com a área de saúde, pois estas são, por excelência, profissões de relação, que implicam interação constante com utentes e suas famílias, cuidadores, equipa de saúde a diferentes níveis hierárquicos da instituição, profissionais de outros serviços e profissionais de outras instituições. (Sequeira, 2016, p.3)

De igual modo, a DGS interessou-se pela problemática da comunicação em saúde, recentemente emitiu a norma 001/2017 “comunicação eficaz na transição de cuidados”, entende que “a transição de cuidados deve obedecer a uma comunicação eficaz na transferência de informação entre as equipas prestadoras de cuidados, para segurança do doente, devendo ser normalizada utilizando a técnica ISBAR” (DGS, 2017).

“ISBAR é a sigla que corresponde a: Identify (Identificação), Situation (Situação atual), Background (Antecedentes), Assessment (Avaliação) e Recommendation (Recomendações)”. (DGS, 2017, p.1).

A comunicação e a colaboração entre profissionais desempenham um papel preponderante no bom funcionamento das organizações, são um fator de elevado contributo para a segurança dos doentes. Vários estudos incidem sobre a importância do trabalho de equipa, na eficiência e na redução das complicações cirúrgicas nos BO.

O trabalho em equipa na sala de operações é um componente importante da eficiência da sala de cirurgia, qualidade do atendimento e segurança do doente (Sexton, Helmreich et al., 2006). Trabalho em equipa envolve diferentes profissões da área da saúde que trabalham em conjunto para resolver problemas de saúde complexos. EA, complicações major e até mortes de doentes foram associadas a um mau comportamento da equipa na sala de cirurgia (Nilsson et al., 2018). Por sua vez:

a atividade num bloco operatório é uma prática complexa, interdisciplinar, com forte dependência da atuação individual, exercida no seio de organizações complexas, onde os factores de equipa e os factores de sistema desempenham um papel fundamental, numa constante interacção entre humanos, máquinas e equipamentos. (Fragata, 2011, p.88)

Ainda para Fragata (2011), a determinação de um qualquer resultado médico ou cirúrgico e em função da complexidade da tarefa a realizar (dificuldade técnica, anatómica ou outros fatores de dificuldade), também depende do desemprenho individual, da equipa e da instituição (fatores organizacionais).

Para terminar e, em relação à importância do desempenho das equipas cirúrgicas na segurança dos doentes no BO, deixamos uma citação de Tzu (2017), “não existem mais do que cinco notas musicais, mas as suas combinações dão origem a mais melodias do que as que alguma vez poderemos ouvir” (p.94).

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