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Parte I Enquadramento Teórico

Capítulo 3 A Relação Escola/Família, na educação de crianças com NEE

3.1. Comunicação e Parceria

Como temos vindo a refletir ao longo deste projeto, a ajuda de profissionais como educadores, psicólogos, médicos e outros técnicos é muito importante para as famílias, sobretudo para os pais de crianças com NEE, e deve proporcionar todo o apoio possível. O vínculo afetivo entre pais e filhos deve ser fomentado por estes profissionais, de modo a apoiar e a desenvolver a harmonia que deve existir entre ambos. É muito importante que criança “diferente” se sinta amada, protegida, estimulada e que seja parte integrante da família.

Deste modo, e em concordância com Morejón (2002: 177), pretende-se que a comunicação com os pais seja aberta e que “as famílias deixem de ser consideradas disfuncionais e que passem a ser vistas como colaboradoras potenciais”.

No entanto, é relevante referir que, muitas das vezes, estes pais têm dificuldade em aceitar a realidade, recusando-se a admitir que o filho tem NEE, o que vai criar dificuldades aos profissionais no que diz respeito à orientação que aqueles necessitam.

Neste âmbito, e de acordo com o mesmo autor, explicar aos pais quem somos, ou seja, aclarar qual é o nosso papel e o nosso trabalho no processo, contribui para que estes se sintam mais confortáveis contribuindo, também, para a criação de um clima de confiança e conforto logo desde o início.

A informação explicativa do problema, assim como a linguagem utilizada aquando desse momento, são decisivas para que a comunicação seja promotora do aumento da motivação e da autoestima dos pais.

Figura 3 – Estratégias conducentes à manutenção de uma boa comunicação com os pais

Fonte: Morejón (2002: 195)

Cabe, portanto, aos profissionais (re)pensar diferentes formas de atuar, apoiadas na ideia de que a colaboração e a motivação para aderir a uma terapia é uma construção interpessoal (idem: 179).

Há que ter em conta que existem famílias vulneráveis e outras substancialmente fortes. Não existem duas famílias iguais e, por isso, uma estratégia que resulte com uma não irá necessariamente resultar com outra.

Não obstante, estas cinco estratégias apontadas por Morejón (2002) devem estar na base de qualquer atuação, seja esta por parte de profissionais ligados à saúde, à educação ou serviço social.

No que diz respeito ao âmbito educacional, e uma vez que a criança é o elo de ligação entre escola e família, um dos veículos fundamentais desta relação é a comunicação, pois vai facilitar a interação entre as partes, bem como o desenvolvimento de uma participação cooperativa, tendo em consideração que qualquer alteração num dos sistemas provoca necessariamente alterações no outro.

Como alerta Furini (2009: 108), “a busca de avanço e bem-estar da criança com NEE na escola deve ser um foco de todos”, e para tal é imprescindível que se desenvolva uma forte parceria baseada no bom senso de parte a parte, “para que cada agente da inclusão tenha consciência de sua tarefa, nunca desaprovando as decisões e atitudes do outro”.

Estratégias

Evitar entrar em oposição com a família

Manter a imparcialidade

Devolver-lhes constantemente responsabilidade

Enfatizar os recursos das pessoas

Manter o controlo do processo de comunicação

A comunicação entre ambas as partes vai permitir que se reajustem e ultrapassem problemas, sendo que consideramos que as funções de proteção e apoio no desenvolvimento e crescimento da criança, bem como a função socializadora são da responsabilidade tanto da família como da Escola.

Para que essa comunicação seja frutífera deve ser privilegiado o contacto direto entre pais e professores e/ou outros técnicos, de forma a evitar mal entendidos e falha de informações que muitas vezes colmatam em conflitos. Pois, como refere Relvas (1995b, in Beja, 2009: 61),

“no contexto da relação entre a escola e a família, (…) a comunicação é inúmeras vezes indirecta, o que coloca a criança numa posição de go-between, pois as comunicações efectuam-se através da criança, simultaneamente mensageiro e mensagem, devido à sua condição de dupla pertença”.

