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3.2 A CORRENTE DA COGNIÇÃO SITUADA

3.2.2 Comunidade de prática e aprendizagem online

As comunidades de prática na sua maioria são informais e sem uma estrutura organizacional. Elas se formam por acaso, quando as pes- soas procuram por seus pares para trocar aconselhamentos sobre um assunto. Pode ser um colega de trabalho, alguém que se conheceu em um ambiente acadêmico ou lazer. Assim, se formam rede de relações espontâneas e por isso comunidades estão em todos os lugares, sem data para começar ou terminar.

Conforme idealizadas por Wenger (1998), as comunidades de prática têm base na aprendizagem sociamente situada e são operaciona-

lizadas sobre a reflexão das aprendizagens que emergem das práticas de seus membros (BLACKMORE, 2010, WENGER, 1998).

Inicialmente a maior parte dos estudos e livros sobre comunidade de prática se identificaram com tradições acadêmicas de gestão do co- nhecimento e aprendizagem organizacional. Mas atualmente elas fazem parte de qualquer área: ciências de informações, serviços de computa- dor, saúde, psicologia social e educação (BLACKMORE, 2010).

As comunidades que emergem naturalmente são diferentes da- quelas institucionalizadas nas escolas e organizações. Aprender é parte da natureza humana, mas grande parte dos alunos sentem aborrecimento e apatia ao frequentar uma sala de aula. Funcionários não gostam de se sentirem obrigados a participar por imposição. Deste ponto de vista, as salas de aula deveriam refletir o contexto da nossa participação natural no mundo (ABRAHÃO, 2008).

Epistemologicamente Wenger parte de quatro premissas:

1.Somos seres sociais. Este fato, longe de ser uma verdade comum, é um aspecto essencial da apren- dizagem.

2.O conhecimento é uma questão de competência em relação a certas atividades valorizadas como, por exemplo, aprender papéis sociais, descobrir fatos científicos, escrever poesia ou arrumar má- quinas....

3.Conhecer é uma questão de participar no desen- volvimento destas empresas ou atividades e, especialmente, de comprometer-se de uma manei- ra ativa com o mundo.

4.O significado, nossa capacidade de experimentar o mundo e nosso compromisso com ele como algo

significativo — são em última instância o que de- ve produzir a aprendizagem (ABRAHÃO, 2008, p. 27).

A participação social do aluno ou de um funcionário é fator rele- vante para a aprendizagem, mas essa participação tem um sentido especial na teoria de Wenger: consiste em participação ativa nas práticas das comunidades sociais e em construir identidades em relação a estas comunidades.

São os seguintes os componentes básicos da aprendizagem em comunidades de prática:

 Significado: uma maneira de falar de nossa ca- pacidade mutável no plano individual e coletivo — de experimentar nossa vida e o mundo como algo significativo.

 Prática: uma maneira de falar dos recursos histó- ricos e sociais, dos quadros de referência e das perspectivas compartilhadas que podem susten- tar o compromisso na ação.

 Comunidade: uma maneira de falar das configu- rações sociais, em que a continuidade das nossas atividades se define como valiosa e nossa parti- cipação é reconhecida como competente.  Identidade: uma maneira de falar de mudanças,

que a aprendizagem produz em quem somos e como criamos histórias pessoais e o que está por vir no contexto de nossas comunidades (ABRAHÃO, 2008, p. 27).

As escolas precisam encontrar os caminhos para incentivar o en- gajamento de seus alunos e as organizações de como envolver seus funcionários nas comunidades de prática. É comprovado que o volunta- riado dos membros é o melhor caminho. Destaca-se que a comunidade não reflete a hierarquia organizacional da empresa. A comunidade de prática deve ser auto-orientada e só floresce, quando há interesse de compartilhamento por parte dos voluntários (BLACKMORE, 2010).

A Web oferece a vantagem de colocar as pessoas em comunica- ção, facilitando a transmissão de informações. No momento, o conceito principal da Web é a participação nas redes sociais (p. ex.: Facebook,

Linkedin, Mendeley). São muitas as ferramentas disponíveis que facili-

tam o surgimento das comunidades de prática na internet. Blogs,

Há uma tendência nos cursos de graduação para que implantem programas envolvendo comunidades de prática. Neste sentido, podem ser usados modelos híbridos de aprendizagem presencial e online. É possível usar vários tipos de aplicações para Web, que sejam orientadas para comunidades, de modo a que estas ferramentas possam apoiar à in- teração e o acesso às redes de conhecimento (BLACKMORE, 2010).

Enquanto Lave e Wenger se voltaram para a Aprendizagem Situ- ada, Suchman para a Ação Situada e Hutchins para a Cognição Distribuída. Estes dois últimos muito contribuíram para a IHC. Nilsson e Johansson (2006), p. ex.: ressalta que os estudos realizados por Such- man e Hutchins inseriram o contexto no qual a cognição se realiza como fator importante:

O ser humano não é uma criatura isolada, mas é sempre uma parte de um ambiente, e a interação entre o ser humano, o ambiente e os artefatos que ele/ela esta usando é igualmente importante para a experiência da usabilidade. O ser humano é, por- tanto, parte de um sistema em que a cognição não está isolada na mente, mas se realiza em todas as partes do sistema. (NILSSON; JOHANSSON, 2006, p.1, tradução da autora).

Lucy Suchman é Professora de Antropologia de Ciência e Tecno- logia no Departamento de Sociologia na Universidade Lancaster. Trabalhou vinte anos como pesquisadora no Centro de Pesquisa da Xe- rox (PARC). A sua pesquisa concentrou-se nas práticas sociais e materiais que compõem os sistemas técnicos.

Em 1987, foi publicado o seu livro "Planos e Ação Situada, o problema da comunicação homem-máquina". O livro tinha o objetivo de contribuir para as pesquisas sobre máquinas inteligentes. Contudo, esse trabalho foi inspirador para a comunidade de IHC. O ponto alto das suas ideias defendidas no livro é que a ação humana não é primariamente ra- cional, nem planejada, muito menos controlada, mas sim, socialmente situada e se manifesta conforme o ambiente físico e social. Esta forma de pensamento se contrapõe a ideia da cognição se realizar puramente por processos internos. Suchman ressaltou que a interação entre huma- nos é complexa e muito diferente da interação humano-computador. Os fundamentos teóricos da autora baseiam-se na etnometodologia. Sua pesquisa teve em sua maior parte, base na análise de dados empíricos (SUCHMAN, 2007).

Tendo muito em comum com a Ação Situada, Hutchins argumen- tou por uma cognição distribuída descrevendo como os artefatos apoiam as tarefas de uma equipe. Ele observou como os artefatos foram usados pela tripulação de um barco da marinha mercante e como apoiaram o trabalho. Hutchins inferiu que os instrumentos continham informações que eram distribuídas a tripulação. Ou seja, para Hutchins a cognição está distribuída nas pessoas e nas coisas — construídas ou naturais (BISANTZ; OCKERMAN, 2003, HUTCHINS, 2012).

Hutchins é professor do Department of Cognitive Science - Uni-

versity of California at San Diego atualmente.

3.3 TEORIA DA COGNIÇÃO SITUADA E COMPATIBILIDADE