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2 – B ASES DO MÉTODO

2.1.6. Conceito de gramática

A gramática de uma língua, conforme pretende a Linguística, é o sistema de regras que especifi ca a relação associativa entre uma forma fonética ideal e uma interpretação semântica, ou seja, a atri- buição de um sentido. É preciso considerar, entretanto, que o termo

gramática é usado de forma ambígua. Pode-se usar o termo gramá-

tica pelo menos dentro de três concepções básicas:

a) o conhecimento que o falante-ouvinte tem da língua, ou seja, o conjunto de unidades, de regras, de princípios por ele interiorizados e que determinam conexões entre som e sentido. É a chamada gra- mática internalizada, o próprio mecanismo da língua;

b) a teoria construída pelo linguista como hipótese descritiva a partir da gramática de sua língua que os usuários da língua têm internali- zada. É a gramática descritiva;

c) há, também, a gramática normativa, um conceito tradicional de gramática, muito usado nas escolas. Nessa concepção, a gramática é um livro em que se encontram regras do que e de como se deve ou não dizer, ao lado de uma análise de certas estruturas sintáticas de uma língua, e uma classifi cação de suas formas morfológicas e léxicas (isso é, na verdade, uma parte descritiva da norma culta da língua). Críticas severas aparecem a essa gramática uma vez que ela traz, na consideração dos elementos linguísticos, uma multiplicida- de de critérios, pecando, ainda, pela falta de objetividade de análise, por apresentar juízos de valor e por trazer, como exemplos de boa linguagem, autores portugueses do século XIX ou, na melhor das hipóteses, autores brasileiros do começo do século XX.

Não obstante tantas críticas, é fato que a gramática tradicional de natureza normativa contribuiu muito para o ensino da Língua Portuguesa, num momento em que não se tinha ao alcance outra fonte de pesquisa. Ainda hoje é

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utilizada pelos professores, uma vez que, embora a Linguística tenha pro- gredido signifi cativamente na descrição do Português, esses estudos, numa frequência maior do que o desejável, não chegam às mãos da maioria dos professores.

Para Melo (1972), cabe à gramática registrar honestamente os fenômenos, classifi cando e sistematizando os fatos que coincidem com a descrição do uso linguístico culto. Esses fatos passam a ser, então, uma norma, daí o termo gramática normativa. Para o mesmo gramático, só se organiza a gramática do uso culto, pois qualquer falante já domina a gramática da variedade que lhe foi transmitida pelos pais. Atualmente o pensamento é que a escola irá ensinar ao indivíduo a gramática do uso culto, mas não só, pois é preciso levar em conta questões de adequação no uso das variedades da língua.

É preciso frisar que o professor deve estar atento também às mudanças da língua e não pretender utilizar uma norma que não mais represente a realidade do uso atual e corrente, seja ele culto ou não. Finalmente, é preciso considerar que a escolha de uma variedade da língua como língua padrão-culta para se ensinar nas escolas atende razões de ordem mais prática e menos científi ca. O importante é que o professor tenha uma visão ampla dos recursos linguísticos e seus valores e, sem dogmatismo, possibilite o desenvolvimento das habilidades linguísticas da criança, considerando inclusive o uso e a necessidade das variedades linguísticas, ampliando a competência comunicativa de seu aluno.

2.2 - Bases psicológicas 2.2.1 - Tipos de aprendizagem

A elaboração de exercícios estruturais supõe uma análise pré- via dos mecanismos que determinam o comportamento linguístico. Para isso deve-se buscar na linguística a descrição da natureza e do

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funcionamento da língua, preparando através de análises rigorosas o material a ser trabalhado. Os exercícios estruturais tiram seu con- teúdo das técnicas e dos resultados da análise linguística, mas sua aplicação se faz com base em princípios psicológicos, contribuição de diversas correntes que se preocupam em explicar o fenômeno da aprendizagem. Essas tentativas de explicação não deixam de causar insegurança entre os educadores, quando estes se propõem a desen- volver seriamente sua tarefa de ensinar e a obter o máximo de apren- dizagem, uma vez que se constata a existência de vários modos de interpretar a aprendizagem.

A Psicologia distingue tipos de aprendizagem que podem ser esquematizados desta maneira (Cf. Cunha e Starling, 1971):

(a) Aprendizagem racional - visa à criação de habilidades intelec- tuais. A aprendizagem racional forma o pensamento crítico e refl e- xivo e, procedendo pela análise, conduz à compreensão;

(b) Aprendizagem apreciativa - é a que se exerce no campo das belas artes, da criação artística, da literatura. Aqui, os elementos intelectuais são superados pela apreciação pessoal, segundo dons orientados pela aprendizagem;

(c) Aprendizagem associativa - como o próprio nome indica, ela ocorre a partir das associações, conectando ideias atuais ou passadas segundo sua semelhança, seu contraste ou conforme a contiguidade temporal ou espacial. É uma aprendizagem que exige treinamento; (d) Aprendizagem motora - este tipo de aprendizagem requer um treinamento continuado e coordenação de movimentos, visando à aquisição de rapidez e precisão do comportamento, graças a uma adaptação dos movimentos e estímulos.

Já se verifi cou que estes tipos de aprendizagem levam o aluno a adquirir novas maneiras de se comportar, de reagir em presença de estímulos novos. Perguntamos, aqui, qual destes tipos de aprendi-

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zagem ocorre no método estrutural. Do ponto de vista psicológico, estrutura é sinônimo de automatismo. Assim, se queremos que ao estímulo do tipo:

- Você vai ao parque?

o aluno responda automaticamente: - Não, eu não vou ao parque.

devemos elaborar exercícios que apresentem seguidamente situações de estímulo-resposta semelhantes à exemplifi cada acima, levando o aluno à aquisição de um novo hábito ou habilidade lin- guística em que, apesar de poder ignorar sob o ponto de vista ana- lítico e refl exivo os elementos da estrutura que emprega, ele a utili- zará adequadamente, pois foi treinado a reagir automaticamente de determinada maneira. Entretanto, é preciso que o aluno compreenda o que está dizendo para não ser um simples repetidor. Este exemplo nos mostra claramente que, se fi carmos no âmbito estrito do méto- do estrutural, estaremos obtendo aquisição mecânica de estruturas, de recursos linguísticos, o que equivale a dizer que estamos tendo basicamente aprendizagem motora e associativa. Todavia, como res- saltamos acima, se pararmos aí teremos apenas um mero psitacismo que não interessa absolutamente ao ensino-aprendizagem da língua. Já ressaltamos: é preciso haver compreensão e esta só se obtém em atividades que promovam a aprendizagem cognitiva e que devem existir paralelamente aos exercícios estruturais, dentro do contexto geral do processo de ensino-aprendizagem. Caso contrário, o traba- lho do professor será inócuo.

Como se pode observar, os exercícios estruturais levam à aquisição de novos hábitos (comportamentais) linguísticos atra- vés de um treinamento frequente e contínuo na base de estímulos

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e respostas, inserindo-se, pois, nos quadros da teoria psicológica behaviorista.