3. Enquadramento Teórico
3.4. Conceção e gestão da formação
Atualmente, é cada vez mais recorrente incluir a formação nos discursos oficiais e do quotidiano. C. Estevão considera que “para se ser competitiva numa economia liberalizada, desregulamentada e privatizada, em vias de mundialização, qualquer organização é obrigada a prosseguir não só com uma estratégia de redução dos custos de produção e de aumento de qualidade e de variedade dos produtos e serviços, mas encarar também os recursos humanos como o recurso mais valioso e verdadeiramente estratégico” (2001:187). Assim, o autor destaca a formação, essencialmente, a partir da década de 80 como um “tema dominante do discurso gerencial e é vista como um verdadeiro investimento, instituindo-se como uma filosofia de gestão, visando o êxito da organização por um processo contínuo de aprendizagem” (ibidem). A formação é assim encarada pelo autor como uma mais valia para a organização e como impulsionador da competitividade por via da aprendizagem contínua.
Neste sentido, importa clarificar o conceito de formação, J. Gomes et al descreve-o, num sentido mais amplo, como “o processo, seja ele formal ou informal, planeado ou não, através do qual as pessoas aprendem novos conhecimentos, capacidades, atitudes e comportamentos relevantes para a realização do seu trabalho” (2012:382). Assim, ainda na visão dos autores, a formação destina-se a desenvolver três áreas do saber:
“1. SABER SABER – permite adquirir e melhorar conhecimentos gerais e específicos,
necessários ao exercício da função, e capacidades cognitivas (conhecimento, memória, compreensão, análise/avaliação).
2. SABER FAZER – permite adquirir e melhorar capacidades motoras e outras
capacidades e competências para realizar o trabalho, ou seja, instrumentos, métodos e técnicas necessários para o bom desempenho.
3. SABER SER E ESTAR– permite adquirir e melhorar atitudes, comportamentos e modos
de estar adequados à função e às necessidades da organização (e.g., boas competências de comunicação interpessoal; empenhamento na organização; capacidade de relacionamento com os clientes; capacidade de gerir o conflito; desenvolvimento do «amor à camisola»)” (ibidem:383).
Gomes et al apresentam ainda quatro áreas de intervenção da formação:
“1. TRANSMISSÃO DE INFORMAÇÕES – assegura a transmissão de conteúdos sobre a
organização, os clientes ou os produtos.
2. MUDANÇA DE ATITUDES FACE AO TRABALHO – permite o ajustamento atitudinal e ce
comportamental dos indivíduos à estratégia da organização, ajuda-os a melhorarem as relações interpessoais e promove-lhes a capacidade de auto-análise para consequente desenvolvimento pessoal.
3. DESENVOLVIMENTO DE CAPACIDADES DE TRABALHO – permite melhorar capacidades
directamente relacionadas com a execução da tarefa.
4. DESENVOLVIMENTO DE CONCEITOS– permite desenvolver domínios mais abstractos,
como o pensamento estratégico global, sendo especialmente importante para os gestores" (ibidem).
Deste modo, é necessária uma gestão deste processo, assim A. Meignant refere que a gestão consiste em “analisar, tomar ou fazer tomar decisões por todos os actores envolvidos em função da melhor relação custo/benefício e dos recursos disponíveis externos e internos, pôr em prática essas decisões, controlar os resultados e regular a evolução, e tudo isto para contribuir para a finalidade da função Pessoal” (1999:34).
Posto isto, “a formação, como processo, pode ser desdobrada em várias fases, genericamente, designadas por ciclo de formação” (Gomes et al, 2012:407). Neste sentido, os autores identificam quatro fases necessários ao planeamento de uma ação de formação:
‐ Identificação ou diagnóstico de necessidades; ‐ Programação;
‐ Execução; ‐ Avaliação.
Assim sendo, como forma de orientar o planeamento de uma ação de formação, é necessário, num primeiro momento, realizar um levantamento de necessidades. A. Meignant entende que “a necessidade de formação é a resultante de um processo que associa os diferentes actores interessados e traduz um acordo entre eles sobre os efeitos a suprir por meio da formação” (1999:109). Nesta fase são ainda construídos os objetivos, ajustados às necessidades identificadas no levantamento de necessidades, com vista à construção de uma intervenção ajustada ao perfil desejado tendo em conta o perfil e expectativas dos formandos. Correia et al distingue a análise de necessidades de formação e análise de necessidades em formação. Assim, a análise de necessidades de formação é entendida como “uma operação prévia e imprescindível à determinação de objectivos de formação, em torno dos quais seria possível estruturar programas
de formação preocupados em produzir indivíduos mais qualificados e mais adaptados às exigências técnicas do exercício do seu trabalho” (1999:11). Por outro lado, a análise de necessidades em formação privilegia lógicas menos formalizadas, susceptíveis de restituir as subjectividades dos sujeitos em formação, a expressão dos seus desejos: a análise de necessidades em formação é um trabalho pedagógico de animação” (ibidem:13).
Após realizado o levantamento de necessidades é o momento do planeamento da ação de formação. Nesta fase torna-se importante dar resposta a uma série de questões que se impõe. Gomes et al entendem que “as principais indagações na mente do arquitecto da formação deverão ser as seguintes:
‐ PARA QUÊ FORMAR: quais os objectivos ou resultados esperados?
‐ QUEM DEVE SER FORMADO: a quem se deve dirigir a formação?
‐ QUEM VAI FORMAR: quem será o formador?
‐ EM QUE FORMAR: qual o conteúdo da formação?
‐ ONDE FORMAR: local, órgão, entidade?
‐ COMO FORMAR: quais os métodos de formação?
‐ QUE RECURSOS: quais os recursos necessários?
‐ QUANDO FORMAR: qual a época e horário da formação?
‐ QUANTO VAI CUSTAR?”(2012:414).
Esta é uma fase crucial de todo o processo, uma vez que constitui o momento em que a estrutura da ação de formação começa a ganhar forma e, nesse sentido, é importante fazer um planeamento o mais rigoroso possível. Ainda assim, Gomes et al (2012:414) alertam para o facto de “embora, o planeamento seja crucial para o sucesso da formação, existe uma parcela de improvisação e adaptação inerente à interação entre formandos e formadores/tutores”. Neste sentido, “cabe aos formadores estarem preparados para adaptar o programa de formação de acordo com a dinâmica gerada durante a acção” (ibidem). Posto isto, é nesta fase que se procede à mobilização dos recursos necessários para a realização da ação de formação (humanos, logísticos, físicos, entre outros…) bem como à caraterização do perfil de competências dos intervenientes. No entanto, ainda que o plano da ação de formação esteja bem estruturado este poderá sofrer alterações e ser adaptado durante a sua execução uma vez que poderá haver necessidade de se proceder a reajustes no plano, de acordo com a recetividade e feedback dos formandos.
Numa terceira fase passar-se-á à realização da ação de formação, ou seja, será o momento de concretizar o que foi planeado na fase anterior, a título de exemplo, planear dedicar uma sessão à discussão do conceito de Avaliação de Desempenho e promover a discussão em torno das vantagens e desvantagens deste processo. Os possíveis ajustes, correções e/ou resolução de imprevistos serão colocadas aqui em prática.
A quarta fase do ciclo formativo diz respeito à avaliação. Ainda que se apresente na última fase do ciclo formativo, na verdade, ela está presente em todas as fases do processo, estas serão fundamentadas no ponto seguinte.