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CAPÍTULO 3: CARACTERÍSTICAS DA BACIA DO RIO ITABAPOANA

3.1 Conceito de bacia hidrográfica

Um dos pontos primordiais na gestão dos recursos hídricos é o domínio das águas, que envolve a articulação entre a União, os estados e os detentores das águas28 na bacia (municípios, usuários e sociedade civil). A Lei nº 9.433/97 tem como objetivo o estabelecimento de acordos entre todos os envolvidos nessa questão, fato completamente novo no Brasil. Sendo assim, considera bacia hidrográfica unidade de planejamento e gestão, e prevê que a formação do comitê de bacia hidrográfica deve partir da sociedade civil organizada, de suas lideranças, de associações intermunicipais e do poder público.

Recurso hídrico pode ser definido como água com valor econômico. Nem o Código de Águas, nem a Lei nº 9.433/97, estabeleceram as diferenças entre “águas” e “recursos hídricos”. Da mesma forma que o petróleo, a água é um recurso natural e limitado (bem de domínio público) com valor econômico. Portanto, à medida que se torna um recurso cada vez mais escasso, aumenta o interesse em torno de seu uso, envolvendo poder público, sociedade civil organizada e iniciativa privada. Sendo assim, a água é um bem suscetível de valoração, e sua utilização deve ser passível de cobrança devido ao seu valor econômico.

De acordo com o art. 43 do Código Civil, a água no leito do rio e ligada ao solo é um bem imóvel, tornando-se um bem móvel quando retirada. A Carta Européia da Água diz que a água é um patrimônio de todos, e seu valor também deve ser percebido por todos. Cada cidadão deve economizar e utilizá-la com o devido cuidado, e a gestão dos recursos hídricos deve-se dar no aspecto da bacia hidrográfica e não das fronteiras administrativas e políticas. Granziera (2001, p. 26) cita que “Não há como negar a prevalência do interesse público sobre o privado no que se refere aos recursos hídricos, inclusive pelo fato de serem eles considerados recursos ambientais, e a Lei nº 9.433/97 tê-los declarado como bens de domínio público”.

Além dessa Lei, a Lei Federal no 9.984/00 e as leis dos estados visam resolver os complexos problemas de poluição e escassez, como também melhorar e proteger os recursos hídricos. É importante mencionar que a água também envolve aspectos negativos, dentre eles as inundações, que têm causado diversos estragos à vida das pessoas. Portanto, a criação de órgãos de cooperação foi no sentido de tornar mais viável a gestão dos recursos hídricos por meio do planejamento e do controle de forma participativa. Todos os princípios ligados à água e ao meio ambiente se originaram no direito internacional por meio de tratados e conferências internacionais.

3.1.1 Rio e bacia hidrográfica

Para definir o conceito de rio (pois existem vários), é importante identificar os diversos elementos que o constituem, sendo, os mais importantes, o volume da água e a sua extensão. Granziera (2001, p. 31) descreve que “Segundo Pádua Nunes, citando Daniel de Carvalho, a água corrente, as margens e o leito são os três elementos que formam o rio, como partes integrantes de um todo”.

De acordo com o Ferreira (1986), “bacia hidrográfica, bacia de drenagem ou bacia fluvial é o conjunto das terras drenadas por um rio e por seus afluentes”. Ou seja, uma bacia hidrográfica é composta por um rio, seus afluentes e suas águas subterrâneas, formando um sistema hidrográfico. Granziera (2001, p. 37) comenta sobre as definições de dois autores: “Para Pádua Nunes, “a bacia hidrográfica de um rio é formada pelo território do qual pode afluir água para esse rio”, e “para Manuel Inácio Carvalho de Mendonça, dá-se o nome de bacia ao conjunto das terras cujas águas todas se lançam em um rio de ambas as margens”, e também que é “uma porção do território cujas águas têm por derivativo ou escoadouro um rio”. Sendo assim, de acordo com essas definições, pode ser considerada não somente como o vale que um rio atravessa como também o de seus afluentes. A Lei no. 9433/97, em seu Título I, Capítulo I - dos Fundamentos, descreve que bacia hidrográfica é uma “Região limitada pelos divisores de água, formada por um rio principal e seus afluentes”.

3.1.2 Bacia hidrográfica como instrumento de planejamento e gestão

O conceito mais contemporâneo de bacia hidrográfica se denomina “bacia integrada”, inserido, em 1956, nos trabalhos da Internacional Law Association, em Dubrovnik. De acordo com este conceito, os estados devem cooperar de forma que assegurem a exploração completa

dos recursos hidráulicos, e a bacia fluvial deve ser considerada como um todo no que diz respeito à integração, e a água deve ser utilizada, de todas as maneira possíveis, a fim de que todas as partes interessadas usufruam adequadamente.