Ou seja, a criança ao funcionar “como veículo das interacções e, simultaneamente, como metáfora das interacções específicas que se estabelecem entre os dois sistemas” (Alarcão e Relvas, 1992, in Beja, 2009: 61), e ainda, como definem Martins e Alves (2013: 8), ao funcionar como elemento que “comunica e reflete para cada um dos sistemas o que acontece no outro”, pode levar a que as mensagens percam a sua fidelidade, provocando uma quebra na comunicação tornando-a disfuncional.

A comunicação funcional será, portanto, aquela que garante a colaboração no processo educativo da criança, já que ambas as partes caminham na mesma direção: promover um desenvolvimento global da criança, que seja harmonioso e que seja favorável à sua inclusão educativa e social.

De acordo com Telmo (1995: 94), “os pais têm direito a ser informados sobre tudo o que diz respeito ao seu filho, tal como a pessoa com deficiência o tem, [pelo que] médicos, terapeutas, professores têm que partilhar a informação com os pais, fornecer-lhes competências para lidarem com os filhos e ensiná-los a desenvolver a autonomia e a independência de modo a que se tornem adultos responsáveis e actuantes”.

Não obstante, os pais necessitam de ter formação mas têm também deveres. Tal como referem (Santos, Santos e Oliveira, 2013: 42), os pais devem

“ver a escola como uma oportunidade de crescimento educativo de seus filhos com NEEs. Um lugar onde estas crianças estarão em convívio com outras crianças, uma forma de inserção social. Precisam ter consciência de que a escola escolhida para isso deve ser conhecida pelos mesmos e possuir condições de receber estas crianças”.

Por conseguinte, as escolas devem informar os pais acerca de todos os assuntos que estejam relacionados com os seus filhos, envolvê-los nas tomadas de decisão e capacitá-los para intervirem positivamente no desenvolvimento global das crianças.

Assim sendo, as famílias e principalmente os pais têm de procurar o “diálogo com profissionais da escola, ajuda nas atividades de casa e participação nas atividades promovidas pela instituição”, tendo consciência de que tal atitude será favorável à inclusão dos seus filhos com NEE (idem: 49).

Concluindo, as práticas educativas não podem ser centradas apenas na criança, mas sim, e em concordância com Martins e Alves (2013: 8), estar centradas “principalmente no seu contexto familiar e ambiental, ou por outras palavras no seu contexto ecológico”.

Os profissionais de educação devem, por conseguinte, possuir competências que lhes permitam promover uma comunicação funcional, isto é, uma comunicação caracterizada pela “partilha de informação, responsabilidade, aptidões, tomada de decisões e confiança” (Pugh, 1989, in Correia, 1999: 153).

A grande finalidade de uma comunicação funcional entre pais e professores prende-se com

“a socialização da criança, a sua iniciação na vida em sociedade e a preparação do seu futuro, pelo que é tempo de compreender melhor a relevância das relações entre a escola e as famílias, bem como de desencadear o debate social entre aquelas duas instituições que partilham grande parte do tempo da criança e da sua disponibilidade para aprender” (Diogo, 1998: 59).

Portanto, é urgente uma mudança da postura da escola, bem como uma aposta na comunicação para que a parceria escola-família seja efetiva e promova um verdadeiro envolvimento parental.

Tal importância aumenta quando se trata do processo educativo de crianças com NEE, cuja “realidade não só é complexa como abrangente” (Martins e Alves, 2013: 16), exigindo que todas as decisões sejam tomadas em conjunto, de uma forma dinâmica, responsável e coesa.

Como alerta Furini (2009: 108), “é negativo, para o processo de inclusão, o conflito de poder e de funções entre família e escola”, sendo que “uma boa comunicação propícia um melhor relacionamento entre a escola e as famílias, dado que a chave do envolvimento dos pais reside numa boa comunicação entre eles e com a escola”.

Segundo Martins e Alves (2013: 15), o “envolvimento deve ser mútuo e partilhado, pois exige dedicação, flexibilidade e empenho de ambas as partes”, sendo que cabe ao professor sinalizar “as necessidades educativas especiais e, posteriormente, (…) procura[r] (…) soluções e ajudas adequadas”, dando oportunidade aos pais para participarem ativamente no processo educativo e inclusivo dos seus filhos com NEE.