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A cognição humana pode ser caracterizada pelo tratamento e produção de conhecimento de natu- reza simbólica, na forma de representações mentais produzidas pelas pessoas, a partir de suas experiências com a realidade. Os seres humanos usam essas representações da realidade para tomar decisões, planejar e atuar sobre essa realidade. Em sua natureza simbólica, os conhecimentos assu- mem na mente das pessoas, formas análogas aos estímulos a que estão associados, principalmente visuais e verbais (CYBIS; BETIOL; FAUST, 2007, p. 296).

Para Konar e Jain (2005) é aconselhável que no desenvolvimento de um sistema, se leve em consideração os modelos cognitivos, princi- palmente aqueles que já estejam bem estabelecidos. As ciências cognitivas, ergonomia cognitiva e engenharia cognitiva, ao estudarem os modelos mentais, estabeleceram vários tipos e o uso de modelo mental pode favorecer a estruturação dos conhecimentos pelo usuário, a respei- to dos comandos e dos procedimentos corretos para operar um sistema (CYBIS; BETIOL; FAUST, 2007). “Conforme a natureza do conheci- mento estocado, os modelos mentais constituirão redes semânticas, esquemas de procedimentos e modelos estruturais” (CYBIS; BETIOL; FAUST, 2007, p. 297).

Visto que os modelos mentais são uma responsabilidade da IHC, buscou-se compreender como a TCS lidou com esta questão. Preece, Roger e Sharp (2005) apresentam o modelo da Cognição Distribuída de Hutchins, que pode ser considerada quando se trata de entender o co- nhecimento distribuído através dos diversos artefatos e do ambiente onde ocorre o processo cognitivo. Uma alternativa, que se aproxima da Cognição Situada e surgiu da Engenharia Cognitiva traz o conceito de

Joint cognitive system (HOLLNAGEL, 2002):

Later, Hollnagel e Woods [16] introduziram a no- ção de “joint cognitive system”, um sistema humano-tecnologia, que visa atingir uma determi- nada tarefa, em certo contexto. Várias outras teorias cognitivas, tais como: cognição situada [34], cognição distribuída [18] e a teoria da ativi- dade [ 39, 8] defendem perspectivas semelhantes (NILSSON; JOHANSSON; JÖNSSON, 2010, p. 37-38, tradução da autora).

O que há de comum entre estas abordagens é que aplicam méto- dos qualitativos e etnografia, bem como a ideia de que o comportamento do sujeito pode ser obtido em termo de modelo de comportamento. Uma estrutura básica da Engenharia de Sistemas Cognitivos é a intera- ção cíclica entre o sistema cognitivo e seu ambiente, o que se dá da seguinte maneira: (NILSSON; JOHANSSON; JÖNSSON, 2010)

Cada ação realizada é executada para cumprir um propósito, embora nem sempre a ação se baseie em uma decisão ideal ou racional. Por outro lado, a habilidade de controlar uma situação, em grande parte, se apoia na competência do sistema cogniti-

vo (um conjunto de desempenho), nas informa- ções disponíveis sobre o que está acontecendo e no tempo que leva para processar a informação (NILSSON; JOHANSSON; JÖNSSON, 2010, p. 38, tradução da autora).

A Figura 3.4 demonstra como ocorre o processo cíclico e a troca entre o sistema cognitivo e seu ambiente.

Figura 3.4: Modelo cíclico como descrito na Engenharia de Sistema Cognitivo. Fonte: (NILSSON; JOHANSSON; JÖNSSON, 2010).

Contudo, em sua origem, a TCS não se apoia em um modelo mental. Suchman (2007) explica que os modelos mentais são modelos pré-concebidos, são modelos abstratos de usuário, que nem sempre re- presentam, realmente, como o usuário vai operar o sistema. Por esse motivo ela não aconselha que sejam usados. Conforme a autora o design de máquinas interativas pode ser bem projetado, se os designers procu- rarem observar as operações dos usuários em vez de tentarem antecipá- las e determiná-las. Os designers limitarão as interações das pessoas com a máquina e com o ambiente, caso forcem as ações dos usuários o que pode resultar em uma experiência ruim para o usuário.

