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4. EDUCAÇÃO INCLUSIVA E O ALUNO COM AUTISMO

4.1. Educação inclusiva: alguns pressupostos

A Educação Inclusiva vem permeando o debate educacional contemporâneo, no Brasil e no mundo. A premissa básica desse paradigma é que todos os alunos sejam acolhidos nas escolas regulares. Para tanto, é necessário um processo de reestruturação do contexto escolar, bem como mudar essa cultura segregativa, visto que, ao longo da história da educação brasileira, tem predominado o ensino segregativo para as pessoas com necessidades educacionais especiais. Assim, práticas segregacionistas, integracionistas e inclusivistas têm sido uma realidade no cotidiano escolar, embora o discurso inclusivista venha ganhando um amplo espaço no contexto educacional.

No entanto, o processo de inclusão se constitui em um grande desafio, um conjunto complexo de processos de reflexão e ação, envolvendo diversas dimensões. E Denari (2008) destaca as seguintes: a dimensão política educativa; as práticas pedagógicas com sua fundamentação epistemológica; a gestão institucional e a cultura escolar.

Quanto à dimensão político-educativa é imprescindível considerar que a implementação de políticas públicas, principalmente em educação, requer ações consistentes de formação inicial, recrutamento e formação continuada de profissionais especializados, bem como planos de carreira que incentivem a permanência e progressão funcional nas respectivas áreas de atuação, nos diferentes sistemas de ensino.

Para tanto, tem sido desenvolvida toda uma legislação e políticas que precisam ser consolidadas no sistema educativo público governamental, através de parcerias com organizações não-governamentais (ONGs), da ampliação da oferta de vagas, da promoção de relações profissionais entre professores de Educação Especial e professores do ensino regular, da formação continuada desses profissionais, da sensibilização do ministério público em relação à inclusão e dos aportes necessários à sua consolidação e parceria, também, com a família.

significativas no ambiente escolar, algumas transformações na organização escolar, principalmente no tocante às relações de tempo e espaço.

No que se reporta à segunda dimensão, das práticas pedagógicas e sua fundamentação epistemológica, a autora recomenda que para a inclusão escolar ser exitosa, requer esforços que demandam olhares diversos, questionamentos a certos paradigmas relacionados à maneira de conceber a deficiência e entendimento dos processos de ensino e aprendizagem, pois a educação na e para a diversidade implica, antes, uma mudança epistemológica, na qual a visão tradicional do conhecimento, da relação entre sujeito-objeto e a aprendizagem seja (re) considerada, (re) significada.

Nesse sentido, Denari (2008) ressalta que é imprescindível reconhecer que, pedagogicamente, cada aprendente tem uma maneira particular e ativa de aprender, na qual o professor deixa de ser somente o transmissor do conhecimento para se transformar em um mediador, que respeite a heterogeneidade de seus alunos e responda às diversas necessidades educativas.

No que se refere, à terceira dimensão, isto é, à gestão institucional, a escola deve ter certa autonomia para propor e viabilizar seus projetos educativos, entre esses, o da inclusão escolar. E, para isso, é preciso comprometimento por parte dos líderes educacionais (diretores, supervisores, coordenadores pedagógicos) e dos vários segmentos da escola, bem como redesenhar os contextos laborais e de funções, com base em um modelo que permita tomar decisões, elaborar projetos e solucionar problemas conjuntamente, desenvolvendo uma gestão mais participativa, responsável, reflexiva. O enfrentamento do desafio de trabalhar na/para a diversidade implica uma relação de equipe, de conjunto, de completude, de compartilhar experiências, na busca de soluções criativas a problemas comuns e criar laços de apoio, respeito e aprendizagens nas trocas de experiências.

Enfim, a última dimensão, a cultura escolar, que imprime sentido às ações que se realizam no âmbito das diferentes sociedades, inovando e promovendo mudanças de uma cultura de caráter competitivo e individualista, para uma cultura de caráter colaborativo.

É importante destacar que, em uma escola que pretende ser inclusiva, é primordial que exista uma cultura que valorize a diversidade e a considere uma

oportunidade para propor mudanças e reformas, a começar pelo projeto político- pedagógico, das práticas pedagógicas adotadas, valorizando as diferenças individuais, considerando-as não como um problema mas como algo que enriquece a vida humana.

Mesmo diante da complexidade explicitada, anteriormente, nas últimas décadas, têm se registrado mudanças significativas nas políticas públicas educacionais brasileiras e a educação especial, antes configurada como sistema paralelo de ensino, começa a ser reestruturada, passando a se constituir em um serviço de apoio à educação inclusiva, embora tais mudanças venham ocorrendo a passos lentos.

Busca-se, nesse capítulo, analisar como vem se configurando o discurso pró- inclusão, principalmente, a partir da década de 90, quando esse discurso se intensifica, tanto no contexto internacional como nacional. Porém, para se compreender melhor os movimentos pela inclusão educacional, faz-se necessário analisar, ainda que de forma sucinta, o fato de que o Brasil é um país historicamente excludente, com muitos mecanismos de manutenção de uma ordem perversa, que acentuam as desigualdades no processo de mercantilização das coisas e da concentração de riquezas. (SAWAIA, 2001). Essa exclusão tem se acentuado com as políticas neoliberais, com a globalização, com a concentração de capital e com a polarização dos interesses de classe.

