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2.1 Contexto histórico

De acordo com registros, em março de 1995, técnicos das prefeituras dos municípios de Bom Jesus de Itabapoana (RJ), onde está localizada a sede do Colégio Técnico Agrícola Ildefonso Bastos Borges, pertencente à UFF, e de Bom Jesus do Norte (ES), solicitaram à Universidade que fossem realizadas experiências de repovoamento de peixes no rio Itabapoana. A região apresentava um grave problema social e econômico no que diz respeito às poucas ofertas de trabalho e ao aumento da pobreza. O peixamento26, portanto, apresentava-se como uma das alternativas para diminuir a pobreza27 e recuperar o potencial pesqueiro do rio Itabapoana, por meio da geração de renda e complementação alimentar da população carente da região.

No alto do curso do rio, o cultivo do café, com o solo sem proteção de cobertura vegetal, provocou a erosão e o assoreamento de seu leito e margens. Além disso, alguns fatores contribuíram para a poluição, tais como o uso indiscriminado de agrotóxicos, o lançamento de esgoto doméstico e o desmatamento (Projeto Managé, 1997, p. 7). Em alguns municípios houve a retirada das matas das nascentes de águas e matas ciliares, resultando na extinção de afluentes importantes para desova de espécies nativas.

Devido à complexidade de tal pedido, considerando as diversas questões sociais, políticas, econômicas, ecológicas e culturais presentes nesse território, a UFF fez uma reunião com professores, técnicos de instituições sediadas na região e representantes municipais, com o objetivo de propor um projeto, com fundamentação científica, que contemplasse toda a bacia do rio Itabapoana. Naquela época, devido às dificuldades apresentadas, o peixamento foi englobado em uma proposta de estudos mais abrangente para a gestão sócioambiental que envolvia o desenvolvimento daquela bacia hidrográfica, aliada aos interesses acadêmicos, científicos, ecológicos e humanitários.

26 Peixamento é o ato de povoar peixes em determinado ambiente aquático.

27 Nessa época, acontecia um movimento nacional de formação de comitês municipais de cidadania para o

combate à fome liderado por Herbert de Souza, sociólogo conhecido como Betinho. Várias iniciativas foram desenvolvidas com esse cunho.

De acordo com documentos consultados, a Pró-Reitoria de Extensão (Proex) e a Coordenadoria de Ciências Agrárias e Meio Ambiente (Exama), da UFF, já haviam manifestado interesse em trabalhar o tema Gestão de Águas tendo uma bacia hidrográfica como unidade de planejamento e ação. Restava, então, verificar a área onde seria implantada. Devido a esses motivos, a bacia do rio Itabapoana foi selecionada por apresentar condições técnicas que comportavam os projetos da Coordenadoria de Meio Ambiente, criada em novembro de 1994, e vinculada à Pró-Reitoria de Extensão.

Conforme o relatório do Projeto Managé (2001), a integração foi um fator de aprimoramento da prática da interdisciplinaridade e da interinstitucionalidade na Universidade e nos diversos órgãos públicos envolvidos. Dessa forma, estava de acordo com a política de implantação de projetos integrados na área sócioambiental, que visava agrupar vários departamentos acadêmicos em um mesmo programa, reunindo alunos, professores, pesquisadores e técnicos.

Em abril de 1995, o Projeto começou a ser elaborado na sua concepção acadêmica. Tratava-se de uma oportunidade de reunir a população para preservar e recuperar o ambiente da bacia por meio da apresentação de propostas que visassem à diminuição da pobreza e ao aumento de postos de trabalho.

Sendo assim, o Programa de Desenvolvimento Regional Sustentável da Bacia Hidrográfica do Rio Itabapoana, denominado Projeto Managé, foi oficialmente lançado em 1997, tendo como propósito o estabelecimento de ações integradas baseadas no planejamento local e regional, no desenvolvimento de atividades conjuntas por meio da gestão participativa atendendo as necessidades de cada município, visando à eliminação da pobreza, à recuperação do meio ambiente e à melhoria na qualidade de vida da população da bacia. Nesse sentido, apresentou também estar de acordo com os critérios de aceitação das entidades de promoção e desenvolvimento, em especial o Ministério do Meio Ambiente, engajado na elaboração da Lei Federal de Recursos Hídricos Brasileira (Lei no 9.433/97), e na busca de um modelo de gestão para bacias hidrográficas.

Ao mesmo tempo, debatia-se um processo de elaboração de modelo de gestão, utilizando os exemplos franceses e americanos, executado no Brasil a partir da década de 1980 e, posteriormente, implementado com a Lei de Recursos Hídricos Brasileira. A partir de 1997, foi institucionalizada a Política Nacional de Recursos Hídricos e, também, foi criada a

Agência Nacional de Águas (ANA), resultando, com isso, a adoção de um novo conceito regional de bacias hidrográficas, transpassando as fronteiras estaduais.

2.2 Objetivos do Projeto Managé

Conforme exposto anteriormente, visa ao estabelecimento de ações integradas baseadas no planejamento local e regional por meio da gestão participativa atendendo, assim, às necessidades de cada município, tendo como objetivos a eliminação da pobreza, a recuperação do meio ambiente e a melhoria na qualidade de vida da população da bacia.

De acordo com o relatório do Projeto Managé (1997), esses objetivos envolvem:

Ø a recuperação das condições ambientais no que diz respeito à qualidade das águas, matas ciliares e cobertura florestal das nascentes dos rios, da produtividade dos solos e da ictiofauna;

Ø a realização de ações na área de educação ambiental reforçando a auto-estima municipal e regional, a promoção da saúde, da organização social, e a diminuição de conflitos de interesses;

Ø a capacitação dos diversos atores sociais envolvidos no desenvolvimento da bacia em questão, treinamento de professores, técnicos agrícolas, agricultores e agentes de saúde; Ø a proposta de ações no que diz respeito ao saneamento básico (tratamento de água, coleta e

tratamento de esgotos sanitários, coleta e disposição final de resíduos sólidos), saúde e de segurança pública;

Ø a estimulação da intervenção dos órgãos executores e

Ø a elaboração de um modelo de gestão ambiental e pública tendo como eixo a bacia hidrográfica, de acordo com a Lei nº 9.433/97, que dispõe sobre a Política Nacional de Recursos Hídricos.

Todos estes objetivos estão relacionados à questão de recursos hídricos, mas envolvem diversos aspectos no que diz respeito ao desenvolvimento local. Tomando como base o último item, é que se pretendeu verificar a atuação do modelo de gestão ambiental e pública proposto, baseado na Lei Federal nº 9.433/97.