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Comunicação Professores/Alunos Autistas: estratégias potencializadoras

6. COMUNICAÇÃO ENTRE PROFESSORES/ALUNOS AUTISTAS: REVELAÇÕES DA PESQUISA

6.1. Comunicação Professores/Alunos Autistas: estratégias potencializadoras

A comunicação e a interação professor/aluno é de fundamental importância para as interações e dinâmicas na escola. Assim, quando uma criança/ aluno apresenta dificuldades acentuadas nessas áreas, gera implicações no processo de aprendizagem e dificuldades na prática do professor, que deve buscar estratégias que superem ou minimizem tais dificuldades.

Visando conhecer as estratégias usadas pelas professoras com os alunos autistas na escola regular, indagou-se: “Quais as formas que você utiliza para se comunicar com o aluno autista nas situações do contexto escolar? Poderia falar sobre as estratégias que mais propiciam o alcance dos objetivos propostos?”

Das seis professoras entrevistadas, duas se destacam por utilizar estratégias diferenciadas da linguagem verbal que potencializam a comunicação com o aluno, conforme as falas a seguir:

Converso com ele, e procuro sempre atender o seu desejo que

percebo através do seu olhar e da sua solicitação quando me pega pelo braço e me leva até o objeto que deseja. Noto que

quando não dou atenção, ele fica irritado, bate a cabeça na /;parede ou no chão. Por isso, fico sempre atenta ao que ele quer. Entretanto, como tem outros alunos na sala nem sempre posso ficar com ele. Também escrevo no canto direito do quadro tudo o que vamos fazer no dia e quando ele acaba a tarefa, apagamos (P1, professora da sala regular do aluno A1).

A música tem ajudado bastante. Notei que ele gosta muito e passei a fazer música para tudo que trabalhamos. Ele canta certinho e fica calmo. Trabalhar me comunicando com música foi um passo muito importante para conquistar muitas coisas com ele. Para cada música, eu faço uma ilustração. As placas de comunicação também ajudaram muito a ele entender o que eu solicito. (P5, professora da sala de recursos multifuncional do aluno A1 ).

Os relatos das professoras demonstram preocupação em se comunicar com o aluno autista e utilizam algumas formas de comunicação alternativa. As duas professoras são da mesma escola (Escola Alfa), sendo que uma é da classe regular e a outra faz o atendimento na sala de recursos multifuncionais. É valido destacar que, de acordo com os relatos das professoras e as observações feitas em in loco, essas profissionais conseguiram superar as dificuldades iniciais para desenvolver

um trabalho de forma articulada. Por conta disso, a escola Alfa é a que mais se destaca na busca de caminhos e estratégias que potencializam a comunicação.

No caso de P1, ela utiliza a forma gestual e também o olhar e tais formas geram um aumento das trocas comunicativas entre o aluno e a professora, melhorando a participação do aluno no contexto escolar e também reduz as questões referentes ao comportamento de autoagressão do aluno.

De acordo com Manzini e Deliberato (2006), comunicação não se limita somente à modalidade verbal, à fala, às palavras, mas também a gestos e expressões faciais, contribuindo para o processo de interação.

Também, em consonância com esses autores, Miranda (1999, apud GALVÃO FILHO, 2009, p. 120) esclarece que “pela mediação do outro, revestida de gestos, atos e palavras, a criança vai se apropriando e elaborando as formas de atividade prática e mental consolidadas emergentes de sua cultura”. Assim, a atividade mediadora para a comunicação desenvolvida por P1 é considerada importante, uma vez que ela busca interpretar, a partir das reações do aluno, o que ele deseja, mesmo ele não fazendo uso de uma comunicação oral. Bosa (2002) sinaliza para a importância de se observar como os autistas comunicam seus desejos e necessidades, mesmo que de forma não convencional, isto é, lançando mão de outras ferramentas para serem compreendidos pelas pessoas com as quais convivem.

Quanto à P5, as estratégias utilizadas potencializam a comunicação com o aluno A1, visto que a música é uma das formas de linguagem capaz de comunicar sentimentos e pensamentos, contribuindo para a interação e comunicação social, pois amplia situações de interação dos alunos com dificuldades de comunicação, favorecendo, dessa forma, a aprendizagem acadêmica do aluno autista. Além da música, P5 esclarece que os cartões de comunicação, bem como as ilustrações com a rotina das atividades do dia a dia, fixadas na parede da sala, facilitam a compreensão das atividades, ajudando-o a se organizar melhor.

Dessa forma, percebe-se que as experiências mediadas por P5 (música, ilustrações e placas de comunicação) favorecem a produção de sentidos e o entendimento das solicitações feitas, facilitando a comunicação professor/aluno. É possível inferir que as estratégias de mediação adequadas para o aluno A1

possibilitaram a interação professor/aluno autista, ratificando os pressupostos vygotskyanos (1995) a respeito das pessoas com necessidades educacionais especiais, ressalvando que tais indivíduos são possuídores de diferentes capacidades e potencialidades em emergência, para as quais a mediação do professor é de fundamental importância.

Nesse sentido, é importante que o professor construa caminhos que propiciem ao aluno autista a elaboração de significados. É através da atividade mediada que o sujeito ativo vai construindo seu conhecimento, superando a preocupação de Vygotsky (1987 apud ORRU, 2009, p.94) de que “ uma palavra sem significado é um som vazio; o significado, portanto, é um critério da „palavra‟, seu componente indispensável”. Nesse sentido, enfatiza-se que as estratégias utizadas por P5 favorecem a compreensão/ comunicação do aluno A1.

Além disso, durante as observações das práticas, as professoras P1 e P5 demonstraram preocupação em estabelecer uma rotina com o aluno autista. Ainda sobre a questão das rotinas, a professora P4 também destaca o uso de tal estratégia, ressaltando o pouco tempo de uso dessa estratégia com alunos autistas, conforme o depoimento a seguir:

Tenho utilizado uns combinados feitos na parede com desenhos do software de comunicação alternativa para que ele possa perceber melhor a rotina da sala, mas isso tem pouco tempo que utilizo. (P4, professora da sala de recursos do Aluno A2).

Cabe salientar que tal estratégia é importante, em se tratando de alunos autistas porque, além de favorecer a comunicação, beneficia esses alunos, pois como adverte Moore (2005) a familiaridade e a previsibilidade (rotinas) ajudam a reduzir a ansiedade, evitando também comportamentos estereotipados. Sobre isso, Belissário Júnior e Cunha. (2010) alertam para a necessidade de que o aluno com autismo tem de manter a rotina, por isso, ele deve ser comunicado antes sobre o que acontecerá, de forma simples e objetiva. É importante tornar a antecipação uma rotina e não desistir da expectativa de adesão da criança. Assim, a cada dia, com o contato diário com o ambiente escolar e seus rituais, o cotidiano fica mais previsível e seu comportamento vai sendo modificado, pois ela vai compreendendo a rotina

escolar e, com o passar do tempo, é possível ir dispensando tal antecipação, nas situações que se repetem diariamente.

É oportuno destacar que as estratégias utilizadas pelas professoras citadas são recursos de comunicação alternativa, de baixa tecnologia, baixo custo, de fácil confecção, no entanto, podem ser consideradas de grande eficácia.