A gestão integrada no âmbito das bacias hidrográficas tem como princípio implantar novas formas que visem ao melhor aproveitamento racional da água, principalmente, devido à crescente escassez dos recursos, de forma que continue a promover o desenvolvimento econômico, cultural e social das regiões. Granziera (2001) cita que a Carta Européia da Água estabelece, em seu art. 11, que “a gestão dos recursos hídricos deve inserir-se no âmbito da bacia hidrográfica natural e não no das fronteiras administrativas e políticas”. A Lei nº 9.433/97, em seu art. 1º, inciso V, estabelece que “A bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, posicionamento adotado nas leis estaduais sobre política e gerenciamento de recursos hídricos”.

Da mesma forma, a Lei Estadual nº. 3.329/99 institui a política estadual de recursos hídricos e, em seu inciso 2º, consta que: “A bacia ou região hidrográfica constitui a unidade básica de gerenciamento dos recursos hídricos”. Por esta razão, deve ser realizado um planejamento para melhor utilização e aproveitamento dos recursos ligados a uma bacia hidrográfica. Dessa forma, a gestão dos recursos hídricos apresenta-se como uma maneira de solucionar a escassez de recursos por meio das funções administrativas, tais como planejamento, direção, controle e coordenação. Sendo assim, o planejamento dos recursos hídricos torna-se extremamente importante no que diz respeito à prevenção de possíveis danos e riscos ao meio ambiente. Trata-se de identificar algum problema, antecipadamente, a evitar resultados indesejáveis que comprometam a preservação ambiental. A verificação prévia dos impactos permite a implementação de normas e medidas de forma cautelosa.

O estabelecimento de leis, normas e regras não são suficientes para coibir a poluição do meio ambiente, devendo, assim, haver fiscalização e controle, principalmente no que diz respeito ao saneamento e à descarga de resíduos. Como a água sempre foi um recurso abundante, torna-se difícil compreender a adoção de uma política de pagamento por sua utilização. Porém, seu pagamento deve ser feito por todos que usufruem desse imprescindível recurso. Devido aos motivos apresentados, é inegável a necessidade atual de eliminar o desperdício e implementar mecanismos de controle do uso da água.

3.1.3 Gerenciamento dos recursos hídricos

O Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos é responsável pela aplicação da Política Nacional de Recursos Hídricos (envolvendo também funções tais como planejamento e controle), com base na Lei nº 9.433/97. Trata-se de um novo tipo de organização que atua por meio da gestão integrada do uso da água. Para isso, existem algumas normas e regras jurídicas aplicadas com o objetivo de disciplinar o comportamento das pessoas, as atividades desenvolvidas por grupos e por associações e entidades. Existem também regras direcionadas à estruturação e ao funcionamento de órgãos, bem como suas formas de atuação, funcionamento e aplicação de procedimentos específicos de maneira que possa ser garantida uma ordem.

No sistema de gestão integrada dos recursos hídricos o processo de tomada de decisões não fica a cargo somente de quem detém o poder, ao contrário, todos participam das funções referentes ao planejamento, execução e acompanhamento. Conforme o art. 1º, VI, da referida Lei, “a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do poder público, dos usuários e da comunidade”. No Capítulo II, da Lei Estadual nº. 3.329/99, referente aos objetivos da política estadual de recursos hídricos, consta: “Promover a articulação entre União, Estados vizinhos, Municípios, usuários e sociedade civil organizada, visando à integração de esforços para soluções regionais de proteção, conservação e recuperação dos corpos de água.”

Os órgãos representativos da sociedade civil constituem uma maneira de atuação dos cidadãos. Nesse sentido, pode ser considerado como policracia, visto que se trata de um regime no qual o poder não se encontra no centro, e sim distribuído entre os setores representativos da sociedade. Os membros da sociedade civil organizada representam os interesses das suas respectivas instituições, visando que os interesses coletivos sejam atendidos da melhor forma. Espera-se, desse modo, que exista transparência na atuação das várias instâncias de poder (ARANHA, 1998).

Sendo assim, o poder público, os usuários e a comunidade devem participar juntos de ações visando à implementação das normas com vistas ao alcance dos objetivos. Tal fato permite que, mesmo os representantes de entidades que não são ligados à Administração Pública, façam parte de um sistema de gestão auxiliando o processo. Nesse sentido, todo o processo de

gestão de recursos hídricos da bacia do rio Itabapoana é resultado de várias ações integradas que se dão por meio do Projeto Managé.