Santos (2001, p. 171) também alerta que, a abrangência da exclusão social tem tomado enormes proporções, o que a torna algo “disfuncional” ao sistema, assinalando que,“no discurso das classes dominantes, os próprios indivíduos são culpabilizados pela sua exclusão do sistema, e as sociedades periféricas são consideradas as principais responsáveis pela sua situação de “atraso”.”

É oportuno destacar que as políticas sociais implantadas não conseguiram, ao longo do tempo, assegurar a todos, os direitos sociais básicos como saúde, educação, dentre outros. Lunardi (2001) destaca que a problemática da inclusão/exclusão vem atingindo a todos de diversas formas, ou seja, todos podem ser excluídos de alguma situação e incluídos em outra e isto significa que não é algo experienciado somente por grupos culturalmente diferentes ou por grupos rotulados como deficientes.

Existem processos geradores de velhas e de novas formas de exclusão social, possibilitando constatar distintas e simultâneas manifestações da pobreza, do analfabetismo, da distribuição de renda, do desemprego, entre outros indicadores sociais e econômicos (POCHMANN, et al., 2004). Sendo assim, a questão da inclusão das pessoas com deficiência tem sua situação agravada mediante outros indicadores sociais desfavoráveis, que fazem parte da realidade brasileira.

Porém, embora haja uma diversidade de pessoas que não gozam do estatuto de pleno direito e que se reconheça as condições adversas presentes em uma sociedade capitalista, faz-se necessário compreender que em uma perspectiva dialética há, nos fenômenos, possibilidade de contra-hegemonia. Nesse sentido, Behring e Boschetti ( 2007, p.195) esclarecem que

o reconhecimento desses limites não invalida a luta pelo reconhecimento e afirmação dos direitos nos marcos do capitalismo, mas sinaliza que a sua conquista integra uma agenda estratégica de luta democrática e popular, visando à construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Essa conquista no âmbito do capitalismo não pode ser vista como um fim, como um projeto em si, mas como via de ingresso, de entrada ou de transição para um padrão de civilidade que começa pelo reconhecimento e garantia de direitos no capitalismo, mas que não se esgota nele.

Nessa linha de pensamento, é que se entende que a conquista desses direitos sociais depende do enfrentamento da questão, que perpassa, necessariamente, pelo direito à educação. Por isso, contemporaneamente, o tema da inclusão educacional entra na ordem do discurso e vem sendo disseminado e reiterado. Educação e inclusão se constituem em redes micropolíticas, em fluxos e devires inscritos em regimes de verdade e relações de forças, dentro dos quais se vive e se debate, mas cujos dispositivos se modificam e se atravessam em novos contornos e profundidades que, continuamente, desafia o sujeito a olhar, pensar e agir (EIZIRIK, 2009).

É oportuno destacar que a igualdade de direitos não implica em igualar todos, visto que “incluir não é nivelar nem uniformizar o discurso e a prática, mas exatamente o contrário: as diferenças, em vez de inibidas, são valorizadas” (SANTOS; PAULINO, 2006, p.12).

cenário mundial e nacional e é entendido, por muitos estudiosos, como parte de um movimento maior de inclusão social, visando à construção de uma sociedade democrática, a exemplo da afirmação de Mendes (2002, p. 61), que o vê como um “[...] movimento de resistência contra a exclusão social, que, historicamente, vem afetando grupos minoritários que visam à conquista do exercício do direito ao acesso a recursos e serviços da sociedade”, complementando que, através da universalização do acesso, da qualidade de ensino, oportuniza-se a preparação profissional.

Sobre o processo de inclusão, a autora ainda destaca que,

ao mesmo tempo em que o ideal de inclusão se populariza, e se torna pauta de discussão obrigatória para todos os interessados nos direitos dos alunos com necessidades educacionais especiais, surgem as controvérsias, menos sobre seus princípios e mais sobre as formas de efetivá-la”. (MENDES, 2001, p. 21).

Dessa forma, pensar a inclusão escolar é pensar em uma escola que atende a todos, que se prepare em função das novas demandas da sociedade e das exigências de seus alunos, independentemente de suas particularidades e dificuldades.

Para tanto, a escola precisa questionar suas concepções, valores e práticas. A inclusão escolar prevê intervenções decisivas, tanto no processo de desenvolvimento do sujeito, quanto no processo de reajuste da realidade social. Assim, como adverte Aranha ( 2001, p. 23),

além de se investir no processo de desenvolvimento do indivíduo, busca-se a criação imediata de condições que garantam o acesso e a participação da pessoa na vida comunitária, por meio de suportes físicos, psicológicos, sociais e instrumentais.

A escola, para a efetivação deste processo, tem que se preparar para isso, preparando os diversos segmentos da escola, bem como assegurar a acessibilidade ao currículo, ao ambiente escolar, dentre outras. Como destaca Souza e Prieto (2002), o que é “especial” na educação, são as condições requeridas por alguns alunos que demandam, em seu processo de aprendizagem, níveis de ajuda, serviços e equipamentos não comuns à organização escolar, bem como, a

eliminação de barreiras arquitetônicas e atitudinais.

As barreiras atitudinais são as mais difíceis de serem vencidas e para se entender as razões de tantos preconceitos e discriminações, frente aos alunos que não se enquadram no modelo de aluno padrão, faz-se necessário buscar as raízes geradoras de tais atitudes e, para tanto, é preciso que se faça uma retrospectiva da trajetória educacional dessas pessoas.