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Conceito de conforto nos parques desportivos escolares

1. ESTADO DA ARTE

1.1. PARQUES DESPORTIVOS ESCOLARES E CONFORTO

1.1.3. Conceito de conforto nos parques desportivos escolares

À semelhança do conceito de qualidade, também o conceito de conforto não é fácil de definir. Vários autores partilham da mesma opinião quando referem que não é simples descrever este conceito, uma vez que não existe uma definição universalmente aceite na literatura (Pineau, 1982; Lueder, 1983; Slater, 1985; Zhang, 1992; Sanders e McCormick, 1993; Quehl, 2001 cit. por Linden e Guimarães, 2004).

Segundo Linden e Guimarães (2004) o conforto é um tema importante para as sociedades contemporâneas porque constantemente as pessoas, no seu quotidiano, são expostas a estímulos comerciais que vinculam produtos à ideia de conforto. Estes autores referem ainda que os resultados do seu estudo indicam que o conforto é multidimensional, com dimensões subjetivas e objetivas.

Neste contexto, o conceito de conforto é fulcral, pois deve estar inerente na planificação construtiva, conceção, gestão e utilização de Parques Desportivos Escolares.

Concomitantemente é feita uma breve revisão sobre o conceito de Conforto na perspetiva de vários autores, por forma a enquadrar este conceito neste estudo.

A origem da palavra conforto está ligada ao conceito de consolo ou apoio, a partir da palavra latina cumfortare, derivada de cum-fortis, significando aliviar dor ou fadiga. Originalmente, esse foi o significado do francês confort, que no século XIII deu origem ao inglês comfort (Maldonado, 1991; Quehl, 2001, cit. por Linden e Guimarães, 2004) e, na língua portuguesa, à palavra conforto (Instituto Antônio Houaiss, 2001, cit. por Linden e Guimarães, 2004). A evolução dos seus significados corresponde à evolução da cultura ocidental e

espelha a mudança dos valores espirituais desde o início do cristianismo para a atual busca de bem-estar material. A Revolução Industrial levou à visão do conforto como uma necessidade lícita e comprometida com a modernização (Maldonado, 1991, cit. por Linden e Guimarães, 2004).

Mussi (1996) no âmbito da literatura de enfermagem refere que o bem-estar é apontado como elemento comum nas definições de conforto, caracterizando assim a conceção subjetiva do conforto.

A autora verificou, nas definições de conforto encontradas, que a conceção de conforto pode adquirir significado de estado, expresso pelos vários autores como: estado de alívio, consolo (Webster’s, 1049, cit. por Mussi, 1996); estado subjetivo em que se verifica uma sensação de bem-estar mental e físico, isento de dor, desejo ou ansiedade (Elhart et al., 1983, cit. por Mussi, 1996); estado de comodidade e bem-estar em que a pessoa está à vontade consigo mesma e com o seu ambiente (Du Gas, 1984, cit. por Mussi, 1996); estado relaxado, quando as pessoas experienciam emoções positivas, livres de extrema tensão e dor, têm uma sensação de relaxamento (Leal, 1986, cit. por Mussi, 1996); estado de harmonia, resultado da integração corpo-mente-espírito na relação consigo mesmo, dela e do ambiente, em que se sente num ambiente familiar, segura, cuidada, amada, e em controlo (Neves-Arruda et al., 1989, cit. por Mussi, 1996).

Segundo Mussi (1996) o termo conforto aparece ainda como antônimo de desconforto. A autora refere ainda que a multidimensionalidade do termo conforto expressa nas definições é ratificada por vários autores, ao designarem que este envolve aspetos de natureza física, social e psicológica, espiritual e

ambiental.

Os autores Vianna e Gonçalves (2001), cit. por Neto et al. (2002), vão de encontro ao que foi mencionado anteriormente quando referem que o conforto pode ser entendido como a avaliação das exigências humanas, pois está baseada no princípio de quanto maior for o esforço de adaptação do indivíduo, maior será a sua sensação de desconforto.

Segundo Bueno (2001), cit. por Neto et al. (2002), um espaço onde as variáveis de conforto são controladas, provavelmente, contribuirá para um melhor

31 desempenho dos seus utilizadores e, consequentemente para um melhor resultado na qualidade das tarefas realizadas.

Cumpre salientar que durante o período de revisão da literatura sobre a questão do significado do conforto e quais as suas dimensões, constatou-se que ainda é muito escasso o número de publicações e de pesquisadores interessados, neste conceito. Os meios académicos que exploram esta temática são primordialmente a Ergonomia, a Enfermagem e o Design, existindo pouca bibliografia específica no âmbito do conforto nas instalações desportivas. Esta temática torna-se pertinente no nosso estudo na medida em que o utilizador pode apresentar necessidades de conforto não atendidas, sendo que perante esta situação pressupõe-se a necessidade de intervenção para maximizar o conforto. É neste contexto que este trabalho se baseia, mostrar as ferramentas necessárias para se poder maximizar o conforto nas instalações desportivas escolares.