Desta perspectiva, a melhor postura para o designer é observar o comportamento das pessoas e como elas utilizam a tecnologia, conside- rando os detalhes reais da prática de trabalho. O que ela Suchman (2007) quer dizer, não é que se abandonem o planejamento das ações, pois em resposta a dois autores39 ela responde que não é essa a sua ideia, bem ao contrário, ela quer fazer dos planos um objeto de investigação. Para Suchman (2007), as ações se sucedem de acordo com as contingên- cias que vão se apresentando e não há como moldar o comportamento das pessoas antecipadamente. A investigação é que deve levar a um pla- no das ações.

Aproveitei a oportunidade de responder ao seu ar- tigo para reafirmar que a agenda principal de minha escrita sobre o tema não era de abandonar os planos como fenômenos de interesse, mas, pelo contrário, recuperá-los como objetos de investiga- ção. Minha preocupação era que, por muito tempo os planos foram entendidos como determinantes das ações projetadas, uma teoria de planos se tor- nou não só necessária, mas também, entendida como suficiente para dar conta da atividade hu- mana. É preciso se preocupar com os casos em que por uma razão ou outra uma ação planejada não possa ser executada, mas o pressuposto fun- damental era que uma vez que se conhecia o plano, a ação simplesmente o seguia (Suchman, 2007, p. 17, tradução da autora).

De qualquer maneira, qualquer “coisa” que se construa corres- ponderá a algum modelo mental, mas esse modelo mental será modificado na medida em que as ações vão acontecendo e o ambiente se modificando. É dinâmico e cíclico, pois as contingências, o entorno, o ambiente são percebidos novamente (ou reciclados?) pelo indivíduo e tudo se inicia novamente. Suchman (2007) ressalta que esta “composi- ção” se constituiu na história e é sociocultural. Depreendendo os planos a partir das investigações, em vez de modeladores das ações, Suchman (2007) sugere a etnometodologia como contribuição para entender a re- lação homem-máquina.

3.5 CONCLUSÃO DO CAPÍTULO

Apresentou-se neste capítulo a história da Ciência Cognitiva e seus desdobramentos, passando pelo cognitivismo e chegando às novas proposições das teorias que formaram à corrente situada. Em seguida se apresentou os principais autores que contribuíram para a TCS.

Entendeu-se que na linha do pensamento situado a mente não po- de ser estudada e modelada apenas pelos processos internos (do ponto de vista da metáfora com os computadores), pois o homem atua no mundo modificando-o como ser produtivo. No convívio com o que pro- duz (p. ex.: cultura material), ele modifica a si mesmo em ciclo contínuo entre o que é interno e externo a si.

Neste sentido, cada objeto produzido no mundo é a expressão da cognição-ação, operando em um dado contexto, ou seja, todo objeto produzido é situado. O que permite dizer que os objetos da cultura mate- rial carregam em si esses três elementos, cognição-ação-situação e se espalham pelo mundo distribuindo conhecimento, em um processo con- tínuo de aprendizagem coletiva.

De forma fundamentada, se colocou em evidência a convergência entre a TCS e os principais conceitos, que compõem este trabalho. Ar- gumentou-se em favor da TCS como teoria de base para o desenvolvimento de diretrizes de design de interação para RA em con- texto de aprendizagem colaborativa online. Também foi importante compreender como a TCS lidou com os modelos mentais, pois no en- tendimento de Suchman (2007), a avaliação do comportamento do usuário, a partir da observação, é que deve levar a um plano das ações do usuário. Desta forma, entende-se que o pressuposto apresentado no início deste trabalho teve suas razões devidamente justificadas.

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este capítulo apresenta o estudo de caso etnográfico, que abran- ge: planejar e desenvolver o protótipo de um OA em RA, testar, analisar e dar manutenção ao processo e finalmente desenvolver as diretrizes que foram declaradas como objetivo geral, ou seja: “desenvolver diretrizes para o design de interação da RA sob a abordagem da Cognição Situada, considerando a sua aplicação específica na aprendizagem colaborativa

online”.