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Considerações finais

Fazendo o balanço global deste trabalho consideramos que o mesmo é enriquecedor dado que representou uma oportunidade para um grupo de trabalhadores da SCMA de terem voz e darem o seu contributo para a conceção de uma prática de GRH tão importante como a AD; para a instituição, uma vez que conheceu as representações dos seus trabalhadores; e para nós enquanto investigadoras, profissionais de formação e até mesmo enquanto pessoas.

Os resultados obtidos através da ação de formação implementada permitiram desmistificar determinados pré-conceitos que poderíamos ter antes da formação. Assim, os trabalhadores mostram-se muito recetivos, curiosos e expectantes face à implementação da AD na instituição. Ao longo do ação de formação tentamos explorar e refletir sobre as perceções de cada trabalhador face à AD e parte dos receios dizem respeito à formação e imparcialidade dos avaliadores. No desenvolvimento desta formação, destacamos algumas propostas e sugestões para o processo de implementação da AD: os trabalhadores referem que os avaliadores deveriam frequentar formação de modo a que os próprios estivessem melhor preparados para iniciar o processo, de modo a não criar desigualdades na implementação da AD. Sugerem ainda que a avaliação seja feita por profissionais que desenvolvam o seu trabalho diário próximo do trabalhador que vai avaliar, a título de exemplo, uma educadora avaliar a sua ajudante da ação educativa. Esta sugestão surge pelo receio que sentem em relação a eventuais injustiças que possam surgir, uma vez que o avaliador pode não conhecer o trabalho diário do avaliado. No final da ação, parte dos intervenientes sentem ainda alguns receios e necessidade de frequentarem mais formação acerca do tema de modo aprofundar e conhecer melhor o sistema de AD. Ainda assim demostram interesse em fazer parte do processo e expectantes quanto ao seu arranque. Ainda que o sistema de AD seja um processo complexo, ao longo desta ação de formação, consideramos que os trabalhadores estão interessados em colaborar com vista à melhoria dos serviços e pelo feedback em relação ao desempenho de cada um. No que respeita ao feedback das suas práticas por parte da instituição, os trabalhadores vem-no como um fator primordial na motivação e para a melhoria das suas práticas no desenvolvimento do seu trabalho. J. Rocha (1997:129) refere que “a generalidade das empresas em Portugal usa processos de avaliação, sem qualquer participação dos avaliados”, o que na visão do autor pode trazer consequências negativas uma vez que pode surtir efeitos contraditórios aqueles que espera com a AD. Assim, o autor reforça a ideia que “a questão básica em qualquer processo de avaliação é a seguinte: os empregados devem conhecer o que é

colaboração junto da SCMA foi exatamente concretizar o enunciado pelo autor, sendo que não é possível perspetivarmos uma democracia e cidadania organizacional sem que haja esclarecimento entre as partes. Deste modo, denota-se por parte dos formandos importância ao processo de AD, mas, preocupam-se essencialmente, com a conceção de processos claros e esclarecedores para que os atores possam participar nesses mesmos processos. Como recomendação geral em relação à Instituição os dados da nossa intervenção permitem-nos reafirmar a prossecução da proposta já existente desenvolvida pelo SRHFAP da SCMA, dado que os trabalhadores estão realmente expectantes e interessados em serem avaliados legitimamente. Os resultados do inquérito de avaliação demonstram que os trabalhadores ficaram satisfeitos com a oportunidade de se fazerem ouvir pela Instituição e que, de certa forma, se sentem valorizados por isso. Todavia, denotamos alguma necessidade da parte dos trabalhadores de aprofundarem melhor a problemática, tendo por base os instrumentos de AD construídos pela instituição. I. Chiavenato (1992:197) adverte que “a avaliação de desempenho não é um fim em si mesma, mas uma ferramenta, um meio para melhorar os resultados do desempenho e proporcionar condições e oportunidades de crescimento profissional e de participação pessoal”.

Consideramos que este projeto constitui um mote importante de aprendizagens para todos os intervenientes tendo por base a lógica da participação, da democracia e cidadania organizacional. Estas aprendizagens não seriam possíveis sem a colaboração da instituição e dos trabalhadores, que fizeram, sobremaneira, deste trabalho um processo colaborativo.

Um outro aspeto importante refere-se ao facto de as sessões terem sido, todas elas, orientadas de acordo com a recetividade dos trabalhadores, daí o importante contributo da exploração dos modelos pedagógicos de educação de adultos. Parafraseando M. Lesne (1984:105) “a ação dos formadores exerce-se, de preferência, sobre as motivações das pessoas em formação, motivações naturais, que podem depois engendrar a motivação para a formação em si”. Esta ideia consubstancia-se naquela que orientou toda a nossa intervenção ao longo de toda a ação de formação, uma vez que privilegiamos metodologias que incluíssem a partilha de ideias e discussão entre pares, de modo a que cada um tivesse a oportunidade de se exprimir e de ser ouvido.

Do ponto de vista pessoal este foi um trabalho que nos permitiu desenvolver uma função propedêutica da atividade de formadoras, uma vez que esta constituiu a nossa primeira experiência como formadoras e, portanto, desenvolvemos o autoconceito, conhecemos

procedimentos importantes na conceção e implementação da formação e de políticas e práticas de GRH como a análise de funções e a AD. Este foi também um trabalho extremamente enriquecedor uma vez que nos possibilitou conhecer representações e atitudes diferentes face a um mesmo assunto.

Ao nível dos contributos para a instituição, pensamos que este é um contributo importante uma vez que possibilitou conhecer as representações dos trabalhadores acerca da AD e das suas práticas profissionais. Esta intervenção contribuirá, certamente, para a construção de instrumentos de AD mais democráticos e consensuais, tendo por base os interesses da instituição e dos trabalhadores. Este trabalho contribuiu, sobremaneira, para o reforço da confiança dos trabalhadores na instituição uma vez que reconheceram valor à iniciativa da instituição em dar oportunidade aos seus trabalhadores de serem ouvidos.

No que ao nível educativo e/ou diz respeito, este também representou um enriquecimento ao nível dos saberes da área de formação, pelo que foi importante mobilizar competências, aprendizagens e conceitos que advieram da nossa área de especialização. Consideramos ter aprendido mais do que imaginamos conseguir aprender, uma vez que lidamos com grupos distintos, com personalidades distintas e a certa altura foi necessário o recurso a estratégias de gestão de conflito que são recorrentes na nossa área de formação de forma a mediar e orientar as sessões.

De um modo geral, consideramos este trabalho como uma oportunidade importante e profícua para todos os intervenientes, pelo que o balanço é muito positivo. Apesar de todas as dificuldades, o resultado é compensador e enriquecedor quer ao nível pessoal, profissional, institucional e educativo.