Assim, no âmbito académico, na área das ciências do desporto, surge o autor Cunha (2007) que partilha desta opinião ao referir que o conforto é um conceito fundamental a ter em conta na conceção, construção, gestão e utilização das instalações desportivas. O autor salienta ainda que deve ser um objetivo a seguir pelos agentes que intervêm em todas as fases destes três processos. Cunha (2007) refere igualmente que o conforto geral numa instalação desportiva indicia uma predisposição do espaço para uma utilização que se adivinha proveitosa e agradável. Que é aquele que o praticante sente quando toma contacto com o espaço, como estando preparado para o receber.

O conforto (desportivo), é também definido como uma medida equilibrada que revela o ajustamento das condições de realização às necessidades da prática e do praticante desportivo cujos efeitos resultam a vários níveis, quer através de melhores prestações desportivas, de melhor mobilização e adesão às práticas correspondentes, quer inclusivamente originando sensações positivas, reforçadas em imagens mentais construídas pelos praticantes ou utilizadores dos espaços da instalação desportiva, que os impelem ao retorno e correspondente reutilização futura (Cunha, 2007).

a) Adequação do espaço e apetrechamento à prática desportiva;

b) Não ser fator de risco para os utilizadores ou a outro nível, nomeadamente para a sua integridade física, saúde e segurança;

c) Ser capaz de provocar sensações positivas, desencadeando no utilizador a vontade de voltar a usufruir da instalação e de realizar nela atividade física; d) Permitir o desenrolar das ações relativas à prática desportiva e a todas as outras práticas complementares;

e) Permitir a realização das ações necessárias com o correspondente desafogo.

Até aqui tentou-se definir conforto mas, antigamente, o conceito de conforto não era tão complexo como nos dias de hoje, já que não eram considerados certos fatores que na nossa sociedade moderna começam a ser exigidos, como fatores imprescindíveis para se adquirir conforto. Neste encadeamento começa a surgir o conceito de conforto ambiental.

à medida que aumenta o conhecimento científico diminui o grau de humanização do nosso mundo…o homem sente-se isolado no cosmos porque, já não estando envolvido com a natureza, perdeu a sua “identificação emocional inconsciente” com fenómenos naturais. E os fenómenos naturais, por sua vez, perderam aos poucos as suas implicações simbólicas.”

Carl Jung (s/d) Pode-se considerar que os princípios do conforto ambiental, segundo Rheingantz (2001) surgiram na Pré-História, quando o homem descobriu que, nas estações frias era conveniente habitar em cavernas com a abertura originada na direção dos raios solares. Enquanto a disponibilidade de energia era restrita, otimizou o seu uso maximizando a aplicação dos recursos disponíveis e produziu uma arquitetura em perfeita harmonia com o clima. O desenvolvimento tecnológico e científico leva mais tarde o homem a construir ambientes climatizados, que para Rheingantz (2001) evidencia a sua “vitória” sobre a natureza. Neste seguimento, Rheingantz (2001) é de opinião que os novos edifícios passam a ser tratados como objetos dentro dos quais se deve criar, artificialmente, uma temperatura agradável e predomina a conceção centrada no edifício enquanto objeto estético desprovido de contexto histórico.

33 Nesta linha de pensamento o conforto ambiental passa a ser utilizado em vários contextos. No desempenho do ambiente de trabalho Vischer (2007) refere que a teoria do conforto ambiental considera como stressantes situações nas quais o conforto é inadequado. A autora define três níveis de conforto: conforto físico, conforto funcional e conforto psicológico, cada qual passível de medição, sendo que os três juntos determinam a moral e o bem-estar dos usuários, assim como o seu desempenho e eficácia na realização de tarefas. Graça e Kowaltowski (2003) consideram como parâmetros de conforto ambiental, o conforto luminoso, o conforto térmico, o conforto acústico e o conforto funcional.

Cunha (2007) corrobora com os dois autores mencionados anteriormente, na vertente do conforto “desportivo”, quando refere que o conforto pode ser constituído por vários elementos, do ponto de vista da utilização ou valoração que se está a realizar e identifica-os como podendo ser estéticos, funcionais, de higiene, de segurança, de desafogo e de reserva. Este autor enumera vários tipos de conforto desportivo: conforto geral, conforto estético, conforto acústico e auditivo, conforto visual e luminoso, conforto térmico, conforto pneumático e conforto quinestésico.

No contexto das instalações desportivas, Romo (2007) refere que o projeto dos diferentes espaços desportivos, assim como alguns espaços complementares deve ter-se em conta o conforto ambiental para os utilizadores, ou seja, adequada iluminação, temperatura apropriada, boa acústica, etc., com um custo o mais ajustado possível. É importante também, conseguir que a estética final da instalação seja agradável, onde deve prevalecer sempre a funcionalidade e o conforto sobre os aspetos de caráter puramente estéticos. Após este enquadramento e a partir deste ponto, é especificado qual o conforto ambiental em que se centra este estudo.

1.1.4. PARÂMETROS DE CONFORTO AMBIENTAL EM PARQUES