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Conceito de deficiência a partir de uma perspectiva sociocultural

Rodrigues (2006) acredita que a deficiência é uma condição que em grande medida, construiu-se socialmente e não desde um olhar único a partir de conhecimentos médicos ou fisiológicos, afirmam também que este conceito é produto dos valores das sociedades e cujo resultado seria uma construção social.

Também é possível refletir e compreender que nas análises dialéticas o corpo aparece entre dois polos: eficiência e deficiência, como condições absolutas. O erro é crer que estes estados são permanentes e aplicáveis em todos os âmbitos e atividades da vida.

Se a análise se realiza com maior realismo, é possível compreender que todos somos eficientes ou deficientes para algo e isso depende da complexidade da tarefa, o contexto, a experiência, as condições pessoais, sejam físicas, mentais, psiquiátricas, viscerais ou sensoriais. Por outra parte, as separações entre corpo e psiquismo ou entre organismo e pensamento tem uma utilidade meramente didática, já que na prática uma pessoa é deficiente ou não na relação que este estabelece com o ambiente e as possibilidades que este ambiente lhe brinda.

Morais (2006, p. 6) afirma que

[...] As socioculturas desenvolvem conceitos idealizados, como os de normalidade e de anormalidade, ou, mais biomedicamente, avaliações conceituais de normalidade e patologia. Há muito se sabe que as fronteiras entre essas coisas inexistem, seja no conhecimento seja na pratica humana [...].

Estas construções categorizam e aumentam os pré-conceitos e a resultante final não é outra que a exclusão. O poder da construção cultural terminou de impor terminologias que ao longo do tempo estigmatizaram fortemente a condição de pessoas diferentes.

Morais (2006, p. 7) acrescenta:

[...] Ocorre que, na virada do século XIX para o XX, os deficientes físicos eram chamados, asperamente, de estropiados, enquanto as pessoas com déficit mentais eram denominadas, sem matizações, dementes; posteriormente foi eleita, como que para referir se a todos os que “saiam dos limites do normal”, a palavra excepcionais, que possibilitou a introdução de conceitos mais finos como: excepcionais para mais (hoje conhecidos como superdotados) e excepcionais para menos (os com dificuldade de vários graus na sua relação com o entorno [...].

Outros termos como inferior (de menor valor), inválido (sem valor) ou impedido, foram usados com frequência na segunda parte do século XX, os quais traziam

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uma mensagem inequívoca de menosprezo e desvalorização pela condição de pessoa daqueles indivíduos diferentes e pelas capacidades ou aportes que desde sua condição pudessem entregar as demais pessoas.

Posteriormente aparecem outras denominações tais como deficientes ou portadores de deficiência e mais recentemente portadores de necessidades especiais e portadores de necessidades educativas especiais; ao mesmo tempo, o “portar” pressupõe a idéia de poder escolher “portar” ou “levar” uma condição que na maioria das vezes não se escolhe, razão pela qual esta palavra (portador) não está sendo mais usada, utilizando-se mais recentemente, pessoas com deficiência ou pessoas com necessidades especiais.

Para Winnick (2004, p. 4) as pessoas que estudam educação física ou treinamento esportivo na medida em que avançam em seus estudos universitários “Percebem que a habilidade de pessoas com necessidades especiais pode variar entre muito baixa e extremamente alta” e compreendem que:

[...] Os alunos começam a considerar que há indivíduos com diversas necessidades especiais envolvidos na educação Física e esportes adaptados, e aprendem também que entre pessoas com necessidades especiais há tanto portadores de deficiência como não portadores de deficiência [...] (WINNICK, 2004, p. 4).

Portanto a responsabilidade de um sistema social sensível à diversidade cultural e educacional consiste em possibilitar o acesso à educação física e esportes adaptados a todos e a todas as pessoas.

Outro efeito gerado nas culturas da deficiência é o de compreender e reconhecer a diferença entre pessoas, inclusive entre as espécies.

De qualquer modo, o que convém destacar é a importância da cultura social na percepção de pessoas diferentes e como ajuda a instalar conceitos e preconceitos que terminam por dominar a realidade das relações entre as pessoas, inclusive a negar as necessidades próprias da condição humana, como são as necessidades de relacionar-se afetiva e sexualmente.

Um fato negativo que se produz por consenso social é o estigma como resultante da estrutura social de deficiência em relação às expectativas que se têm das pessoas preparadas somente para conviver com pessoas sem deficiência, já que a deficiência é percebida, a princípio como desvantagem e, portanto, anula a possibilidade de

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observar as capacidades que muitas vezes compensam de maneira contundente a deficiência. De acordo com este raciocínio, de alguma maneira a incapacidade para observar mais além da deficiência pode ser imputada às pessoas “normais”. Esta tendência a aceitar somente o igual ou parecido, também se expressa em recusar inclusive àquelas pessoas que pensam e sentem diferente, sofrendo discriminação por isto.

Afortunadamente estes preconceitos estão desaparecendo pouco a pouco, sobretudo nos últimos 20 anos, graças aos grandes esforços de organizações e comunidades comprometidas em educar e modificar as condições ambientais para prover um contexto cada vez mais inclusivo.

Neste sentido o discurso e a publicidade, podem fabricar conceitos, imagens e sentidos sobre as pessoas com deficiência, a funcionalidade e os níveis de deficiência, influenciando notoriamente na percepção que os distintos grupos da sociedade vão armazenando em seu inconsciente, chamado como inconsciente coletivo; no entanto como sinaliza as representações sociais não são estáticas, são produtos das constantes dinâmicas interações das pessoas e das sociedades.

“Se os conceitos/entendimentos forem tratados como dicotomias, a tendência é que haja um favorecimento de um dos elementos da oposição e que o outro seja colocado como necessariamente exilado, banido, destituído, ou seja, ou se faz isso ou se faz aquilo” (CIDADE, 2006, p. 25).

Cidade (2006, p. 25) ressalta que,

No caso da deficiência, uma pessoa é rotulada de pessoa com deficiência produto de sua deficiência independentemente de qual seja e que grau esta tenha, mas, além disso, se pensa que a deficiência incapacita a pessoa em forma total e não somente para algumas tarefas da vida diária ou de âmbito laboral, esportivo ou de outra natureza.

Cidade (2006, p. 26) indica um fato inesquecível “É preciso compreender que independentemente da visibilidade da deficiência, pode ou não ocorrer a incapacidade”

Por esta razão é recomendável em seu ambiente ou ocupação, entre outros aspectos, avaliar suas reais necessidades e capacidades. Ainda que a autonomia seja uma meta na vida da maioria das pessoas com deficiência, é necessário reconhecer que os limites existem para certas condições. Autonomia e dependência são processos que coexistem em um mesmo tempo, são interdependentes e são “as duas caras de uma mesma moeda”; no entanto não são situações rígidas.

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A utilização de conceitos coletivos não diferenciados e as verdades segmentadas podem ser vistas perigosas que impedem uma abordagem adequada e inclusiva de acordo com os tempos modernos e a percepção sócio cultural deste fenômeno.

Portanto, é completamente necessário discutir os argumentos e conceitos que fundamentam as propostas de inclusão e avançar nesta perspectiva no âmbito social em geral e na educação e educação física em particular.

3.6 Atividade Física Adaptada (AFA)

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